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Capítulo 3 – Fundição – revisado em 2008

Comportamento do metal líquido

3.1 Fluidez do metal.

À semelhança do que ocorre com outros fluidos como a água, a fluidez é a


característica fundamental dos metais líquidos (a rigor trata-se de ligas fundidas) que
permite o seu escoamento através de canais e o enchimento completo de cavidades. Em
fundição é normal medir e comparar a fluidez das ligas fundidas pela capacidade de
encherem, em maior ou menor extensão um molde com forma de espiral, representado
esquematicamente na figura 3.1. Para facilitar a medição podem ser introduzidas marcas
ao longo da espiral, a distâncias regulares.

Figura 3.1 – Representação esquemática de uma espiral fundida.

Quanto maior for o número de marcas ou espiras cheias maior será a fluidez do
metal fundido. Para uma liga de determinada composição, quanto maior for o
superaquecimento acima da temperatura de fusão (a rigor acima da temperatura
liquidus) maior será sua fluidez.
Para cada processo de fundição (moldagem em areia, molde permanente,
fundição de precisão) e liga a vazar o superaquecimento do metal fundido acima da
temperatura liquidus deve ser ajustado em função das perdas inerentes ao sistema de
transporte do metal do forno até o local de vazamento além de poder variar com a
dimensão e espessura média das peças a vazar.

Superaquecimento: metais puros.

Tv = Tv - Tf
Tv = superaquecimento
Tv = temperatura de vazamento
Tf = temperatura de fusão do metal.

Superaquecimento: ligas metálicas

Tv = Tv - Tl
Tl = temperatura líquidus.
Tl – Ts = intervalo de solidificação
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Quanto maior for o superaquecimento maior será a fluidez da liga no vazamento,


mas vários inconvenientes estão associados a temperaturas de vazamento
demasiadamente elevadas. Além do gasto energético mais elevado na operação de fusão
e do maior desgaste dos materiais refratários do revestimento dos fornos, verifica-se
uma perda exagerada por oxidação de certos elementos químicos e a degradação da
qualidade metalúrgica do metal fundido- os embriões de nucleação são parcialmente
destruídos e a estrutura de solidificação torna-se mais grosseira- ao mesmo tempo em
que aumenta o risco de deformação dos moldes de areia a que se vão associar peças
deformadas, isto é, dimensionalmente incorretas além de superfícies com uma
rugosidade superior ao esperado.
Uma baixa fluidez do metal fundido leva a uma maior dificuldade de
escoamento e enchimento das cavidades do molde responsável pelo não enchimento ou
enchimento incompleto das cavidades dos moldes.
O escoamento de um determinado líquido, sob seu próprio peso, em
determinadas condições, pode ser mais fácil que a de outro. Esta diferença no
escoamento, que se nota entre mel e água; óleo lubrificante e água ou entre metais
líquidos como alumínio e ferro fundido, deve-se fundamentalmente a duas propriedades
específicas de cada líquido, a saber: densidade e viscosidade. Estas propriedades
exercem efeitos contrários sobre o escoamento quando se fixam as demais variáveis.
Isto é, quanto maior for a viscosidade mais difícil será o escoamento e quanto maior a
densidade , mais fácil será o escoamento.
A viscosidade cinemática, isto é, a relação entre a viscosidade de um líquido e
sua densidade, constitui uma medida da maior ou menor facilidade de escoamento de
um líquido sob o seu próprio peso.
Na tabela 3.1 procura-se relacionar as viscosidade de vários metais e de vários
fluidos com suas viscosidades cinemáticas.

Líquido densidade(g/c viscosida viscosidade Temperatura(°


m3 ) de cinemática(centistok C)
(centipois es)
e)
Água 1,00 1,00 1,00 20
Alumínio 2,37 3,00 1,27 700
Ferro fundido cinzento 6,1 3,72 0,45 1300
Ferro fundido branco 6,1 2,42 0,40 1300
Cobre 7,81 3,14 0,40 1200
Ferro 6,98 6,2 0,89 1600
Chumbo 10,51 2,32 0,22 400
Magnésio 1,54 1,20 0,80 680
Mercúrio 13,55 1,55 0,115 20
Ligas metálicas 1,5 a 14,0 1,0 a 10,0 0,1 a 1,5 50 °C acima de
Tf
Aço 6,8 3,0 0,44 próximo da Tf
Zinco 6,54 3,65 0,55 500

Tabela 3. 1 – Viscosidade de alguns metais e outros fluidos.


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Esta tabela mostra que a viscosidade cinemática de metais e ligas líquidas


encontra-se na faixa de 0,1 a 1,5 centistokes. Mostra também que a viscosidade
cinemática dos metais densos é bem inferior à da água.

Um líquido com alta viscosidade cinemática flui com mais dificuldade que um
de baixa. Assim, o alumínio (com viscosidade cinemática, 1,27) flui com mais
dificuldade que o ferro fundido cinzento (viscosidade cinemática igual a 0,45) ou o
chumbo (0,22), ou o mercúrio (0,15) o que é confirmado na prática.

Escoamento laminar e turbulento.

Um fluido, em particular um líquido, pode fluir de dois modos diferentes.

- Em regime laminar em que o escoamento se faz segundo filetes paralelos, o que


caracteriza o estado estacionário em todos os pontos. (figura 3.2.a)

- Regime turbulento ou agitado, em que há contínua flutuação da velocidade e da


direção do fluxo. (Figura 3.2.b)

Para um dado sistema e um dado fluxo, a velocidade determina se o escoamento


será turbulento ou não. Para velocidades suficientemente baixas o escoamento será
laminar, e para velocidades suficientemente altas ele será turbulento. . Uma formulação
mais geral desse fato pode ser expressa da seguinte maneira: seja v a velocidade em um
dado ponto do sistema, D o diâmetro através do qual se processa o escoamento, ν a
viscosidade cinemática do líquido considerado. O tipo de escoamento fica inteiramente
determinado pela relação:

ν = NR (número de Reynolds)
V.D/ν

Para NR menor que 2000, o escoamento será laminar.


Para NR maior que 4000, o escoamento será turbulento.

Conclusões:
O escoamento de um metal de baixa viscosidade cinemática torna-se turbulento
a uma velocidade mais baixa que um metal de alta viscosidade cinemática, nas mesmas
condições.
Um metal com uma determinada viscosidade tem a tendência de fluir de modo
turbulento para mais baixas velocidade, à medida que aumenta o diâmetro do canal.

Significado da turbulência em um sistema de canais de alimentação.

O cálculo do número de Reynolds revela que o escoamento dos metais líquidos,


na maioria dos sistemas de canais de alimentação empregados na prática, é turbulento.
Pode-se mesmo afirmar que certa turbulência é inevitável nos sistemas convencionais
de alimentação.
Segundo certos autores, podem-se distinguir dois tipos de turbulência:
a. Turbulência danosa: é aquela tão violenta que provoca a ruptura da casca
superficial de óxido que envolve o metal líquido durante o vazamento do mesmo,
provocando inclusões de óxidos na peça fundida.
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b. Turbulência menos severa: que é aquela que não chega a romper o filme de óxido,
deixando de ser danosa.
Para ligas altamente oxidáveis (ligas cobre-zinco, latões, ligas de magnésio,
certas ligas de alumínio, etc.) o sistema de canais de alimentação deve ser dimensionado
de modo a se obter escoamento laminar ou de fraca turbulência. Caso contrário, como já
mencionado, aumenta o risco de se ter inclusões além do tolerável. Além disso, o
regime turbulento tende a aumentar a erosão do molde, provocando os conseqüentes
defeitos de fundição.

Figura 3.2.a Figura 3.2.b

Mesmo com baixas velocidades pode haver zonas de turbulência principalmente


devido a presença de cantos vivos em curvas (mudanças bruscas de direção) e mudanças
bruscas de seção, tal como se mostra nas figuras 3.3 e 3.4, respectivamente.

Figura 3.3 Escoamento em curvas: a) com cantos vivos. b) com raios de concordância.

Figura 3.4- Influência de mudanças bruscas de seção no escoamento; a) Aumento da


seção e b) Diminuição da seção
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Equação da continuidade

Figura 3.5 Canal de seção variável

Baseia-se no princípio da conservação da massa, segundo o qual a massa do


sistema fluido não se altera em conseqüência de qualquer movimento; em outras
palavras, a matéria não pode ser criada nem destruída por qualquer processo
fluidodinâmico. Para os líquidos incompressíveis este princípio se reduz ao da
conservação do volume.
Admitamos um canal de seção variável (figura acima). Se no ponto 1 a
velocidade do líquido for v1 e a área A1 e no ponto 2 respectivamente v2 e A2, de acordo
com esse princípio, teremos:
V1. A1 = V2. A2 =...= Constante = vazão (volume de líquido que atravessa a área da
seção transversal por unidade de tempo).

Pressão exercida pelo peso da coluna de metal líquido

Figura 3.6

A pressão em um ponto qualquer do plano B da figura acima , logo após o


vazamento e enquanto o metal permanecer líquido, será dada por:

PB= d.g.h

Onde:

d= densidade do metal.
g= aceleração da gravidade.
h= altura do ponto B à superfície livre do líquido.

A referida pressão se transmite integralmente em todas as direções do plano B e,


portanto, sobre as paredes do molde, assim como sobre os machos localizados no
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interior do molde, sobre os quais o metal líquido exerce um empuxo de baixo para cima
(princípio de Arquimedes).
As principais conseqüências das forças resultantes da pressão metalostática,
sobre a técnica de fundição, podem ser enumeradas:

a. Tendência a abrir ou fender o molde.


b. No caso de moldagem em areia, mantidos os demais fatores, quanto maior for a
pressão, maior será a tendência ao defeito de penetração.

Equação de Bernoulli.

O vazamento de um metal líquido em um molde é feito através de um sistema de


canais provindo o metal de uma panela de vazamento. Enquanto o metal líquido se
encontrar na panela de vazamento ele possuirá energia potencial, devida unicamente a
sua altura em relação a certo plano de referência no molde. Quando o metal líquido
começa a fluir pelos condutos abaixo, a energia potencial vai se transformando em
energia cinética ou de movimento. Além disso, o metal líquido que enche o sistema de
canais encontra-se com certa pressão em virtude do peso do metal que existe acima.
Esta pressão empurra o líquido dos canais para a cavidade do molde. Portanto, a
primitiva energia potencial transforma-se em cinética (de movimento) e em energia
decorrente da pressão do metal. Pelo princípio da conservação da energia (1° princípio
da Termodinâmica), a soma das 3 energias será constante em cada ponto do sistema.

Figura 3.7- Líquido metálico em movimento em um canal.


Sejam:
p1 = pressão estática do líquido no ponto 1.
p2= pressão estática do líquido no ponto 2.
v1= velocidade do líquido em 1.
v2= velocidade do líquido em 2.
d= densidade do líquido.
h1 e h2 = alturas dos pontos nas posições 1 e 2.
Teremos então:

p1 + d. v12 /2+ d.g.h1 = p2 + d . v22/2 + d.g.h2 = ... = cte

Onde:
p = energia de pressão.
d . v2 /2 = energia cinética.
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d.g.h = energia potencial ( de posição).


Dividindo por, = d . g (peso específico do líquido).

(p1 / )+( v12 / 2g) + h1 =( p2 / )+( v22 / 2g) + h2 = cte.


Onde:
p / = altura piezométrica.
v2 / 2g = altura cinética.
h = altura geométrica.

Aplicando o teorema de Bernoulli

h1 + v12/2 g + p1/ = h2 + v22/2g + p2/

i= h h + pa / notar v=0

i=0 vx2/2g + pa/

pa = pressão atmosférica ( Kgf/m2)

h= vx2/2g

vx = 2gh

vx = velocidade de saída=m/s

g=aceleração da gravidade= 9,81 m/s2

h= altura da coluna de líquido=m

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