You are on page 1of 4

O trabalho da Endeavor

Os principais serviços de apoio que a organização oferece no Brasil para ajudar


pequenas empresas a crescer

Que pequeno ou médio empresário não gostaria de conduzir seus negócios com um
pouco da orientação de gente como Laércio Cosentino, Luiza Helena Trajano e
Emílio Odebrecht? Quem não desejaria conhecer empresas como Google e Dell e
conversar com seus criadores? Ou receber, praticamente de graça, a consultoria de
alunos de MBA das melhores escolas do mundo? O Instituto Empreender Endeavor
no Brasil seleciona pequenas e médias empresas com potencial de crescimento
para fazer tudo isso. “Nosso trabalho é ajudar empreendedores a superar
dificuldades e ampliar seus negócios, tornando-os exemplos que incentivem outros
a inovar”, diz Paulo Veras, diretor do instituto.

A Endeavor, organização sem fins lucrativos que se mantém com doações, existe
no Brasil desde 2000, quando o empresário Carlos Alberto Sicupira — um dos
brasileiros donos da InBev — e a professora americana Linda Rottenberg trouxeram
a proposta para o país. Linda é fundadora da Endeavor Initiative Inc., uma
organização não-governamental criada em 1997 nos Estados Unidos por um grupo
de ex-alunos de Harvard para incentivar o empreendedorismo em economias
emergentes.

Ser um empreendedor Endeavor exige aprovação em um extenso processo.


Participam empresas com faturamento entre 2 milhões e 30 milhões de reais por
ano, que vendem produtos ou serviços inovadores e que tenham potencial de
expansão. Além disso, o empresário precisa ser capaz de mobilizar pessoas e ter
motivação para aprender e ensinar. Todos os anos, aproximadamente 350
empresas participam do processo, que dura cerca de um ano. Em 2007, apenas
quatro foram selecionadas — as paulistas Arizona (que trabalha com tecnologia e
impressão gráfica), SubWay Link (que produz conteúdo para TVs corporativas),
Superbac (que fornece tecnologia para tratamento de resíduos) e Nefrocare (clínica
de diálise).

Os candidatos são avaliados pelos funcionários da área de busca e seleção da


Endeavor e passam por entrevistas com empresários ou executivos de grandes
companhias que trabalham como voluntários para a entidade, como Pedro Moreira
Salles, do Unibanco, ou Carlos Brito, da InBev. É obrigatório fornecer balanços
auditados e referências dos serviços de proteção ao crédito. Os que passam pela
sabatina se apresentam a membros do conselho da Endeavor Brasil, formado por
gente como Jorge Paulo Lemann, um dos acionistas da InBev, e Pedro Passos, da
Natura. Nessa ocasião, devem expor um plano de negócios para cinco anos. Eles
também são ouvidos por um júri internacional, composto de integrantes da Endea-
vor Global, sediada nos Estados Unidos, e de algumas das dez sucursais que a
organização mantém no mundo.

Hoje, 64 empreendedores de 37 empresas brasileiras fazem parte desse grupo.


Depois de um ano, os que estiverem satisfeitos com o trabalho da Endeavor devem
doar 2% do capital social sempre que um acontecimento aumentar a liquidez da
empresa — uma abertura de capital ou venda parcial do negócio, por exemplo. O
dinheiro vai para um fundo que reúne doações de outros colaboradores e recursos
de convênios com agências governamentais e ONGs. Apenas os rendimentos são
usados para a manutenção do instituto.

Todo o esforço para ser escolhido significa o ingresso a uma rede de


relacionamentos formada por 300 empresários, executivos e consultores de
diversos setores, como recursos humanos, jurídico, comunicação e marketing, que
participam como voluntários em diferentes programas. Veja como funcionam:

Mentoring
O que é: Uma reunião de aconselhamento. Quando o empreendedor se depara com
um desafio, a Endeavor busca em sua rede um dos profissionais voluntários com
experiência no tipo de dificuldade enfrentada. Pode ser outro empresário que tenha
passado por uma situação semelhante ou mesmo um especialista no assunto. Esse
será o mentor do empreendedor.

Como funciona: O mentor recebe com antecedência um resumo sobre a empresa e


seu problema e encontra-se com o empreendedor para prestar uma espécie de
consultoria.

Exemplo: Guilherme Bruno e os irmãos Alexandre e Marcus Hadade, da Arizona, já


participaram de mais de 30 mentorings sobre os mais variados assuntos. A
empresa, que começou apenas como uma gráfica, passou a atuar também na área
de gerenciamento de comunicação. Um dos encontros foi com Patrice Etlin, diretor
do fundo de private equity Advent.

Resultado: Embora tivessem notado que o futuro da Arizona estava em tecnologias


que permitissem um melhor gerenciamento da comunicação dos clientes, os sócios
temiam a reação deles caso se afastassem da gráfica, que ainda representava 80%
do faturamento. Depois de analisar os números da empresa, Etlin sugeriu a
terceirização da gráfica. Assim, poderiam se dedicar completamente ao
gerenciamento de comunicação, sem deixar de prover serviços gráficos básicos aos
clientes. Em meados do ano passado o conselho foi colocado em prática. Desde
então, a Arizona já cresceu cerca de 80%. “Achávamos que o caminho eram os
novos serviços, mas tínhamos receio de tomar a decisão errada na execução da
estratégia”, diz Marcus Hadade. “Ouvir a opinião de um profissional que tem visão
de vários outros negócios que também estão crescendo nos deixou mais seguros.”

Programa Mentor

O que é: Similar ao Mentoring, é aplicado em situações que requerem


acompanhamento constante e análises periódicas. O mentor voluntário acaba se
tornando uma espécie de conselheiro da empresa.

Como funciona: Geralmente tudo começa em uma reunião de mentoring, na qual se


detecta que o assunto exige atenção. Então, empreendedor e mentor passam a se
reunir periodicamente. Não há prazo para terminar.

Exemplo: Em 2005, Luis Chicani, da DentalCorp, seguradora de planos


odontológicos, começou um Programa Mentor com Luiz de Campos Salles, na época
presidente da Itaú Seguros. O desafio era conseguir fazer com que a DentalCorp
crescesse sem comprometer sua rentabilidade num mercado complicado.

Resultado: Conhecendo a dinâmica do setor de seguros, Campos Salles acreditava


que a DentalCorp poderia ser vendida no médio prazo e orientou Chicani a se
preparar para essa ocasião. “Eu não gostava da idéia, mas as conversas me fizeram
enxergar que se não me preparasse eu poderia ser simplesmente engolido por
empresas maiores”, diz Chicani. No final de 2006, a DentalCorp foi comprada pela
OdontoPrev. Hoje, Chicani é dono da BenCorp, empresa que atua com benefícios
corporativos. A BenCorp conta com um conselho consultivo, do qual Campos Salles
faz parte.

G-Lab

O que é: Nesse programa, grupos de alunos do MBA da escola de negócios do


Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, trabalham por
cerca de um semestre como consultores de empresas emergentes. O G-Lab é uma
disciplina do MBA e todo o trabalho é acompanhado por professores.

Como funciona: Os empreendedores interessados apresentam um projeto para


estudo e passam por uma seleção da Endeavor e do MIT. Os estudantes escolhem
uma das empresas. Durante seis meses, um grupo geralmente formado por cinco
componentes estuda o momento pelo qual a empresa está passando e seus
principais desafios. Nesse período, os estudantes fazem um trabalho de imersão
para entender o negócio, seu mercado e elaborar uma proposta estratégica. Depois
eles vêm para o Brasil, onde permanecem por um mês, para concluir o projeto. A
empresa arca com os custos de passagens, hospedagem e alimentação.

Exemplo: Em janeiro deste ano, Arnold Correia, da SubWay Link, que produz
conteúdo para as TVs internas de redes como Wal-Mart e Magazine Luiza, pediu aos
estudantes do MIT um panorama da evolução de TVs corporativas no mercado
americano. Como seu produto era uma novidade no Brasil, ele queria ter noção do
seu potencial de crescimento.

Resultado: Os estudantes recolheram dados sobre o mercado americano desde o


lançamento de produtos similares aos da SubWay Link. Com base nesses dados e
com informações da economia brasileira, apresentaram uma projeção de
crescimento da SubWay Link durante três anos. Também sugeriram a Correia a
implantação de algumas medidas para atender exigências do mercado no futuro,
como o desenvolvimento de TVs corporativas para redes com demandas
regionalizadas. “Quando vi a comparação da realidade americana com a brasileira,
achei que a demanda poderia ser menor do eu imaginava”, diz Correia. “Se eu não
tivesse ajustado o orçamento, teria investido 50% além do necessário.”

E-MBA

O que é: Esse programa recruta estudantes de MBA de renomadas universidades,


como Columbia, MIT, Stanford e Harvard, para prestar consultoria. Diferentemente
do G-Lab, porém, o E-MBA não conta com acompanhamento de professores.

Como funciona: A Endeavor nos Estados Unidos faz uma pré-seleção dos alunos
interessados. O empreendedor faz suas escolhas, com base na análise dos
currículos e em entrevistas por telefone ou videoconferência. O estudante vem ao
Brasil e, integrado à equipe da empresa, participa do desenvolvimento de um
projeto por cerca de três meses. Quem assume os custos com passagem,
hospedagem e alimentação é o empreendedor.

Exemplo: No início do ano passado, o estudante cingapuriano Goh Kuan Tana, da


Universidade Stanford, desembarcou no Brasil para produzir uma análise detalhada
do mercado de patologia cirúrgica, uma especialidade da medicina que faz
diagnóstico de doenças. O pedido partiu de Thiago Venco, proprietário da
Diagnóstika, que presta esse tipo de serviço.

Resultado: O estudante mapeou todo o processo de decisão dos clientes e apontou,


por exemplo, o que levava seguradoras e hospitais a escolher ou não determinado
laboratório para parcerias. A pesquisa indicou que hospitais e seguradoras queriam
que o próprio laboratório gerenciasse a qualidade do serviço médico para saber se
o exame que o profissional pediu realmente era necessário. “O estudo mudou a
maneira como enxergávamos o mercado”, diz Venco. “Passamos a fazer isso e
fechamos grandes contratos, que levaram a um crescimento de 20% nos primeiros
dez meses deste ano.”

Orientação para captação de recursos

O que é: Ajuda o empreendedor a encontrar a melhor opção de captação de


recursos entre as diversas existentes.

Como funciona: Primeiro a Endeavor faz uma avaliação das melhores opções de
financiamento no mercado de acordo com o caso. Depois, ajuda a implementar a
estratégia de financiamento por meio de reuniões de aconselhamento com os
profissionais voluntários do instituto e de contatos com financiadores. (A Endeavor
não empresta dinheiro ou investe em empresas.)
Exemplo: O paulista Wilson Poit, da Poit Energia, especializada em locação de
geradores elétricos, conversou com mais de 20 empresários e executivos antes de
definir a melhor forma de receber capital. Entre eles estava Carlos Alberto Sicupira.

Resultado: A conversa com Sicupira foi em 2003. Poit estava propenso a aceitar
uma proposta de aporte de um fundo de investimento, mas Sicupira o demoveu da
idéia. “Ele me disse que eu deveria fazer a minha empresa crescer mais antes de
receber um fundo”, diz Poit. Quatro anos depois, a Poit recebeu investimentos do
Fundo BRZ, um braço do GP Investimentos. “Quando isso aconteceu, a empresa
valia quatro vezes mais”, diz ele.

Global Tours

O que é: Todos os anos a Endeavor nos Estados Unidos organiza uma viagem com
empreendedores das unidades do mundo inteiro. Os participantes conhecem
grandes corporações, como Google, Dell e Warner Music.

Como funciona: Os empreendedores vão às companhias e são recebidos por seus


presidentes ou fundadores para um bate-papo. O empreendedor arca com todos os
custos da viagem, que costuma durar de quatro a sete dias.

Exemplo: Neste ano o empreendedor Marcelo Romcy, da Proteus, empresa


especializada em segurança da informação, embarcou para o seu quarto Global
Tour. Ele já conversou pessoalmente com gente como David Filo, fundador do
Yahoo!. “Falei com pessoas e visitei empresas que sempre sonhei conhecer”, diz.
Resultado: Inspirado no modelo de
operação da Dell e na conversa com seu
fundador, Michael Dell, Romcy identificou
um aspecto que ajudava a explicar o
grande crescimento da empresa — a
obsessão por qualidade. “Dell é
incansável para aperfeiçoar os processos
de trabalho e os produtos”, diz Romcy.
“Fiquei impressionado e quis fazer o
mesmo na Proteus.” Com a ajuda de uma
consultoria, Romcy identificou o que
podia ser melhorado e estabeleceu
processos para isso. O resultado foi uma
melhora de 40% no índice de satisfação
dos clientes.

You might also like