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Complexidade e suas formas

Á organização que se apresenta como um problema

lógico, na medida em que seu sistema é formado por lógicas

diferentes. Neste caso, o pensamento complexo ensina que

não se deve impor ao múltiplo o uno, como também não se impõe o uno ao múltiplo.

A complexidade das organizações sociais ou biológicas é expressa através de

funcionar com três estruturas de poder simultaneamente: a anarquia através de suas

relações espontâneas (acêntricas); com numerosos centros de poder (policêntricas)

e com um único centro de poder (unicêntricas). É interessante observa que as

empresas, em pleno processo de globalização, portanto de complexidade, não se

deram conta ainda da importância da coexistência de formas diferentes de ver e

analisar situações e problemas. A organização que permite e respeita as diferentes

lógicas de seus funcionários abrem caminhos para uma melhor e mais ampla

compreensão da realidade complexa, bem como, permitem a inovação e a criação

na empresa. È certo que estas lógicas diferentes devem ser superadas por uma

lógica superior, mas jamais rejeitadas. Elas devem contribuir para uma visão mais

ampla e complexa do problema. Assim, a forma de ver um problema de qualidade do

produto é diferente quando feita pelo engenheiro de produção ou pelo especialista

em marketing ou pelo operário da área de produção.

Todavia, estas lógicas diferentes indicam ângulos diferentes de observar um

mesmo problema e contribuem para a compreensão mais ampla do problema.

Princípios que ajudam a pensar a complexidade

Os três princípios propostos por Morin são: dialógico, recursão organizacional

e hologramático.
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O primeiro princípio é o dialógico que possibilita a dualidade mantendo a

unidade. Este princípio zela por uma associação, união de lógicas diferentes ou

complementares desde que esta reunião não permita que a dualidade se desfaça a

favor de uma unidade. A dialógica pressupõe que os contrários podem assumir um

papel regulador e estimulador. Este princípio quebra a dicotomia certo-errado, bom-

mau: uma situação pode ter aspectos negativos apresentando ao mesmo tempo

aspectos positivos; as diferentes lógicas podem, apesar de contraditórias, darem

contribuição para a compreensão de uma dada situação. Portanto, apesar de serem

lógicas antagônicas são também lógicas complementares.

Morin cita o exemplo da ordem e da desordem que são dois inimigos:

onde existe a desordem não existirá a ordem. Todavia, em certos casos, a

desordem colabora com a ordem e produzem organização e complexidade. O

tratamento psicanalítico é um exemplo desta colaboração com os contrários:

se não houver dúvidas, quebras de padrões de comportamento, de valores e

de certezas não haverá uma reestruturação da personalidade. Isto é, o individuo

não alcançará um novo estágio de equilíbrio e de maturidade emocional. O mesmo

pode ser observado na esfera de aquisição de conhecimentos e de formação da

consciência critica: enquanto a pessoa estiver presa ás suas idéias e/ou conceitos

pré formatados ela não conseguirá atingir um novo patamar de conhecimento e de

competência reflexiva. O romper com o pensamento simples vai exigir dela criar a

desordem e entrar na esfera das incertezas e das dúvidas, da auto critica e do não

“saber”.

O segundo principio é o da recursão organizacional. A organização

recursiva é determinada quando a produção e o seu efeito são fundamentais

para sua própria formação. Assim o processo recursivo é identificado quando


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o produto e o produtor formam uma relação recíproca. Morin cita o exemplo

da reprodução do individuo. Nós, indivíduos, somos os produtos de um

processo de reprodução que é anterior a nós. Mas uma vez que somos

produzidos, tornamo-nos os produtores do processo que vai continuar. Nota-

se que este princípio não possui um elo de ligação com o pensamento linear

(causa e efeito) na medida que o pensamento complexo baseia-se numa

visão circular aberta.

O terceiro princípio dita que a parte está no todo como o todo está na

parte. Num holograma físico, o ponto menor da imagem do holograma

contém a quase totalidade da informação do objeto representado. A este

fenômeno chama-se de princípio hologramático. Por exemplo, cada célula do

organismo contém a totalidade da informação genética deste organismo.

È interessante observar que este princípio ressalta a importância do

conhecimento das partes como forma de conhecimento do todo. As partes

são indicadoras de características do todo e das possíveis influencias que

poderão exercer sobre ele e contribuem, assim, para a sua compreensão. Da

mesma forma, quando se conhece o todo é possível tirar deste conhecimento

elementos que ajudam a conhecer as partes. O estudo dos grupos é exemplo

esclarecedor do princípio hologramático: as características de personalidade,

os valores, a formação profissional, as condições econômicas são fatores

individuais dos membros de um grupo. O conhecimento dessas

características contribui para o conhecimento do grupo uma vez que através

delas pode-se inferir as características do grupo como tipos de ações, valores

e outros. Por outro lado, quando se parte do grupo (o todo) o conhecimento

dos seus objetivos, do estilo de liderança predominante e das ações


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desenvolvidas por ele se constituem elementos que contribuem para o

conhecimento de seus membros.

As etapas da complexidade

Morin usa a constituição e o funcionamento de uma tapeçaria para

explicar a complexidade e suas etapas como se segue:

“consideremos uma tapeçaria contemporânea. Comporta fios de linho,

de seda, de algodão, de lã, com cores variadas. Para conhecer esta tapeçaria, seria

interessante conhecer as leis e as características destes tipos de fios. No entanto, a

soma dos conhecimentos sobre cada um destes tipos de fios que entram na

tapeçaria é insuficiente, não apenas para conhecer esta realidade nova que é o

tecido (quer dizer as qualidades e as propriedades para esta textura), mas, além

disso, é incapaz de nos ajudar a conhecer a sua forma e a sua configuração.

Primeira etapa da complexidade: temos conhecimentos simples que não

ajudam a conhecer as propriedades do conjunto. Uma constatação banal que tem

conseqüências não banais: a tapeçaria é mais que a soma dos fios que a

constituem. Um todo é mais do que a soma das partes que os constituem.

Segunda etapa da complexidade: o fato de que existe uma tapeçaria faz

com que as qualidades deste ou daquele tipo de fio não possam todas exprimir-se

plenamente. Estão inibidas ou virtualizadas. O todo então é menor que a soma das

partes.

Terceira etapa: isto apresenta dificuldades para o nosso entendimento e

para a nossa estrutura mental. O todo é simultaneamente mais e menos que a soma

das partes.
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Nesta tapeçaria, como nas organizações, os fios não estão dispostos ao

acaso. Estão organizados em função da talagarça, de uma unidade sintética em que

cada parte concorre para o conjunto. E a própria tapeçaria é um fenômeno

perceptivo e cognoscível, que não pode ser explicado por nenhuma lei simples”

(Morin 1990: 123-4)

Sistema e complexidade

Morin faz a distinção entre sistemismo e complexidade. No sistemismo se

concentra uma visão do sistema como um todo, na complexidade o todo e as partes

são consideradas, além das relações das partes entre si, de forma circular aberta,

portanto, sofrendo influencias externas. O sistemismo e o holismo, para Morin, se

situam no paradigma do pensamento simples: reduzem a realidade a uma visão

única, o todo.

Segundo Morin (1990) a relação todo-parte compreende as suas interações e

a sua organização. O todo não é constituído apenas pelas unidades, mas pelas

interações mantidas. A organização, por sua vez, advém desse conjunto de

interações. A organização produz entropia que significa degradação do sistema, ao

mesmo tempo em que produz neguentropia, ou seja, a regeneração do sistema. A

organização, então, ao mesmo tempo em que procura deixar de ser uma

organização busca uma nova forma de organizar-se. A relação com o ambiente é a

terceira característica. O ambiente oferece á organização outras organizações como

também os modelos potenciais através da informação.

È importante ressaltar aqui que, nesta abordagem do sistema, os riscos, as

incertezas e as contradições não são ignoradas e/ou eliminadas. Procura-se

estabelecer uma nova ordem a partir da compreensão da desordem, dos riscos e

das incertezas, sabendo-se que esta ordem não é definitiva; é instável uma vez que
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a realidade é complexa e a complexidade traz consigo as incertezas, os riscos e as

contradições.

Referencias Bibliográficas

AGUIAR, MARIA A. F. psicologia aplicada a administração. São Paulo: excellus,

1999.

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