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UM ESTUDO SOBRE A APLICAÇÃO DE INTERFACE

CÉREBRO-COMPUTADOR NA COMPUTAÇÃO
Renato Peterman1, Wyllian Fressatti1
1
Universidade Paranaense (Unipar)
Paranavaí – PR – Brasil
renato.pet@gmail.com, wyllian@unipar.br

Resumo. O presente artigo apresenta uma breve revisão sobre Interface


Cérebro-Computador (ICC) e suas aplicações em IHC (Interface Humano-
Computador). Mostra alguns avanços fundamentais para o desenvolvimento
da tecnologia e apresenta projetos e aplicações que são resultados de
pesquisas que contribuíram expressivamente para o crescimento e
popularização da área, assim como interfaces comerciais e open-source
voltadas para o usuário final.

1. Introdução
Uma interface cérebro-computador (ICC), também chamada de interface neural direta ou
interface cérebro-máquina, consiste em um mecanismo de comunicação direta entre o
cérebro e um dispositivo externo [Berger et al. 2008]. Estas interfaces podem ser
invasivas ou não invasivas, basicamente os métodos invasivos consistem em capturar a
atividade neural inserindo um eletrodo ou dispositivo dentro do crânio, próximo ao
córtex ou até mesmo conectado a este, já os métodos não invasivos utilizam, em sua
maioria, o registro de Eletroencefalografia (EEG) dispondo eletrodos sobre o couro
cabeludo da pessoa para o registro dessa atividade. A figura 1 ilustra o funcionamento de
uma interface cérebro-computador que utiliza um método invasivo.

Figura 1 - Funcionamento de uma Interface Cérebro-Computador Invasiva


[HowStuffWorks 2007]

As pesquisas em ICC tiveram inicio na década de 60 e 70, e desde então muito


esforço foi investido no progresso dessa área. Nos anos 1990, a evolução dos
computadores e outras tecnologias, proporcionou um grande salto nas pesquisas em
ICC. Vários pesquisadores contribuíram e ainda contribuem ativamente no
desenvolvimento dessas tecnologias, entre eles, o brasileiro Miguel Nicolelis.
Em 2001, Nicolelis e seus colegas, desenvolveram uma interface que permitia que
macacos controlassem um braço robô a partir dos sinais neurais conforme mostra a
figura 2.

Figura 2 - Projeto desenvolvido por Miguel Nicolelis e outros pesquisadores


no qual um macaco controla um braço robo utilizando os sinais neurais
[Nicolelis et al. 2001]

Em 2008 foi lançada a primeira ICC comercial direcionada para o usuário final,
principalmente para ser usada em jogos, e no ano seguinte outras empresas também
apresentaram seus protótipos que hoje já estão disponíveis e vem se popularizando cada
vez mais entre os pesquisadores, entusiastas e gamers. Isso prova o progresso resultante
das pesquisas na área e o mostra que ainda há muito por vir.

2. Tipos de ICC
As interfaces cérebro-computador podem ser divididas em invasivas e não invasivas, as
subseções seguintes apresentarão uma breve definição sobre estes dois métodos
utilizados no desenvolvimento de Interfaces Cérebro-Computador.

2.1. Invasivos
O método invasivo utiliza um dispositivo que é conectado a superfície cortical ou áreas
subcorticais cerebrais e captam a atividade elétrica destas regiões possibilitando a
interação com um dispositivo externo. [Machado et al. 2009]
Os métodos invasivos permitem uma maior precisão e resolução dos sinais
captados, no entanto oferecem um risco expressivo pelo fato dos dispositivos
responsáveis por captar estes sinais serem inseridos dentro do crânio e conectados
diretamente a superfície cortical do cérebro. [Wolpaw et al. 2000]

2.2. Não invasivos


Os métodos não invasivos consistem basicamente em capturar a atividade neural a partir
de eletrodos conectados ao escalpo (couro cabeludo), diferente dos métodos invasivos,
não necessita que dispositivos sejam inserido dentro do crânio, dessa forma reduzindo os
riscos e garantindo maior segurança ao usuário. [Machado et al. 2009]
As ICC não invasivas utilizam, em sua maioria, uma técnica conhecida como
Eletroencefalografia ou apenas EEG. Guyton (2006), diz que as correntes elétricas
geradas a partir da atividade cerebral podem ser captadas na superfície externa da
cabeça. As ondulações desses potenciais elétricos registrados são chamados de ondas
cerebrais. O EEG é o que permite registrar e representar graficamente estas ondas.

3. Projetos e Aplicações
Desde o surgimento das primeiras ICC, estas vem sendo utilizadas em diversos fins. A
princípio, as pesquisas eram direcionadas para área da medicina com o objetivo de
desenvolver próteses que pudessem ser controladas a partir do cérebro entre diversas
outras aplicações.
Na última década, foram desenvolvidos vários projetos, comerciais e livres, que
permitem que outros pesquisadores utilizem estes projetos para desenvolver seus
próprios aplicativos.
Um exemplo é a interface Epoc™, desenvolvida pela empresa Emotiv® Systems.
Consiste em uma ICC não invasiva que utiliza 16 eletrodos dispostos sobre o escalpo e
disponibiliza uma versão livre do kit de desenvolvimento (SDK) em conjunto com um
simulador para o desenvolvimento de aplicações. De início, o Epoc™ foi desenvolvido
focando o desenvolvimento de games, porém, muitos pesquisadores tem utilizado este
para o desenvolvimento de outros projetos. Entre estes, destaca-se o projeto da Cuitech
Inc. que permite controlar uma cadeira de rodas elétrica a partir das ondas cerebrais.
Entre os projetos open-source, destaca-se o projeto BCI2000 que vem sendo
desenvolvido pelo pesquisador Gerwin Schalk desde de 2000 com o intuito de fornecer
um padrão genérico para o desenvolvimento de interfaces cérebro-computador.
O BCI2000 vem sendo amplamente utilizado pelos pesquisadores. Já é utilizado
em mais de 500 universidades no mundo todo, entre os projetos desenvolvidos está um
jogo de “pong” que pode ser jogado por duas pessoas utilizando a interface. A figura 4
apresenta outro projeto, o pesquisador Adam Wilson enviando um “tweet” para o seu
perfil no Twitter utilizando a interface BCI2000.

Figura 3 - O pesquisador Adam Wilson enviando um "tweet"utilizando o


BCI2000 [Saenz 2009]

As interfaces cérebro-computador podem ser utilizadas em diversas áreas e


vários projetos podem ser desenvolvidos utilizando esta tecnologia, como por exemplo
projetos de acessibilidade para pessoas com limitações motoras ou games específicos
para serem utilizados com estas interfaces. Cabe aos desenvolvedores utilizar de forma
criativa e inovadora as ferramentas disponíveis.
4. Metodologia
O presente artigo foi desenvolvido a partir de uma extensa revisão bibliográfica baseada
em livros, artigos, eventos e sites da internet. A apresentação das aplicações foi baseado
no acompanhamento de projetos em fóruns nos próprios sites dos fabricantes, formados
por desenvolvedores e pesquisadores da área.

5. Conclusões
As pesquisas nas áreas de ICC são relativamente recentes, entretanto, muito já foi
explorado e, principalmente nos últimos anos, avanços significativos foram alcançados
proporcionando resultados que contribuíram muito no desenvolvimento desta tecnologia.
Muito ainda há para ser pesquisado na área, e com o conseqüente
amadurecimento da tecnologia, tornando as ICC mais precisas e acessíveis, permitirá que
cada vez mais desenvolvedores e pesquisadores façam parte do desenvolvimento dessas
tecnologias, surgindo um nicho de novas oportunidades para esses novos pesquisadores.

Referências
Berger, Theodore W. et al. (2008) “Brain-Computer Interfaces: An International
Assessment of Research and Development Trends”, Editora Springer Dordrencht:
Nova York, EUA.
Guyton, A. C. Hall, J. E. (2006) “Tratado de Fisiologia Médica”. Editora Elsevier: Rio
de Janeiro, Brasil.
Pfurtscheller, G. et al. (2000) “Current Trendz in Graz Brain-Computer Interface (BCI)
Research”. IEEE Transactions on Rehabilitation Engineering, v. 8, n. 2, p. 216-219.
Nicolelis M. A. L. (2003) “Learning to Control a Brain-Machine Interface for Reaching
and Grasping by Primates”. PLoS Biology, v. 1, p. 193-208.
Grabianowski, E. (2007) “Como Funciona a Interface Cérebro-Computador”.
<http://informatica.hsw.uol.com.br/interface-cerebro-computador.htm> acesso em
29/06/2010.
Birbaumer , N. Cohen, L. G. (2007) “Brain-Computer Interfaces: Communication and
Restoration of Movement Paralysis”. J Physiol, p. 579-621.
Machado, S. et al. (2009) “Interface Cérebro-Computador: Novas Perspectivas para a
Reabilitação”. Revista Neurociências, vol. 17, n. 4, p. 329-335 .
Wolpaw, J. R. et al. (2000) “Brain-Computer Interface Technology: A Review of the
First International Meeting”. IEEE Transactions on Rehabilitation Engineering, vol. 8,
n. 2, p. 164-173 .
Schalk, G. et al. (2004) “BCI2000: A General-Purpose Brain-Computer Interface (BCI)
System”. IEEE Transactions on Biomedical Engineering, vol. 51, n. 6, p. 1034-1043.
Saenz, A. (2009) “BCI2000 Lets Your Mind Control Computers”.
<http://singularityhub.com/2009/09/02/bci2000-lets-your-mind-control-computers/>
acesso em 31/07/2010.
Robinson, B. (2007) “Emotiv Project Epoc: Sensory Gaming Developed Through
Research on Schizoprenic Mice”. <http://www.crunchgear.com/2007/03/08/emotiv-
project-epoc-sensory-gaming-for-the-masses/> acesso em 31/07/2010.

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