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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2011.0000024668

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0019671-


57.2010.8.26.0002, da Comarca de São Paulo, em que é apelante NAIR
ALBERTINA NUNES (JUSTIÇA GRATUITA) sendo apelado CONJUNTO
RESIDENCIAL MORADA DOS PÁSSAROS.

ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


FÁBIO QUADROS (Presidente) e ENIO ZULIANI.

São Paulo, 24 de março de 2011

Francisco Loureiro
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação Cível no 0019671-57.2010.8.26.0002


Comarca: SÃO PAULO F. R. SANTO AMARO
Juíza: REGINA DE OLIVEIRA MARQUES
Apelante: NAIR ALBERINA NUNES
Apelado: CONJUNTO RESIDENCIAL MORADA DOS PÁSSAROS

VOTO No 12.198

CONDOMÍNIO EDILÍCIO Condômino em atraso


Corte no fornecimento de água pelo condomínio Ação
que visa ao restabelecimento do serviço Feito extinto
sem julgamento do mérito, por falta de interesse de agir
Desacerto Necessidade e adequação presentes no
caso em tela Impossibilidade de adentrar à análise do
mérito da demanda quando do exame da presença das
condições da ação Recurso que merece ser provido, a
fim de que a sentença terminativa seja anulada e o feito
retome seu regular andamento.

Cuida-se de recurso de apelação interposto


contra a r. sentença de fls. 25/29 dos autos, que julgou extinta sem
julgamento do mérito a ação de obrigação de fazer proposta por NAIR
ALBERINA NUNES em face de CONJUNTO RESIDENCIAL MORADA
DOS PÁSSAROS, com fulcro nos artigos 267, VI, e 295, III, do CPC.

Fê-lo a r. sentença, sob o argumento de que


faltou à autora interesse de agir, já que a pretensão veiculada na
demanda não seria adequada à ação proposta.

Ressaltou a Mma. Juíza a quo que a

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demandante não faz jus ao restabelecimento do fornecimento de água


em seu imóvel diante do inadimplemento de suas obrigações
condominiais.

A recorrente alega, em síntese, que a


necessidade e a utilidade inerentes ao interesse de agir restaram mais
do que caracterizadas no caso em tela, em que se pleiteia a retomada
do fornecimento de água à sua residência, serviço este considerado
de natureza essencial.

Afirma que a cobrança dos valores por ela


devidos ao Condomínio réu deveria ter sido feita através dos meios
ordinários de solução dessa espécie de litígio, não através do
exercício arbitrário das próprias razões perpetrado pelo requerido.

Sustenta que a conduta do Condomínio de


interromper o fornecimento de água à sua casa como forma de
compeli-la ao pagamento de dívidas é ilegal, pois implica invasão na
esfera de atribuições dos entes públicos.

Em razão do exposto e pelo que mais


argumenta às fls. 32/40, pede o provimento de seu recurso.

O apelo não foi contrariado, vez que o réu


sequer foi citado.

É o relatório.

1. O recurso comporta provimento.

Respeitado o entendimento da MMa. Juíza a


quo, entendo que o caso não é de extinção do feito sem julgamento

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do mérito por falta de interesse de agir.

Como se sabe, aludida condição da ação se


desdobra em 02 aspectos: necessidade concreta do processo e
adequação tanto do provimento pleiteado quanto do procedimento
utilizado.

A necessidade da tutela jurisdicional está


relacionada à idéia de impossibilidade de obter a satisfação do direito
alegado sem a intercessão do Estado, ao passo que a adequação diz
com a idoneidade tanto do provimento solicitado para o
reconhecimento do direito como do procedimento usado para este fim.

Na lição de José Frederico Marques, existe o


interesse de agir quando, “configurado o litígio, a providência
jurisdicional invocada é cabível à situação concreta da lide, de modo
que o pedido apresentado ao juiz traduza formulação adequada à
satisfação do interesse contrariado, não atendido ou tomado incerto”
(Manual de Direito Processual Civil, vol. I, Bookseller, 1997, p.
236/237).

Pois bem, no caso em tela, postulou a


demandante a condenação do réu ao restabelecimento do
fornecimento de energia elétrica em sua residência, ao argumento de
que a interrupção na prestação do serviço é medida ilícita para o fim
de cobrança dos valores por ela devidos ao Condomínio.

Como se vê, o interesse de agir na presente


demanda é patente: é possível vislumbrar, desde logo, a necessidade
da autora de propor a ação em comento para obter a retomada da
prestação do serviço público de natureza essencial, assim como a

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adequação do provimento postulado (condenação do réu à obrigação


de fazer) e do procedimento usado para este fim.

A D. Magistrada de primeiro grau extinguiu a


ação sem julgamento do mérito por falta de interesse de agir,
basicamente sob o argumento de que o pedido da autora não poderia
ser atendido, dado seu inadimplemento confesso das prestações
condominiais e a legitimidade da medida de suspensão do
fornecimento do serviço.

Ao que parece, a MMa. Juíza a quo procedeu


desde logo ao exame do mérito da ação e, considerando que a
pretensão da autora era manifestamente improcedente, houve por
bem extinguir o feito sem julgamento do mérito.

No entanto, não se pode olvidar que, embora as


condições da ação estejam intimamente relacionadas ao seu mérito,
com este não se confundem, mesmo porque o Código de Processo
Civil não adotou a teoria da ação como direito concreto, o qual só
existiria quando a sentença fosse favorável (Antonio Carlos de
Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, Teoria Geral do Processo, 16a ed., Malheiros, 2000, p.
249/252).

Houve no presente caso verdadeiro julgamento


antecipado da lide, com a improcedência da ação sob a roupagem da
extinção do feito sem julgamento do mérito por falta de interesse de
agir. E isso sem que o réu tivesse sido sequer citado, o que, por si só,
já constitui flagrante equívoco.

Como se não bastasse, a pretensão da autora

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encontra, em tese, amparo legal, tanto que inúmeros são os julgados


a reconhecer a ilegalidade do corte de fornecimento de serviços
públicos essenciais como água, esgoto, energia elétrica por parte dos
Condomínios como forma de cobrança de despesas inadimplidas.

Nesse sentido, por exemplo, já decidiu o E.


Tribunal de Justiça de São Paulo em inúmeras oportunidades (Agravo
de Instrumento no 990.10.424258-4, 25a Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli, j. 19.10.2010;
Agravo de Instrumento no 990.09.257101-0, 10a Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. Ana de Lourdes Coutinho Silva, j. 27.07.2010,
entre outros).

Não se nega, porém, a existência de muitos


outros julgados desta mesma Corte em que restou asseverada a
legalidade da medida de interrupção do fornecimento de água/energia
elétrica pelo Condomínio, em decorrência do inadimplemento das
prestações devidas pelos condôminos.

O dissídio jurisprudencial só corrobora o


entendimento de que, antes do estabelecimento do contraditório, com
a conseqüente manifestação do réu acerca dos fatos noticiados pela
autora, bem como dos fundamentos jurídicos em que se pauta a
demanda, mostra-se absolutamente inviável decidir pela
impossibilidade de acolhimento do pedido da requerente, tal como
restou asseverado na sentença recorrida.

Pelas razões demonstradas é que o recurso


merece ser provido, a fim de que a sentença que extinguiu o feito sem
julgamento do mérito seja anulada, e o processo retome seu regular

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curso.

O pedido de tutela antecipada formulado na


exordial deverá ser apreciado pelo D. Magistrado de primeiro grau, ao
que se seguirá à citação do réu para contestar o feito.

Diante do exposto, pelo meu voto, dou


provimento ao recurso.

FRANCISCO LOUREIRO
Relator

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