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Um tratado concernente as afeições religiosas

Por Jonathan Edwards

NÃO há questão de maior importância para a humanidade, e que seja mais


concernente a cada pessoa individual para ser bem resolvida, do que esta:
Quais são as qualificações distintivas daqueles que estão em favor com Deus,
e designadas às Suas eternas recompensas? Ou, o que vem ser a mesma
coisa, Qual é a natureza da verdadeira religião? E onde descansa as marcas
distintivas daquela virtude e santidade que é aceitável aos olhos de Deus?
Mas, embora isto seja de tal importância, e apesar de termos clara e abundante
luz na Palavra de Deus para nos dirigir neste assunto, todavia não há um ponto
em que os Cristãos professos façam mais diferença um do outro. Seria sem fim
calcular a variedade de opiniões, neste ponto, que divide o mundo Cristão;
fazendo manifesta a verdade da declaração de nosso Salvador: “Estreita é a
porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.

A consideração destas coisas tem por muito tempo me engajado a atentar para
esta matéria com a maior diligência e cuidado, e toda a exatidão de busca e
investigação de que eu fui capaz. Este é um assunto sobre o qual minha mente
tem sido peculiarmente solícita, desde a primeira vez que entrei no estudo da
teologia. — Mas quanto ao sucesso de minhas investigações, isto deve ser
deixado ao julgamento do leitor do tratado que se segue.

Sou consciente de que é difícil julgar imparcialmente o assunto deste discurso,


no meio da poeira e fumaça da presente controvérsia, sobre as coisas desta
natureza. Pois, assim como é muito difícil escrever imparcialmente, do mesmo
modo é muito difícil ler imparcialmente. — Muitos provavelmente serão
magoados, ao encontrar tanto do que pertence às afeições religiosas, aqui
condenadas: e talvez indignações e desprezo serão excitados em outros, ao
achar tanto justificado e aprovado. E pode ser que alguns estarão prontos para
acusar-me de inconsistência comigo mesmo, em tanto aprovando algumas
coisas, como condenando outras; como tenho encontrado, isto tem sido
sempre objetado a mim por alguns, desde o princípio de nossas últimas
controvérsias sobre religião. É uma coisa difícil ser um sincero e zeloso amigo
do qual tem sido bom e glorioso nas últimas aparências extraordinárias, e
regozijar muito nele; e ao mesmo tempo, ver a tendência má e perniciosa dos
que tem sido maus, e ardentemente opor a isso. Mas, todavia, estou
humildemente, mas inteiramente persuadido que nós nunca estaremos no
caminho da verdade, um caminho aceitável a Deus, e tendendo ao avanço do
reino de Cristo, até que façamos assim. Há certamente algo muito misterioso
nisto, esse tão bom e esse tão mau, devem ser misturado juntamente na igreja
de Deus: como é uma coisa misteriosa, e que tem embaraçado e assombrado
muitos bons Cristãos, que deva existir o que é tão divino e precioso, como a
graça salvadora de Deus, residindo no mesmo coração, com tanta corrupção,
hipocrisia, e iniqüidade, em um santo em particular. Contudo, nenhum destes é
mais misterioso do que real. E nenhum deles é uma coisa nova. Não é uma
coisa nova, que tanta falsa religião deva prevalecer no tempo de grande
reavivamento; e que, ao mesmo tempo, multidões de hipócritas devam brotar
entre os verdadeiros santos. Foi assim na grande reforma, e reavivamento da
religião, no tempo de Josias; como aparece em Jeremias 3:10, e Jeremias
4:3,4, e também pela grande apostasia que houve na nação, tão logo após seu
reinado. Assim foi com o grande derramamento do Espírito sobre os Judeus,
nos dias de João Batista; como se mostra pela grande apostasia daquele povo,
tão logo depois de tão geral despertamento, e os temporários confortos e
alegrias de muitos; João 5:35: “E vós quisestes alegrar-vos por um pouco de
tempo com a sua luz”. Assim foi naquelas grandes comoções entre a multidão,
ocasionas pela pregação de Jesus Cristo. Muitos são chamados, mas poucos
escolhidos ; da multidão que foi excitada e afetada pela Sua pregação — e em
um tempo ou outro pareciam poderosamente engajados, cheios de admiração
por Cristo, e elevados com alegria — mas poucos eram verdadeiros discípulos,
que agüentaram os abalos das provas, e perseveraram até o fim. Muitos eram
semelhantes a terra pedregosa ou espinhosa; e porém poucos,
comparativamente, eram semelhantes a boa terra. Do monte inteiro que foi
recolhido, grande parte era palha, que o vento mais tarde levou; e o monte de
trigo que foi deixado, era comparativamente pequeno; assim como aparece
abundantemente pela história do Novo Testamento. Assim foi no grande
derramamento do Espírito que houve nos dias dos apóstolos; como se mostra
por Mateus 24:10-13; Gálatas 3:1; e 4:11,15; Filipenses 2:21; e capítulo
3:18,19, e as duas epístolas aos Coríntios, e muitas outras partes do Novo
Testamento. E assim foi na grande reforma do papismo — Parece claramente
ter estado na igreja visível de Deus, nos tempos dos grandes reavivamentos,
assim como as árvores frutíferas na primavera; há uma multidão de flores, que
parecem legítimas e belas, e há uma aparência promissora de frutos novos:
mas muitos delas são de curta duração; elas breve murcharão, e nunca
chegarão a maturidade.

Não é, contudo, para ser suposto que será sempre assim. Porque embora
nunca haverá, neste mundo, uma inteira pureza, em cada um dos santos em
particular, por uma perfeita libertação das misturas de corrupção, ou na igreja
de Deus, sem qualquer mistura de hipócritas com santos — ou religião falsifica
e falsas aparências de graça com verdadeira religião e real santidade —
todavia é evidente, virá um tempo de pureza muito maior na igreja, do que tem
havido nas erras passadas. Isto se mostra claramente por estes textos das
Escrituras: Isaías 52:1; Ezequiel 44:6,7,9; Joel 3:17; Zacarias 14:21; Salmos
69:32,35,36; Isaías 35:8,10; capítulo 4:3,4; Ezequiel 20:38; Salmos
37:9,10,11,29. E uma grande razão disto será que naquele tempo, Deus dará
uma luz muito maior para Seu povo, para distinguir entre a verdadeira religião e
suas falsificações. Malaquias 3:3: “E assentar-se-á como fundidor e purificador
de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata;
então ao SENHOR trarão oferta em justiça”. Com o versículo 18, que é a
continuação da profecia dos mesmos tempos felizes: “Então voltareis e vereis a
diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o
serve”.

É pela mistura da falsificada religião com a verdadeira, não discernida e


distinguida, que o diabo tem tido suas maiores vantagens contra a causa e o
reino de Cristo. É por este meios, principalmente, que ele tem prevalecido
contra todos os reavivamentos da religião, desde a fundação da igreja Cristã.
Com isto, ele prejudicou a causa do Cristianismo, tanto na era apostólica como
depois, tanto mais do que por todas as perseguições tanto de Judeus como de
gentios. Os apóstolos, em todas suas epístolas, nos mostram muito mais
concernente ao primeiro dano, do que o segundo. Com isto, Satã prevaleceu
contra o reforma, iniciada por Lutero, Zwínglio, etc., para colocar uma parada
em seu progresso, e traze-la à desgraça, dez vezes mais do que por todas
aquelas sanguinárias e cruéis perseguições da igreja de Roma. Com isto,
principalmente, ele prevaleceu contra os reavivamentos da religião em nossa
nação. Com isto ele prevaleceu contra a Nova Inglaterra, apagando o amor e
saqueando a alegria de seus matrimônios, aproximadamente cem anos atrás.
E penso que tive bastante oportunidades para ver claramente, que por isto o
diabo tem prevalecido contra o último grande reavivamento da religião na Nova
Inglaterra, tão feliz e prometedor em seu princípio. Aqui, mais evidentemente,
tem sido a principal vantagem de Satã contra nós; por isto ele tem nos
frustrado. É por estes meios que a filha de Sião nesta terra agora descansa no
chão, em semelhantes lastimosas circunstâncias, com seus vestuários
rasgados, sua face desfigurada, sua nudez exposta, seus membros quebrados,
e encapelando no sangue de suas próprias feridas, e de maneira nenhuma
capaz de levantar; e isto, tão rapidamente depois de sua última grande
felicidade e esperança. Lamentações 1:17: “Estende Sião as suas mãos, não
há quem a console; mandou o SENHOR acerca de Jacó que lhe fossem
inimigos os que estão em redor dele; Jerusalém é entre eles como uma mulher
imunda”. Tenho visto o diabo prevalecer pelo mesmo caminho, contra dois
grandes reavivamentos de religião neste país. — Satã continua com a
humanidade assim como ele começou com eles. Ele prevaleceu contra nossos
primeiros pais, e lhes arremessou para fora do paraíso, e subitamente trouxe
toda sua felicidade e glória ao fim, aparentando ser um amigo de seu estado
feliz, e fingindo avançar-lhes a um degrau mais alto. Assim, a mesma serpente
perspicaz que enganou Eva através de sua astúcia, nos apartando da
simplicidade que há em Cristo, tem subitamente nos privado daquele justo
prospecto que tínhamos, há pouco tempo atrás, de uma espécie de estado
paradisíaco da igreja de Deus na Nova Inglaterra.

Após a religião reviver na igreja de Deus, e os inimigos aparecer, as pessoas


que são engajadas a defender sua causa são comumente mais expostas, onde
elas estão sensíveis de perigo. Enquanto elas estão inteiramente atentas sobre
a oposição que aparece abertamente diante deles, para fazer cabeça contra
esta, e enquanto elas negligenciam cuidadosamente para olhar ao redor, o
diabo vem atrás deles, e dá uma punhalada fatal não vista; e ele tem
oportunidade para dar uma pancada mais interna, e machucar o profundo,
porque ele ataca em seu descanso e não sendo obstruído por nenhuma guarda
ou resistência.

E assim provavelmente sempre será na igreja, não importa quando a religião


reviver consideravelmente, até que nós tenhamos aprendido bem a distinguir
entre a verdadeira e a falsa religião, entre as emoções e experiências salvíficas
e aquelas diversas impressões atraentes e aparências brilhantes, pelas quais
elas são falsificadas; as conseqüências das quais, quando elas não são
distinguidas, são freqüentemente indizivelmente terríveis. Por estes meios , o
diabo gratifica a si mesmo, pois as multidões oferecem uma adoração falsa a
Deus sob a ilusão de um culto aceitável, que é na realidade acima de todas as
coisas abominável a Ele. Por estes meios, ele ludibriou grandes multidões
sobre o estado de suas almas; fazendo-lhes pensar que eles são alguma coisa,
quando eles não são nada; e assim eternamente lhes desfazendo; e não
somente assim, mas estabelecendo muitos na forte confiança de sua eminente
santidade, que, aos olhos de Deus, são alguns dos vis hipócritas. Por este
meios, ele muitas vezes desanimou e feriu a religião nos corações dos santos,
obscureceu e deformou-a pelas misturas corrompidas, fez com que suas
emoções religiosas tristemente se degenerassem, e algumas vezes, por um
considerável tempo, ser como o maná que produziu vermes e fedor; e
terrivelmente enlaçou e confundiu as mentes de outros, trazendo-lhes à
grandes dificuldades e tentações, e embaraçando-lhes em uma vastidão,
dentre os quais eles não podiam de forma alguma se desembaraçar. Por estes
meios, Satanás poderosamente encoraja os corações dos inimigos explícitos,
fortalecendo suas mãos, enchendo-lhes com armas, e fortalecendo suas
fortalezas; quando ao mesmo tempo, a religião e a igreja de Deus permanece
exposta a eles, como uma cidade sem muralhas. Por estes meios, ele faz com
que os homens ímpios pequem na ilusão de estarem servindo a Deus; e
portanto, pecam sem restrições, sim, com ardente solicitude e zelo, e com todo
sua força. Por estes meios, ele faz que até os amigos da religião,
insensivelmente, façam o trabalho de seus inimigos, destruindo a religião em
uma maneira mais eficaz do que os inimigos declarados podem fazer, na ilusão
de o estarem fazendo progredir. Por estes meios, o diabo dispersa o rebanho
de Cristo, e colocá-os uns contra os outros com grande calor de espírito, sob
uma noção de zelo por Deus; e a religião, gradualmente, degenera em vãs
disputas. Durante os conflitos, Satanás conduz ambas as partes para fora do
caminho correto, dividindo cada um em grandes extremos, um na mão direita, e
o outro na esquerda, conforme ele os encontra mais inclinados, ou mais
facilmente movidos e oscilantes, até que o caminho correto no meio é quase
completamente negligenciado. No meio desta confusão, o diabo tem grande
oportunidade para avançar em seu próprio interesse, para fazê-lo forte de
inumeráveis modos, de obter o governo de todas as coisas em suas próprias
mãos, e operar sua própria vontade. E pelo que é visto das terríveis
conseqüências desta falsificação, quando não distinguida da verdadeira
religião, o povo de Deus em geral têm suas mentes perturbadas na religião, e
não sabem onde colocar os seus pés, ou o que pensar, e muitos são trazidos à
duvidar de o quer que seja na religião; e heresia, infidelidade, e ateísmo
prevalece grandemente.

Conseqüentemente, é vital que nos esforcemos ao máximo para claramente


discernir, e ter bem assentado e estabelecido, no que consiste a verdadeira
religião. Até que isto seja feito, não podemos esperar que grandes avivamentos
de religião tenham longa duração; até que isto seja feito, não podemos esperar
muito proveito de todos nossos calorosos debates, em conversação e a partir
da impressa, não sabendo claramente e distintivamente o que devemos
contender.

Meu propósito é contribuir com o meu pouco, e usar o meu melhor (embora
débil) esforçando-me para este fim, no subseqüente tratado: no qual deve ser
notado que é um tanto diferente do propósito de que eu tinha anteriormente
publicado, que foi para mostrar As marcas distintivas da obra do Espírito de
Deus, incluindo tanto suas operações comuns e salvifícas. O que tenciono
agora, é mostrar a natureza e sinais das graciosas operações do Espírito de
Deus, pelas quais elas são distinguidas de todas as outras — sejam quais
forem - que não são de uma natureza salvífica. Se eu for sucedido nesta minha
intenção, em qualquer medida tolerável, espero que tenda a promover o
interesse da religião. E se eu for sucedido em trazer alguma luz para este
assunto ou não, e embora meus esforços possam ser reprovados, nestes
tempos ardilosos e censuradores, espero na misericórdia da graça e justiça de
Deus, para aceitação da sinceridade de meus esforços; e espero também pelo
candor e orações dos verdadeiros seguidores do manso e benevolente
Cordeiro de Deus.

Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto


Cuiabá-MT, Junho de 2003.

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