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COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS PARA

MELHORIA CONTÍNUA DA PRODUÇÃO:


ESTUDO DE CASO EM EMPRESAS DA
INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS

Melissa Mesquita
Arvin Meritor, LVS Wheels Division,
Av. Major José Levy Sobrinho, 2700, CEP 13486-925,
Limeira, SP, e-mail: melissa.mesquita@arvinmeritor.com

Dário Henrique Alliprandini


Departamento de Engenharia de Produção,
Universidade Federal de São Carlos,
Via Washington Luís, km 235,
CEP 13565-905, São Carlos, SP,
v.10, n.1, p.17-33, abr. 2003 e-mail: dha@power.ufscar.br

Resumo

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa descritiva e exploratória realizada em três
empresas da indústria de autopeças, certificadas com ISO 9000 e QS 9000, a fim de identificar
competências essenciais para melhoria contínua da produção. As principais observações encontradas
foram: as empresas há muito vêm estruturando uma sistemática e desenvolvendo o treinamento em
técnicas e ferramentas necessárias, considerando-se, assim, habilitadas a executar atividades de
melhoria. Entretanto, elas não estão conduzindo atividades de melhoria contínua visando ao aumento
de seu nível de maturidade, com foco no desenvolvimento de competências. Este artigo apresenta uma
discussão sobre a importância da condução da gestão da melhoria contínua com base na gestão de
competências, visando garantir o amadurecimento contínuo das atividades de melhoria contínua na
organização.
Palavras-chave: melhoria contínua, gestão da produção, gestão do conhecimento, gestão da
qualidade, gestão de competências.
18 Mesquita & Alliprandini – Competências Essenciais para Melhoria Contínua da Produção...

1. Introdução de aspectos associados ao desenvolvimento de


competências para a melhoria da produção.

O cuidado com as competências existentes


na organização pode garantir que elas sejam
vistas em sua totalidade e, se utilizadas na prática
Afinal, o objetivo principal do estudo realizado
foi identificar tais competências, sendo que o
termo competência não foi relacionado ao
da melhoria contínua, levem ao aperfeiçoamento indivíduo em si, mas abordado segundo o aspecto
auto-sustentado e continuado dos processos da organizacional e de gestão das atividades de
produção. melhoria contínua da produção. Para isso, foram
A melhoria da produção deve ser tratada de desenvolvidos os seguintes objetivos suple-
forma completa, o que requer balanceamento mentares: caracterizar a sistemática de melhoria
e integração dos sistemas técnicos e sociais. Isso das empresas, incluindo técnicas, metodologias,
conduz à necessidade de atuação em diferentes abordagens utilizadas e capacitação; e identificar
áreas e à consideração de aspectos como comportamentos relacionados às competências
habilidades e motivação (Harrison, 2000); o que para melhoria contínua em empresas da indústria
também pode ser confirmado nos trabalhos de de autopeças.
Brannen et al. (1998) e Harrison & Storey (1996). Em razão de o trabalho ter seu foco nas
É possível verificar, em várias empresas ou atividades de melhoria, foram selecionadas
organizações, atividades de melhoria que muitas empresas que já passaram pelo processo de
vezes são chamadas de “melhoria contínua”, implementação dos requisitos da QS 9000, pois
como, por exemplo, nas empresas com sistema estruturaram uma sistemática mínima para
de qualidade com base nos requisitos da QS 9000. condução e coordenação das atividades de melhoria.
Entretanto, não se pode afirmar que essas Além disso, teve-se o cuidado de escolher as que
atividades são realmente de melhoria contínua. já tinham prática em desenvolver atividades de
Uma possível explicação seria o fato de elas melhoria da produção, principalmente para não
ressaltarem a aplicação de técnicas e ferramentas limitar o escopo da pesquisa ao que a empresa
sem entendimento básico dos comportamentos realizou para atender ao requisito da norma em
relacionados à cultura da empresa, os quais afetam questão.
o desempenho da atividade (Rodrigues, 1998). Além desta introdução, contextualizando o
Atualmente, é razoável admitir haver carência objetivo do estudo realizado, o artigo expõe
nas empresas quanto à coordenação das atividades alguns conceitos sobre melhoria contínua,
de melhoria dentro de uma visão sistêmica dos seguidos de discussão sobre aspectos abstratos
processos existentes. As atividades normalmente da melhoria contínua da produção, nesse caso,
focam a solução necessária para se adequar a um habilidades para melhoria contínua. A próxima
ou outro indicador de desempenho, e não estendem seção trata de competência, de conhecimento
a análise para implicações em outros processos. e de sua relação com a melhoria contínua da
Pode-se, então, esperar, como contribuição impor- produção. Em outra seção, é mostrado o método
tante deste trabalho, o reconhecimento de alguns de pesquisa utilizado e, em seguida, a descrição
tipos de comportamentos que já são praticados nas e a discussão dos casos estudados. Por fim, são
empresas e que serviram de base ou alavanca para apresentados aspectos como a importância da
iniciar a estruturação de uma sistemática de melhoria contínua, a razão de melhorar conti-
melhoria contínua. nuamente, a importância da gestão das atividades
Assim, este artigo contribui para ampliar o de melhoria contínua, a identificação de uma
escopo da coordenação das atividades de melho- nova habilidade básica e, em seguida, algumas
ria, que passa a ter consciência da importância considerações finais.
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2. Compreendendo os conceitos e petências nas práticas das organizações, ou seja,


abordagens para melhoria é uma forma de identificar e desenvolver
contínua comportamentos para chegar às competências
essenciais. Afinal, é na prática das atividades de
Primeiramente, é importante apresentar um melhoria contínua que se formam os comporta-
conceito para melhoria contínua; para isso foi mentos para adquirir algum tipo de competência
escolhida a definição utilizada por Caffyn & essencial visando à melhoria contínua da produção.
Bessant (1996), por ser simples e ao mesmo Já Imai (1997) aborda especificamente a
tempo representar todo o seu escopo: “Melhoria melhoria contínua, mostrando conceitos e
contínua é um processo, em toda a empresa, sistemas associados a ela, o que facilita bastante
focado na inovação incremental e contínua”. sua identificação e desenvolvimento. Também
A obra de Slack et al. (1997) traz abordagem estabelece uma comparação entre melhoria
mais genérica, importante para contextualizar a contínua e inovação.
melhoria contínua da produção em termos Davenport (1994) também afirma que a
pragmáticos. Eles estabelecem passos a serem participação nos programas de melhoria contínua
seguidos para chegar à melhoria. Na realidade, é da qualidade ocorre de baixo para cima no orga-
o que acontece nas organizações: o desempenho nograma organizacional, em que os funcionários
é medido e acompanhado (com diferentes níveis são estimulados a examinar e recomendar
de estruturação), e chega-se, então, aos pontos que mudanças nos processos de trabalho dos quais
merecem especial atenção e que precisam ser participam. Por outro lado, a reengenharia de
melhorados. Assim, escolhe-se melhoria contínua processos, cuja abordagem é baseada na revisão
ou revolucionária (ou inovação), ou uma com- e no reprojeto amplos dos processos de negócios
binação das duas (nesse ponto já não há grande de uma empresa, se dá muito mais de cima para
clareza por parte das organizações). Melhoria baixo, pois exige administração forte da alta
contínua e inovação são dois conceitos que, apesar gerência, afinal, apenas os que estão em posições
de opostos, caminham juntos, pois são formas que controlam funções múltiplas podem ser
diferentes de tratar a melhoria de um padrão, não capazes de reconhecer oportunidades de ino-
deixando de ser melhorias e, portanto, de haver vação. Obviamente, para que níveis organiza-
a necessidade de serem analisadas conjuntamente. cionais e operacionais tomem iniciativas para
Davenport (1994) trata especificamente da melhorar processos, a alta administração precisa
diferenciação entre melhoria contínua e inovação, estar comprometida com essa prática. Ou seja,
aconselhando, assim como Juran (1969), a Davenport não deixa de ter razão, afinal, todos
combinação das duas. Merli (1993) contextualiza na organização estão aptos a participarem de
a melhoria contínua na história do Japão, programas de melhoria contínua. Porém, assim
importante para enxergá-la como parte da cultura como para a inovação, a melhoria contínua
de uma organização, ou seja, a melhoria contínua precisa do comprometimento da alta admi-
não é eficaz se tratada isoladamente ou apenas nistração; sua alavanca não pode ficar apenas
como informação, precisa ser vivida. no nível operacional, também precisa estar
Upton (1996) trata o tema melhoria contínua alinhada estrategicamente e, assim, desdobrada
com enfoque mais prático para as organizações de cima para baixo, caso contrário, tende a
e apresenta passos que devem ser seguidos para tornar-se um evento isolado. Isso pode ser
efetivar essa melhoria, sendo menos genérico que evidenciado pelo estudo de caso realizado.
Slack et al. (1997). Isso é importante para saber Shiba et al. (1997) também comparam
mais claramente onde a melhoria se aplica, como rapidamente melhoria contínua e inovação,
proceder e que recursos organizacionais usar, voltando-se para o operacional. Enfatizam bastante
ajudando, assim, na contextualização das com- a gestão por processos, já citada por outros autores
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(“... os gerentes devem ser capazes de ver o 3. Habilidades para melhoria


processo de melhoria como um processo, com contínua
o propósito de proporcionar direção e apoio aos
subordinados engajados nas atividades de Neste item a melhoria contínua é voltada para
melhoria”). Isso significa enxergar a melhoria aspectos mais abstratos das organizações, ou seja,
como um processo. É esse processo que diferen- são apresentadas apenas ferramentas para ampliar
ciará uma empresa da outra, o como fazer, o como o foco, vislumbrando comportamentos, habili-
chegar às competências essenciais para melhoria dades, competências, aprendizagem e conhe-
contínua e os comportamentos particulares de cada cimento.
uma visando chegar a um resultado comum: a A Tabela 1 apresenta as habilidades e as normas
competência essencial para melhoria contínua. comportamentais propostas por Caffin & Bessant
Os autores consideram a melhoria um processo (1996). A primeira coluna mostra as habilidades
de resolução de problemas e, a partir daí, propõem básicas que uma organização deve apresentar para
um modelo para essa resolução, definindo três ser capaz de promover a boa prática da melhoria
tipos de melhoria: controle de processos, melhoria contínua. Relacionadas a cada uma das habilidades
reativa e melhoria proativa. O uso dessa básicas, as normas comportamentais estão listadas
terminologia auxilia bastante na identificação do na segunda coluna. Elas representam os padrões
nível de prática para melhoria contínua em que de comportamento que devem estar presentes na
as organizações se encontram. organização, a fim de que a empresa tenha a
Outras abordagens também são importantes, habilidade básica associada à norma comporta-
como, por exemplo, os sistemas da qualidade mental. Mais adiante essa tabela é adaptada para
ISO 9000 e QS 9000 – ambiente escolhido para os objetivos da pesquisa realizada (Tabela 2).
a realização da pesquisa de campo –, o CEDAC Caffin & Bessant (1996), assim como os autores
(Cause and effect diagram with the addition of deste estudo, se depararam com a falta de clareza
cards), o PDCA (o já conhecido ciclo Plan-do- quando se tratava do tema melhoria contínua. Isso
check-action), as sete ferramentas da qualidade, pode levar as empresas a se equivocarem no que
o TQM (Total quality management), o CCQ diz respeito a sua implementação. Assim, nas
(Círculos de controle da qualidade), o Seis Sigma análises que fizeram das várias implementações
e a metodologia Triz (Teoria da solução inventiva de melhoria contínua, conseguiram identificar as
de problemas), pois dependendo de seu nível habilidades básicas e as normas comportamentais,
de prática, pode-se definir o grau de maturidade constatando que nem todas as empresas que dizem
de uma empresa em relação à melhoria contínua. praticar melhoria contínua realizam uma gestão
Também é relevante o fato de já haver uma nova que considera aspectos relacionados ao desen-
norma para o setor automotivo, a ISO/TS 16949, volvimento de habilidades, ou seja, não somente
que aborda a melhoria contínua dentro do aspectos técnicos e metodológicos.
requisito “Responsabilidade da Administração”, Portanto, é importante analisar e gerir a prática
uma evidência de que a melhoria contínua da da melhoria contínua da produção a partir de um
produção tem de estar alinhada estrategicamente. ponto de vista diferente e mais abrangente do que
Finalmente, Bessant et al. (1994) apresentam o considerado “usual” (prática de uma sistemática
a importância do gerenciamento das atividades preestabelecida para melhoria e solução de
de melhoria contínua, explicitando aspectos do problemas, bem como para capacitação e uso de
gerenciamento, como objetivos, planejamento, ferramentas apropriadas). Vale destacar que a
comprometimento da alta gerência, etc., sendo melhoria contínua não deve ser desconectada das
de fundamental importância na investigação da técnicas, afinal são elas que capacitam as empresas
sistemática de melhoria contínua nas empresas. a desenvolver habilidades e comportamentos.
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Tabela 1 – Habilidades básicas e normas comportamentais (Caffin & Bessant, 1996).

Habilidades básicas Normas comportamentais

1. Indivíduos e grupos usam metas e objetivos


(A) Ligar as atividades de melhoria contínua em
estratégicos da organização para focar e priorizar suas
todos os níveis de estratégia da empresa.
atividades de melhoria.

2. Sistema de melhoria contínua é constantemente


monitorado e desenvolvido.
(B) Gerenciar estrategicamente o
desenvolvimento do sistema de melhoria contínua 3. A avaliação progressiva assegura que a estrutura e a
nas estruturas da organização. infra-estrutura da organização, bem como o sistema de
melhoria contínua, consistentemente, reforcem e apóiem
um ao outro.

4. Gerentes de todos os níveis mostram compromisso


(C) Gerar envolvimento sustentado em inovação ativo e liderança em relação à melhoria contínua.
incremental.
5. Participação pró-ativa em melhoria incremental.

(D) Trabalhar efetivamente por meio das divisões 6. Trabalho efetivo de indivíduos e grupos por todos os
internas e externas. níveis das divisões internas e externas.

7. Aprendizagem por intermédio de experiências próprias


e de outros, tanto positivas como negativas.
(E) Garantir que a aprendizagem ocorra e seja
capturada e compartilhada em todos os níveis.
8. A organização articula e desdobra a aprendizagem de
indivíduos e grupos.

(F) Articular, demonstrar e comunicar os valores


9. As pessoas “vivem” os valores da melhoria contínua.
da melhoria contínua.

Assim, são estabelecidas fases de desenvol- passo dado e a ser dado. Dessa forma, a melho-
vimento ou maturidade para melhoria contínua ria contínua, normalmente, vai se enraizando
(Caffin & Bessant, 1996), o que contribui para na rotina da empresa, passando a fazer parte
a realização do estudo de caso; afinal, o que de sua cultura. E é nesse ponto que se encontra
pode diferenciar uma empresa de outra é seu a maior dificuldade das empresas; afinal, o
nível de prática – como desenvolve a melhoria rompimento de paradigmas culturais pode
contínua –, que não pode ser copiado. Tais demorar bastante tempo.
níveis de maturidade também são importantes As fases da estrutura de maturidade em me-
para guiar as empresas. Por meio deles é possível lhoria contínua são (Caffin et al., 1997):
saber o patamar atual e onde se pode e se quer l Nível 1 (melhoria contínua natural): a
chegar, pelo levantamento de habilidades e organização não tem nenhuma das habi-
comportamentos existentes e dos que se deseja lidades essenciais e nenhum dos compor-
obter. No desenvolvimento da melhoria contínua tamentos-chave está presente. Mas pode ter
e do foco nas competências essenciais o impor- alguma atividade de melhoria, como a
tante é agir conscientemente em relação a cada solução de problema que ocorre ao acaso.
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l Nível 2 (melhoria contínua formal): há a importância de expandir a melhoria contínua


mecanismos capacitadores alocados e e enxergá-la de forma sistêmica. Seu tratamento
evidência de que alguns aspectos dos isolado tem vida curta.
comportamentos-chave estão começando
a ser desempenhados conscientemente. 4. Conhecimento, competências e
Características comuns deste nível são:
sua relação com melhoria
solução sistemática do problema, treina-
mento no uso de ferramentas simples de
contínua
melhoria contínua e introdução de veículos A questão “gestão de conhecimento” teve
apropriados para estimular o envolvimento. importante papel no desenvolvimento deste
l Nível 3 (melhoria contínua dirigida para trabalho. Neste contexto, a questão das compe-
a meta): a organização está segura de suas tências foi abordada para fundamentar a
habilidades e os comportamentos que as importância de sua gestão para melhoria contínua
suportam se tornam norma. A solução de da produção. A correlação das competências
problema é direcionada para ajudar a em- essenciais com as habilidades básicas para
presa a atingir suas metas e objetivos, melhoria contínua da produção foi realizada com
havendo monitoramento e sistemas de base em Leonard-Barton (1995), assim como
medição eficientes. o conceito de competências focado no desenvol-
l Nível 4 (melhoria contínua autônoma): a vimento de produto, adaptado para este trabalho.
melhoria contínua é amplamente auto- Essa correlação é importante para a visualização
dirigida, com indivíduos e grupos fomen- do gerenciamento estratégico da melhoria
tando atividades a qualquer momento que contínua e, conseqüentemente, de seu impacto
uma oportunidade aparece. na vantagem competitiva da organização. É
l Nível 5 (capacidade estratégica em importante notar que a autora foca habilidades
melhoria contínua): a organização tem todo individuais, não as habilidades organizacionais,
o conjunto de habilidades e todos os com- tratadas no presente trabalho. O comportamento,
portamentos que as reforçam tornam-se apesar de ser visualizado em nível individual,
rotinas engrenadas. Muitas características também está associado às ações de um grupo
atribuídas à “organização de aprendiza- de pessoas, ou seja, às ações presentes na orga-
do” estão presentes. nização como um todo.
A rigidez essencial, considerada por Leonard-
A organização muda ao longo dos níveis, Barton (1995), é extremamente importante para
construindo as habilidades básicas e desen- atentarmos se as competências presentes em uma
volvendo as normas comportamentais da melhoria organização estão exercendo sua função (que
contínua. é prover vantagem competitiva, ou seja,
Também é de extrema importância o impacto diferenciar uma empresa) ou se estão se
das atividades de melhoria contínua no desem- comportando com rigidez essencial (causando
penho e na prática das organizações (Bessant desvantagens para a empresa) – aspecto impor-
et al., 2001), o que evidencia e redução de custos tante a ser levado em consideração no momento
das empresas. Afinal, quando se trata de aspectos em que as organizações fazem uma análise de
mais abstratos nas organizações, fica difícil seu status, identificando em que nível estão em
visualizar seu impacto nos custos. Na realidade, relação à melhoria contínua. Assim, não basta
em uma empresa tudo deve estar relacionado, levantar comportamentos e chegar às competên-
pois a empresa é um todo e não pode ser tratada cias, é necessário identificar o papel dessas
de forma fragmentada, toda ação realizada em competências dentro das organizações e verificar
certo lugar terá repercussão no restante. Aí está se estão cumprindo seu propósito.
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Neste trabalho, a associação de habilidade Leonard-Barton (1995) trata as competên-


básica e competência essencial garante o foco cias de forma sistêmica, englobando todas as
na questão do conhecimento organizacional. atividades da empresa, principalmente o
A discussão sobre o desenvolvimento de uma desenvolvimento de produto. Deseja-se aqui
proposta para gestão das atividades de melhoria associar as competências às atividades de
contínua que levasse em consideração questões melhoria contínua da produção, ou seja, o foco
relacionadas às habilidades básicas e à gestão está nas competências relacionadas à melhoria
de competências surgiu a partir de algumas contínua da produção. Assim, como competên-
reflexões acerca das relações entre os elementos cias essenciais consideraram-se os comporta-
da melhoria contínua da produção e os tipos de mentos relacionados às habilidades básicas para
competências escolhidos para o trabalho. A idéia melhoria contínua (veja Tabela 1), ou seja, o
iniciou-se pela associação de aspectos da conjunto de habilidades básicas para melhoria
melhoria contínua da produção com os três tipos contínua foi adotado como competências essen-
de competências – suplementares, habilitadoras ciais para melhoria contínua da produção
e essenciais – apresentados por Leonard-Barton Na classificação de competências habilitadoras
(1995). Competências essenciais são aquelas que foram alocados os aspectos considerados mínimos
constituem uma fonte de vantagem competitiva para uma empresa iniciar atividades de melhoria,
para a empresa e que foram construídas ao longo como, por exemplo, técnicas de solução de
do tempo e dificilmente são imitadas. Já as problemas, trabalho em grupo, etc.
competências habilitadoras são necessárias, mas Como competências suplementares foram
não suficientes para diferenciar a empresa de incluídos os aspectos relacionados a práticas que
forma competitiva, são o mínimo para a empresa possibilitam alavancar ou maximizar os benefí-
ser competitiva. As competências suplementares cios das atividades de melhoria. Iniciativas
adicionam valor às competências essenciais, particulares podem ser adicionadas à empresa
entretanto podem ser imitadas. Como o próprio a fim de ampliar, esclarecer e até aperfeiçoar
nome sugere, é bom tê-las, porém não são as competências essenciais (neste caso, os
essenciais. Tanto as competências habilitadoras comportamentos). Pode-se ter, por exemplo, a
como as suplementares não são suficientemente gerência por processos, um sistema da qualidade,
superiores para proporcionarem vantagem um sistema de informação estruturado para
sustentável. A autora descreve a evolução da qualidade, um sistema de custos da qualidade
importância estratégica das competências tecno- e o treinamento contínuo associado às iniciativas
lógicas, que se inicia com as competências ou comportamentos afetados.
suplementares, com menor importância estraté- Dessa forma, pode-se dividir competências
gica, passa pelas competências habilitadoras e, essenciais em dois tipos. O primeiro é o conhe-
finalmente, chega às competências essenciais, cimento específico do mercado/processo/produto,
que são as mais importantes estrategicamente. que não está explicitamente colocado por ser
Neste artigo, procurou-se adaptar os tipos de específico ou mesmo confidencial dentro de cada
competências identificados por Leonard-Barton empresa. Outro tipo são as competências
(1995) para o caso específico da gestão da essenciais para atividades de melhoria contínua
melhoria contínua. Pode-se notar, como segue, da produção, incluídas com base nas habilidades
que a estratificação dos diversos aspectos da para melhoria contínua (Tabela 1). Obviamente,
melhoria contínua nos três tipos de competências essa foi uma adequação aos propósitos deste
é bastante útil para facilitar o entendimento da trabalho, que aborda as competências para me-
complexidade das atividades de melhoria da lhoria contínua da produção de maneira geral,
produção. não específica para empresa. Essa especificidade
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deve ser tratada por empresa, baseando-se na cula do gerenciamento dos comportamentos –
visão geral das competências essenciais, de forma a proporcionarem vantagem competi-
levando-se em consideração o ambiente e as tiva para a empresa e não um conjunto de rigidez
competências essenciais de mercado/processo/ essencial.
produto. O conhecimento está arraigado nos compor-
As competências essenciais para melhoria tamentos e sua gestão pode servir de alavanca
contínua da produção foram tratadas no levan- para a estruturação de um comportamento or-
tamento de comportamentos que pudessem ganizacional, levando naturalmente às habilidades
evidenciar a devida prática de atividades de básicas para melhoria contínua. Assim, a gestão
melhoria. Tais comportamentos foram associa- do conhecimento leva aos comportamentos orga-
dos às habilidades básicas para melhoria nizacionais; por sua vez, a presença dos compor-
contínua. As competências habilitadoras e tamentos e sua boa gestão levam às competências
suplementares foram associadas à sistematização essenciais e, por intermédio da gestão das
das atividades de melhoria. competências essenciais, uma organização pode
O conceito de competência essencial define alcançar a vantagem competitiva. Afinal, o
que ela não pode ser copiada, no caso de produtos conhecimento arraigado nas atividades, nas
e processos isso fica muito claro. Entretanto, a normas, nas práticas, na experiência e nos valores
associação feita no presente trabalho é diferente. pode suportar os comportamentos, caracterizando,
Neste caso, as competências essenciais para assim, as normas comportamentais que levam às
melhoria contínua da produção são um objetivo habilidades básicas para melhoria contínua da
que pode e deve ser copiado e seguido, porém, produção.
os comportamentos que levam a essas compe- Esse referencial teórico serviu de base para
tências serão diferentes de uma empresa para a condução do estudo exploratório deste trabalho,
outra. Ou seja, o que diferenciará uma empresa permitindo ampliar a compreensão da prática
da outra é como chegar às competências. da melhoria contínua nas empresas e, juntamente
Nonaka & Takeuchi (1997) apresentam uma com os conceitos estudados na revisão teórica,
definição de conhecimento importante para a construir um conjunto de considerações que
associação com as habilidades básicas ou compe- podem ser bastante úteis para a gestão da
tências essenciais. Afirmam que o conhecimento melhoria contínua nas organizações.
está em indivíduos, rotinas, processos, normas
e práticas da organização, e a criação de conheci- 5. Método de pesquisa
mento na empresa deve ser o cerne das
estratégias de recursos humanos. Neste trabalho, Com base nas características da pesquisa,
o essencial das competências para melhoria seguiu-se os critérios: adequação aos conceitos,
contínua é o conhecimento arraigado na prática adequação aos objetivos, validade de construção,
das atividades de melhoria contínua, ou seja, nos validade interna, validade externa e confia-
comportamentos que são capazes de diferenciar bilidade; a fim de selecionar a abordagem de
uma empresa de outra e, assim, proporcionar pesquisa (Salomon, 1991; Bryman, 1989; Yin,
vantagem competitiva. 1989). Assim, entre as abordagens quali e
Davenport & Prusak (1998) contextualizam quantitativa pôde-se concluir que a qualitativa
a gestão do conhecimento, importante para esta foi a mais adequada para o desenvolvimento da
pesquisa, na associação com a gestão de compe- presente pesquisa. Afinal, houve necessidade
tências. Afinal, não basta possuir habilidades, da presença do pesquisador, de captar e entender
é necessário gerenciá-las – o que não as desvin- a interpretação e a opinião das pessoas, as
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variáveis eram difíceis de quantificar, houve certificado pela ISO 9000, há pelo menos cinco
contribuição para a teoria, necessidade de anos, e QS 9000, há pelo menos um ano; e b)
compreensão do uso da informação, conhe- ter programas formais relacionados à melhoria
cimento do sistema de gestão de competências, contínua. A constatação desses critérios foi feita
necessidade de identificar comportamentos por meio de contato prévio com as empresas.
organizacionais e de compreender os tipos de As três empresas são de grande porte,
melhoria praticados, além da possibilidade de multinacionais e fornecedorass de primeiro nível
generalização da teoria. na cadeia da indústria automotiva. A empresa
Já o método de procedimento da pesquisa foi “A” desenvolve e fabrica sistemas automotivos
selecionado tendo por referência as características e os principais produtos são baterias e injeção
da pesquisa e a adequação dos métodos. Assim, eletrônica. Ela certificou-se nos requisitos QS
considerando os métodos: pesquisa experimental, 9000 em 1997 e já realizou três revisões em sua
pesquisa de avaliação, estudo de caso e pesquisa- sistemática relacionada à melhoria contínua. A
ação, foi possível concluir que o mais adequado segunda empresa estudada, a empresa “B”,
às características da pesquisa desenvolvida foi também certificou-se nos requisitos QS 9000
o método de estudo de caso (presença do pes- em 1997 e já realizou cinco revisões nos
quisador, construção de teoria, variáveis difíceis procedimentos relacionados à melhoria contínua.
de quantificar, responder à pergunta de pesquisa Os principais produtos dessa empresa são
“como?” e dificuldade de manipulação das transmissões para diversos tipos e porte de
variáveis). veículos automotores. A empresa “C” tem a
Utilizou-se a entrevista semi-estruturada como certificação QS 9000 desde 1996 e as revisões
técnica para coleta de evidências. No nível macro, das sistemáticas relacionadas à melhoria contínua
a unidade de análise foi um conjunto de empresas são realizadas uma vez por ano. Essa empresa
da indústria de autopeças, que preencheram os desenvolve e fabrica rodas de aço para
requisitos preestabelecidos para investigação e automóveis e utilitários.
que estavam abertas à realização do estudo em Cada uma dessas empresas apresenta progra-
sua estrutura organizacional. Já no nível micro, mas específicos, e as habilidades relacionadas
a unidade de análise foram as pessoas que à melhoria contínua estão assinaladas nas últimas
participavam direta ou indiretamente das colunas da Tabela 2. Dentro de uma mesma
atividades de melhoria da produção. empresa, os programas normalmente são
diferentes, sendo que ao menos um é diretamente
6. Descrição e discussão dos ligado ao chão-de-fábrica e outro apresenta
características mais estratégicas que envolvem
casos estudados
decisões gerenciais para a implementação das
Foram realizadas visitas em três empresas ações. Isso foi observado nas três empresas. A
da indústria de autopeças (empresas A, B e C), prática de atividades de melhoria sob a
nas quais foi aplicado um roteiro de pesquisa responsabilidade dos funcionários de chão-de-
que contemplava questões relacionadas à fábrica é advinda das atividades dos círculos de
sistematização das atividades de melhoria controle da qualidade, e seu principal papel ainda
contínua da produção e às habilidades básicas é motivar a participação de todos, o que leva
para melhoria contínua da produção, tomando as três empresas a realizarem premiações e/ou
por base a Tabela 1, apresentada anteriormente. outros mecanismos para manter o nível de
A escolha das empresas foi basicamente definida participação dos funcionários (índice monitorado
por dois critérios: a) ter o sistema da qualidade inclusive pela área de recursos humanos).
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Tabela 2 – Habilidades básicas e normas comportamentais


(adaptada de Caffin & Bessant, 1996).

Habilidades Normas Exemplos de comportamentos vistos Empresas


básicas comportamentais na prática A B C
– Times de MC com potencial impacto sobre
(A) Ligar as os objetivos da empresa quando avaliam
1. Indivíduos e grupos usam
atividades de soluções alternativas para os problemas
metas e objetivos estratégicos
melhoria contínua
da organização para focar e X X X
em todos os níveis – Juntos, todos os membros dos departamentos
priorizar suas atividades de
de estratégia da envolvidos identificam e priorizam melhorias
melhoria
empresa para irem ao encontro dos objetivos do
departamento
– A freqüência, a localização e os resultados
das melhorias são monitorados
2. Sistema de melhoria – O sistema de MC é revisto periodicamente e
(B) Gerenciar contínua é continuamente ações são tomadas para melhorar sua eficiência X X X
estrategicamente o monitorado e desenvolvido – Treinamento relacionado à MC é
desenvolvimento estabelecido e melhorado depois de cada
do sistema de entrega
melhoria contínua 3. A avaliação progressiva
dentro das assegura que a estrutura e a – A organização do trabalho foi reestruturada
estruturas da infra-estrutura da organização, para facilitar o trabalho em grupo
organização bem como o sistema de – Antes de uma fusão entre empresas um X X
melhoria contínua, diretor estabelece seu impacto na atividade de
consistentemente, reforcem e MC e, como resultado, uma ação é tomada
apóiem um ao outro

4. Gerentes de todos os níveis – Gerentes sêniors promovem o treinamento


mostram compromisso ativo e em MC
(C) Gerar X X X
liderança em relação à – Gerentes liberam as pessoas da linha para
envolvimento melhoria contínua participarem do trabalho de melhoria
sustentado em
inovação – Pessoas de todos os níveis iniciam atividades
incremental 5. Participação pró-ativa em de MC
X X
melhoria incremental – A medição do processo é amplamente
utilizada
– Alto nível de cooperação entre
(D) Trabalhar 6. Trabalho efetivo de
departamentos e funções
efetivamente ao indivíduos e grupos por todos
– Pessoal da produção se reúne com os X X
longo das divisões os níveis das divisões internas
fornecedores-chave para discutir problemas e
internas e externas e externas
melhorias
7. Aprendizagem por meio de – Problemas, assim como empreendimentos,
(E) Garantir que a experiências próprias e de são livremente discutidos com os colegas
X X
aprendizagem outros, tanto positiva como – Participação nas revisões de projetos
ocorra e seja negativa divulgados e anunciados
capturada e
compartilhada em 8. A organização articula e – Uma ferramenta de matriz é usada para
todos os níveis desdobra a aprendizagem de identificar outras áreas em que a melhoria pode X
indivíduos e grupos ser aplicada
(F) Articular,
– Quando algo dá errado, as pessoas procuram
demonstrar e
9. As pessoas “vivem” os a causa, em vez de um responsável
comunicar os X X X
valores da melhoria contínua – O pessoal administrativo acredita que fazer
valores da melhoria
melhoria faz parte de seu trabalho
contínua
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.17-33, abr. 2003 27

Por outro lado, apesar de o objetivo ser ser explicado pelo fato de a ênfase estar em
motivacional, as atividades desenvolvidas por apenas observar oportunidades de melhoria
esses grupos de melhoria seguem uma orientação focando na medida de desempenho associada.
estratégica, que chega até eles por meio de É razoável, então, supor que o fator diferenciador
quadros de gestão à vista e normalmente expli- é o nível de prática das atividades de melhoria,
citam os indicadores de qualidade, produtividade, considerando as atividades já desenvolvidas antes
prazos e segurança. Apesar de as atividades da QS 9000, ou seja, o tempo em que a empresa
serem relacionadas aos indicadores, não são já pensava e realizava atividades de melhoria
inibidas outras propostas de melhoria. contínua da produção.
Conforme citado, as três empresas possuem Os termos “habilidades” e “comportamentos”
um programa de melhoria que trata de ações para melhoria contínua não eram de conhe-
estratégicas. O uso dos programas Seis Sigma cimento das empresas. Dessa forma, podem até
é um dos mecanismos utilizados, porém não o existir (o que foi verificado), porém, as empresas
único, mesmo porque nessas empresas o pro- não têm consciência de sua presença no sistema,
grama ainda estava em seu início. Entretanto, ou seja, não se pensa na habilidade como objetivo
a sistemática de analisar os objetivos estratégicos, (realizar atividades de melhoria para alcançar
relacionados ao desempenho atual e ao futuro, a habilidade para melhoria contínua), o que pode
que inclui o desenvolvimento de novos projetos prejudicar a gestão efetiva das atividades de
(produtos, clientes, redes de fornecimento e melhoria contínua da produção. Seria importante
outros), envolve a participação gerencial e um a organização verificar primeiramente a compe-
grupo coordenador para acompanhar a imple- tência que se quer ter e, assim, desenvolver
mentação das ações definidas a partir da análise práticas e comportamentos que suportassem e
dos objetivos estratégicos da empresa. levassem a essas competências.
Assim, parece que a prática de duas sistemá- Além disso, não há preocupação em ter a
ticas de melhoria contínua tem trazido benefícios habilidade (para resolver o problema, por
para a produção, pois as empresas investigadas exemplo) e sim sistemáticas e ferramentas.
não pretendem eliminar nenhum dos programas. Entretanto, as pessoas nas empresas estão cada
Ao contrário, buscam alguma solução que vez mais conscientes da importância dessas
permita integrar as atividades desenvolvidas no questões e, certamente, iniciativas voltadas para
âmbito das duas sistemáticas. o aprimoramento de competências essenciais
É importante destacar que, para as três tendem a crescer.
empresas, considerando o lado pragmático, a O fato de as empresas apresentarem alguns
melhoria contínua ocorre quando não há problema comportamentos apenas diz que elas estão
e se deseja melhorar os índices de desempenho. caminhando para adquirir a habilidade para
Conclui-se, por intermédio da pesquisa, que melhoria contínua da produção. Mesmo que
ainda estão presentes atividades de melhoria locais apresente todos os comportamentos, não se pode
e não necessariamente voltadas para a estratégia afirmar que a empresa tenha competência (apti-
da empresa. Nos casos B e C, por exemplo, muitas dão) para melhoria contínua e que, portanto, esteja
iniciativas eram para melhoria de indicadores no nível máximo de maturidade para melhoria
locais. Isso se torna comum em decorrência de contínua. É importante deixar claro que nível de
problemas, como, por exemplo, o desdobramento maturidade não significa “ter as habilidades”. Uma
ineficiente das estratégias. Porém, a continuidade vez tendo a habilidade, não é possível avaliar o
dessas atividades de melhoria locais permitiu a nível de prática/maturidade, ou seja, é difícil
participação do nível operacional. avaliar o grau com que a habilidade se encontra
As empresas estudadas apresentam siste- em termos de prática.
máticas de melhoria equivalentes, porém, que O nível de maturidade mostra uma evolução
levam a comportamentos diferentes, o que pode da melhoria em termos de sistematização,
28 Mesquita & Alliprandini – Competências Essenciais para Melhoria Contínua da Produção...

comportamentos enraizados e atividades ineren- Também foi identificada a necessidade de um


tes aos programas de melhoria contínua da grupo para analisar as informações que poderão
produção que estejam implementadas e sejam ser colocadas em uma base de dados para me-
praticadas. Não é possível afirmar no presente lhoria contínua, o que pode significar, de certa
trabalho que a existência do comportamento forma, fazer gestão do conhecimento. Além
garante que a empresa tenha a habilidade relacio- disso, não há acompanhamento para verificar
nada em sua forma integral e madura, ou seja, se as soluções atualmente implementadas ocorrem
com diferentes níveis de capacitação. Encontrar mais rapidamente que no passado, ou seja, se
o grau de capacitação em cada uma das habili- a aprendizagem realmente ocorre. Todas essas
dades requer acompanhamento de atividades e informações e dados teriam de ser lançados em
de comportamentos ao longo de um período um sistema para gerar uma base de conhecimento
maior, mas, em razão de sua especificidade, não da empresa.
foi avaliado neste trabalho. Em relação às habilidades, foram apontadas
A partir do momento em que a empresa tiver as observações mais relevantes. Apesar de terem
a consciência de que possui uma ou mais habili- sido identificadas na prática condutas associadas
dades e, portanto, está em determinado nível de às normas, que por sua vez estão associadas às
maturidade, além de ter por objetivo o próximo habilidades, a pesquisa não teve por objetivo
nível, precisará manter e melhorar os compor- acompanhar e compreender mais detalhadamente
tamentos que sustentam as habilidades já exis- em que grau essas práticas efetivamente ocorrem
tentes em um contínuo processo de evolução. na organização. Assumiu-se, então, a postura de
Assim, quando alcançar o último nível, não analisar se o comportamento citado pela empresa
poderá estacionar só porque já apresenta todas poderia realmente ser associado à norma com-
as habilidades. Ela precisa constantemente rever portamental.
seus processos para sempre melhorar, capa- É importante observar que a terceira coluna
citando-se para novos desafios (dessa forma, da Tabela 2 apresenta uma lista de exemplos
chega-se à aptidão para melhoria contínua), caso de comportamentos identificados na prática das
contrário, o conjunto de competências essenciais empresas, correspondendo a cada uma das
alcançado poderá se tornar um conjunto de normas comportamentais associadas às habilida-
rigidez essencial. Afinal, a empresa pode ter a des básicas. Essas observações correspondem
habilidade, porém, se acreditar que o comporta- a comportamentos identificados por meio de
mento ou a prática é um fato resolvido, pode pesquisa realizada por Caffyn & Bessant (1996)
desprezar oportunidades ou lições aprendidas e, da mesma forma, verificados nas empresas
que permitiriam desenvolver outros comporta- brasileiras estudadas. Já as três últimas colunas
mentos que, certamente, seriam necessários para da Tabela 2, que correspondem a cada uma das
acompanhar a dinâmica das mudanças nas orga- empresas estudadas, identificadas por A, B e
nizações. C, mostram o que foi encontrado em cada caso
Quanto aos programas de capacitação, estes em relação à presença de comportamentos
são muito voltados para o treinamento em técni- praticados que pudessem ser relacionados às
cas de melhoria, sem evidência de abordar normas comportamentais e, conseqüentemente,
questões associadas às habilidades. São ne- às habilidades básicas para melhoria contínua.
cessárias abordagens que possam observar Além de sintetizar parte dos resultados do
competências individuais e organizacionais, estudo, a Tabela 1 pode servir de guia para realizar
necessárias e existentes. De fato, os entrevistados um diagnóstico preliminar em uma organização
evidenciaram a importância de um sistema de quanto à presença ou não de práticas associadas
gestão que aborde essa questão. às normas comportamentais. Obviamente, a pre-
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.17-33, abr. 2003 29

sença de um ou mais comportamentos não revela tínua – a todo momento, todos estão preocupados
se há ou não uma prática de gestão que considere com atividades de melhoria – como uma siste-
essas questões, mas ajuda a chamar a atenção para mática já enraizada nas rotinas e na cultura da
a sua importância. empresa. O que realmente fazem é a prática.
Acompanhando a coluna “empresas” da Tabela Dessa forma, apenas a habilidade A foi evi-
2, pode-se relatar alguns pontos importantes. Todas denciada em todas as empresas.
as empresas apontaram comportamentos associa- A empresa A não apontou comportamentos
dos às normas 1 e 2. A priorização estratégica associados à norma 6, não apresentando, portanto,
das empresas foi realmente notada. Esse pensa- a habilidade D, provavelmente pelo fato de a
mento se torna uma forte base para a sustentação formação dos grupos ser fechada, ou seja, por já
e o alinhamento das atividades de melhoria de haver grupos predefinidos (times de produto,
acordo com os objetivos e as metas da orga- engenharia industrial e engenharia estatística).
nização. O contínuo monitoramento também é Apesar de evidenciar comportamentos relacio-
essencial para sustentar as atividades de melhoria nados a essa habilidade, a empresa C apresenta
para que elas não ocorram ao acaso, como um problemas com comunicação e cooperação entre
evento isolado. É importante que as atividades departamentos, isto é explicado pelo fato de não
estejam sempre direcionadas, considerando os haver retroalimenação efetiva para as atividades
objetivos e as metas da organização. Porém, a de melhoria, um sistema de feedback.
empresa C não apresentou comportamentos asso- Apenas a empresa C não apontou comporta-
ciados à norma 3, relacionada à habilidade B; mentos associados à norma comportamental 7,
realmente, o monitoramento e o acompanhamento não podendo evidenciar a presença da habilidade
da empresa ainda não estão efetivamente sis- E por não apresentar sistemática e sistema
tematizados para assegurar essa avaliação efetivos para lançamento de experiências, tanto
progressiva. positivas quanto negativas. As outras empresas
Todas as empresas apontaram comporta- possuem comportamentos associados a essa
mentos associados à norma 4. De fato, elas norma, porém, vale lembrar que, apesar de
apresentam tal norma, porém em níveis de possuírem sistemas estruturados para troca de
envolvimento e comprometimento diferentes. informações e experiências, não lançam no
A empresa A não apontou comportamentos sistema as experiências negativas, o que com-
associados à norma 5, relacionada à habilidade promete o processo de aprendizagem.
C, provavelmente por não possuir compro- Em relação à norma 8, apenas a empresa B
metimento ativo da alta administração. Afinal, apontou comportamentos associados. Ou seja,
quando a gerência é modificada, muda-se o foco foi a única que diz estabelecer uma coordenação
das atividades de melhoria dentro da empresa, das atividades de melhoria para que possam ser
o que deixa o sistema sem consistência, fraco, estendidas para toda a organização, podendo ser
sem continuidade, não levando a um compro- aplicadas em diferentes áreas.
metimento efetivo. Apesar de a empresa C Esses casos mostram que as empresas não
apresentar comportamentos associados à norma estão conduzindo atividades de melhoria contínua
5, como a medição de processos, ela vai utilizá- da produção visando ao aumento de seu nível
la amplamente e de forma sistemática apenas de maturidade (veja os cinco níveis de ma-
no programa de indicadores estratégicos. turidade na Seção 2). Na realidade a empresa
As empresas também apontaram comporta- estrutura uma sistemática, desenvolve o treina-
mentos associados à norma 9, evidenciando a mento em técnicas e ferramentas necessárias e,
presença da habilidade F. Na realidade, as assim, considera-se habilitada a executar as
pessoas não vivem os valores da melhoria con- atividades de melhoria. No entanto, a imple-
30 Mesquita & Alliprandini – Competências Essenciais para Melhoria Contínua da Produção...

mentação da sistemática e conseqüente prática produtividade. Assim, a melhoria contínua


rotineira de melhorias estratégicas ou locais e extrapola os limites de cumprimento de requisitos
a solução de problemas sustentaram o desen- normativos, como os da QS 9000.
volvimento de comportamentos associados às
habilidades. Dessa forma, é possível admitir que Por que então melhorar continuamente?
a sistematização adequada fundamenta o desen- O perfeito não existe na prática. A motivação
volvimento das habilidades. está em buscar o estado da arte, alcançando a
Diante dos dados encontrados nesta investiga- cada dia um novo padrão de evolução. A essência
ção, uma motivação aparece no sentido de da melhoria contínua está nessa busca rumo à
direcionar o interesse para questões associadas evolução constante e consciente, superando os
à gestão das atividades de melhoria nas empresas. obstáculos, solucionando problemas, aprendendo
A concepção de um modelo conceitual e refe- com erros e acertos, ensinando, conhecendo,
rencial para gestão das atividades de forma compartilhando cada conhecimento, contri-
integrada e completa pode ser de grande valia; buindo, assim, não somente para o crescimento
bem como um conjunto de questões pode ser pessoal e individual, mas também profissional
detalhado para aprimorar o conhecimento sobre e organizacional. O que se vê atualmente é o
a prática da melhoria contínua nas organizações. dinamismo de mercados, clientes, técnicas,
metodologias, enfim, do ambiente.
7. Discussão de alguns aspectos Há um ritmo acelerado de mudanças. E, para
acompanhar esse ambiente em constante trans-
importantes
formação, torna-se essencial ter pensamentos
Importância da melhoria contínua e ações voltados para a melhoria contínua, enfim,
A partir do estudo realizado, torna-se desenvolver uma cultura com base nela. Sua
relevante refletir sobre a importância do tema prática facilita a criação de um ambiente de
melhoria contínua da produção para as organi- aprendizagem continuada, buscando o melhor
zações que desejam se manter competitivas uso do conhecimento existente na organização
buscando sempre uma evolução consciente. e potencializando a capacidade de criação de
Pode-se constatar que as empresas estão bus- novos conhecimentos. Isso posiciona a melhoria
cando alternativas para desenvolver projetos de contínua como uma prática útil nessa era do
melhoria mais intensamente. Observam-se a conhecimento.
força dada pelas empresas aos projetos Seis As empresas podem apresentar algumas
Sigma e o esforço para envolver as gerências habilidades sem possuírem um modelo estru-
na definição de ações de melhoria estratégica. turado de gestão da melhoria contínua com base
Atualmente, a qualidade não está mais associada em competências.
apenas à produtividade, mas à vantagem com- Os resultados obtidos neste estudo mostram
petitiva, o que influencia as atividades de me- a preocupação das empresas em fazer uma boa
lhoria contínua e a forma como estas devem ser gestão das atividades de melhoria contínua da
tratadas nas organizações. Pretende-se contribuir produção. Provavelmente, foi a partir daí que elas
para o aumento da conscientização e motivação conseguiram obter algumas habilidades. A razão
acerca da estruturação da melhoria contínua da pela qual não desenvolveram alguns dos com-
produção como parte da estratégia do negócio, portamentos talvez se deva ao fato de não associa-
não como uma atividade isolada, destacando que rem a importância das condutas já existentes para
a melhoria contínua pode ser uma abordagem sua sistemática de melhoria. É coerente, por exem-
com possibilidades muito mais amplas do que plo, uma empresa apresentar algumas habilidades,
uma simples abordagem para aumento da e até mesmo todas as habilidades, sem nem mesmo
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.17-33, abr. 2003 31

ter consciência de sua existência. Afinal, o termo 8. Considerações finais


“habilidades básicas” foi retirado da boa prática
das empresas. Inclusive, a elaboração da Tabela Acredita-se que, com este artigo, a abordagem
2 teve por base um resultado misto entre prática da melhoria contínua por meio de gestão de
e teoria. Dessa forma, a empresa que tem por competências possa ser melhor compreendida
objetivo as habilidades, conscientemente, pode e que as empresas praticantes possam usufruir
facilitar o foco em como e o que fazer para de benefícios maiores que os experimentados
adquirir as competências essenciais para melhoria com a abordagem “usual” (capacitação e uso de
contínua da produção. ferramentas para melhoria contínua – que é
apenas um dos três grupos de competências
Uma nova habilidade básica propostos aqui: competências habilitadoras).
No decorrer da realização do trabalho, em A importância da realização de um estudo de
relação às habilidades básicas para melhoria caso foi conhecer como as atividades de melhoria
contínua, foi identificada outra habilidade que contínua da produção estavam sendo conduzidas,
também pode ajudar as empresas a se capacitarem a fim de compará-las com as habilidades básicas
para gerenciar suas competências para melhoria para melhoria contínua da produção. Dessa forma,
contínua da produção. Essa habilidade pode ser pôde-se diagnosticar a realidade das empresas
chamada de habilidade de capturar, analisar a e fazer algumas proposições que podem ser
viabilidade, capacitar-se para implementar e consideradas para estruturar uma abordagem mais
implementar a inovação tecnológica, ou seja, saber ampla para melhoria contínua nas organizações.
se é melhor desenvolver a melhoria incremental Os casos estudados mostram que as compe-
ou a inovação a todo o momento. tências estão, de um forma ou de outra, presentes
Daí a importância de conhecer o ambiente na organização, mas nenhuma atividade é condu-
no qual a organização se insere para implementar zida para geri-las. Assim, um modelo de gestão
a melhoria incremental ou a inovação, ou as duas, com base em competências para melhoria contínua
uma complementando a outra. poderia ser utilizado como guia referencial, per-
mitindo ao gestor da melhoria contínua alavancar
Por que olhar para as competências? seu potencial, tanto na eficiência da realização de
O foco em competências pode facilitar o como suas atividades quanto na eficácia em relação aos
e o que fazer para atingir os objetivos de forma objetivos da organização.
mais direcionada, aplicando as ferramentas Com base no ponto de vista deste trabalho –
necessárias e facilitando, assim, a preparação olhando as competências para melhoria contí-
para o futuro. O pensamento e as ações voltados nua –, as empresas apresentam algumas diferen-
para as competências podem ser formas de ças (veja Tabela 2), e as sugestões para que elas
diferenciar a empresa, fazendo-a pensar além possam ampliar suas habilidades para realizar
de técnicas e ferramentas, levando em conside- a melhoria contínua são no sentido de desen-
ração aspectos abstratos. A atenção às compe- volver ou aprimorar os comportamentos que as
tências permite que as organizações aloquem levariam a níveis superiores de maturidade da
esforços em aspectos mais relevantes para sua melhoria contínua.
estratégia e sobrevivência. Elas podem se Esse modelo pode servir de guia para a boa
preparar melhor para desafios futuros e direcionar gestão de competências, visando à melhoria
suas atividades de capacitação para alavancar contínua da produção. Assim, é possível consi-
conhecimentos úteis. derar aspectos técnicos e metodológicos juntamente
32 Mesquita & Alliprandini – Competências Essenciais para Melhoria Contínua da Produção...

com aspectos abstratos, estratificando-os de acordo esse modelo facilitaria as empresas a passarem pelo
com os três tipos de competência. Porém, cabe a processo de desenvolvimento das competências,
cada empresa estruturar-se para que o uso de um um aprendizado que ficaria impregnado na cultura
modelo para gestão de competências possa se tornar organizacional e permitiria a passagem pelos níveis
uma rotina enraizada em sua cultura. Dessa forma, de maturidade da melhoria contínua.

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GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.17-33, abr. 2003 33

CORE COMPETENCE FOR CONTINUOUS IMPROVEMENT IN


PRODUCTION OPERATIONS: CASE STUDY IN AUTOPARTS
INDUSTRY COMPANIES

Abstract

This paper presents the results of a exploratory research realized in three ISO 9000 and QS 9000
certified companies of the autoparts industry to identify essential competences for continuous improvement
in production operations. The main results are: companies have been practicing continuous improvement
within a very good structure and in accordance with some specific systematics, developing training in
techniques and tools, and by this way they consider theirself well able to realize improvement activities.
However, they are not performing those activities to meet goals related to maturity level of continuous
improvement, focusing in development of competences that are important to guarantee a long time
evolution of continuous improvement in any company. Hence, this paper presents a discussion about the
importance of managing continuous improvement based in competence management approach to facilitate
organization to carry on the way to evolve in the level of continuous improvement maturity.
Key words: continuous improvement, knowledge management, operations management, quality
management, competences development.

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