You are on page 1of 2

Ação Libertadora Nacional:

O que os anarquistas devem saber a seu respeito?

Certamente, este não é o primeiro texto anarquista que homenageia a bravura, a coerência e a
generosidade da companheirada que nos anos 60 e 70, partiram, de armas em punho, para o
enfrentamento contra a ditadura militar (auge da articulação burguesa-imperialista na história do
país) e pela destruição do capitalismo enquanto sistema de dominação e exploração. No entanto,
este texto busca aprofundar o entendimento sobre uma determinada organização revolucionária que
operou militarmente no país neste período: a Ação Libertadora Nacional (ALN).

Negando o consenso estabelecido pela classe dominante e pela esquerda colaboracionista – como
sempre – nos opomos francamente a todas aquelas interpretações que apontam os revolucionários
guerrilheiros das décadas passadas como “aventureiros”, “imaturos”, “suicidas” e etc....
Acreditamos, com toda nossa convicção, que a resistência armada imposta pelos companheiros e
companheiras ao projeto burgês-imperialista dos milicos (projeto este que foi o embrião do atual
neoliberalismo tupiniquim), foi a alternativa mais coerente para quem estava impulsionando a
organização e a luta popular no sentido da construção de uma sociedade socialista.

Passado este primeiro ponto, em que marcamos nossa posição frente à guerra de guerrilhas
empreendida há cerca de três décadas atrás em nosso país, acreditamos que é muito importante para
todos nós anarquistas uma análise mais detida sobre a ALN. Assim como acontece com relação a
todo este episódio das lutas de nosso povo, a história da ALN também foi distorcida, mutilada e
atirada ao esquecimento pelos produtores da verdade que são os donos do poder e seus cúmplices.
Compreender a ALN, passa necessariamente por conhecer a trajetória e as opções políticas de
Carlos Marighella, sua referência primordial, seu principal inspirador e articulador (algo assim
como Makhno para o Exército Insurgente Makhnovista).

Marighella inicia e desenvolve sua atividade política através do PCB. Já no período do fascismo
varguista, é preso e torturado. Com a anistia aos presos políticos, quando da queda da ditadura de
Getúlio Vargas, é solto e eleito deputado federal, vindo a integrar a cúpula mais alta do PCB,
formada por apenas 5 dirigentes. No entanto, com a vitória da Revolução Cubana, em 1959, e a
convocação (por parte de Che Guevara) da OLAS – Organização Latino-Americana de
Solidariedade – iniciativa que visava articular a esquerda revolucionária do continente, e da qual se
auto-excluíram os Partidos Comunistas (orientados por Moscou), Marighella inicia seu processo de
ruptura com o “partidão”.

Marighella vai a Cuba quando da convocação realizada pela OLAS, e lá anuncia que a partir
daquele momento vai dedicar-se à articulação da luta armada no Brasil. É afastado do PCB, e
solidária a ele, sai uma quantidade enorme de militantes do Partido para a formação daquilo que
viria a ser a ALN. A esta altura, Marighella já passa a desenvolver com mais clareza sua crítica ao
reformismo e ao autoritarismo burocrático hegemônicos nos partidos e organizações de esquerda de
sua época (assim como hoje). Mantendo a fraseologia e a referência simbólica e ideológica do
marxismo-leninismo – mas rompendo profundamente com ele na prática – afirma que “a ação faz a
vanguarda” em oposição às vanguardas auto-proclamadas e parasitárias dos Partidos Comunistas,
que impedem o desenvolvimento da ação revolucionária.

O modelo organizativo da ALN, apesar das críticas que deve sofrer, era extremamente interessante.
Ao negar o burocrático-autoritarismo dos reformistas, a ALN dispensava qualquer hierarquização
interna, não possuindo uma direção, mas sim, uma coordenação que fazia pouco mais que articular
os contatos e a estratégia político-militar a nível nacional. Sua estrutura básica era formada pelos
Grupos de fogo e pelos Grupos Táticos Armados (GTA), que possuíam ampla autonomia no
desenvolvimento de sua prática político-militar: seguiam o lema da organização segundo o qual
“ninguém precisa pedir permissão para praticar atos revolucionários”.

A linha estratégica da ALN apontava no sentido de desenvolver a guerrilha urbana como forma de
preparar a infra-estrutura da guerrilha rural, que seria então o verdadeiro elemento de choque contra
o capitalismo brasileiro, a ditadura militar fascista e o imperialismo. Ao invés de propor a ditadura
do proletariado, Marighella e a ALN propunham a construção do poder das massas populares
armadas (formulação com claro teor anti-estatista e libertário). Infelizmente, o Inimigo foi capaz de
desmantelar a organização antes que o salto urbano-rural pudesse ser alcançado, e privou a história
do país do que poderia ser uma poderosa barreira de resistência contra os projetos burgueses-
imperialistas, apesar das divergências e críticas que tenhamos em relação a determinados elementos
ideológicos e estratégicos colocados pela ALN, como sua base foquista e sua referência marxista-
leninista.
A melhor homenagem que podemos prestar aos diversos companheiros e companheiras que
tombaram – como o próprio Marighella - lutando contra a opressão, pela justiça e pela liberdade do
nosso povo, é seguir adiante e fazer aqui e agora tudo o que a nós, anarquistas, nos cabe:
impulsionar a luta e organização de nossa gente mais humilde e oprimida no sentido da construção
do socialismo, que será com liberdade ou não será. Pois como já se dizia nos anos 60-70: Ousar
Lutar! Ousar Vencer!

Anarquismo é Luta!

You might also like