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Anais do 15O Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação do ITA – XV ENCITA / 2009

Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, Outubro, 19 a 22, 2009.

PROPRIEDADES ACÚSTICAS DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PARA


USO EM EDIFICAÇÕES NO ENTORNO DE AEROPORTOS

Thiago Tadeu Jadir


ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 - Vila das Acácias
CEP 12.228-900 – São José dos Campos – SP
Bolsista PIBIC-CNPq
ttj1986@gmail.com

Maryangela Geimba de Lima


ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 - Vila das Acácias
CEP 12.228-900 – São José dos Campos – SP
magdlima@ita.br

Resumo.
As atividades praticadas em um aeroporto como taxiamento, pouso e decolagem geram sons em níveis elevados. Tais níveis podem
chegar a patamares prejudiciais ao ser humano. Esse risco fez com que, em todo o mundo, existam restrições quanto a construções
no entorno de aeroportos. Entretanto, a ocupação acaba acontecendo e quem utiliza instalações em tal região fica sujeito a níveis
agressivos de ruídos. Tal situação gera um desconforto, problemas de saúde e reclamações aos órgãos responsáveis. Com o intuito
de gerar conhecimento para especificações de materiais mais adequados, o presente trabalho busca descrever os primeiros
resultados de um levantamento de propriedades de materiais convencionais e alternativos referentes ao isolamento e propagação de
ruído.É apresentada, nas considerações finais, uma tabela contendo um resumo do levantamento realizado.

Palavras chave: ruído aeroportuário, propriedades acústicas, materiais, materiais alternativos, entorno de aeroportos.

1. Introdução

O entorno dos aeroportos nacionais vem se caracterizando por áreas urbanas, extremamente adensadas, sendo
utilizadas por população de baixa renda, em sua maioria. A qualidade das habitações é em geral precária e desprovida
de conforto. As Agências Nacionais responsáveis pela operação dos Aeroportos brasileiros recebem reclamações e
estão preocupadas com a qualidade de vida da população residente no entorno dos aeroportos, especialmente por conta
do ruído causado pelo pouso e decolagem de aeronaves. A tendência nacional é de aumento na movimentação,
especialmente dos grandes aeroportos nacionais, prejudicando cada vez mais a população residente no entorno.
Visando gerar subsídios para especificação de materiais mais adequados, o presente trabalho visa apresentar dados
iniciais visando o conhecimento das propriedades dos materiais convencionais e alternativos quanto as suas
características de isolamento e propagação de ruído, buscando aumentar o conforto relacionado a esta propriedade das
habitações já existentes. Os dados aqui apresentados também podem ser utilizados para melhor especificação de
materiais em outras edificações, visando melhorar o conforto acústico das mesmas.

2. Alguns conceitos relativos ao tema

2.1. Ruído
Ruído é um conceito que possui muitas definições. Na maioria das vezes, ruído é encarado de forma negativa,
sendo uma perturbação de ondas de forma não harmônica. Por esta visão, o que para um observador é um som, para
outro se trata de um ruído. Por um lado mais formal, pode ser descrito como fenômeno físico, vibratório com
características indefinidas de variação de pressão em função da frequência (CATAI & PENTEADO & DALBELLO,
2006).
No estudo em questão, o ruído considerado é o som que chega às edificações, advindo de aeroportos. Como
fontes principais podem ser citadas pousos e decolagens de aviões.
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2.2. Conforto acústico


Harmonia e bem estar são obtidos quando as necessidades do ser humano são atendidas e realizadas com
conforto. Conforto acústico ocorre quando ocorre esforço fisiológico mínimo em relação ao som para a realização de
uma determinada tarefa (CATAI & PENTEADO & DALBELLO, 2006).
A Norma de Regulamentação brasileira NR-15 - Atividades e operações insalubres (MINISTÉRIO DO
TRABALHO, 2008), em seu Anexo 1, determina os limites de tolerâncias aos quais os seres humanos podem ser
submetidos e o período de exposição. Tais níveis podem ser visualizados na Tabela 1- Limites de tolerância para ruído
contínuo ou intermitente.

Tabela 1- Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente

Fonte: Ministério do Trabalho (2008)

Além da NR-15 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2008), a NBR10152 - Níveis de ruído para conforto
acústico (ABNT, 2000), estabelece níveis de conforto e tolerância de acordo com a atividade que estará sendo
executada. Os dados estão mostrados na Tabela 2- Níveis de ruído para conforto acústico.
O Grupo de Estudo em ruídos aeroportuários da UFRJ desenvolveu um trabalho onde foram medidas as
emissões dos aeroportos nacionais e o percentual de pessoas incomodadas para alguns níveis de ruído. Tal trabalho
apontou que níveis de 75 dB (A) chegam a incomodar 50% das pessoas afetadas. Além disso, níveis de ruído do
aeroporto de Congonhas chegou a atingir 77 dB (A) às 08:00. Nestas proximidades, há uma escola, que neste horário
registra cerca de 76,5 dB(A) de ruído advindos do aeroporto. Já em Recife, o horário crítico foi às 14:00 registrando 70
dB(A) (GRUPO DE ESTUDOS EM RUÍDO AEROPORTUÁRIO, 2006).

1.1. Barreiras acústicas


Uma barreira acústica é um obstáculo que bloqueia a linha reta entre a fonte sonora e o receptor, criando assim
uma região de sombra acústica (CALZA, 1999). A ênfase do presente trabalho é dada em levantar materiais de
construção que se aproximem de barreiras acústicas, prejudicando a propagação dos ruídos aeroportuários, visando um
melhoro conforto acústico dos habitantes de entorno de aeroportos. A principal idéia é comparar materiais e sistemas de
construção de forma a identificar aqueles que produzem melhor conforto acústico para as construções localizadas no
entorno dos aeroportos. Outra opção pode ser o o uso de materiais adicionais em construções já existentes, de forma a
minimizar os efeitos citados.
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Para melhor entendimento, coeficiente de absorção é definido como a taxa de energia absorvida sobre a taxa de
energia incidente sobre um material, conforme apresentado na equação a seguir. (FERNANDES, 2002)

E N E R G I A A BSO R V I D A
a= (1)
E N E RG I A IN CI D E N T E

Quando uma onda sonora esta se propagando no ar e se depara com um obstáculo pode acontecer reflexão,
absorção ou transmissão. Reflexão ocorre quando a onda se reflete de acordo com as leis da ótica. A absorção é a
capacidade da superfície de não permitir que a onda sonora seja refletida. Transmissão é a capacidade de um material
permitir que o som ultrapasse uma superfície, continuando a propagação. O som encontra a superfície, faz com que o
material vibre e gere uma onda no outro lado do anteparo.

Tabela 2- Níveis de ruído para conforto acústico

Fonte: ABNT (2000)


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2. Materias e Métodos

O presente trabalho teve como ponto de partida coletar dados relativos às propriedades acústicas de materiais de
construção, visando gerar conhecimento no tema; nesse sentido, os dados foram levantados com base em revisão
bilbiográfica do tema em questão.

3. Resultados Obtidos

Os dados apresentados na Tabela 3, compilados pelos autores deste trabalho, foram obtidos principalmente na NR -
15 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2008) e em FERNANDES 2002.

Tabela 3- Coeficientes de absorção


Espessura Freqüência (Hz)
Material
(cm) 125 250 500 1k 2k 4k
Lã de rocha 10 0,42 0,66 0,73 0,74 0,76 0,79
Lã de vidro 10 0,29 0,55 0,64 0,75 0,80 0,85
Feltro 1,2 0.02 0,55 0,64 0,75 0,80 0,85
Placas de cortiça sobre concreto 0,5 0,02 0,02 0,03 0,03 0,04 0,04
Tapete de lã 1,5 0,20 0,25 0,35 0,40 0,50 0,75
Reboco áspero, cal 0,03 0,03 0,03 0,03 0,04 0,07
Concreto aparente 0,01 0,01 0,02 0,02 0,02 0,03
Parede de alvenaria 0,02 0,02 0,03 0,04 0,05 0,07
Vidro 0,18 0,06 0,04 0,03 0,03 0,02
Tapete 5 mm sobre feltro (5 mm) 1,0 0,07 0,21 0,57 0,66 0,81 0,72
Madeira compensada de 3 mm, a 50 mm
0,3 0,25 0,34 0,18 0,10 0,10 0,05
da parede, espaço vazio
Chapa de papelão-gesso, de 9,5 mm, sem
furos, na frente de espaço de 50 14,5 0,33 0,12 0,08 007 0,06 0,10
mm preenchido de lã mineral
Forro de gesso perfurado c/ manta de lã de
2,0 0,68 0,90 0,78 0,65 0,50 0,45
vidro
Cortina de veludo 0,14 0,35 0,55 0,72 0,70 0,65

Além desses dados, vale acrescentar a Vermiculita, mineral formado basicamente por silicatos hidratados de
alumínio e magnésio, que a 1000 Hz coeficiente de absorção é 0,5. A lã de vidro apresenta coeficiente de absorção
interessante, é um componente formado a partir de sílica e sódio aglomerados por resinas sintéticas em alto forno.
Possui tal coeficiente de absorção em função à porosidade da lã, a onda entra em contato com a lã e é rapidamente
absorvida (CATAI & PENTEADO & DALBELLO, 2006).

4. Considerações finais

Durante o levantamento bibliográfico realizado foi percebido que, comumente, materiais densos como o concreto,
o vidro, o chumbo, entre outros, são bons isolantes acústicos que formam uma barreira contra a propagação do som.
Quando se trata de materiais leves, pouco densos, e porosos é notada a boa capacidade de absorção, impedindo a
refletividade de ondas sonoras. Isto acontece por motivos da capacidade do obstáculo de refletir, absorver e transmitir.
Com o levantamento realizado foi possível perceber, de forma mais notória, a importância da realização de estudos
científicos no contexto nacional e internacional. O Brasil, país que tem sentido de forma notória o aumento da demanda
do transporte aéreo, está se atentando para o entorno dessas edificações. Isso torna a importância dos resultados aqui
apresentados ainda maior.
A revisão bibliográfica teve papel importante para a fixação de conceitos necessários ao longo da pesquisa.
Alguns materiais alternativos foram mostrados. Pode se perceber que parede de alvenaria ou concreto aparente
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absorvem muito pouco da energia sonora recebida. Uma comparação válida é feita com paredes feitas com gesso
acartonado (sistema drywall, com lã de rocha). Além disso, forros de gesso e tapetes, mesclados com feltro, lã de vidro
ou de rocha, também podem ser utilizados na tentativa de se absorver o som incidente. Tais soluções chegam a absorver
cerca de 80% do som incidente em determinada freqüência. Vale ressaltar que emissões em aeroportos podem chegar a
140 dB (A) durante a decolagem e níveis de 85 dB (A) durante 8 horas, segundo a OMS, é o máximo de exposição sem
danos à saúde (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2008), seria necessário um material com coeficiente de absorção igual
a 0,4. No caso de Congonhas, a escola próxima deve receber no máximo 55 dB(A) sendo que registra 76,5 dB(A) às
08h00, o que exigiria um coeficiente de absorção de 0,28.
Pode-se dizer, com base no estudo realizado que os materiais convencionais não absorvem uma quantidade
significativa do som incidente, sendo necessário a expansão de pesquisas nessa área na busca de um número maior de
alternativas procurando alcançar formas baratas e práticas de se amenizar o problema do ruído aeronáutico nos entornos
de aeroportos e até mesmo em construções de outra natureza.

5. Agradecimentos

À minha família, pelo apoio, dedicação e compreensão.


À Profa. Doutora, Maryangela Geimba de Lima pela confiança, dedicação e orientação.
Ao CNPq, pela concessão de suporte para realização deste trabalho.

6. Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Acústica: Níveis de ruído para conforto acústico.
NBR 10152. 2000. 4 p.
CALZA, Arlinton João, "Barreiras Acústicas - Ensaios Experimentais e Técnicas de Predição da Atenuação Através de
Simulações Numéricas por Elementos de Contorno e Cálculo Analíticos", 1999.178 p. Tese de mestrado.
CATAI, Rodrigo Eduardo; PENTEADO,André Padilha; DALBELLO, Paula Ferraretto. Materiais, técnicas e processos
para isolamento acústico. UTFPR, 2006. 12p. Artigo para 17º CBECIMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e
Ciência dos Materiais, 15 a 19 de Novembro de 2006, Foz do Iguaçu, PR, Brasil
MINISTÉRIO DO TRABALHO. NR -15 Atividades e operações insalubres. 2008. 82 p.
FERNANDES, João Cândido, Notas de aula, UNESP-Campus de Bauru, Departamento de Engenharia Mecânica.
GRUPO DE ESTUDOS EM RUÍDO AEROPORTUÁRIO, Hierarquização dos aeroportos segundo o impacto
ambiental sonoro, COPPE- UFRJ-PEM-LAVI- INFRAERO,Workshop infraero 2006. 72 p.

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