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1ÁGORA

Praça pública (da Grécia antiga), onde fervilhava a vida social da cidade grega: nela se situava o
Object 2
1

mercado que depois passou a ser o centro político, cívico e religioso da cidade. Ficou célebre a
ágora de Atenas.

2Alienação
Conceito que se refere a um conjunto de situações em que um ser não se reconhece porque
perdeu algo da sua essência. Em Hegel a alienação era uma condição necessária da
realização do Absoluto como Espírito que tudo governa. Em Marx (filósofo alemão-imagem ao
lado) o sujeito da alienação é o homem e a alienação é uma degradação física e moral de que
urge salvá-lo. Para Marx a alienação fundamental é a económica: o trabalhador é obrigado a
vender o seu trabalho para satisfazer necessidades que não são especificamente humanas
(comer, beber...). A exploração do trabalho aliena o trabalhador, isto é, desumaniza-o. Na raiz
da degradação está a propriedade privada dos meios de produção. Só o comunismo, ao abolir
esta situação, poderá salvar o homem.

3Aristoteles
(384-322 a. C.) Um dos mais influentes filósofos de sempre. Nasceu em Estagira, no
norte da Grécia. Foi discípulo de PLATÃO em Atenas e mestre de Alexandre Magno,
na Macedónia. Depois da morte de Platão, fundou em Atenas a sua própria escola,
a que deu o nome de Liceu. Os seus interesses eram os mais variados. Não houve
quase nenhum domínio do conhecimento sobre o qual não tivesse escrito e atribuía
uma grande importância à observação da natureza. Ele próprio procedeu a estudos
minuciosos nos domínios da física, biologia, psicologia e linguagem. Como é típico
nos melhores filósofos, era muito rigoroso na justificação das suas opiniões e
meticuloso na ponderação dos argumentos contrários, evitando chegar a
conclusões precipitadas. Entre as disciplinas filosóficas que desenvolveu contam-se
a LÓGICA, a METAFÍSICA, a ÉTICA, a FILOSOFIA POLÍTICA, e a ESTÉTICA. Pode
mesmo dizer-se que foi o fundador da Lógica, começando o seu estudo
praticamente do nada. Se bem que limitada e com várias deficiências, a teoria
lógica aristotélica foi o resultado de um trabalho notável de inteligência, de tal
modo que, no essencial, se manteve incontestada e estudada até ao final do séc.
XIX. Aristóteles procurou determinar as formas válidas de inferência, isto é, as
inferências cuja forma nos impede de chegar a uma CONCLUSÃO falsa a partir de
premissas verdadeiras (verPREMISSA). E estabeleceu um conjunto de regras para
identificar as boas e evitar as más inferências (ver LÓGICA
ARISTOTÉLICA). Organon é o nome dado ao conjunto das suas obras de lógica.
Na Metafísica, uma das suas obras mais marcantes (assim chamada apenas porque
foi publicada a seguir à Física), Aristóteles descreve esta disciplina como o estudo
do "ser enquanto ser", isto é, o estudo do ser em geral, independentemente do
modo particular como as coisas são. Muitos dos conceitos metafísicos ainda hoje
utilizados foram introduzidos por si. Em Ética a Nicómaco (assim chamada por ter
sido dedicada a seu filho Nicómaco), Aristóteles argumenta, entre outras coisas, a
favor da ideia de que as virtudes morais, como a generosidade e a honestidade,
não são inatas. Só o hábito de evitar excessos de qualquer tipo nos pode tornar
pessoas virtuosas. Por isso, a virtude adquire-se com a prática. Sobre filosofia
política escreveu a Política e sobre estética a Poética, entre outros livros. AA

4 Ciencia
As disciplinas que agrupamos sob a designação "ciência" incluem as
ciências formais e as ciências empíricas (ver EMPÍRICO).

As principais ciências formais, assim chamadas pelo facto de os seus objectos de


estudo não terem existência concreta (ver ABSTRACTO/CONCRETO), são a
matemática e a LÓGICA.

As ciências empíricas são aquelas que estudam, com base na experiência, os


fenómenosnaturais e sociais. A finalidade de tais ciências é descobrir e explicar os
padrões e regularidades desses fenómenos, enunciando-os rigorosamente sob a
forma de leis. As leis genuinamente científicas 1) constituem generalizações
corroboradas acerca dos fenómenos que descrevem, 2) permitem realizar
previsões rigorosas e 3) são passíveis de ser testadas. Estas três características
diferenciam-nas dos enunciados da FILOSOFIA, da religião, do SENSO COMUM e das
pseudociências (como a alquimia, a astrologia ou a parapsicologia). Outro aspecto
que diferencia a ciência dos demais saberes, e também das pseudociências, é o
recurso sistemático a métodos formais de prova. Saber se as ciências sociais têm
por objectivo, como as naturais, a elaboração de leis, é ponto de discórdia entre os
especialistas.

O conjunto de procedimentos dos cientistas no seu trabalho constitui o MÉTODO


CIENTÍFICO. Em FILOSOFIA DA CIÊNCIA discute-se se existe um método científico
único e como poderemos descrevê-lo apropriadamente, sendo particularmente
importantes a este respeito os trabalhos de Imre Lakatos (1922-1974),
Karl POPPER, Paul FEYERABEND e Thomas KHUN.

A cisão moderna entre a filosofia e a ciência dá-se progressivamente com os


trabalhos de Copérnico (1473-1543), Kepler (1571-1630), GALILEU e Newton (1642-
1727), que impulsionaram decisivamente o recurso à experimentação e a
matematização da ciência.Ver EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA, OBSERVAÇÃO, MÉTODO
CIENTÍFICO, MÉTODO EXPERIMENTAL, MÉTODO HIPOTÉTICO-
DEDUTIVO, CORROBORAÇÃO, GENERALIZAÇÃO,PROBLEMA DA
INDUÇÃO, VERIFICACIONISMO, VERIFICABILIDADE, FALSIBICABILIDADE,FALSIFICACI
ONISMO, CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO, POSITIVISMO e COMTE. APC

5conhecimento

Os verbos conhecer e saber são sinónimos e costumam ser utilizados de três


maneiras diferentes. Na frase "a Ana sabe nadar", o termo "sabe" serve para
atribuir à Ana uma determinada competência ou capacidade; por sua vez, na frase
"a Ana conhece o primeiro-ministro" o termo "conhece" significa que a Ana é capaz
de identificar alguém (ou algo), ou também pode significar que ela tem ou teve
algum tipo de contacto com essa pessoa (ou coisa); finalmente, na frase "a Ana
sabe que Paris é a capital da França", o que se afirma que a Ana sabe é algo que
tanto pode ser verdadeiro como falso. Neste último caso, o que vem a seguir a
"sabe que" é uma outra frase que exprime uma PROPOSIÇÃO. Este é o sentido
proposicional de "conhecer" que é objecto de estudo da EPISTEMOLOGIA. Não
existe uma definição satisfatória de "conhecimento", mas há pelo menos
três CONDIÇÕES NECESSÁRIAS que, em geral, os filósofos aceitam: não há
conhecimento sem crença; a crença tem de ser verdadeira; além de verdadeira, a
crença tem também de ser justificada. Quer isto dizer que não podemos conhecer
algo em que não acreditamos; que não podemos conhecer falsidades; e que não há
conhecimento se as nossas crenças, apesar de verdadeiras, não forem
justificadas. AA

7 Cosmogonia - Teoria sobre a origem do universo geralmente fundada em lendas ou em


mitos e ligada a uma metafísica.

8 Cosmologia - Parte da filosofia que tem por objeto o estudo do mundo exterior, isto é, da
essência da matéria e da vida.

9 Cosmo - Designa o mundo enquanto ele é ordenado e se opõe ao caos: mundo considerado
como um todo organizado, como uma ordem hierarquizada e harmoniosa.

10 crença

O termo é usado para referir 1) um estado mental disposicional, que tem como
conteúdo uma PROPOSIÇÃO, verdadeira ou falsa (ver VERDADE/FALSIDADE), ou 2)
para referir a proposição que constitui o conteúdo desse estado mental. Quando
tomamos "crença" na segunda acepção, ela é independente de quem quer que a
pense e o estado mental correspondente constitui uma atitude proposicional, uma
atitude de crença numa proposição, que envolve certo grau de confiança
na VERDADE dessa proposição (daí a relação próxima entre crença e verdade). O
facto de as crenças, enquanto estados mentais, serem disposicionais significa que
podemos ter uma disposição para agir de certa forma devido às crenças que temos.
Uma concepção comum de FILOSOFIA, presente, por exemplo, em
Bertrand RUSSELL, vê esta como a análise CRÍTICA das crenças (na segunda
acepção) instintivas, com o objectivo de determinar quais as justificadas e
construir, assim, um sistema coerente de crenças instintivas nas quais todas as
outras se fundem. VerFUNDACIONALISMO. AN
14 DOGMA, DOGMATISMO — Um dogma é uma tese aceita às cegas, por simples crença, sem
crítica, sem levar em conta as condições de sua aplicação. O dogmatismo é característico de todos os
sistemas teóricos que defendem o velho, o caduco, o reacionário e combatem o novo, o progressista.
São dogmáticas as teorias sociais que já não encontram apoio na realidade em vias de
desenvolvimento. Uma tese justa em si mas aplicada de maneira não dialética, sem ter em conta as
mudanças concretas da situação, pode degenerar em dogma. Marx e Engels não cessaram de lembrar
que sua doutrina não era um dogma, mas apenas um jniia para ação.

O marxismo antênticamente revolucionário é um marxismo criador que se enriquece sem


cessar com dados novos do desenvolvimento social, da experiência revolucionária das massas.

11
Dedução - Raciocínio que nos permite tirar de uma ou várias proposições uma conclusão que
delas decorre logicamente.

12 democracia
Sistema de governação do povo, pelo povo (democracia directa) ou seus
representantes (democracia representativa), e para o povo. PLATÃO defendeu que
a democracia é irracional porque coloca o poder de decisão nas mãos da maioria da
população, que muitas vezes não tem o conhecimento apropriado para tomar as
melhores decisões. Outra crítica relacionada com esta é que a democracia, sem
restrições, é apenas uma injusta ditadura da maioria. Finalmente, discute-se
também se a democracia tem valor em si ou se tem valor apenas porque as suas
consequências são melhores do que as de qualquer outra forma de governação. DM

13 Descartes, René (1596-1650)

Filósofo, matemático e cientista francês. É considerado o pai da


filosofia moderna. Abandonou os métodos que até então eram
habituais da filosofia do continente europeu e que seguiam o
estilo de TOMÁS DE AQUINO: no estudo de cada problema
filosófico recorria-se à comparação das teorias dos filósofos do
passado, sobretudo ARISTÓTELES, e das doutrinas da Bíblia. Ao
invés, Descartes enfrenta directamente os problemas da filosofia, sem comparar as
teorias dos filósofos anteriores e sem atender às doutrinas da Bíblia. A sua
formação científica diferencia-o também de muitos filósofos medievais, cuja
formação era fundamentalmente teológica. Descartes era, contudo, um homem
muito religioso e alega que o seu método filosófico lhe foi revelado em sonhos.

No Discurso do Método (1637), Descartes apresenta um resumo do seu


pensamento filosófico, que mais tarde desenvolve nas Meditações sobre a Filosofia
Primeira (1641). A preocupação central de Descartes é conseguir estabelecer um
método seguro para a filosofia, que a coloque no mesmo caminho de sucesso que a
ciência do seu tempo começava a percorrer. Como muitos filósofos do seu tempo,
Descartes está igualmente preocupado com o CEPTICISMO. A sua famosa dúvida
metódica consiste em levar até às últimas consequências as dúvidas dos cépticos,
convencido de que no fim haverá uma verdade da qual não será possível
duvidar. SANTO AGOSTINHO já tinha proposto o mesmo método de refutação do
cepticismo, mas Descartes entende que, com base no que restar depois da
aplicação da dúvida metódica, será possível reconstruir os fundamentos de todo o
conhecimento. Descartes costuma por isso ser visto como um fundacionalista
(verFUNDACIONALISMO) com respeito à EPISTEMOLOGIA.

A verdade irrefutável e que nem os cépticos mais radicais poderiam recusar é a


própria existência de quem duvida; daí a famosa expressão "Penso, logo existo" —
isto é, posso duvidar de tudo, incluindo da realidade do mundo exterior, mas, para
poder duvidar, tenho de existir, e por isso a minha própria existência é indubitável
e evidente. Mas a minha existência não se pode confundir com a existência do meu
corpo, do qual posso duvidar. E Descartes introduz assim o famoso e poderoso
argumento dualista: se é possível que o meu corpo seja uma ilusão, mas é
impossível que eu seja uma ilusão, então eu não sou o meu corpo. Com base na
certeza de que o eu existe, Descartes procura então mostrar a existência de Deus
e, com base na existência de Deus, a existência do mundo exterior. A obra de
Descartes, sobretudo as Meditações, é um modelo da actividade filosófica genuína
e constitui um bom ponto para começar o estudo da filosofia. DM
Blackburn, Simon, Pense, Cap. 1 (Lisboa: Gradiva, 2001).
Descartes, René, Discurso do Método (Lisboa: Sá da Costa, 1984).
Descartes, René, Meditações sobre a Filosofia Primeira (Coimbra:
Almedina, 1985).
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, Cap. 11 (Lisboa:
Temas e Debates, 1999).
Magee, Bryan, Os Grandes Filósofos, cap. 4 (Lisboa, Presença, 1989).

15
empírico

Diz-se do que se refere à experiência sensível. Assim, uma afirmação é empírica se


descrever ou de algum modo estiver relacionada com a descrição de um estado de
coisas de que temos experiência e puder ser confirmada ou falsificada pela
experiência sensível. E o mesmo se aplica em relação às nossas crenças. Ao afirmar
que há seres inteligentes extraterrestres estamos a defender uma tese empírica;
ao afirmar que Lisboa é maior do que Faro estamos a exprimir uma crença
empírica. Isto contrasta com teses ou crenças não empíricas (isto é, conceptuais),
como a tese de que 30 + 60 = 90, ou a crença de que o vermelho é uma cor (o que
é diferente da crença de que um dado objecto é vermelho). Podemos ainda falar de
qualidades empíricas quando dizemos, por exemplo, que determinado objecto é
azul. Neste caso trata-se de uma qualidade empírica porque referimos uma
característica que pode ser directamente observada, enquanto que as qualidades
teóricas são inferidas (ver INFERÊNCIA). Ver também A PRIORI/A
POSTERIORI eEMPIRISMO. AA

16
empirismo

Perspectiva filosófica de acordo com a qual todo o nosso conhecimento substancial


deriva da experiência e das impressões colhidas pelos cinco sentidos (ver A
PRIORI/A POSTERIORI). O empirismo divide-se, em geral, em duas posições. A
posição segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência, não havendo
espaço para o conhecimento a priori (esta é a posição empirista radical); e a
posição segundo a qual, apesar de todo o nosso conhecimento substancial derivar
da experiência, existe conhecimento a priori, só que este não é substancial, nada
nos diz acerca do mundo exprimindo meras relações entre os conceitos (esta é a
posição empirista moderada). Um dos primeiros grandes filósofos empiristas foi o
inglês do séc. XVII John LOCKE. Este defendeu que a nossa mente se compara a
uma folha de papel em branco (ou a umaTÁBUA RASA, como dizia ARISTÓTELES) na
qual os nossos sentidos vão deixando registadas as impressões colhidas do
exterior. A mente era vista como uma espécie de recipiente que se vai enchendo à
medida que o contacto com o mundo à nossa volta o permite, mas incapaz de ter
uma intervenção activa que não seja a interpretação e manipulação dos dados
sensíveis. O desrespeito pelos dados sensíveis é que está, segundo o empirista, na
origem das interpretações abusivas em que se apoiam as nossas crenças falsas. O
empirismo opõe-se, pois, ao RACIONALISMO, o qual defende que podemos obter
conhecimento a priori substancial acerca do mundo. O filósofo escocês do séc. XVIII
DavidHUME enfrentou, sempre numa perspectiva empirista, algumas das
dificuldades apontadas pelos racionalistas, acabando por tirar a conclusão céptica
(ver CEPTICISMO) de que era impossível basear na experiência ideias tão
importantes para a ciência como as deCAUSALIDADE e de universalidade
(ver UNIVERSAIS). Os ingleses Stuart MILL (séc. XIX), o alemão Rudof CARNAP e o
filósofo americano W. V. QUINE estes já no séc. XX, são alguns dos mais destacados
empiristas. São duas as grandes dificuldades que qualquer teoria empirista
enfrenta, explicar a forte intuição de que temos conhecimento a priorisubstancial, e
explicar a forte intuição de que existem verdades necessárias. Ver
tambémCOERENTISMO, FUNDACIONALISMO, INDUÇÃO, PRAGMATISMO, VERIFICACI
ONISMO. AA
Blackburn, Simon, Pense: Uma Introdução à Filosofia, capítulo 1 (Lisboa:
Gradiva, 2001).
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, capítulos 12 e 14
(Lisboa: Temas e Debates, 1999).
Nagel, Thomas, O Que Quer Dizer Tudo Isto?, capítulo 2 (Lisboa: Gradiva,
1995).
Russell, Bertrand, Os Problemas da Filosofia, capítulos V-X (Coimbra:
Almedina, 2001).

17
epistemologia

A disciplina tradicional da filosofia, também conhecida por TEORIA DO


CONHECIMENTO,que trata de problemas como "o que é o conhecimento?", "o que
podemos conhecer?", "qual é a origem do conhecimento?", "como justificamos as
nossas crenças?", envolvendo um conjunto de noções relacionadas entre si, como
"conhecer", "perceber", "prova", "crença", "certeza", "justificação" e "confirmação",
entre outras. O nome deriva de epistêmê,termo do antigo grego que
significa CONHECIMENTO. A esse termo opunha-se o termodoxa, que
significa opinião. Isto porque, como PLATÃO começou por sublinhar, não é possível
conhecer falsidades, sendo contudo possível — e até frequente — ter opiniões
falsas. Assim, um dos problemas que desde logo se coloca é o de saber como se
alcança o conhecimento e se evita a mera opinião. A célebre TEORIA DAS IDEIAS de
Platão continha uma resposta para esse problema. Para Platão, só através de um
processo racional de afastamento das impressões sensíveis somos conduzidos à
contemplação das Ideias perfeitas, de que os objectos captados pelos
nossos SENTIDOS são simples cópias imperfeitas. É nas Ideias que reside a
verdade, pelo que o chamado "conhecimento sensível" não deve, em rigor, ser
considerado conhecimento. A discussão acerca do papel dos sentidos na formação
do conhecimento e na justificação das nossas crenças acabou por dar lugar a duas
grandes doutrinas epistemológicas rivais: o EMPIRISMO e
oRACIONALISMO. Empiristas como os
britânicos LOCKE, HUME e BERKELEY defendem que todo o conhecimento
substancial provém da experiência sensível, enquanto osRACIONALISTAS, como o
francês DESCARTES e o alemão LEIBNIZ, consideram que o conhecimento, se
correctamente entendido, deve exibir as marcas da universalidade (verUNIVERSAL)
e da necessidade (ver NECESSÁRIO), características que de modo algum dependem
da experiência. Assim, para os racionalistas nem todo o conhecimento deriva da
experiência sensível. KANT, procurou determinar com exactidão como se constitui o
conhecimento, concluindo que este depende tanto da matéria fornecida pelos
sentidos como das formas A PRIORI do pensamento a que os dados sensíveis têm
de se submeter. Kant opõe-se assim tanto ao empirismo como ao racionalismo
tradicional.

A justificação das nossas crenças é outro dos problemas epistemológicos que têm
gerado importantes debates. Há filósofos que defendem que por muito boas que
sejam, as nossas justificações nunca conseguem ser inteiramente satisfatórias,
vendo-nos assim permanentemente confrontados com dúvidas insuperáveis. Este
problema é também conhecido por "problema do CEPTICISMO", uma vez que os
cépticos acabam por concluir, aparentemente de forma justificada, que o
conhecimento não é possível. No sentido de evitar o cepticismo, muitos filósofos
procuraram um fundamento para o conhecimento, isto é, um reduzido número de
certezas inabaláveis a partir das quais se estrutura todo o nosso sistema de
crenças. Essas certezas tanto podem pertencer ao domínio da razão como da
experiência, consoante as inclinações racionalistas ou empiristas do filósofo. A este
ponto de vista chama-se FUNDACIONALISMO, e Descartes constitui um dos
exemplos mais conhecidos. Mas há também quem não aceite qualquer tipo de
fundamento último para o conhecimento, sem contudo aderir ao cepticismo. É o
caso dos defensores doCOERENTISMO, para quem as nossas crenças se apoiam
mutuamente umas nas outras sem precisarem que uma delas sustente as
restantes. À maneira de uma rede ou das inúmeras peças de madeira de que é
feito um barco, permitindo-lhe flutuar no mar sem se afundar — esta é a metáfora
de Otto Neurath (1882-1945) —, o importante é que as crenças sejam coerentes
entre si.

Mais directamente ligado ao que se passa com a ciência, embora não só, há o
chamadoPROBLEMA DA INDUÇÃO, a propósito do qual se discute se o tipo de
justificação baseado em inferências indutivas é ou não aceitável. Podemos ainda
encontrar problemas de epistemologia da religião, tratando-se aí da justificação das
crenças religiosas; epistemologia da matemática, etc. AA
Blackburn, Simon, Pense, Capítulo 1 (Lisboa: Gradiva, 2001).
Dancy, Jonnathan, Epistemologia Contemporânea (Lisboa: Edições 70,
1990).
Nagel, Thomas, O Que Quer Dizer Tudo Isto?, Capítulo 2 (Lisboa: Gradiva,
1995).
Russell, Bertrand, Os Problemas da Filosofia (Coimbra: Almedina, 2001).
Warburton, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia, Capítulo 4 (Lisboa:
Gradiva, 1998).

18
filosofia

O estudo dos problemas de carácter mais geral e conceptual que afectam o nosso
pensamento científico, religioso, artístico e quotidiano, para os quais não há
respostas científicas. Eis alguns exemplos de problemas filosóficos: Será tudo
relativo e mera opinião? Será que temos livre-arbítrio? O que é o conhecimento?
Será o conhecimento possível? Como devemos viver? O que é o bem moral e qual é
o seu fundamento? O que é a justiça? Dizer que os problemas da filosofia são
conceptuais é dizer que não são problemas que se possam decidir recorrendo à
experiência. Neste aspecto, a filosofia é como a matemática, e não como a história
ou a física.

O método da filosofia é a discussão racional de argumentos. Isto significa que não


há métodos formais nem científicos de prova, como na matemática ou na física;
tudo o que se pode fazer é pensar tão correctamente quanto possível, procurando
soluções adequadas.

Os primeiros filósofos não faziam uma distinção profunda entre as diferentes áreas
do conhecimento. ARISTÓTELES, por exemplo, dedicou-se não apenas ao que hoje
reconhecemos como filosofia, mas também à física, astronomia, biologia, etc. Para
os primeiros filósofos, o estudo da filosofia tinha muito mais em comum com a
biologia, a matemática ou a história, do que com outras manifestações culturais
como a arte ou a religião. E o que tinha em comum era o estudo racional da
natureza das coisas e a procura da verdade. A filosofia surge assim associada,
juntamente com as outras áreas do conhecimento, à própria ideia de investigação
livre, opondo-se à atitude dogmática que consiste em proclamar pretensas
"verdades" que não se podem colocar em causa.

A filosofia não é coisa do passado. Apesar da sua longa história (ver FILOSOFIA,
HISTÓRIA DA), a filosofia continua viva; na verdade, há talvez mais filósofos hoje
em dia do que ao longo de toda a história da humanidade. E também não é
verdade que não exista progresso em filosofia; sem dúvida que a compreensão
actual dos problemas, teorias e argumentos da filosofia é superior à de qualquer
época do passado. Simplesmente, talvez não haja na filosofia o tipo de progresso
por acumulação de resultados que podemos encontrar na ciência. O progresso da
filosofia é um alargamento da compreensão. Podemos continuar sem conseguir
provar se temos ou não livre-arbítrio, ou se Deus existe ou não, ou sequer como se
pode justificar a nossa crença no mundo exterior; mas a compreensão que temos
hoje destes problemas é mais profunda do que a que se tinha no passado.

Não se pode exigir do filósofo, ou do estudante de filosofia, respostas definitivas


como temos em medicina, por exemplo, em que é possível dizer exactamente o
que provoca a diabetes, ou como se cura a tuberculose. Mas isto não significa que
as opiniões dos filósofos, ou do estudante de filosofia, sejam "meras opiniões",
incomensuráveis, subjectivas e pessoais, insusceptíveis de avaliação racional e de
estar mais ou menos próximas da verdade ou da plausibilidade. A opinião que se
espera de um filósofo, ou de um estudante de filosofia, é como a opinião que se
espera de um médico quando vamos a uma consulta: uma opinião fundamentada e
informada, que se pode discutir e avaliar racionalmente. O objectivo do estudo da
filosofia é saber avançar "diagnósticos", tão bons quanto possível, relativamente
aos problemas tradicionais da filosofia. Isto exige um bom conhecimento do que
está em causa e das diferentes respostas que tentam resolver esse problema, tanto
antigas como modernas. Exige a capacidade para compreender os diferentes
aspectos dos problemas, os diferentes mecanismos de argumentação ou
fundamentação e as diferentes maneiras como uma teoria ou ideia pode ser
melhorada para responder a objecções e contra-exemplos.

As principais disciplinas da filosofia merecem artigos próprios neste


dicionário:METAFÍSICA, EPISTEMOLOGIA, ÉTICA, LÓGICA, FILOSOFIA DA RELIGIÃO,
FILOSOFIA POLÍTICA, ESTÉTICA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA, FILOSOFIA DA MENTE,
FILOSOFIA DA LINGUAGEM, FILOSOFIA DA ACÇÃO. DM
Nagel, Thomas, Que Quer Dizer Tudo Isto? (Lisboa: Gradiva, 1995).
Russell, Bertrand, Os Problemas da Filosofia (Coimbra: Almedina, 2001).
Warburton, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia (Lisboa: Gradiva, 1988).

22
INDUÇÃO
Raciocínio que consiste em tirar conclusões gerais a partir de casos particulares considerados
como portadores de relações gerais. O problema do raciocínio indutivo está no facto de que,
contrariamente à dedução, a verdade das premissas não garante a verdade da conclusão.
indução

Geralmente usa-se este termo para falar de dois tipos diferentes de argumentos: as
generalizações e as previsões. Uma generalização é
um ARGUMENTO quantificacional (verQUANTIFICADOR) não dedutivo cujas
premissas são menos gerais do que a conclusão. Este tipo de argumentos
apresenta a seguinte FORMA LÓGICA, ou outras formas lógicas análogas: "Alguns F
são G. Logo, todos os F são G". Por exemplo: "Alguns corvos são pretos; logo, todos
os corvos são pretos". Uma previsão é um argumento quantificacional não dedutivo
cujas premissas se baseiam no passado e cuja conclusão é um caso particular. Por
exemplo: "Todos os corvos observados até hoje são pretos; logo, o corvo do João é
preto". É defensável que qualquer argumento não dedutivo se baseia na indução,
nomeadamente qualquer ARGUMENTO DE AUTORIDADE e ARGUMENTO POR
ANALOGIA. Ver PROBLEMA DA INDUÇÃO. DM

23
Kant, Immanuel (1724-1804)

Filósofo alemão. Kant nasceu em Königsberg (actual Kaliningrado),


na Prússia oriental, onde estudou, trabalhou e viveu toda a sua
vida, tornando-se um dos mais influentes filósofos de sempre.
Durante mais de uma década trabalhou como preceptor e em
1755 juntou-se ao corpo docente da universidade de Königsberg,
onde leccionou as mais variadas disciplinas: lógica, metafísica,
matemática, geografia, antropologia, pedagogia, etc. É habitual
dividir a sua vida intelectual em dois períodos: o "período pré-crítico" e o "período
crítico". Durante o primeiro período, Kant escreveu trabalhos menos influentes, nos
quais se pode constatar a grande influência de Wolff (1679-1754), discípulo
de LEIBNIZ, e do próprio Leibniz. Kant foi também fortemente influenciado
por LOCKE,HUME e Jean-Jacques Rousseau (1712-78). O seu período crítico teve
início em 1770 com a publicação da sua Dissertação de 1770.

A Crítica da Razão Pura (1781) é a sua primeira grande obra. O problema que a
domina é o de saber como é o conhecimento a priori acerca do mundo possível
(ver A PRIORI/A POSTERIORI), ou para usar a sua terminologia, como é o
conhecimento sintético a prioripossível (ver ANALÍTICO/SINTÉTICO). Kant defendeu
que não é possível saber como o mundo é em si, independentemente da nossa
experiência. Sucintamente, a ideia de Kant é que o nosso aparato cognitivo, seja
ele perceptivo ou puramente intelectual (ou teórico), impõe certas estruturas ao
mundo. Kant defendeu que uma metafísica científica deve usar criticamente a
razão na procura dos seus próprios limites: temos de procurar as "formas" que o
nosso aparato cognitivo impõe ao mundo. Esta é a "revolução copernicana" de
Kant: para sabermos o que podemos conhecer, temos de saber como o
conhecemos.

Na Crítica da Razão Prática (1788), Kant procura os fundamentos da nossa razão


prática, isto é, os fundamentos do nosso raciocínio moral. Defende que agir
racionalmente é agir moralmente, é agir de acordo com o nosso DEVER, é agir de
acordo com o IMPERATIVO CATEGÓRICO. Na Crítica da Faculdade do Juízo (1790),
volta a defender a objectividade da razão, mas desta vez relativamente aos juízos
estéticos. Contudo, esta não é meramente uma obra de estética. Nela, Kant
fornece-nos uma visão global do seu sistema filosófico. CT
Kant, Immanuel, Crítica da Razão Pura (Lisboa: FCG, 1989).
Kant, Immanuel, Crítica da Razão Prática (Lisboa: Edições 70, 1997).
Kant, Immanuel, Crítica da Faculdade do Juízo (Lisboa: INCM, 1992).
Kant, Immanuel, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (Lisboa:
Edições 70, 1991).
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, cap. 16 (Lisboa:
Temas e Debates, 1999).
Magee, Bryan, Os Grandes Filósofos, cap. 8 (Lisboa: Presença, 1989).

24
lógica

O estudo da argumentação válida (ver VALIDADE/INVALIDADE). A lógica formal


estuda a argumentação cuja validade depende exclusivamente da FORMA LÓGICA.
A lógica informal estuda a argumentação cuja validade não depende unicamente da
forma lógica. A lógica foi fundada por ARISTÓTELES, que pela primeira vez usou a
noção de forma lógica para distinguir os argumentos válidos dos inválidos
(ver LÓGICA ARISTOTÉLICA). A lógica conheceu relativamente poucos
desenvolvimentos até Gottlob FREGE e Bertrand RUSSELLterem revolucionado a
disciplina. Hoje em dia há muitos sistemas diferentes de lógica, que procuram
resolver os problemas em aberto na disciplina. A chamada "lógica clássica", de
Frege e Russell, é encarada como a "lógica canónica", e é essa que geralmente se
começa por estudar.

Repare-se no seguinte argumento: 1) "Platão e Aristóteles eram filósofos; logo,


Platão era um filósofo". A lógica clássica (mas não a aristotélica) permite explicar
por que razão este argumento é válido. Dado que a validade deste argumento
depende inteiramente da sua forma lógica, qualquer argumento que tenha a
mesma forma lógica será igualmente válido. Podemos ilustrar a forma lógica do
argumento assim: "P e Q; logo, P" — sendo "P" e "Q" símbolos que representam
proposições. Assim, se "P" for a proposição expressa pela frase "O aborto é um
mal" e "Q" a proposição expressa pela frase "Os animais têm direitos", obtemos o
seguinte argumento válido: 2) "O aborto é um mal e os animais têm direitos; logo, o
aborto é um mal". A lógica permite também compreender por que razão são
inválidos os argumentos inválidos; e permite compreender que alguns argumentos
que parecem válidos são de facto inválidos (as falácias). Repare-se no seguinte
argumento: 3) "Tem de haver uma só causa para todas as coisas porque todas as
coisas têm uma causa". Este argumento parece válido, mas é inválido. A lógica
explica por que razão o argumento é inválido. Repare-se que o argumento seguinte
é obviamente inválido: 4) "Tem de haver uma mãe para todas as pessoas porque
todas as pessoas têm uma mãe". O argumento 4 tem a mesma forma lógica do
argumento 3. Mas porque o argumento 3 é mais abstracto, parece válido, apesar
de o não ser. Dado que os argumentos filosóficos são geralmente muito abstractos,
a lógica tem um papel crucial na filosofia: ajuda-nos a evitar erros no pensamento
filosófico.

A lógica clássica tem duas partes distintas: a lógica proposicional e a lógica de


predicados (também chamada "lógica quantificada"). Na lógica proposicional
(ver CÁLCULO PROPOSICIONAL) estudam-se argumentos cuja validade depende
exclusivamente de certos aspectos da forma lógica proposicional (argumentos
como 1 e 2). Os aspectos da forma lógica proposicional que contam na lógica
proposicional clássica decorrem inteiramente do uso de cinco tipos de operadores:
a NEGAÇÃO, a CONJUNÇÃO, a DISJUNÇÃO, aCONDICIONAL e
a BICONDICIONAL (ver OPERADOR VEROFUNCIONAL). Assim, os argumentos 1 e 2
são válidos porque ambos dependem exclusivamente do operador de conjunção
("e").

Na lógica quantificada ou de predicados (ver CÁLCULO DE PREDICADOS) estudam-


se os argumentos que dependem exclusivamente da quantificação
(ver QUANTIFICADOR), como é o caso dos argumentos 3 e 4. A quantificação ocorre
quando se afirma ou nega que uma certa propriedade ou relação é exemplificada
um certo número de vezes. Por exemplo, afirmar que há filósofos é dizer que a
propriedade de ser filósofo é exemplificada por algumas coisas (nomeadamente,
pessoas); afirmar que não há lobisomens é dizer que a propriedade de ser um
lobisomem não é exemplificada por coisa alguma. Há muitos tipos de quantificação,
mas na lógica clássica estuda-se apenas dois desses tipos: a universal e a
existencial (ver QUANTIFICADOR UNIVERSAL e QUANTIFICADOR EXISTENCIAL).

Há dois aspectos fundamentais em qualquer lógica: a sua linguagem e a lógica


propriamente dita. A linguagem lógica é uma forma de traduzir certos aspectos
relevantes da linguagem de todos os dias numa linguagem mais transparente. O
objectivo é destacar e explicitar com rigor os aspectos que se quer estudar por
serem relevantes para o tipo de argumento que se tem em vista. Assim, um
argumento como "Se a vida não faz sentido, Deus não existe; dado que a vida não
faz mesmo sentido, Deus não existe" pode ser formalizado do seguinte modo: ¬P →
¬Q, ¬P Q. A formalização, com os seus símbolos estranhos
(ver APÊNDICE: SÍMBOLOS LÓGICOS), é um instrumento crucial para se
compreender com rigor a estrutura lógica do pensamento, o que por sua vez é
crucial para determinar a sua validade, o que por sua vez é crucial para determinar
a verdade das nossas conclusões.

Na lógica propriamente dita desenvolvem-se métodos para testar a validade das


formas lógicas que se exprimem por meio da linguagem lógica (que por sua vez
traduz a linguagem quotidiana). Entre esses métodos contam-se os INSPECTORES
DE CIRCUNSTÂNCIAS e as derivações (ver DERIVAÇÃO). DM
Murcho, Desidério, O Lugar da Lógica na Filosofia, Capítulos 4 e 5 (Lisboa:
Plátano, 2003).
Newton-Smith, W. H., Lógica: Um curso introdutório, Capítulos 1, 2, 3 e 5
(Lisboa: Gradiva, 1998).
Priest, Graham, Lógica (Lisboa: Temas e Debates, 2002).

25
maiêutica

Nome pelo qual a personagemSÓCRATES, no Teeteto de PLATÃO, designa o seu


método de perguntas e respostas. O interesse da expressão está no facto de pôr
ênfase no lado positivo do processo, uma vez que se trata de partejar as almas dos
interlocutores de modo a que estes dêem à luz as ideias que de forma não
consciente já contêm em si e que pode, por isso, ser entendido como um processo
complementar da REMINISCÊNCIA. Nesse sentido, talvez seja mais uma noção
platónica do que socrática. AN

26
método científico

Conjunto de procedimentos usados pelos cientistas para obter


um CONHECIMENTO tão certo (ver CERTEZA) e seguro quanto possível na sua área
de investigação. Até aos primeiros anos do séc. XX, uma concepção de método
baseada na INDUÇÃO e derivada das ideias de Francis Bacon (1561-1626) e
de GALILEU Galilei teve a preferência dos cientistas. A descoberta de que
algumas TEORIAS científicas, consideradas verdadeiras com base nesse método
eram, na realidade, falsas, levou à formulação de metodologias alternativas, das
quais a mais importante e conhecida é o FALSIFICACIONISMO de KarlPOPPER.
Outras tentativas de explicar a investigação científica, como a de Thomas KUHN,
que, em vez de formular teorias normativas e racionalistas (ver RACIONALISMO) da
ciência, procura descrever (ver NORMATIVO/DESCRITIVO) a forma como progride,
ou como a de Paul FEYERABEND, ao defender a inexistência do método científico e
a ideia de que "qualquer coisa serve", têm sido por muitos consideradas
irracionalistas (verIRRACIONALISMO). Ver EXPERIÊNCIA, EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA,
FALSIBICABILIDADE, FILOSOFIA DA CIÊNCIA, GENERALIZAÇÃO,
INCOMENSURABILIDADE, MÉTODO EXPERIMENTAL, MÉTODO HIPOTÉTICO-
DEDUTIVO, PROBLEMA DA INDUÇÃO, VERIFICABILIDADE, VERIFICACIONISMO. AN

27
Mito - Relato fabuloso contando uma história que serve ao mesmo tempo de origem e
justificação de um grupo social.

29
Platão (427-347 a. C.)

Filósofo grego que, juntamente com SÓCRATES, seu mestre,


eARISTÓTELES, seu discípulo, é uma das figuras mais importantes
daFILOSOFIA ocidental. Nasceu em Atenas, numa família
aristocrática, e, como era comum na época e nos jovens da sua
classe, ter-se-ia dedicado à política activa não o tivesse dela
afastado, primeiro, o governo dos Trinta Tiranos e, depois, a
execução de Sócrates, em 399. Apesar disso, fez várias viagens à
Sicília com o objectivo de influenciar Dionísio II, tirano de Siracusa, e a sua filosofia
está profundamente marcada por preocupações de carácter ético (ver ÉTICA) e
político (ver FILOSOFIA POLÍTICA). Fundou em Atenas, em 387, uma escola
dedicada ao ensino e à investigação, chamada Academia, onde ensinou até ao final
da sua vida. Com excepção da Apologia de Sócrates(trad. 1993, INCM), todas as
outras obras que escreveu são diálogos, que é comum distribuir por três períodos:
juventude, maturidade e velhice. As obras do primeiro período tratam de conceitos
morais específicos, como a piedade (Êutifron) ou a coragem (Laques) e
nelas SÓCRATES é a figura central; as obras de maturidade expõem as suas
principais teorias (teoria das ideias, da imortalidade e transmigração das almas); e
nas obras de velhice, critica e revê algumas das teorias dos diálogos de
maturidade. Defendeu que aquilo que várias acções justas têm em comum é o
facto de participarem da IDEIA ou Forma de JUSTIÇA. As Ideias são eternas e
imutáveis, ao passo que as coisas sensíveis, que delas participam, são perecíveis e
mutáveis. Existe uma hierarquia do SER, desde as imagens, artefactos
(ver ARTEFACTO) e seres vivos, que constituem o MUNDO SENSÍVEL e que são
objecto de OPINIÃO, até às entidades matemáticas e às Ideias (de que a suprema é
a Ideia incondicionada de Bem), que constituem o mundo inteligível e
cujoCONHECIMENTO consiste na recordação (ver REMINISCÊNCIA) daquilo que a
alma imortal contemplou aquando da sua EXISTÊNCIA separada do corpo. A justiça
consiste em cada um desempenhar na cidade a função para a qual a sua natureza
é mais adequada e a sociedade justa é aquela em que os cidadãos estão
distribuídos por três classes, de acordo com a sua natureza: guardiões, que têm a
seu cargo o governo; guerreiros, que protegem a cidade dos inimigos; e artesãos, a
que pertencem a generalidade dos habitantes. As contribuições de Platão para
vários domínios da filosofia são tão importantes que houve quem afirmasse que
toda a filosofia posterior é apenas uma nota de rodapé à sua obra.Ver ALEGORIA
DA CAVERNA, DIALÉCTICA, INTELIGÍVEL, UNIVERSAIS. AN
Hare, R. M., O Pensamento de Platão, (Lisboa: Presença, 1998).
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, cap. 3 (Lisboa:
Temas e Debates, 1999).
Koyré, Alexandre, Introdução à Leitura de Platão, (Lisboa: Presença,
18987).
Koyré, Alexandre, Galileu e Platão (Lisboa: Gradiva, 1986).
Magee, Brian, Os Grandes Filósofos, cap. 1 (Lisboa: Presença, 1989).
Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton (Lisboa: INCM, 1993).
Platão, Laques, (Lisboa: Edições 70, 1989).
Platão, Hípias Maior (Lisboa: Ed. 70, 2000).
Platão, Hípias Menor (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Cármides (Coimbra: INIC, 1988).
Platão, Lísis (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Íon (Lisboa: Editorial Inquérito, 1988).
Platão, Protágoras (Lisboa: Relógio D'Água, 1999).
Platão, Górgias (Lisboa: Edições 70, 1997).
Platão, Ménon, (Lisboa: Colibri, 1992).
Platão, Fédon (Coimbra: Minerva, 1998).
Platão, Crátilo, (Lisboa: Sá da Costa Ed., 1994).
Platão, Fedro, (Lisboa: Edições 70, 1997).
Platão, O Banquete, (Lisboa: Edições 70, 1991).
Platão, A República (Lisboa: Gulbenkian, 2001).
Platão, Parménides, (Lisboa: Instituto Piaget, 2001).

31
POLIS
A polis era o centro de cada um dos estados gregos -- uma cidade rodeada de uma pequena comarca.
Estados autónomos, o seu governo foi inicialmente monárquico, tendo passado depois para as mãos da
aristocracia e, mais tarde, ocupado nalgumas cidades por tiranos apoiados pelo povo.

32

POLÍTICA
O termo política deriva do grego polis, que designa "a cidade". Assim, a política é (um conjunto de
três significados):
1) uma arte: a arte de governar a cidade de acordo com um projecto relativo ao
conjunto da cidade (este sentido é utilizado em expressões como "ter uma política");
2) uma actividade: "fazer política" é empenhar-se na acção que pretende a tomada do
poder para fazer triunfar as suas ideias (o seu projecto -- ver significado anterior);
3) um domínio específico (distinto, por exemplo, do poder económico). Neste
significado, o substantivo é masculino: numa entrevista, Paul Ricoeur estabelece a
distinção "entre opolítico, como estrutura da acção em comum e a política, como
actividade gravitando em torno do poder, da sua conquista e do seu exercício".
4)

33
pré-socráticos

O termo refere-se aos filósofos que surgiram antes de Sócrates, sendo que muitos
deles procuravam compreender a origem, a constituição e a natureza do mundo
físico, tendo apresentado as primeiras teorias cosmológicas. Os pré-socráticos mais
importantes foram Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes (da escola jónia de
meados do séc. VI a. C.), Pitágoras de Samos (c. 429-347 a. C.), Heraclito de Éfeso
(c. 560-475 a. C.), Empédocles de Agrigento (c. 493-c. 433 a. C.), os eleatas
Parménides (n. c. 515 a. C.) e Zenão (n. c. 490 a. C.), os atomistas Demócrito (460-
370 a. C.) e Leucipo (c. 450 a. C.) e ainda Anaxágoras de Clazómenas (c. 499- 427
a. C.). AA

34
razão

A faculdade de raciocinar, compreender, ponderar, ajuizar, etc. Os filósofos


dividem-se quanto à confiança que depositam na razão. Os mais cépticos duvidam
dos seus produtos; alguns, como HUME, confiam mais nas emoções e sentimentos.
Outros, como DESCARTESou KANT, confiam mais no poder da razão para descobrir
verdades importantes. A racionalidade instrumental permite, perante fins dados,
determinar os melhores meios para os atingir; por exemplo, quando tenho sede e
sei que há água na cozinha, um meio de matar a sede é ir à cozinha. A
racionalidade não instrumental, negada por filósofos como Hume, permite
determinar os próprios fins. DM

35 Reflexão critica, é uma reflexão critica de consciência.Um exame, análise dos fundamentos.Refletindo
criticamente. Uma investigação crítica da própria consciência, sendo necessário ter conhecimento do que é
investigado, com olhar de preconceito de critica.

36
SENSAÇÃO
Vivência simples, produzida pela acção de um estímulo (externo ou interno: luz, som, calor, etc.) sobre
um órgão sensorial, transmitida ao cérebro através do sistema nervoso.
Embora por vezes se considere a sensação como o ponto de partida para a construção da experiência
e do saber, ela não é, no entanto, um dado imediato da consciência: a sensação só se apresenta ao
nosso espírito sob uma forma mais complexa -- a forma de percepção. Apenas podemos falar de
sensações nas percepções se as considerarmos em si mesmas, sem considerar o que significam.

37
senso comum

O conjunto mais alargado de crenças que uma comunidade tem por verdadeiras e
partilha durante um certo período de tempo. O senso comum é um "saber" que
resulta da experiência de vida individual e colectiva. Os hábitos e costumes, as
tradições e rituais, os "ditos" e provérbios, as opiniões populares, etc., são
habitualmente referidos como manifestações do senso comum. A sua
aprendizagem é uma condição necessária para a socialização de cada membro da
comunidade, funcionando como um mecanismo regulador do seu pensamento e da
sua ACÇÃO. Do ponto de vista da CIÊNCIA e daFILOSOFIA, os processos de
justificação das crenças de senso comum afiguram-se muitíssimo superficiais e
falíveis, e é frequente tais crenças resistirem mal a um exame crítico mais
minucioso, pelo que a sua ampla aceitação não é uma garantia de que sejam
verdadeiras. Alguns filósofos têm discutido
a CONTINUIDADE/DESCONTINUIDADE entre o senso comum e a ciência e a filosofia,
tendo particular relevância, nessa discussão, o problema da
demarcação. Ver CRENÇA, VERDADE/FALSIDADE, CRÍTICA, CRITÉRIO DE
DEMARCAÇÃO. APC

38
Sócrates (c. 469-399 a. C.)

Uma das figuras mais carismáticas e enigmáticas da HISTÓRIA DA


FILOSOFIA. Embora nada tenha escrito, a sua influência é enorme
e é responsável pela viragem da filosofia das questões da
natureza para as questões humanas. Pouco mais se sabe acerca
da sua vida, para além de que participou na guerra do Peloponeso
e foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de
corromper a juventude. Também se sabe pouco acerca do seu pensamento,
embora seja a figura central de muitos diálogos de PLATÃO, uma vez que é difícil
diferenciar o Sócrates histórico da personagem platónica. Para Sócrates,
a FILOSOFIA é um modo de vida e, por isso, fazia filosofia na ágora (praça pública),
no ginásio ou nas ruas de Atenas, dialogando com aqueles que estivessem
dispostos a investigar com ele um qualquer CONCEITO MORAL. Começava por pedir
ao seu interlocutor a DEFINIÇÃO de uma virtude, como a JUSTIÇA, e depois, por
intermédio de perguntas e respostas, levava-o a chegar a uma conclusão
contraditória (ver CONTRADIÇÃO) com a definição que tinha apresentado. Com este
método de REFUTAÇÃO (elenchus) procurava mostrar àqueles que pretendiam ser
sábios que as suas crenças (ver CRENÇA) eram inconsistentes
(verINCONSISTÊNCIA) e, deste modo, levá-los a formular crenças mais adequadas.
Apesar de afirmar não saber as respostas às questões que punha sobre as
definições, há algumas ideias que parece ter assumido. As mais importantes são
que a virtude, embora não possa ser ensinada, é CONHECIMENTO; que ninguém faz
o mal (ver MAL MORAL) voluntariamente; que não se pode fazer mal a um homem
bom; que é pior fazer do que sofrer o mal; e que todas as virtudes se reduzem a
uma, o conhecimento do que é e não é bom para um ser
humano. Ver DIALÉCTICA, ÉTICA DAS VIRTUDES, IRONIA, MAIÊUTICA.AN
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, cap. 3 (Lisboa:
Temas e Debates, 1999).
Magee, Brian, Os Grandes Filósofos, cap. 1 (Lisboa: Presença, 1989).
Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton (Lisboa: INCM, 1993).
Platão, Laques, (Lisboa: Edições 70, 1989).
Platão, Hípias Maior (Lisboa: Edições. 70, 2000).
Platão, Hípias Menor (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Cármides (Coimbra: INIC, 1988).
Platão, Lísis (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Íon (Lisboa: Editorial Inquérito, 1988).

39
• TEOLOGIA
Ciência que tem Deus por objecto. A teologia dita natural procura mostrar
que Deus existe, partindo apenas dos dados da razão (é o caso, por ex., de Aristóteles). Por
outro lado, ateologia revelada parte dos ensinamentos revelados por Deus na Bíblia para
esclarecer o mundo e a inteligência humana. Ao contrário do primeiro caso, em que se
procura esclarecer Deus através da razão, no segundo busca-se o esclarecimento da razão
através de Deus -- cuja existência, em lugar de (ter que) ser demonstrada, é tida como certa.

40
teoria

Um conjunto de proposições estruturadas entre si que visam resolver um problema


ou explicar um fenómeno. Diz-se que são proposições estruturadas porque numa
teoria as suas diferentes partes se articulam, isto é, apresentam uma estrutura
lógica. As teorias não podem ser válidas ou inválidas no mesmo sentido em que um
argumento é válido ou inválido; as teorias são verdadeiras ou falsas, tal como as
proposições (e tal como as proposições podem ser fecundas ou estéreis,
interessantes ou triviais, etc.). Não há uma receita automática para avaliar teorias,
mas os seguintes aspectos devem ser tidos em conta: 1) Se o problema que uma
teoria procura resolver é ABSURDO, a teoria é absurda; 2) Se uma teoria não
resolve os problemas que se propunha resolver, ou não explica o que se propunha
explicar, é inadequada; 3) Se uma teoria for inconsistente
(verCONSISTÊNCIA/INCONSISTÊNCIA), é falsa; 3) Se uma teoria tiver consequências
falsas, é falsa; 4) Se os ARGUMENTOS que sustentam uma teoria forem maus, a
teoria é má. DM

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