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fresquinhos e biscoitos de limão cristalizado, recém-saídos do
forno. Sorria ao ver o brilho nos olhos das pessoas enquanto
servia as sobremesas sobre o antigo balcão de carvalho.
Quando Maya fez 18 anos, finalmente sentiu que estava
pronta para deixar o aconchego do café e sair para o mundo.
Conquistou uma vaga na Universidade de Oxford para estudar
Literatura e estava muito animada. Só falava nisso. Os clientes
a parabenizavam, e Maya retribuía o carinho dando-lhes boli-
nhos de chocolate de graça. Lily estava tão orgulhosa da filha
que chamou a torta da semana de Tiramisú Universitário em
homenagem à Maya e manteve a receita no cardápio o verão
inteiro.
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preendia com frases tão bonitas e verdadeiras que ficava sem
fôlego.
Contudo, seis meses depois de Maya partir para Oxford,
sua mãe adoeceu. No início, ninguém sabia o que era. Ainda
havia esperança. Mas após dois meses, quando o diagnóstico
foi confirmado, Maya largou a faculdade e voltou para casa
para cuidar da mãe. Lily viveu até o Natal e, naquela noite,
pediu a Maya que cuidasse da confeitaria.
Já fazia dez anos que fizera essa promessa e, agora, Maya
tentava não pensar sobre o dia em que perdeu a mãe e o mo-
mento em que perdeu seu rumo na vida. Mas a dor ainda per-
sistia em seu coração, aninhada em um canto escuro e úmido,
e latejava sempre que lembrava aquela noite.
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perguntava por que não era capaz de vencer a batalha contra
uma fatia de torta mousse.
Olhou para a bandeja de bolinhos de chocolate sobre o
balcão e prometeu a si mesma que, hoje, não comeria nenhum
doce. Baixou o olhar e viu o livro de autoajuda fechado em
suas mãos, o título prometendo curar seu vício por homens
indisponíveis, e, ao fazer isso, teve a triste visão de sua barriga
redonda, evidente por baixo do avental. Maya virou a página,
tentando se concentrar, mas seu coração não estava ali.
Maya temia abrir mão de seus sonhos de uma vez por todas. Há
anos tentava terminar um romance, rascunhando frases entre
fornadas de bolos, pedidos de clientes e preocupação com con-
tas. Havia tentado, esperado e desejado encontrar um grande
amor, mas passara a última década solteira ou se recuperando
de algum relacionamento fracassado. E todos os dias tentava
impor a si mesma uma dieta rigorosa, invocando suas reservas
cada vez menores de força de vontade. E todo dia sucumbia à
tentação.
Homens, dinheiro e chocolate eram temas constantes que
moldavam o mundo de Maya. Quase sempre vinham acompa-
nhados de autocrítica e tristeza. Em busca do amor, do sucesso
e da perda de peso, ela não encontrara nada parecido com feli-
cidade, mas continuava tentando. Nunca ocorreu a Maya que
poderia estar equivocada; que, em sua obsessão, talvez estivesse
se esquecendo de alguma coisa.
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ro açucarado de massa de bolo, ou quando espiava os raios de
sol por trás das folhas douradas. Sem saber por que ou como,
a lembrança de alguma coisa que já conhecera a tocava e, de
repente, ela sorria, vendo um mundo novo e alegre se abrindo
à sua frente. E por um momento eterno, uma sensação de paz
e conforto se apossava dela. Porém, um segundo mais tarde, a
sensação desaparecia.
Por isso, apesar de acreditar, no fundo de seu coração, que
um dia seria realmente feliz, não fazia a menor ideia de como
chegar lá.
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garota, que ria. Maya afastou o olhar e pegou um bolinho. Ver
duas pessoas apaixonadas, quando ela não tinha ninguém, era
demais; precisava de um chocolate.
Como sempre acontecia nesses momentos, Maya pensou
em Jake.
Jake era um cliente com quem Maya fantasiava regular-
mente. Passava horas imaginando o mesmo cenário fantásti-
co: os dois juntos em um lindo e chiquérrimo apartamento
em Paris, tomando banho de banheira enquanto brindavam
com champanhe e serviam morangos um na boca do outro. Ao
mesmo tempo que sonhava acordada, imaginava também que
podia comer inúmeros bolos de chocolate sem ganhar nenhum
quilo. Às vezes o sonho variava um pouco, em geral os lugares
eram outros.
Jake era alto, louro e lindo a ponto de fazer seu coração
parar. Na verdade, Maya achava que ele não merecia ser tão
bonito. Ou que ela não merecia alguém tão lindo, porque o
fato era que ele raramente lançava um segundo olhar em sua
direção. É claro que flertava, mas Maya sabia que ele era assim
com todas, que essa era a sua forma de se relacionar com o
resto do mundo.
A postura e a atitude de Jake faziam Maya admirá-lo,
adorá-lo e desejá-lo, embora ela mesma soubesse que ele estava
totalmente fora de seu alcance. Por isso, ainda que ela chegasse
perto o suficiente para tocá-lo, havia uma parte do coração
dele que nunca conseguiria ser alcançada.
Mas isso não importava. Maya estava completamente
apaixonada. E apesar de ter certeza de que ele era o tipo
de homem que nunca se apaixonaria por ela, ainda manti-
nha uma última ponta de esperança. Da mesma forma que
pessoas apostam na loteria toda semana, Maya sabia que,
apesar de suas chances de sucesso serem muito pequenas,
não era totalmente impossível que Jake um dia a escolhesse.
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E até lá ela se contentaria em sonhar sobre uma possível vida
juntos.
Às vezes, Maya escutava as conversas de Jake ao celular,
enquanto ele esperava seu cappuccino, e assim ela acabava sa-
bendo dos altos e baixos de sua vida amorosa. Escutava Jake
mentir para namoradas, esconder outras, falar com mais de
uma ao mesmo tempo. E cada nova revelação só aumentava
ainda mais seus temores em relação a ele. Mesmo assim, acha-
va que um dia, quando ele se apaixonasse pela mulher certa,
deixaria de ser assim. E Maya achava que, com um pouco de
sorte e muita fé, ela poderia ser essa mulher.
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— Perfeito.
— Você deve ter lábios de amianto — Maya sorriu,
fitando-os.
Ele lhe entregou o dinheiro.
— O quê?
— Não, digo — falou Maya —, só quis dizer que... que
não consigo beber quando está tão quente.
— Ah?
— É, mas não quis dizer que...
Maya procurava as palavras, perdida nas feições perfeitas
de Jake. Foi quando seu celular tocou e ele se virou para aten-
der, caminhando em direção à porta. Maya não tirou os olhos
de Jake, debruçando-se um pouco sobre o balcão para vê-lo
saindo. Esperou até a porta fechar para soltar um grunhido de
frustração e, resignada, deixou a cabeça cair até o balcão.
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