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A ditadura de Getúlio Vargas

Ana Paula Corti*


Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Vargas faz pronunciamento anunciando o


Estado Novo
Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil em 1934, eleito indiretamente pela Assembléia Constituinte,
quatro anos após a Revolução de 30.

A constituição de 1934 marcou o início do processo de democratização do país, dando seqüência às


reivindicações revolucionárias. Ela trouxe avanços significativos como o princípio da alternância no poder, a
garantia do voto universal e secreto, agora estendido às mulheres, a pluralidade sindical e o direito à livre
expressão.

Determinava também a realização de eleições diretas em 1938, nas quais o povo finalmente teria o direito de
eleger o chefe supremo da Nação e proibia a reeleição de Getúlio. Mas o processo de democratização em curso
ainda iria enfrentar muitos obstáculos. Desde fins de 1935, havia um clima de efervescência no país. De um
lado, acirravam-se as disputas eleitorais e, de outro, multiplicavam-se as greves e as investidas oposicionistas
da ANL - Aliança Nacional Libertadora contra o governo Vargas. A ANL foi fundada por tenentes dissidentes da
Revolução de 30, que defendiam a reforma agrária e combatiam as doutrinas nazifascistas.

Influência nazifascista
A conjuntura mundial estava sob forte influência do nazifascismo, representado por Hitler na Alemanha e
Mussolini na Itália. Era uma época marcada por forte sentimento nacionalista e pela centralização do poder
estatal. Os ventos fascistas se faziam sentir no Brasil, através da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização
fascista liderada por Plínio Salgado, cujas idéias conservadoras eram resumidas no lema "Deus, Pátria e
Família".

O próprio Getúlio Vargas demonstrava grande afinidade com o nazifascismo, como se pode apreender através
da forte perseguição aos judeus no seu governo. Muitos semitas emigraram impelidos pela perseguição nazista
na Europa para países como o Brasil. No entanto, se deparavam com barreiras impostas pelo Estado, como
bem ilustra uma circular editada em 1937, pelo então ministro das relações exteriores Mário de Pimentel
Brandão, que determinava a recusa do visto de entrada a pessoas de origem judaica.

"O perigo vermelho"


A atmosfera externa aliou-se a uma situação interna bastante instável após a revolução de 30, em que as
forças revolucionárias haviam se dividido e agora disputavam o poder.

A expansão dos grupos comunistas no Brasil, fortalecidos pela consolidação do regime soviético, causava um
temor generalizado.

E justamente sob a alegação de conter o "perigo vermelho", o presidente Vargas declarou estado de sítio em
fins de 1935, seguido pela declaração de estado de guerra no ano seguinte, em que todos os direitos civis
foram suspensos e todos aqueles considerados "uma ameaça à paz nacional" passaram a ser perseguidos.

O governo federal, com plenos poderes, perseguiu, prendeu e torturou sem que houvesse qualquer controle por
parte das instituições ou da sociedade. Em 1936, foram presos os líderes comunistas Luís Carlos Prestes e Olga
Benário. Olga, que era judia, seria mais tarde deportada grávida pelo governo Vargas para a Alemanha, e
morreria nos campos de concentração nazistas.

O Estado Novo
A forte concentração de poder no Executivo federal, em curso desde fins de 1935, a aliança com a hierarquia
militar e com setores das oligarquias, criaram as condições para o golpe político de Getúlio Vargas em 10 de
novembro de 1937, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser
conhecido como Estado Novo.

A justificativa dada pelo presidente foi a necessidade de impedir um "complô comunista", que ameaçava tomar
conta do país, o chamado Plano Cohen, que foi depois desmascarado como uma fraude. Alegava também a
necessidade de aplacar os interesses partidários mesquinhos que dominavam a disputa eleitoral. Na
"Proclamação ao Povo Brasileiro", em que Getúlio anunciava o novo regime, ele diz:

"Entre a existência nacional e a situação de caos, de irresponsabilidade e desordem em que nos


encontrávamos, não podia haver meio termo ou contemporização. Quando as competições políticas ameaçam
degenerar em guerra civil, é sinal de que o regime constitucional perdeu o seu valor prático, subsistindo,
apenas, como abstração."
Nessa ocasião, Vargas anunciou a nova Constituição de 1937, de inspiração fascista, que suspendia todos os
direitos políticos, abolindo os partidos e as organizações civis. O Congresso Nacional foi fechado, assim como as
Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais.

Censura e propaganda
Nesse cenário de controle ideológico foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), encarregado
da propaganda e promoção do regime junto à população. O DIP foi responsável pela censura a órgãos de
imprensa e veículos de comunicação, sendo um instrumento estratégico na propagação de ideologias ufanistas
e de exaltação do trabalho. Um exemplo ilustrativo dessa atuação foi a distribuição de verbas a escolas de
samba, desde que trocassem a apologia à malandragem por temas "patrióticos" e de incentivo ao trabalho.
Para difundir as idéias nacionalistas entre os mais novos o Estado tornou obrigatória a disciplina de Educação
Moral e Cívica nas escolas.

O apelo direto às massas era uma marca da demagogia populista e da relação dos dirigentes nazistas e
fascistas com a população, e Vargas soube tirar proveito máximo dessa estratégia. Fomentando o sentimento
nacionalista em torno da ameaça do comunismo, a ditadura conseguia um apoio popular massivo. Este
sentimento crescia ainda mais diante dos esforços industrializantes do governo, que aceleravam o
desenvolvimento econômico e a entrada do Brasil no contexto internacional. Foram criados órgãos estratégicos
para viabilizar este esforço de desenvolvimento, tais como o Conselho Nacional do Petróleo e o Conselho
Federal de Comércio Exterior. Foi desse período a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, que
desempenhou papel fundamental no fornecimento de matéria-prima para o setor industrial.

Autoritarismo político e modernização econômica


Mas, para dar suporte ao desenvolvimento econômico era necessário também fortalecer a máquina pública e a
burocracia. Com esse objetivo foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1938,
que se ramificava pelos estados e cujos integrantes, nomeados pelo presidente, tinham por finalidade fiscalizar
os governos estaduais.

Como vemos, o Estado Novo conjugou autoritarismo político e modernização econômica, sob um pano de fundo
nacionalista e fascista. A relação que a ditadura varguista estabelecia com a sociedade era de controle e
vigilância. Foi instituído o sindicato oficial, filiado ao Ministério do Trabalho, e abolida a liberdade de
organização sindical. As relações entre trabalhadores e patrões ficavam assim sob controle do Estado, em que
prevalecia a lógica conciliatória e o esvaziamento dos conflitos. A visão por trás disso era de que o Estado devia
organizar a sociedade, e não o contrário.

Em contrapartida às restrições à organização dos trabalhadores, Getúlio implementou uma série de leis
trabalhistas, culminando com a edição da Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, que garantiu
importantes direitos e atendeu antigas reivindicações do movimento operário. Isso projetou a imagem de
Vargas como "o pai dos pobres".

De volta à democracia
A Segunda Guerra Mundial, deflagrada em 1939, pôs em disputa a doutrina fascista e nazista contra a doutrina
da liberal-democracia. Apesar da simpatia de Vargas pela Alemanha e pela Itália, as circunstâncias da guerra,
com a entrada dos Estados Unidos no conflito, levaram o Brasil a combater ao lado dos Aliados. Com a derrota
de Hitler em 1945, o mundo foi tomado pelas idéias democráticas e o regime autoritário brasileiro já não podia
se manter.

Getúlio Vargas foi deposto pelos militares em 29 de outubro de 1945, sob o comando de Góes Monteiro, um
dos homens diretamente envolvidos no golpe de 1937. A abertura democrática levou ao poder o general Eurico
Gaspar Dutra, como presidente eleito pelo voto popular, dando fim a um dos períodos mais autoritários e
violentos da nossa história.
Ditador brasileiro preferia a neutralidade
Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Passeatas da UNE exigiam que o Brasil


declarasse guerra à Alemanha
As semelhanças entre as ditaduras de Getúlio Vargas, Adolf Hitler e Benito Mussolini já foram apontadas por
muitos historiadores. O próprio nome Estado Novo foi tirado de outra ditadura européia da época, instituída por
Salazar em Portugal, país que se manteve oficialmente neutro durante a Segunda Guerra.

Também é fato notório que entre os membros do governo Vargas havia simpatizantes do Eixo. O mais famoso
deles era Filinto Müller, chefe de polícia do Distrito Federal, e responsável pela deportação de Olga Benário,
mulher do líder comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, para a Alemanha nazista.

Antes do rompimento das relações diplomáticas com o Eixo, o Brasil de Vargas mantinha boas relações
comerciais com a Alemanha e a Itália. Em 1936, Brasil e Itália firmaram um acordo para compra de submarinos
italianos, que seriam pagos com algodão e outros produtos brasileiros. O exército brasileiro também importava
armamentos da Alemanha nazista.

Em junho de 1940, num discurso proferido a bordo do encouraçado Minas Gerais, Vargas elogiou o
nacionalismo das "nações fortes", uma referência indireta às ditaduras direitistas da época. Tal discurso foi
proferido para a cúpula das Forças Armadas do Brasil. No entanto, entre manter boas relações comerciais com
os países do Eixo (e mesmo nutrir certa admiração por esses países) e aliar-se com eles numa guerra há
enorme diferença.

Tentativa de neutralidade
Vargas era um político hábil e, enquanto conseguiu manter o Brasil neutro na guerra, soube tirar proveito das
vantagens de ter relações comerciais tanto com os Estados Unidos quanto com a Alemanha.

Há quem acredite que, por pouco, o Brasil não entrou na guerra ao lado dos alemães, o que é um exagero.
Vargas jamais arriscaria uma aliança formal com eles, o que seria o mesmo que uma declaração de guerra ao
"vizinho rico do norte", os Estados Unidos. Diante de tal acordo, os EUA não hesitariam em invadir o litoral do
Nordeste brasileiro para ocupar portos e bases aéreas. Aliás, os militares norte-americanos tinham mesmo um
plano (jamais executado) de tomar as bases aéreas e os portos brasileiros, caso as negociações diplomáticas
falhassem. Nesse plano, os principais alvos eram Natal e o aeroporto de Parnamirim.

Mesmo nutrindo alguma simpatia pelos regimes fascistas, Vargas pretendia permanecer neutro na guerra, pois
achava que o país não deveria entrar num conflito que, na opinião dele, não traria vantagem alguma ao seu
governo. O fato de que o governo Vargas tivesse entre seus apoiadores ou membros da administração alguns
simpatizantes do nazismo (chamados na época de "germanófilos"), isso não tornava o Brasil necessariamente
um possível aliado da Alemanha.

Diferenças e semelhanças
Se havia alguma incoerência no fato de a ditadura de Vargas entrar na guerra ao lado das democracias, haveria
mais incoerência ainda numa aliança entre o Brasil e a Alemanha. Seria um absurdo um país multiétnico, de
população miscigenada, aliando-se a uma ditadura que pregava a superioridade da raça ariana e a escravização
e o extermínio das raças consideradas "inferiores".

Os que chamam a atenção para as semelhanças entre o Estado Novo e os regimes totalitários da Europa
costumam se esquecer das diferenças entre esses mesmos regimes.

A ditadura brasileira tinha em comum com o nazismo e o fascismo a perseguição aos comunistas, mas
perseguiu também os integralistas (que possuíam em seus quadros vários simpatizantes de Hitler e de
Mussolini).
Se as técnicas de propaganda empregadas pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para promover
o governo Vargas no cinema e no rádio (a obrigatoriedade de transmissão do programa a Voz do Brasil é
resquício dessa época) eram algumas das mesmas empregadas pela propaganda nazifascista, também
guardavam semelhanças em relação a algumas das utilizadas pela propaganda do governo Franklin Roosevelt,
nos Estados Unidos (Roosevelt, um presidente eleito democraticamente, também se valia de um programa de
rádio para falar ao seu povo).

Aliás, é possível que Vargas, em suas medidas paternalistas (que lhe valeram a fama de "pai dos pobres") e de
intervenção estatal na economia, também tenha se inspirado no New Deal, o programa de medidas adotadas
por Roosevelt para combater o desemprego nos Estados Unidos durante a crise econômica causada pela quebra
da bolsa de valores de Nova York, em 1929.

Outro fator que inviabilizava qualquer possibilidade de aliança entre o Brasil e a Alemanha era a aversão da
opinião pública brasileira ao nazismo. O nazismo tentou fincar raízes no Brasil. Para isso, montou uma rede de
propaganda: antes da entrada do Brasil na guerra, muitos jornais e revistas nazistas chegaram a circular entre
a comunidade de imigrantes alemães nas regiões Sul e Sudeste.

Na verdade, havia simpatizantes do nazismo e do fascismo no Brasil tanto dentro quanto fora das colônias
alemã e italiana. Apesar disso, o nazismo nunca conseguiu conquistar a simpatia da maioria dos brasileiros.

Entre os que repudiavam o nazismo estavam opositores do Estado Novo, como, por exemplo, os comunistas -
que, por razões óbvias, nutriam simpatia pela União Soviética - e alguns membros do próprio governo Vargas,
que eram simpáticos às democracias liberais (Estados Unidos, Inglaterra, etc.). Dentre estes últimos, Oswaldo
Aranha, então ministro das Relações Exteriores.

Além disso, após os afundamentos de navios brasileiros e as passeatas da UNE exigindo que o Brasil declarasse
guerra à Alemanha, grande parte da população brasileira passou a repudiar o nazismo, o que impediu o
aumento de seus simpatizantes em território brasileiro.

Para saber mais


 Livros:
Irmãos de armas: um pelotão da FEB na II Guerra Mundial, de José Gonçalves e César Campiani Maximiano.
São Paulo: Códex, 2005. (O livro é um relato de caráter semi-autobiográfico. A co-autoria é de César Campiani
Maximiano, doutor em História pela Universidade de São Paulo. Sem ser piegas, o livro é comovente em vários
momentos.)

O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas, de Roberto Sander.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. (Sem perder o rigor da pesquisa, a narrativa de Sander é tão envolvente
quanto um bom romance de espionagem.)

National Geographic Brasil: Edição Especial, nº 63-A, São Paulo: Abril, 2005. (Edição especial lançada por
ocasião dos sessenta anos do término da Segunda Guerra. Traz uma coletânea dos melhores artigos sobre o
assunto já publicados pela revista. Há três reportagens sobre o Brasil.)

 Filme:
Senta a pua! - Direção: Erik de Castro. Brasil, 1999. (Documentário que conta a história dos pilotos da FAB
durante a Segunda Guerra Mundial.)

JOSEF STALIN
21/12/1879, Gori, Geórgia
5/3/1953, Kunzewo, Rússia
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Stalin transformou a União Soviética em


superpotência

Ossip (em georgiano) ou Iosif (em russo) Vissarionovich Djugatchvili, dito Stalin, filho de um sapateiro e de
uma lavadeira, perdeu o pai cedo e, tendo também perdido os outros irmãos, foi criado pela mãe.

Após os primeiros estudos na escola religiosa russo-ortodoxa de sua cidade natal, foi enviado para o seminário
na capital georgiana, Tbilisi (ou Tiflis). Revoltado com a disciplina do estabelecimento e influenciado pela leitura
de romancistas realistas russos e de Darwin, acabou expulso do seminário, no último ano de estudos, 1899.

Entrou quase que imediatamente para a luta revolucionária. Militante do movimento social-democrático,
membro do comitê clandestino de Tbilisi, em 1902 é preso e deportado para a Sibéria, de onde foge em 1904.

Em 1905 organiza uma greve geral em Baku; encontra Lênin no congresso partidário realizado na Finlândia.
Preso novamente em 1908, é banido para Vologda, de onde foge no ano seguinte, dirigindo-se em junho para
São Petersburgo. Eleito para o comitê central do Partido Comunista Bolchevique, é preso mais uma vez em
1910. Foge em meados do ano seguinte.

Em 1912, colabora na fundação do jornal partidário Pravda (Verdade). Novamente preso em 1913, é exilado
para o círculo polar ártico, de onde seria libertado, em março de 1917, pelo governo Kerenski. Dedica-se,
então, inteiramente ao trabalho no Pravda.

Revolução Russa
Em 1913 adota o nome por que ficaria conhecido: Stalin (homem de aço). Desempenha, na Revolução de
Outubro de 1917, um papel principalmente de organizador. É nomeado comissário das Nacionalidades no
Conselho dos Comissários do Povo.

Durante a guerra civil, participa ativamente da luta, sendo inicialmente enviado a Tsaritsin, cidade às margens
do Volga que - de 1925 a 1961 - seria chamada de Stalingrado. O primeiro desentendimento sério entre Stalin
e Trotski ocorre na luta em Tsaritsin, por questões de estratégia militar.

A 3 de fevereiro de 1922, Stalin é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Em 1923, no congresso do partido, Stalin ataca abertamente a tese de Trotski
sobre a "revolução permanente". Com a morte de Lênin, a 21 de janeiro de 1924, Stalin une-se a Kamenev e
Zinoviev, sendo eleito sucessor de Lenin.

A luta aberta entre Stalin e Trotski é vencida pelo primeiro. Stalin também afasta da direção seus próprios
aliados, Kamenev e Zinoviev, que discordam da tese do "socialismo em um só país", defendida por Stalin. Este
perseguirá até a morte seus três oponentes.

Coletivização forçada da agricultura


Senhor da chefia do governo, Stalin dá início às reformas com que visa, primordialmente, ao fortalecimento da
URSS. Lança o primeiro plano quinquenal em 1928, com o objetivo de priorizar a industrialização e "edificar o
socialismo", passando para o Estado o controle de toda a atividade econômica.

Em 1929-1930 dedica-se à coletivização da agricultura, liquidando camponeses - pequenos, médios ou grandes


proprietários de terras. São todos executados ou deportados em massa com suas famílias.

Expurgos
No segundo plano quinquenal, procura dar maior ênfase ao desenvolvimento da indústria leve. Em 1936,
ordena o início dos famosos processos de Moscou, que resultam em amplo expurgo nos quadros partidários,
criando um clima generalizado de terror em todo o país. Milhares são presos, torturados e mortos. Nem mesmo
as forças armadas ficam imunes, e vários de seus principais dirigentes são fuzilados.

Segunda Guerra Mundial


A 23 de agosto de 1939 firma um pacto de não agressão com a Alemanha hitlerista. No mês seguinte, anexa à
URSS a parte leste da Polônia. Em março e setembro de 1940, respectivamente, ocupa partes da Finlândia e da
Romênia.

Em 22 de junho de 1941, a Alemanha declara guerra à URSS. Stalin assume o comando supremo das forças
armadas soviéticas, com o posto de marechal, em março de 1943.

Stalin passa a insistir com as nações ocidentais, já em guerra com a Alemanha, para que abram nova frente de
luta, a fim de aliviar o campo soviético. Dissolve, em 1943, o Komintern, organização encarregada de fazer a
ligação com os comunistas do mundo inteiro.

Participa de conferências com os dois dirigentes supremos dos EUA e do Reino Unido - Roosevelt e Churchill -
em Teerã (1943), Ialta (1945) e Potsdam (1945 - com Harry Truman, que assumira a presidência dos EUA
depois da morte de Roosevelt), estabelecendo as bases para o desenvolvimento e o desfecho da Segunda
Guerra Mundial.

Terminada a guerra, já no começo de 1946 acentua-se a divisão entre os aliados da véspera, e Stalin passa a
atacar os EUA como "imperialistas". É o início da Guerra Fria. Em 1947, ressuscita o Komintern, sob o nome de
Kominform.

O bloqueio de Berlim - de 31 de março de 1948 a 12 de maio de 1949 - leva a divisão entre os dois campos a
um ponto crítico. As divergências entre as principais nações capitalistas e o grupo socialista liderado pela URSS
persistem até muito depois da morte de Stalin.
Stalinismo
Em 1953, no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o sucessor de Stalin, Kruschev, denuncia o "culto
da personalidade" stalinista e os crimes e atrocidades atribuídos a Stalin.

Político duro e sem escrúpulos, Stalin usou seu poder para destruir todos os que surgiram em seu caminho.
Temido e admirado, é, muitas vezes, retratado como um homem de inteligência medíocre, que conseguiu seu
poder graças, exclusivamente, à esperteza impiedosa. Essa avaliação, contudo, é uma subestimação, pois a
ideologia concebida por Stalin - que passou à história com o nome de stalinismo - teve grande importância na
consolidação do regime soviético e de suas terríveis injustiças.

Enciclopédia Mirador Internacional; Dicionário do Pensamento Marxista (Jorge Zahar Editor)

A ditadura fascista
Érica Turci*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Entre 1922 e 1924, Benito Mussolini governou de forma conciliatória, não se sobrepondo ao poder do rei Vítor
Emanuel 3o, o que não agradou a muitos dos membros do Partido Nacional Fascista, que queriam a
instalação de uma ditadura. Mas aos poucos Mussolini foi organizando um governo paralelo.

Em janeiro de 1923, as milícias fascistas foram transformadas na Milícia Voluntária de Segurança Nacional.
Ao mesmo tempo se formou o Grande Conselho Fascista, que se reunia às escondidas, com o objetivo de
formular as diretrizes políticas para os membros do PNF que aos poucos iam assumindo cargos no governo.
Tanto a MVSN quanto o Grande Conselho ficavam sob ordens diretas de Mussolini.

Em 1924 ocorreram eleições parlamentares na Itália, depois de uma ampla reforma eleitoral que privilegiava os
interesses do PNF. Em meio a espancamentos e fraudes, os fascistas e seus aliados conseguiram 2/3 das
cadeiras do Parlamento.

Numa das primeiras sessões do novo Congresso, em maio de 1924, o deputado socialista Giacomo Matteotti fez
um discurso apresentando provas das inúmeras fraudes durante as eleições, exigindo sua anulação. Poucos
dias depois, Matteotti foi seqüestrado e somente em agosto seu cadáver foi encontrado.

Violência
Diversos grupos antifascistas lançaram manifestos culpando Mussolini pelo assassinato do deputado Matteotti, o
que só fez aumentar a violência das milícias fascistas, que aproveitavam da situação para pressionar o governo
a acelerar a implantação da ditadura.

Em janeiro de 1925, Mussolini discursou diante da Câmara dos Deputados, assumindo a responsabilidade por
todos os acontecimentos passados, sem especificar quais, e desafiando seus adversários. Ninguém se
manifestou.

Entre 1925 e 1926, com o apoio do rei, dos industriais, do Exército e da Marinha, Mussolini promoveu uma
ampla perseguição política, impondo o PNF como partido único, e iniciando a ditadura fascista, em que ele era o
Duce (o guia) da nova fase política italiana.

A ditadura
A partir de 1925 a economia passou a ser firmemente controlada pelo Estado, com o apoio dos capitalistas
italianos. Os prefeitos das cidades passaram a ser nomeados pelo rei, por indicação de Mussolini. A censura foi
ampliada: a educação, as artes, os esportes, as rádios, o cinema e, até mesmo, o lazer da população seguiam
as orientações fascistas. Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, responsável pelo julgamento de
"crimes" políticos, sendo juízes os oficiais da MVSN.

A filiação ao PNF era quase uma obrigatoriedade entre os italianos, pois só assim se poderia prestar concursos
públicos, ter livre passagem entre as várias regiões ou exercer qualquer cargo no funcionalismo público. A sigla
do partido fascista, PNF, era explicada comicamente, no humor popular como "Per necessitá familiare" (Por
necessidade familiar).

Em abril de 1926 uma nova legislação trabalhista foi criada: patrões e empregados deveriam participar das 22
corporações organizadas pelo Estado, a fim de resolver seus embates dentro das leis impostas. Em cada
corporação, empresários e empregados tinham o mesmo direito, o problema era que os primeiros apoiavam o
fascismo e os segundos eram representados por sindicatos fascistas, os únicos que tinham permissão para
participar das corporações.

A negociação de fato não acontecia, mas era uma tentativa de suprimir a luta de classes através do modelo
corporativista fascista. Dessa forma Mussolini pretendia aniquilar as organizações trabalhistas e, ao mesmo
tempo, aumentar o poder do Estado sobre as relações sociais. Mesmo não resolvendo as questões trabalhistas,
o modelo corporativista era usado como propaganda de uma nova sociedade que o fascismo se propunha a
construir.
Tal centralização política se intensificou quando o Grande Conselho Fascista foi oficializado em 1928, pois na
prática incorporava os poderes legislativo e judiciário.

Tratado de Latrão (1929)


As relações políticas entre a Igreja Romana e o Estado Italiano não foram fáceis desde o processo de unificação
da Itália no século 19, principalmente por que o papado não aceitava perder o poder político sobre os antigos
Estados Pontifícios.

Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio dos católicos, Mussolini assinou com
o papa Pio 11 três acordos, que ficaram conhecidos como Tratado de Latrão:

1. A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o
Estado Italiano;

2. A Itália indenizaria o Vaticano pelos danos causados durante as guerras de unificação;

3. A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as
escolas.

Apesar das inúmeras medidas centralizadoras de Mussolini, o Estado Totalitário não se implantou efetivamente
na Itália, pois a monarquia foi mantida, garantindo ao Rei Vitor Emanuel 3o parte do poder, ao mesmo tempo
em que, a Igreja Católica, depois do Tratado de Latrão, passou a ter maior participação no cenário internacional
e, também, na educação e na cultura italiana.

Quando o modelo fascista iniciou seu declínio durante a Segunda Guerra Mundial, tanto a Igreja quanto a
monarquia, buscando manter seus privilégios, agiram de forma decisiva para tirar Mussolini do poder.

CAPÍTULO NOVE
O LEVANTE INTEGRALISTA
ATAQUE AO PALÁCIO GUANABARA

"Putsch" é uma palavra da língua alemã, usada para designar golpe de


estado. Foi com esse termo que ficou conhecido o levante integralista de 11
de maio de 1938, que tinha como objetivo liquidar o presidente da
República, seus ministros e auxiliares diretos, implantando no Brasil uma
ditadura elitista e corporativista, à sombra de Deus, mas guardada pela
força das armas.

O "putsch" de 11 de maio não foi o início de uma nova era, mas o epílogo
de um mal sucedido namoro entre o chefe dos integralistas, Plínio Salgado e
o presidente da República, com falsas juras de uma união que Getúlio
Vargas jamais pretendia realizar.

Em realidade, o movimento conspiratório que culminou com o ataque ao


Palácio Guanabara era uma frente ampla que reunia várias forças contrárias
a Getúlio e que, após o golpe do Estado Novo, pretendiam vê-lo fora do
poder. Entre os descontentes estavam Otávio Mangabeira, ex-Ministro de
Washington Luís, e Euclides Figueiredo, um dos comandantes da Revolução
Constitucionalista de 1932, ambos na prisão. Insatisfeitos estavam também
os candidatos frustrados de uma eleição que não se realizou: Armando de
Sales de Oliveira, José Américo de Almeida e o próprio Plínio Salgado, sem
falar no ex-governador gaúcho Flores da Cunha, que, forçado à renuncia,
asilou-se no Uruguai, esperando uma oportunidade para a refrega.
Adversários eram também o ex-governador de Pernambuco, Carlos de Lima
Cavalcanti, envolvido injustamente no processo da Intentona Comunista de
1935, e o ex-governador da Bahia, Juraci Magalhães, às turras com o
ditador, assim como o ex-prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto,
também transformado em réu da Intentona.

Havia, enfim, muita gente que, pelos mais variados motivos, desejava
ver Getúlio longe do governo. Mas, sem sombra de dúvidas, eram os
integralistas que possuíam a estrutura adequada, com uma vasta
ramificação dentro das Forças Armadas e com uma milícia paramilitar
supostamente bem treinada e em condições de realizar o golpe, com pleno
sucesso.

Vale, pois, fazer um retrospecto da Ação Integralista Brasileira, da vida


de seu chefe, Plínio Salgado, e dos acontecimentos que levaram à decisão
de enfrentar o governo constituído, num ato de força em que todas as
cartas eram jogadas de uma só vez.

Quem era Plínio Salgado

Plínio Salgado nasceu em São Bento do Sapucaí, Estado de São Paulo,


em 1895 e, dentro da escola modernista, desenvolveu sua carreira de
escritor, publicando, entre outros livros, o romance "O Estrangeiro" e
"Literatura e Política", este último, um ensaio contra as idéias liberais. Tinha
uma concepção espiritualista conservadora, deixando-se influir pelo
pensamento de escritores como Farias Brito (1862-1917), Jackson de
Figueiredo (1891-1928) e Alberto Torres (1865-1917).

A partir de 1930, começam a surgir no Brasil legiões de extrema direita,


baseadas no fascismo italiano e no nazismo. É então que Plínio Salgado, até
então desconhecido do grande público e ainda novato na política (foi
deputado estadual em 1928, cassado em 1930), começa a organizar seu
movimento, tendo como inspiração, nem Hitler nem Mussolini, mas o
ditador português Antônio de Oliveira Salazar. Com sua pregação, Plínio
consegue reunir em torno de si as correntes mais conservadoras na política,
na religião e nas Forças Armadas.

Em 1931, publica o "Manifesto da Legião Revolucionária" e cria o jornal


"A Razão". No ano seguinte, funda a Ação Integralista Brasileira (AIB), ainda
sem grandes adesões. Em sua primeira marcha na cidade de São Paulo, já
no ano de 1933, a AIB não consegue juntar mais que quarenta pessoas, as
quais se achavam já devidamente uniformizadas com a camisa verde, cor
que passou a distinguir a agremiação.

Plínio Salgado era o cérebro e a alma do movimento integralista. Líder


carismático, passou a atrair para si católicos praticantes preocupados com o
desenvolvimento de seitas "espúrias", militares saudosos do "florianismo" e,
sobretudo, estudantes, entusiasmados com as novas idéias, os quais
encontravam, afinal, um elemento de polarização à direita, para combater o
comunismo.

Desse ponto em diante, o integralismo cresceu de forma rápida e


espantosa. Em 1935, ofereceu a Getúlio 100 mil milicianos para ajudar no
combate ao comunismo. No ano seguinte, o movimento integralista já
contava com 600 mil simpatizantes. Unindo-se à religião, defendendo
ardorosamente o nacionalismo e a integridade familiar, representados pelo
lema "Deus, Pátria e Família", estendeu seus tentáculos por todos setores
de atividade, representando um poder paralelo que o governo não podia
mais ignorar.

O golpe do Estado Novo

Rememoremos como se deu o golpe que implantou o Estado Novo no


Brasil, em 10 de novembro de 1937. Vários meses antes, o jurista Francisco
Campos e o general Góis Monteiro passaram a freqüentar com assiduidade
o Palácio Guanabara, acertando com Getúlio Vargas um novo texto de
Constituição para a implantação de um regime forte, como o eram os
regimes de vários países europeus: Itália, Alemanha, Polônia, Portugal,
Espanha e outros.

Para tomar pulso da situação, Vargas entrega ao jovem deputado Negrão


de Lima a missão de percorrer o país e parlamentar com os governadores
dos Estados – menos Bahia e Pernambuco, que lhe eram adversos –
sondando-os sobre a possibilidade de apoio ao golpe palaciano, em troca da
garantia de permanência em seus cargos. A missão deu bom resultado.
Negrão voltou ao Rio no dia 3 de novembro com apoio maciço dos
governadores. Dois dias depois, o Diário Carioca, furando o sigilo, publicou
uma reportagem divulgando a "Missão Negrão de Lima", o que obrigou o
governo a um desmentido: Havia, sim, consultas, mas para uma reforma
constitucional, na forma da lei.

Dois meses antes, Plínio Salgado foi informado da reforma constitucional


e prometeu seu apoio, em troca de garantias formais de que a Ação
Integralista Brasileira, atuando como partido político, teria posição
destacada no novo governo.

De dentro da AIB surgiu, como se fora de encomenda, o Plano Cohen, um


falso plano comunista para tomada do poder e, com base nele, o governo
obteve do Congresso autorização para decretar o estado de guerra.

Com o Presidente de mãos estendidas, Plínio julgava encontrar a grande


oportunidade de se tornar um super-ministro, aplicando em efetivo as idéias
difundidas pelo integralismo. Daí o apoio que emprestou ao governo com a
grande demonstração de 1º de novembro, em frente ao Palácio Guanabara,
perante Getúlio e seu "staff", quando cem mil integralistas, ladeados por
duas colunas de fuzileiros navais, desfilaram, de forma ordeira e
disciplinada, como uma bem treinada corporação militar. Esses desfiles
continuaram nos dias seguintes pelas ruas do Rio de Janeiro, com a
complacência das autoridades. E note-se que, há um mês, estava em vigor
o estado de guerra, suspendendo, entre outras coisas, o direito de
manifestação. Não para os integralistas, é claro.
No dia 8, Armando de Sales Oliveira envia um manifesto aos militares,
alertando para a proximidade de um golpe e concitando-os a defender a
ordem. Em 10 de novembro de 1937, com antecipação de cinco dias, as
casas do Congresso amanhecem cercadas pela polícia. E às 10 horas da
manhã é outorgada a Constituição que implanta no país o novo regime.

A Constituição do Estado Novo ("Polaca")

A Constituição outorgada por Getúlio Vargas ficou conhecida como


"Polaca", por sua grande semelhança com a da Polônia. Era, todavia, uma
colcha de retalhos, emendando trechos de Constituições totalitárias
vigentes em outros países. De comum, suprimiam-se as liberdades
individuais, colocando o Estado como poder supremo a dirigir os destinos da
Nação.

Não ficou pedra sobre pedra. O novo regime acaba com os partidos
políticos, transformados em sociedades culturais ou beneficentes; fecha a
Câmara Federal, o Senado, as Assembléias Legislativas e as Câmaras
Municipais. Nomeia interventores nos Estados, subordinados diretamente ao
presidente da República (Os governadores que lhe foram fiéis permanecem
nos cargos. O do Rio Grande do Sul já fora obrigado à renúncia. Foram
afastados os de Pernambuco e Bahia e, meses depois, Cardoso de Melo, em
São Paulo, era substituído por Ademar Pereira de Barros).

Institui a pena de morte para os crimes contra o Estado e a ordem


pública, vale dizer, para os crimes chamados políticos. Os sindicatos são
considerados livres, desde que reconhecidos pelo Estado, e com a sua
diretoria aprovada pelo Ministério do Trabalho. Uma liberdade de canga,
com o surgimento do "peleguismo", que era uma falsa liderança, atrelada
ao poder central.

Outra arma poderosa apareceu com a criação do DIP-Departamento de


Imprensa e Propaganda, encarregado da censura à imprensa, bem como
responsável, doravante, pela divulgação do noticiário oficial, cultural ou com
notícias que o governo julgasse conveniente publicar. O DIP organizou um
corpo de redação de primeira linha, com jornalistas altamente treinados,
que entregavam aos jornais matéria pronta para publicação. Ou por
comodidade, ou por falta de opção, essa matéria chegou a ocupar mais da
metade do espaço que a imprensa usava para o noticiário.

A decepção dos integralistas

A notícia da implantação do Estado Novo, nos moldes anunciados, caiu


sobre a cabeça dos integralistas como um balde de água fria. A Ação
Integralista Brasileira, a exemplo dos demais partidos, passava a ser uma
simples associação. Nem Plínio Salgado, nem seus diretos colaboradores
participaram da composição do ministério. Foram usados pelo governo para
a consecução de seus próprios objetivos e depois jogados ao lixo, como
peça descartável.
O Estado Novo criou suas próprias bases de sustentação, que
dispensavam, a partir de agora, a ajuda dos camisas verdes. E o fez com
militares fiéis ao regime, reunidos em torno do Chefe do Estado Maior das
Forças Armadas, general Góis Monteiro; com setores rurais dedicados à
exportação; com parte da classe média, simpática a regimes de natureza
fascista; com empresários, aos quais se acenou com com créditos
subsidiados e outras vantagens; e, principalmente, montou um sistema
repressivo muito bem estruturado, que desestimulava qualquer reação.

Os integralistas não conseguiram assimilar a derrota. Tão certos


estavam de sua participação destacada no novo regime, que eles haviam
até organizado seu ministério, em torno de Plínio Salgado. O integralismo
tinha um governo pronto e acabado, esperando somente o apelo de Getúlio
Vargas para se encaixar no poder e iniciar o trabalho.

Não bastassem todas essas contrariedades, o governo acrescentou mais


uma, que foi a gota a entornar a água do copo. No dia 3 de dezembro de
1937, um decreto de Vargas dissolve e coloca fora da lei a Ação Integralista
Brasileira, que passa a viver na clandestinidade, sujeita às sanções da nova
legislação, se insistir em sua atividade política.

Conspiração e ação

Jogados ao ostracismo, os integralistas se unem a outros grupos


descontentes com o governo e passam a conspirar pela queda do novo
regime. Plínio Salgado, em sua residência, em São Paulo, mantém reuniões
com civis e militares fiéis a suas idéias, ou com descontentes com as novas
regras do jogo, prontos a virar a mesa.

Os meses que se seguem são de confrontos e escaramuças entre


integralistas e forças policiais, mas um plano de maior consistência vinha
sendo traçado por Plinio Salgado, seus auxiliares diretos, e as outras forças
fora do movimento integralista, porém, igualmente em confronto com o
poder.

O "putsch" se daria na madrugada de 11 de maio de 1938. Ficou


entendido que o "Chefe" seria preservado, ficando afastado da rebelião
planejada. O comandante geral seria, então, o general João Cândido Pereira
de Castro Junior, tendo como imediato o médico Belmiro Valverde. O
tenente Severo Fournier faria o ataque ao Palácio Guanabara, com um
grupo paramilitar, vestindo a farda dos fuzileiros navais.

O tenente Júlio Nascimento, da Marinha, em plantão no Palácio


Guanabara, abriria os portões para a entrada dos rebeldes. Do alto de uma
árvore, um atirador procuraria atingir o Presidente em seus aposentos.
Outros grupos foram designados para, na mesma hora, prender o ministro
da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, e o chefe do EMFA, general Góis
Monteiro e outras autoridades militares em suas respectivas residências.
Dois oficiais se apresentariam na prisão onde estavam Otávio Mangabeira e
Euclides Figueiredo, levando ordem de soltura, após o que estes também
assumiriam posições de comando. Por fim, seriam executados
sumariamente ministros e membros destacados do governo, impedindo
qualquer reação posterior.

É preciso observar que, se de um lado o plano contava com a


colaboração de outros setores descontentes com o governo, por outro, ele
causou uma cisão dentro do próprio integralismo, afastando uma grande
parte de adeptos que era contrária à ação violenta, o que diminuiu o poder
de Plínio Salgado. Em suma, nem todos os que participaram do levante
eram integralistas e nem todos integralistas participaram do levante.
Houve, sim, uma recomposição de forças em função dos interesses comuns
naquele momento específico.

Nem tudo deu certo

Na teoria é uma coisa, na prática é outra. Na noite de 10 de maio, quase


na virada para o dia 11, a ronda policial estranhou a intensa movimentação
nas ruas e tentou parar um caminhão repleto de "fuzileiros", o qual saiu em
desabalada carreira. Foi dado o alarme geral e aconteceram as primeiras
prisões de revoltosos. Falhou, por conseqüência a tomada da Chefatura de
Polícia e a prisão do Chefe de Polícia, capitão Filinto Müller.

O outro caminhão conseguiu ingressar no Palácio Guanabara, dentro do


planejado, mas um tiro disparado acidentalmente alertou os que se
achavam no prédio, que se prepararam logo para a reação.

Além disso, o plano continha uma omissão que lhes foi fatal. Conforme
previsto, os telefones regulares foram todos silenciados, mas os
integralistas se esqueceram de que o governo contava com uma rede
telefônica oficial, baseada no PBX instalado no Palácio do Catete, o qual,
pelo trabalho de um telefonista (era um homem que manejava o PBX) fazia
a interligação dos palácios, dos quartéis, da Chefatura de Polícia e das casas
dos ministros. Em suma, para cessar de todo a comunicação, era preciso
tomar de assalto do Palácio do Catete e dominar o PBX, colocando-o a
serviço da rebelião, detalhe não considerado nas planilhas de ataque.

Foi pelo telefone oficial que o general Góis Monteiro deu alarme à
Chefatura de Polícia e ao forte de Copacabana, quando revoltosos tentaram
arrombar as duas portas de seu apartamento. Foi por esse telefone,
também, que Alzira Vargas conseguiu se comunicar com o mundo externo,
dando conta dos apuros por que passava o palácio residencial da
Guanabara.

A Chefatura de Polícia, pelo mesmo telefone oficial, alertou o ministro da


Guerra, que conseguiu sair de casa sem ser visto pelos homens
encarregados de prendê-lo. Dutra reuniu, então doze soldados, colocou-os
num caminhão e furou o cerco ao Guanabara, debaixo de uma saraivada de
balas. Dois de seus homens morreram, Dutra saiu levemente ferido, mas
conseguiram entrar no edifício, enquanto que os rebeldes estavam sendo
contidos nos jardins do palácio.

O levante, visto por Góis Monteiro

Eis a versão dada pelo general Góis Monteiro sobre os acontecimentos


da madrugada de 11 de maio:

"Cerca da meia-noite, dirigi-me ao meu apartamento, naquele tempo à


rua Júlio de Castilhos, também em Copacabana. Aí chegando, entrei, por
sorte minha, não pelo portão principal do edifício, mas por uma porta lateral
de serviço. Creio que, assim, não pude ser visto pelos homens que então se
encontravam nas imediações para me espreitarem. Precisamente à uma
hora da madrugada, quando todos já adormecidos em meu apartamento,
inclusive eu, fomos despertados por violentas pancadas nas portas, tanto na
social como na de serviço. (...) Levantei-me sobressaltado e corri à porta
social, mas fui detido por minha mulher que, não só apagou a luz, como
pediu-me para que não a abrisse, pois as pancadas continuavam cada vez
mais fortes.

"Fui ao telefone. Estava cortada a linha. Corri à varanda que dava para a
rua e pude ver automóveis e caminhões, com gente armada, tendo um dos
carros, sobre o estribo, granadas de mão, que pude reconhecer, do alto
para baixo, devido à luz clara da lua. Entretanto, os assaltantes não se
lembraram de que eu possuía um telefone oficial, com o qual pude
comunicar-me com a Fortaleza de Copacabana, o Forte Duque de Caxias e a
Polícia, solicitando o envio urgente de tropas de choque para acudir ao
edifício onde me encontrava bloqueado.

"Depois disso, telefonei ao Palácio do Catete, Palácio Guanabara e


Ministério da Guerra, avisando da ocorrência. Vim a saber, então, que
rompera um movimento integralista no Ministério da Marinha e em outros
pontos da cidade, mas meus informantes não me deram pormenores. Do
Palácio Guanabara, a Sra. Alzira Vargas comunicou-se comigo, dizendo que
o palácio estava sendo atacado e que ela me falava debaixo de balas.
Pedia-me para acudir, pois a guarda, ou tinha sido dominada, ou se
acumpliciara, estando o Presidente, com sua família, em situação de perigo.
Fiz-lhe ver que o mesmo estava acontecendo comigo, mas que eu já havia
tomado providências para salvar-me e, logo que eu pudesse, tomaria as
demais providências que o caso exigia."

Reação aos ataques

Ainda, segundo a narrativa de Góis Monteiro, as patrulhas do forte de


Copacabana chegaram e dispersaram os rebelados, liberando o
apartamento. Então ele, já uniformizado, acompanhado de Virgílio de Melo
Franco e Adalberto Aranha, dirigiu-se ao Ministério da Guerra, onde
encontrou o general Eurico Gaspar Dutra e outros comandantes na tarefa de
acabar com a rebelião, que contaminara inclusive uma parte da Marinha.
Góis permaneceu no Ministério, enquanto Dutra seguiu para o campo do
Fluminense F.C., nos fundos do Palácio Guanabara, onde se achavam tropas
legais, aguardando a oportunidade de entrar no palácio e expulsar os
assaltantes.

Foi nessa ocasião que, como vimos, Dutra e mais doze soldados
entraram pela portaria dos fundos, apelidada de "Dondoca", e conseguiram
chegar ao edifício onde se encontravam sitiados os demais.

O dia já clareava, cinco horas depois, quando, enfim, as tropas enviadas


pela Chefatura de Polícia conseguiram penetrar no palácio, pondo em fuga o
comandante revoltoso, Severo Fournier, que se homiziou nas montanhas e,
mais tarde, pediu asilo à Embaixada da Itália. Não se sabe por que os dois
contingentes, enviados pelo chefe da Polícia à uma hora da madrugada,
levaram tanto tempo para entrar em ação.

Nesse ponto, a milícia integralista dentro dos portões do Palácio


Guanabara, já ficara sem comando e sem ação. Os jovens idealistas,
completamente dominados, foram acuados pelas tropas legais até os
fundos do terreno e ali procedeu-se à execução sumária de todos eles,
segundo a versão de Góis. Entre a ética e a força, prevaleceu a última.

Outra visão, de dentro do Palácio

Os mesmos acontecimentos dessa tormentosa madrugada, são narrados


por Alzira Vargas, então com 22 anos, que morava no Guanabara, com seu
pai, sua mãe e sua irmã Jandira e alguns hóspedes ocasionais.

"No silêncio da noite, ecoou um tiro. Nem me mexi. Minha cabeça estava
começando a entrar em contato com o travesseiro para despedir a ameaça
de enxaqueca. Além do mais, não era a primeira vez que isso acontecia. Um
soldado sonolento apoiar-se à arma e, inadvertidamente, puxar o gatilho,
era tão comum. Um segundo tiro me fez considerar que era muita
coincidência: duas sentinelas distraídas, quase ao mesmo tempo. No
entanto, só decidi renunciar ao meu repouso quando Jandira gritou
assustada, abrindo a janela do quarto. Dois projéteis mais se alojaram,
desta vez na parede, a poucos centímetros do batente de sua janela, em
resposta imediata à sua imprudência.

"(...) No jardim, às escuras, uma porção de homens a paisana corriam,


dando tiros contra as paredes do palácio e jogando ao chão qualquer coisa
explosiva que eu supus serem bombas de alarme, pois nenhum dano
faziam. Creio que a janela de Jandira foi visada logo porque, mal-
informados, julgaram ficar nesse ponto o quarto de Papai.

"(...) Com a mais absoluta inconsciência, saí feita uma flecha em direção
à Secretaria. Por ser o caminho mais curto, desprezei o corredor e passei
por dentro dos quartos, que se comunicavam todos. Papai estava colocando
o revolver à cintura, por cima do pijama e perguntou onde eu ia. Eu também
não sabia.
"(...) O investigador de plantão, Manuel Pinto da Silva, estava em baixo,
tentanto fechar a grade de ferro. Também tinha sido despertado de
surpresa e, de pijama, ainda, empunhava uma metralhadora. Disse-me:
‘Parece que estão atacando o palácio. (...)"

Como se deu a invasão

Alzira apresenta sua versão dos acontecimentos:

"A invasão se processara da seguinte maneira: pouco depois da meia-


noite, dois enormes caminhões, cheios de homens disfarçados com o
uniforme de fuzileiros navais, encostaram junto ao portão principal externo,
entrada para a parte residencial. Estava fechado, como em todas as noites,
pois o oficial-de-dia já dera ordem de recolher.

"Dentro da ‘Dondoca’, nome pelo qual era conhecido o pequeno abrigo


que serve de primeira portaria, ficava sempre de plantão um soldado da
Guarda Civil para atender ao telefone, abrir o portão aos moradores
noctívagos ou receber alguma mensagem urgente. Estava no seu posto o
perspicaz Josafá, que se tornou conhecido e popular nessa noite por seu
destemor e sagacidade. Desconfiado daquela chegada extemporânea e da
inusitada ordem para abrir o portão, fechara-o a chave.

"Os dois caminhões deram marcha-à-ré apressadamente e foram


despejar sua carga em frente ao outro portão, igualmente de ferro, entrada
da Casa da Guarda, onde foram fraternalmente recebidos por seu
companheiro de traição, tenente Julio Nascimento. Invadiram o jardim com
toda tranqüilidade, cercaram o palácio e ocuparam as posições estratégicas.

"Dentro da Casa da Guarda, entretanto, uma desagradável surpresa os


esperava. Alguns fiéis, conservadores da tradição de lealdade do Corpo de
Fuzileiros, ofereceram resistência e se recusaram a acatar as ordens de seu
comandante. Travou-se uma pequena luta, de curta duração, em face da
superioridade de número dos invasores. Foram fuzilados, mortalmente
feridos ou maltratados e aprisionados, aqueles poucos que puderam reagir."

A defesa improvisada

O investigador de plantão a que nos referimos acima foi à procura de um


soldado, amigo seu, para obter detalhes e recebeu voz de prisão. O "amigo"
também fazia parte do "putsch".

Todos os moradores do palácio, presentes naquele instante, procuraram


se proteger ou organizar a defesa: Getulio, Manuel Antônio (Maneco),
Sarmanho, comandante Isac Cunha e outros atiradores disponíveis. Alzira
pegou também uma arma, que não chegou a usar. Lutero Vargas e
Benjamin Vargas estavam fora do palácio. Os empregados que dormiam no
palácio também receberam armas para a defesa.
Alzira seguiu, rastejando, até o telefone convencional. Estava mudo.
Tentou, em seguida a linha oficial e conseguiu contato com o PBX do Palácio
do Catete, onde se achava de plantão o telefonista Floriano. Por meio dele,
falou com o Chefe de Polícia, Filinto Müller que disse já ter mandado um
contingente, comandado por Cordeiro de Farias, para cuidar do contra
ataque.

Uma hora depois um carro entra sob rajadas de metralhadora. O


ocupante era Benjamim Vargas, irmão de Getúlio, com dois amigos que
trocaram informações sobre a situação. Benja ficou, enquanto os outros dois
saíram, sob uma chuva de balas, em busca de ajuda, pois o reforço
anunciado pela Chefatura não dera, até então, sinal de vida.

Alzira continuou mantendo contatos pelo telefone oficial. Falou


novamente com a Chefatura, que prometeu mandar mais um contingente.
Falou com o general Góis Monteiro, que declarou-se sitiado em seu
apartamento, nada podendo fazer. Falou com o ministro da Justiça,
Francisco Campos, que declarou-se solidário com o Presidente, e só.
Localizou Lutero Vargas, que disse estar à busca de reforços para invadir o
palácio. Falou com o Posto da Polícia Militar, no alto do morro, o qual
informou que cruzadores da Marinha estavam participando do levante e
enviando sinais para os revoltosos em terra.

Novas rajadas de metralhadora e outro personagem irrompe das salas do


palácio. Era Júlio Santiago, um amigo da casa, para informar que o ministro
da Guerra, general Dutra, havia conseguido entrar pelo portão da
"Dondoca" e aguardava instruções. Todos os que tentavam, conseguiam
entrar e sair, menos as tropas enviadas pela Chefatura de Polícia, das quais
não se tinha notícias.

A espera angustiante

A madrugada já ia avançada quando o Chefe de Polícia telefona a Alzira


informando que Cordeiro de Farias, com seus homens, se achava
acantonado no campo do Fluminense F.C., atrás do Palácio, aguardando o
momento de entrar. Travou-se um diálogo exasperante entre os dois: "Que
estão esperando? – protestou Alzira – que subam para nos prender? A
maioria já fugiu, o número de sitiantes no jardim é reduzido. Somente a
Casa da Guarda continua em poder dos atacantes, e nós não dispomos de
armas."

À resposta de que as tropas não conseguem sair do Fluminense F.C., ela


replica: "O general Dutra atravessou só. Não é possível que com a tropa não
possam entrar." Informou ao Chefe da Polícia o lugar onde se encontravam
os moradores do palácio e combinou de colocá-los todos atrás de uma
parede mais grossa e resistente, para não serem atingidos pelos tiros.

Disse que o palácio tinha uma entrada alternativa entre o campo de


futebol e o jardim do palácio (a "Dondoca"). Minutos depois, Filinto volta a
telefonar para dizer que o portão dessa entrada estava fechado e não havia
chave para abri-lo... Alzira explode: "Pois então, que arrebentem a porta a
bala. Não estão armados?"

Finalmente, esse detalhe foi superado. O investigador Aldo Cruschen,


que se achava dentro do palácio, se ofereceu para abrir a porta de
comunicação e o fez, sem ser visto nem molestado. Cinco horas depois de
acionadas, as tropas enviadas pela Chefatura de Polícia entravam,
triunfalmente, nos jardins do palácio, quando já grande parte dos revoltosos
já havia fugido, inclusive o tenente Fournier, que comandou o ataque, e o
tenente Nascimento, que abriu os portões para a entrada dos revoltosos.

Há uma contradição neste ponto. Enquanto Góis afirma que os rebeldes


remanescentes foram sumariamente fuzilados, Alzira descreve sua prisão:

"A resistência foi pequena, os que haviam agüentado entregaram-se


quase que sem combate. Eram, em sua maioria, jovens quase imberbes e
inexperientes, os que não haviam fugido. Os moços não fogem. A mocidade
é que foge deles quando a voz da experiência começa a se fazer ouvir. Já
tinham despido o simulado fardamento de Fuzileiro Naval e estavam à
paisana. Traziam ao pescoço, como distintivo, um lenço branco, onde
estava escrita a palavra ‘anauê’ ou ‘avante’, não lembro bem."

O desfecho, visto de dentro do palácio

Alzira conclui sua visão dos acontecimentos:

"Não fiquei sabendo nem como nem por que o general Eurico Gaspar
Dutra foi o único membro do governo que conseguiu atravessar a trincheira
integralista. (...) Não entendi, até hoje, embora os acontecimentos me
tenham sido relatados por ele próprio, como conseguiu se libertar sozinho
de seus atacantes, o general Góis Monteiro. Não sei como, nem por que, o
general Canrobert Pereira da Costa foi raptado em trajes caseiros e
apareceu prisioneiro na Esplanada do Castelo. Ignoro os motivos que
obrigaram as tropas enviadas em nosso socorro gastar mais de cinco horas
para percorrer menos de cem metros.

"Gostaria de saber as verdadeiras razões que impediram o coronel


Osvaldo Cordeiro de Farias de abrir uma porta. Muita coisa ainda está
envolta em mistério e não me atrevo a tentar desvendá-lo. Mesmo dentro
do Palácio Guanabara devem ter ocorrido outras cenas que não presenciei,
outros sentimentos que não pressenti, outros conflitos íntimos que não
percebi.

"Acompanhei, sim, a luta surda que se processava em meu Pai, traduzida


pelo ritmo inquieto de seus passos, marcando as perguntas sem resposta,
que formulava sozinho. (...) Teria confiado demais? Valeriam a pena todos
os sacrifícios que já havia feito? Sacrificara sua liberdade de pensar, seus
sentimentos pessoais, suas convicções, para manter unido um país que
teimava em se desunir. Valeria a pena?"
Durante o dia, contrariando a opinião geral, o presidente Getúlio Vargas
sai para dar o habitual expediente no Palácio do Catete. E o faz a pé, sem
seguranças, caminhando entre as pessoas para mostrar que não temia
povo. Ao saber disso, Alzira corre e vai alcançá-lo, alguns quarteirões
adiante:

"Alcancei-o quase na metade da rua Paissandu. Lentamente, em uma


atitude mais do que de coragem, quase que de desafio, avançava em
direção ao Catete. As janelas se encheram de fisionomias curiosas. Ninguém
havia dormido nos arredores do Guanabara com o ruído das metralhadoras,
à espera do inesperado. Das ruas laterais acorriam pessoas de todas as
idades, que o seguiam. Durante todo o trajeto era saudado com palmas e
exclamações de júbilo. Imperturbável, retribuía um aceno ou um sorriso,
como se fora um fato comum o Chefe da Nação ficar cercado, prisioneiro,
sem defesa, durante toda a noite, e ainda estar vivo e de bom humor."

Era o carisma que o sustentou por tanto tempo no poder, à revelia de


todas as forças que queriam derrubá-lo.

O destino dos revoltosos

O tenente Severo Fournier, que comandou o ataque ao palácio,


conseguiu escapar e asilou-se na Embaixada da Itália. Após demorados
entendimentos, o governo brasileiro conseguiu a desqualificação de crime
político e ele foi entregue às nossas autoridades para julgamento.

O tenente Nascimento, que abriu os portões do palácio à invasão, não foi


expulso da Marinha. Prosseguiu sua carreira com sucesso e, após o golpe de
1964, ainda conseguiu a patente de Almirante.

O médico Belmiro Valverde, assessor do "Chefe", assumiu sozinho toda a


responsabilidade, foi preso, julgado e condenado.

Quanto ao "Chefe", Plínio Salgado, foi preso em 26 de janeiro de 1939 e


enviado ao exílio, em Portugal. Em 1945, voltou ao Brasil, fundou o PRP-
Partido de Representação Popular, mas foi punido pelo eleitorado, pois não
conseguiu eleger nenhum representante à Assembléia Constituinte. Ainda
em 1955 concorre à eleição para a presidência da República, ficando entre
os últimos colocados.

A sorte lhe sorriu, finalmente, em 1958, quando se elege deputado


federal, conseguindo reeleger-se depois em 1962, 1966 e 1970. Fiel às suas
idéias, apoiou o golpe de 1964 e, durante o governo Médici, foi relator do
projeto que reformulava a censura aos meios de comunicação. Morreu em 7
de dezembro de 1975, num momento em que o Brasil enfrentava os dias
mais negros do autoritarismo. Se era o que queria, morreu vendo realizada
parte de seus sonhos.

Tratamentos diferenciados
Tanto a intentona comunista de 1935, quanto o "putch" integralista de
1937, foram golpes armados, intentados contra as instituições, e
executados de forma traiçoeira e covarde, à revelia da população brasileira,
mas um e outro receberam tratamento diferenciado pelo poder.

A intentona passou a figurar no "index" das Forças Armadas, relembrada


durante meio século, e usada para apontar o perigo comunista a ameaçar
permanentemente a vida das instituições democráticas.

Já o levante integralista, igualmente radical, mas em posição simétrica


ao comunismo, foi rapidamente absorvido e esquecido, tanto mais que as
idéias propaladas por Plínio Salgado, em muito coincidiam, não só com o
esquema montado pelo trio Getúlio-Dutra-Góis para se garantirem no poder,
como representavam, em linhas gerais o pensamento da caserna.

Essa atitude de misericórdia, arbitrária e temerária, possibilitou, ao longo


de nossa história, a tentativa seguida de golpes de direita, culminando com
o atentado ao Rio-Centro, em 1981, até hoje não explicado suficientemente.
Mas isso é outro assunto, para ser abordado em época oportuna.

Como tentativa de explicação para a tolerância oficial ao integralismo,


podemos admitir o fato de que ele era nacionalista, não se filiando a
qualquer corrente internacional. Ao contrário, o comunismo, tinha sua sede
em Moscou, e de lá foram emanadas as ordens a Luís Carlos Prestes e
irradiadas aos militantes, resultando no plano que levou ao levante
frustrado de 1935. Foi, também, o comunismo internacional que enviou
para o Brasil agentes estrangeiros, da Alemanha e da Argentina para
subverterem a ordem em nosso território.

Em resumo, o levante integralista de 1938, embora subversivo, ficou no


mesmo plano das revoltas de 1922, 1924, da Coluna Prestes, da revolução
de 1930 e do Estado Novo, em 1938, todos de cunho nacionalista e
abominando a interferência estrangeira em negócios que só diziam respeito
ao Brasil.

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