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Artigo apresentado
como Trabalho de
Conclusão de Curso
atendendo aos
requisitos necessários
para a aprovação na
habilitação Formação
de Psicólogos.
Curitiba
2002
MAL DO SÉCULO: CARDIOPATIA NA VISÃO REICHIANA
1
Graduando do 5º ano de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Avenida Anita Garibaldi, 3616. São
Lourenço CEP 82210-000 - Tel 3019-4717 – altaircuritiba@yahoo.com.br).
2
Professor do Curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, supervisor na confecção do trabalho
Altair Rodrigues Marinho
Resumo
O presente artigo visa realizar uma descrição de como surgem as doenças cardíacas a partir
da visão reichiana. Fazendo com isto um levantamento das causas e processos que
desencadeiam estas doenças, como por exemplo o papel do estresse, da couraça, da estase
energética e das emoções. Com isto pretende-se esclarecer os processos psicossomáticos
responsáveis pela instauração das doenças, levantando questões que possam aumentar o
conhecimento dos motivos pelos quais as doenças cardíacas proliferam no último século.
A cardiopatia é definida pela medicina como uma doença, mas o que é uma doença?
A doença é um conceito relativo a um estado e não a órgãos e partes do corpo. Tudo o que
Assim a doença é vista como a perda relativa da harmonia, ou da ordem até então vigente.
estresse é definido como uma alteração global do organismo para adaptar-se a uma situação
imaginários, que são percebidos como pressões e exigem a entrada em ação de mecanismos
faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de
dificuldade.
O presente artigo tratará das situações e fatores capazes de produzir uma alteração
pesquisas. Na segunda parte será exposta a teoria reichiana. Na terceira serão cruzados os
dados da primeira e segunda partes. Na quarta e última parte serão apresentadas algumas
parecidas. Desta maneira postularam que havia uma personalidade com características que
expunha certas pessoas a um maior risco de vir a apresentar uma cardiopatia. Esta
personalidade foi batizada de tipo A. Estas pessoas são extremamente tensas, possuem uma
compensada por realizações para vencer na vida. Seguindo em suas pesquisa foi constatado
que as pessoas tipo A: tem uma metabolização difícil de gordura no sangue, com ou sem
sangue. Secretam mais ACTH, hormônio que estimula a glândula adrenal a produzir
Lowen comenta também sobre outras pesquisas, uma delas que indica a grande
hostilidade acima da média apresentaram um índice de cinco a seis vezes maior de ataques
cardíacos e óbito. (LOWEN 90). Apesar da raiva suprimida não ter uma relação direta com
o coração, o estado de raiva libera grande quantidade de norepinefrina que serve para
mobilizar o corpo para a ação, se o corpo estimulado reage, a taxa do hormônio baixa
Lowen cita o livro The Broken Heart de James Lynch, no qual aparecem estatísticas
de que nos Estados Unidos para ambos os sexos, para todas as idades e raças os casados
chegam a ter um índice até cinco vezes menor de mortalidade que os solteiros, viúvos e
divorciados. Embora essa taxa envolva todos os tipos de morte é significativamente maior a
cachorro pode reduzir a pressão sanguínea, deduz-se disto que o ser humano precisa de
contato.
paredes das artérias, formando placas ateromatosas que estreitam o calibre das artérias e
diminuem o fluxo sanguíneo. Quando este estreitamento ocorre ao nível das coronárias,
torna-se um dos fatores responsáveis pelo ataque cardíaco. Outro fator é o espasmo
coronário que, agindo sobre uma esclerótica, fará cessar por completo o fluxo de sangue até
o músculo cardíaco.
A lesão acontece quando o corpo é mobilizado para agir, mas não o faz por ficar
paralisado pelo medo. Quando o organismo reage lutando ou fugindo, a atividade física
utiliza a energia excedente. Quando o indivíduo fica impossibilitado de assumir uma dessas
aráquico, presentes nas paredes dos vasos e no plasma sanguíneo, regulam a viscosidade do
contração dos vasos sanguíneos, é liberada quando o tecido arterial é lesionado, o que visa
tromboquionase. O corpo reagindo a algo sentido como perigo, prepara-se para luta e a
formação de coágulos nas paredes das artérias não danificadas. Pesquisas demonstraram
que a prostaciclina é produzida nos pulmões. Respirando mais, mesmo que seja por
O ataque do coração acontece quando uma das artérias coronárias se fecha por
necessário o fechamento de apenas uma artéria coronária para que ocorra o infarto do
Uma pesquisa com 1347 infartos conclui que apenas 2% ocorreu durante esforço
físico (LOWEN 1990), o que mostra que não é simplesmente a elevação da freqüência
cardíaca a responsável pelo ataque. Um levantamento feito por japoneses em 30.000 óbitos
constatou que apenas 35 ocorreram durante a atividade sexual. Destes 28 se deram quando
o homem mantinha relações sexuais com outra pessoa que não sua mulher. A implicação
disto é que não a atividade sexual, mas a culpa foi o agente letal.
das pacientes coronárias, contra 24% do grupo controle. São dados estatisticamente
significativos que indicam que uma ausência de satisfação sexual deve ser considerada fator
de risco para doenças cardíacas para as mulheres (LOWEN 1990). Uma outra pesquisa com
significativos nas semanas ou meses antecedentes ao ataque. Levantou-se ainda que 64%
permeia toda escala biológica, ocasionando sempre o mesmo resultado: a pulsação entre um
tempos:
corresponde à fricção dos órgãos genitais que por sua vez induz ao segundo tempo, a carga
Por fim o quarto tempo, a relaxação mecânica decorre do relaxamento muscular advindo da
descarga energética.
célula espermática. Como seu volume, carga energética e pressão interna aumentam, a
membrana que o delimita se estica produzindo uma maior pressão externa (de superfície),
para manter a coesão do sistema vivo, especialmente após a irradiação do núcleo (divisão).
uma carga elétrica” (REICH 1992, pg 242) (Carga Energética). Dá-se inicio uma contração
da célula no ponto em que atingiu maior diâmetro e maior tensão. Por fim a divisão do
óvulo corresponde a uma solução para diminuir a tensão (Descarga Energética pela divisão
desprazer.
seja ela reação emocional ou atividade intelectual faz parte e é parcela de um processo
físico. Analogamente, todo estado físico – seja de bem estar ou padecimento - tem
espasmos musculares, liberação de hormônios para preparar o corpo para a luta ou fuga
interno. Esta capacidade de pulsar do organismo é considerada por Reich uma expressão
buscar o prazer, e a evitar situações que propiciem a dor. Quando uma situação objetiva o
prazer, mas há uma possibilidade de haver dor, surge à ansiedade. Inicialmente na infância
os pais são considerados como fonte de prazer e satisfação, mas à medida que a criança tem
suas necessidades frustradas, seja de alimento, afeto ou respeito, faz-se necessário erigir
barreiras de defesa contra a ansiedade despertada, entretanto estas barreiras além de limitar
signifiquem risco para o ego levam a estruturações de respostas limitadoras da vida, que se
sujeito. A couraça muscular se apresenta com uma modificação do tônus muscular natural,
seja por rigidez ou por flacidez. Seu efeito é a limitação do movimento mediante atitudes
O sujeito fica preso num círculo vicioso em que uma rigidez corporal está a serviço
tensões também o impedem de ter uma descarga energética efetiva. Esta ocorre por via do
Acerca da neurose Reich assim como Freud, acreditava que ela era produto da
repressão sexual. Entretanto diferentemente de Freud, Reich dava total prioridade a função
diferença entre o acúmulo e a descarga da energia sexual” (REICH 1992, pg 102). Este
que irá alimentar a neurose, que segundo Reich é a reativação de mecanismos pré-genitais
causa uma leve perturbação na balança da energia sexual. Esta estase secundária intensifica
o conflito, e o conflito por sua vez intensifica a estase” (REICH 1992, pg103).
sensações corporais e emoções. Reich acreditava que o que é vivenciado como emoções
(ex movere, mover-se fora, para fora) é um fluxo energético (fluidos corporais
periferia.
encontrado pelo organismo para dar conta de um conflito. Tinha o câncer e as doenças
cardíacas como uns dos principais exemplos de biopatias. “Reich define (...) as biopatias
vida” (DADOUN 75, pg 72). Expressa no trecho seguinte esta visão de biopatia como uma
tecnológica para a biológica. O ser humano estando na era espacial enfrenta o meio com a
mesma aparelhagem biológica com que caçava mamutes ou fugia de tigres dente de sabre.
física, surgem então duas possibilidades. Utilizar o sistema locomotor para retirada do
objeto ou modificação da situação hostil, como o leão que frente o adversário luta ou foge.
Assim, ou pela retirada do objeto hostil ou pelo abando do campo, o organismo pode
assume uma postura de inferioridade dentro do grupo. Neste caso a fonte geradora de
estresse é perpetuada.
Agressão significa aproximação, é a expressão de vida da musculatura e do sistema
impacto do meio sobre nós como também nossa capacidade de responder ou ir em busca de
No caso da raiva pode ser que em determinada época da vida a supressão tenha sido
limitando sua percepção e cognição. Assim, mesmo com a mudança do campo, a pessoa
continua a agir como se estivesse vivendo aquele momento em que não era possível a
estabeleceu este equilíbrio neurótico de contenção e baixa produção energética que dificulta
a percepção e expressão dos estados internos. A pessoa obstruiu este canal, os impulsos
distorção dando vazão a reações desmedidas e não adequadas à situação. A raiva não
a norepinefrina produzida por este estado também não é descarregada, pois não houve
reação do organismo. Além de sua ação simpática de contração, influi no metabolismo das
gorduras, que também não utilizadas se transformam em lipoproteínas que vão sendo
depositadas nas paredes das artérias, formando placas ateromatosas que estreitam o calibre
das artérias e diminuem o fluxo sanguíneo. A não descarga dos hormônios combativos,
agregação das plaquetas e a contração dos vasos sanguíneos, podendo formar coágulos que
auxiliarão no entupimento das artérias. Apesar do efeito deletério da raiva suprimida sobre
que da população de sujeitos eleitos como tipo A, durante o tempo estipulado de sua
Uma vez que o coração não está diretamente implicado com a raiva e a hostilidade,
mas sim com o amor, verifiquemos outras pesquisas relativas a associação do amor com as
Lowen 1990 coloca que amamos o que é prazeroso, mas nem sempre o amor gera
intensidade do amor. É difícil pensar num amor maior do que o irrestrito amor de um filho.
A dor sentida por um filho se crendo rejeitado provavelmente o fará hostil ou descrente ao
amor. Ele não precisa necessariamente ser rejeitado, mas pode ser que o comportamento
dos pais seja assim interpretado. Pode ser que relacionamentos significativos posteriores
alterem esse padrão, todavia seu impulso de contato será hesitante e restrito. Seu próprio
estimação ou ursinho, o aperto de mão, o abraço e da voz dos amigos ou o toque e a união
genital com a pessoa amada. Assim o impulso primeiro da vida, o “de ir em busca de”
criança que tenha seus impulsos frustrados naturalmente protestará e reagirá raivosamente.
em intensidade quanto em periodicidade por castigos físicos ou psicológicos, terá esta parte
sua gradativamente inibida. De inicio ocorrerá por meio de tensões musculares conscientes
que com o tempo se tornarão automáticas, como os músculos do alto das costas, braços,
queixo e pernas. Como o leão que não abandona o grupo por sua dependência deste, a
criança não possui alternativa, não pode expressar a raiva, mudar o meio ou se afastar.
Suprimir a raiva congela os dois. O músculo com retesamento possui sua textura e
os quais devem ser seguidos para que a pessoa seja aceita e digna de amor. Para tanto a
Ocorrerá uma cisão em maior ou menor escala entre sua percepção e pensamento,
excitação é limitada aos genitais e a descarga parcial produz a estase energética. Esta estase
além de alimentar a neurose aumenta a pressão interna, que demanda uma maior pressão de
superfície para conter o organismo. O sujeito fica preso num círculo vicioso em que uma
Paradoxalmente essas tensões também o impedem de ter uma descarga energética efetiva.
Que ocorre por via do orgasmo. Então o organismo permanece nesta armadilha que cada
O ser humano enquanto criador de seu meio contribui com suas ações e crenças para
por este. Recebe os códigos que sua cultura usa para se comunicar e entender o mundo,
terá também de se adaptar aos fenômenos físicos e biológicos de seu ambiente, como a
uma estase sexual” (DADOUN 1975, pg 73). A biopatia caracteriza-se por uma perturbação
biológica global. O social, entretanto fornece ao indivíduo uma forma de pensar, agir e os
valores que o regem. O exercício destes valores é que irão determinar a doença
característica de determinado grupo. Briganti expressa que é sobre o corpo que se instaura o
legislado, que é nele que se demarca a história. Cada um de nós guarda no corpo as
cicatrizes originárias dos diferentes ritos de iniciação. Aquilo que está inscrito no corpo é o
resultado de todo histórico individual, sendo este a expressão de troca do corpo com o
meio.
individualismo crescente, os bens materiais constando mais como medida de valor e há uma
do que se passa no corpo vivo” (LOWEN 93). Trata-se então de uma desconexão das
sensações do corpo e das cisões presentes neste corpo, o que é possibilitado por sua
rigidificação. A imagem tem a função de tornar uma situação mais suportável. Nega-se em
parte uma realidade em prol de outra mais suportável para o sujeito. Essa nova realidade
formadores do superego. Em maior ou menor escala todos são narcisistas. Lowen explica
necessidades. Para tanto o corpo precisa ser anestesiado através da limitação respiratória e
de tensões musculares crônicas para que não produza sensações em desacordo com o que
foi introjetado. Sem contato com as sensações corporais que são a base da auto-estima o
futuro cidadão apóia-se apenas na imagem formada. A manutenção desta imagem passa a
orientar sua vida. Para não intervir na concretização dos ideais e na manutenção da
Em Dadoun 1975,consta uma analise de Reich das estatísticas das mortes por
doenças do estado de Nova Iorque, entre os anos de 1920 e 1940, as proporções são
biopáticas (que não se originam de uma afecção funcional do biossistema, como fraturas,
pneumonia, sífilis). A tuberculose de 88,6 em 1921 foi para 42,9 em 1940. Assim como a
pneumonia de 99,3 para 45,5 e a difteria de 15,9 para 0,01. Dentre o mesmo período as
doenças cardiovasculares pularam de 341,4 para 481,3, o câncer de 104,01 para 158,4. Os
doenças não biopáticas o que parece ser inversamente proporcional no caso das biopatias,
passaram a tomar consciência das maiores exigências da vida, suas necessidades vitais
naturais. Estas pessoas todavia não conseguiam por em prática o conhecimento conseguido.
Reich expõe que a mudança social e as reivindicações individuais não são seguidas por uma
da educação e da moralidade.
Desta forma resta ao cidadão “normal” se cindir, sendo guiado apenas pela razão,
LOWEN, Alexander. AMOR, SEXO E SEU CORAÇÃO, 2 Edição, São Paulo, Summus,
1990.
Paulo:Cultrix, 1993.
REICH, Wilhelm. BIOPATIA DO CÂNCER. vol II. Curitiba: Centro Reichiano, s/d.