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ÁGUA E PETRÓLEO, A MESMA MOEDA
Atualizado em 25 de agosto de 2008 às 11:27 | Publicado em 21 de agosto de 2008 às 12:08
http://www.viomundo.com.br/voce‐escreve/agua‐e‐petroleo‐a‐mesma‐moeda/
Agua e petróleo, a mesma moeda
Por Amyra El Khalili*
A América Latina vive hoje uma guerra intestina, mas silenciosa, em pequenos focos espalhados pelo continente,
mas que podem eclodir a qualquer momento num emaranhado de ações e convulsões sociais se não estivermos
preparados para novos enfrentamentos econômicos e políticos.
As águas da América Latina de hoje podem ser, no futuro próximo, objeto de disputas sangrentas, como é hoje
o petróleo do Oriente Médio.
Se o Oriente Médio sofre por ter seus recursos naturais espoliados, a América Latina sofre com a servidão ao
sistema financeiro internacional. Sofre com a usura das altas taxas de juros, a especulação financeira, o
endividamento e é vitimada pela corrupção endêmica.
A América Latina detém a maior biodiversidade do planeta, as maiores reservas de água doce do mundo. É rica
em minérios, abriga as maiores florestas tropicais, extensos litorais paradisíacos, solo e climas diversificados, que
garantem o vigor da produção agropecuária nos 365 dias do ano.
Construímos na América Latina a nossa cultura americana árabe, agregando valor à cultura miscigenada dos
povos latino‐americanos. O carisma, a vontade de trabalhar, a diplomacia e nossa maneira de ser deram a nós,
árabes e descendentes, uma vantagem comparativa para negociar e realizar parcerias.
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É esse exemplo de integração que nos dá a certeza de que só com o apoio, a união dos vários países, árabes em
especial, nos investimentos, parcerias, joint‐ventures é que sairemos da servidão financeira que nos é imposta
por um modelo econômico degradador e desumano pelos países ditos desenvolvidos.
Não faz sentido que os recursos obtidos pela exploração do petróleo árabe funcionem como lastro para o sistema
financeiro que hoje os bombardeia.
Contra o capital excludente somente um novo capital inclusivo.
Contra uma globalização que tenta extorquir nossos recursos naturais e estratégicos, somente uma nova
globalização cultural, inter‐racial e inter‐religiosa.
A América Latina possui todos os recursos naturais estratégicos que os países desenvolvidos necessitam para
produzir bens de consumo na indústria, comércio e serviços. O Brasil tem posição estratégica na América Latina
por sua dimensão continental, miscigenação e por concentrar o sistema financeiro do continente.
O mundo árabe tem sua economia centrada nos recursos energéticos não renováveis, um “privilégio” pago com
milhares e milhares de vidas. Faz‐se estratégico e vital migrar para a energia renovável, com todo conhecimento
e tecnologia acumulados ao longo de décadas por aqueles produtores de petróleo.
Por não ter água o mundo árabe não consegue produzir o que consome, nem gerar excedentes para exportação.
Por isso é franco comprador de mercadorias in natura e industrializadas.
Infelizmente, pouco exportamos em linha reta para o mundo árabe, pois as rotas de comercialização ou foram
reduzidas ou foram fechadas para os países em desenvolvimento. Produzimos laranja no Brasil, exportamos in
natura ou suco para a Itália, onde é reprocessada e embalada com a marca "made in Italy" e reexportada para os
países árabes. Assim, ficamos com todos os riscos de produção, custos de financiamento, encargos e tributos,
enquanto as indústrias estrangeiras ficam com a parte gorda dos lucros.
Temos fortes laços culturais que, se aliados à capacidade e desenvolvimento de tecnologias, poderiam se traduzir
em grandes operações de trocas entre os países árabes com um intercâmbio e, conseqüentemente, aquecer as
economias árabe e latino‐americanas.
Os fundos islâmicos não aplicam em juros, mas podem muito bem financiar a produção de longo prazo, desde
que tenhamos também nesses contratos, a contrapartida dos investimentos de base em educação, saúde,
agricultura, ciência, cultura, cooperativas de produção, entre outros.
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No âmbito nacional e continental, é vital que parcerias e acordos garantam a preservação e o uso público e social
das bacias hidrográficas e águas subterrâneas transfronteiriças. Trata‐se não só de uma questão ambiental e
social, mas de soberania e segurança internacional. A crise hídrica mundial que se prenuncia pode transformar o
ora pacífico continente no cenário de disputas cruentas como as que têm lugar hoje no Oriente Médio.
Outro aspecto importante é aprofundar o estudo crítico das questões intrínsecas do Protocolo de Kyoto,
recomendando cautela com negócios nos mecanismos de desenvolvimento limpo. O estabelecimento do
mercado de carbono, através de créditos compensatórios, simplesmente reproduz o modelo econômico que é
alvo de nossas críticas.
A alternativa é a estruturação de uma rede de investimentos, parcerias e comercialização, que garanta o
monitoramento, a fiscalização e a orientação de negócios e projetos sócio‐ambientais na América Latina.
Para debater esta questão na América Latina criamos o Projeto RECOs – Redes de Cooperação Comunitária, que
têm como objetivos o intercâmbio de experiências, a promoção e fomento da produção de bens e serviços das
comunidades regionais. O projeto atende às reivindicações da Agenda 21 – Pense Globalmente e Aja Localmente,
com a implantação da responsabilidade social empresarial, comércio justo e sustentabilidade em diversos
programas educacionais.
Estes são, em resumo, os principais pontos do pronunciamento elaborado por Amyra El Khalili, Eduardo Felício
Elias e Além Garcia e encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab América‐Liga de Estados
Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006. Esperamos que sirvam de ponto de partida para
um amplo debate sobre o futuro deste nosso planeta.
Fontes:
Entrevista por Sandro C. Cardelíquio com Amyra El Khalili ‐ Água e Petróleo, a mesma moeda ‐ para a Revista Eco
Spy ‐ Ano 2, n. 07 ‐ Novembro/2006. Editora Risc. www.ecospy.com.br.
Misleh, Soraya. Entrevista com Amyra El Khalili. Do Oriente à América Latina, a cobiça por recursos naturais.
Revista Al Urubat ‐ Sociedade Beneficiente Muçulmana de São Paulo. Fevereiro 2007 ‐ nº 785. www.sbmsp.org.sp
El Khalili, Amyra. Elias, Eduardo Felício. Garcia, Além. Boletim 0999 [BECE REBIA] Cúpula do Cairo: Tratado Água e
Petróleo, a mesma moeda. Pronunciamento encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab –
Federação das Entidades Árabes Americanas e Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de
julho de 2006 (Documento BECE). 06 de Agosto de 2006.
(*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities
Ambientais. É também fundadora e co‐editora da Rede Internacional BECE‐REBIA (www.bece.org.br ), membro
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do Conselho Gestor da REBIA ‐ Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio
Ambiente
(www.portaldomeioambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br ). É professora de pós
graduação com a disciplina "Economia Sócioambiental" na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela
OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC, entre outras. Indicada para o "Prêmio 1000 Mulheres para o
Nobel da Paz" e para o Prêmio Bertha Lutz. email: (bece@bece.org.br)