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Determinava também a realização de eleições diretas em 1938, nas quais o povo finalmente teria o direito de
eleger o chefe supremo da Nação e proibia a reeleição de Getúlio. Mas o processo de democratização em curso
ainda iria enfrentar muitos obstáculos. Desde fins de 1935, havia um clima de efervescência no país. De um
lado, acirravam-se as disputas eleitorais e, de outro, multiplicavam-se as greves e as investidas oposicionistas
da ANL - Aliança Nacional Libertadora contra o governo Vargas. A ANL foi fundada por tenentes dissidentes da
Revolução de 30, que defendiam a reforma agrária e combatiam as doutrinas nazifascistas.
Influência nazifascista
A conjuntura mundial estava sob forte influência do nazifascismo, representado por Hitler na Alemanha e
Mussolini na Itália. Era uma época marcada por forte sentimento nacionalista e pela centralização do poder
estatal. Os ventos fascistas se faziam sentir no Brasil, através da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização
fascista liderada por Plínio Salgado, cujas idéias conservadoras eram resumidas no lema "Deus, Pátria e
Família".
O próprio Getúlio Vargas demonstrava grande afinidade com o nazifascismo, como se pode apreender através
da forte perseguição aos judeus no seu governo. Muitos semitas emigraram impelidos pela perseguição nazista
na Europa para países como o Brasil. No entanto, se deparavam com barreiras impostas pelo Estado, como
bem ilustra uma circular editada em 1937, pelo então ministro das relações exteriores Mário de Pimentel
Brandão, que determinava a recusa do visto de entrada a pessoas de origem judaica.
A expansão dos grupos comunistas no Brasil, fortalecidos pela consolidação do regime soviético, causava um
temor generalizado.
E justamente sob a alegação de conter o "perigo vermelho", o presidente Vargas declarou estado de sítio em
fins de 1935, seguido pela declaração de estado de guerra no ano seguinte, em que todos os direitos civis
foram suspensos e todos aqueles considerados "uma ameaça à paz nacional" passaram a ser perseguidos.
O governo federal, com plenos poderes, perseguiu, prendeu e torturou sem que houvesse qualquer controle por
parte das instituições ou da sociedade. Em 1936, foram presos os líderes comunistas Luís Carlos Prestes e Olga
Benário. Olga, que era judia, seria mais tarde deportada grávida pelo governo Vargas para a Alemanha, e
morreria nos campos de concentração nazistas.
O Estado Novo
A forte concentração de poder no Executivo federal, em curso desde fins de 1935, a aliança com a hierarquia
militar e com setores das oligarquias, criaram as condições para o golpe político de Getúlio Vargas em 10 de
novembro de 1937, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser
conhecido como Estado Novo.
A justificativa dada pelo presidente foi a necessidade de impedir um "complô comunista", que ameaçava tomar
conta do país, o chamado Plano Cohen, que foi depois desmascarado como uma fraude. Alegava também a
necessidade de aplacar os interesses partidários mesquinhos que dominavam a disputa eleitoral. Na
"Proclamação ao Povo Brasileiro", em que Getúlio anunciava o novo regime, ele diz:
Censura e propaganda
Nesse cenário de controle ideológico foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), encarregado
da propaganda e promoção do regime junto à população. O DIP foi responsável pela censura a órgãos de
imprensa e veículos de comunicação, sendo um instrumento estratégico na propagação de ideologias ufanistas
e de exaltação do trabalho. Um exemplo ilustrativo dessa atuação foi a distribuição de verbas a escolas de
samba, desde que trocassem a apologia à malandragem por temas "patrióticos" e de incentivo ao trabalho.
Para difundir as idéias nacionalistas entre os mais novos o Estado tornou obrigatória a disciplina de Educação
Moral e Cívica nas escolas.
O apelo direto às massas era uma marca da demagogia populista e da relação dos dirigentes nazistas e
fascistas com a população, e Vargas soube tirar proveito máximo dessa estratégia. Fomentando o sentimento
nacionalista em torno da ameaça do comunismo, a ditadura conseguia um apoio popular massivo. Este
sentimento crescia ainda mais diante dos esforços industrializantes do governo, que aceleravam o
desenvolvimento econômico e a entrada do Brasil no contexto internacional. Foram criados órgãos estratégicos
para viabilizar este esforço de desenvolvimento, tais como o Conselho Nacional do Petróleo e o Conselho
Federal de Comércio Exterior. Foi desse período a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, que
desempenhou papel fundamental no fornecimento de matéria-prima para o setor industrial.
Como vemos, o Estado Novo conjugou autoritarismo político e modernização econômica, sob um pano de fundo
nacionalista e fascista. A relação que a ditadura varguista estabelecia com a sociedade era de controle e
vigilância. Foi instituído o sindicato oficial, filiado ao Ministério do Trabalho, e abolida a liberdade de
organização sindical. As relações entre trabalhadores e patrões ficavam assim sob controle do Estado, em que
prevalecia a lógica conciliatória e o esvaziamento dos conflitos. A visão por trás disso era de que o Estado devia
organizar a sociedade, e não o contrário.
Em contrapartida às restrições à organização dos trabalhadores, Getúlio implementou uma série de leis
trabalhistas, culminando com a edição da Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, que garantiu
importantes direitos e atendeu antigas reivindicações do movimento operário. Isso projetou a imagem de
Vargas como "o pai dos pobres".
De volta à democracia
A Segunda Guerra Mundial, deflagrada em 1939, pôs em disputa a doutrina fascista e nazista contra a doutrina
da liberal-democracia. Apesar da simpatia de Vargas pela Alemanha e pela Itália, as circunstâncias da guerra,
com a entrada dos Estados Unidos no conflito, levaram o Brasil a combater ao lado dos Aliados. Com a derrota
de Hitler em 1945, o mundo foi tomado pelas idéias democráticas e o regime autoritário brasileiro já não podia
se manter.
Getúlio Vargas foi deposto pelos militares em 29 de outubro de 1945, sob o comando de Góes Monteiro, um
dos homens diretamente envolvidos no golpe de 1937. A abertura democrática levou ao poder o general Eurico
Gaspar Dutra, como presidente eleito pelo voto popular, dando fim a um dos períodos mais autoritários e
violentos da nossa história.
Ditador brasileiro preferia a neutralidade
Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Também é fato notório que entre os membros do governo Vargas havia simpatizantes do Eixo. O mais famoso
deles era Filinto Müller, chefe de polícia do Distrito Federal, e responsável pela deportação de Olga Benário,
mulher do líder comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, para a Alemanha nazista.
Antes do rompimento das relações diplomáticas com o Eixo, o Brasil de Vargas mantinha boas relações
comerciais com a Alemanha e a Itália. Em 1936, Brasil e Itália firmaram um acordo para compra de submarinos
italianos, que seriam pagos com algodão e outros produtos brasileiros. O exército brasileiro também importava
armamentos da Alemanha nazista.
Em junho de 1940, num discurso proferido a bordo do encouraçado Minas Gerais, Vargas elogiou o
nacionalismo das "nações fortes", uma referência indireta às ditaduras direitistas da época. Tal discurso foi
proferido para a cúpula das Forças Armadas do Brasil. No entanto, entre manter boas relações comerciais com
os países do Eixo (e mesmo nutrir certa admiração por esses países) e aliar-se com eles numa guerra há
enorme diferença.
Tentativa de neutralidade
Vargas era um político hábil e, enquanto conseguiu manter o Brasil neutro na guerra, soube tirar proveito das
vantagens de ter relações comerciais tanto com os Estados Unidos quanto com a Alemanha.
Há quem acredite que, por pouco, o Brasil não entrou na guerra ao lado dos alemães, o que é um exagero.
Vargas jamais arriscaria uma aliança formal com eles, o que seria o mesmo que uma declaração de guerra ao
"vizinho rico do norte", os Estados Unidos. Diante de tal acordo, os EUA não hesitariam em invadir o litoral do
Nordeste brasileiro para ocupar portos e bases aéreas. Aliás, os militares norte-americanos tinham mesmo um
plano (jamais executado) de tomar as bases aéreas e os portos brasileiros, caso as negociações diplomáticas
falhassem. Nesse plano, os principais alvos eram Natal e o aeroporto de Parnamirim.
Mesmo nutrindo alguma simpatia pelos regimes fascistas, Vargas pretendia permanecer neutro na guerra, pois
achava que o país não deveria entrar num conflito que, na opinião dele, não traria vantagem alguma ao seu
governo. O fato de que o governo Vargas tivesse entre seus apoiadores ou membros da administração alguns
simpatizantes do nazismo (chamados na época de "germanófilos"), isso não tornava o Brasil necessariamente
um possível aliado da Alemanha.
Diferenças e semelhanças
Se havia alguma incoerência no fato de a ditadura de Vargas entrar na guerra ao lado das democracias, haveria
mais incoerência ainda numa aliança entre o Brasil e a Alemanha. Seria um absurdo um país multiétnico, de
população miscigenada, aliando-se a uma ditadura que pregava a superioridade da raça ariana e a escravização
e o extermínio das raças consideradas "inferiores".
Os que chamam a atenção para as semelhanças entre o Estado Novo e os regimes totalitários da Europa
costumam se esquecer das diferenças entre esses mesmos regimes.
A ditadura brasileira tinha em comum com o nazismo e o fascismo a perseguição aos comunistas, mas
perseguiu também os integralistas (que possuíam em seus quadros vários simpatizantes de Hitler e de
Mussolini).
Se as técnicas de propaganda empregadas pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para promover
o governo Vargas no cinema e no rádio (a obrigatoriedade de transmissão do programa a Voz do Brasil é
resquício dessa época) eram algumas das mesmas empregadas pela propaganda nazifascista, também
guardavam semelhanças em relação a algumas das utilizadas pela propaganda do governo Franklin Roosevelt,
nos Estados Unidos (Roosevelt, um presidente eleito democraticamente, também se valia de um programa de
rádio para falar ao seu povo).
Aliás, é possível que Vargas, em suas medidas paternalistas (que lhe valeram a fama de "pai dos pobres") e de
intervenção estatal na economia, também tenha se inspirado no New Deal, o programa de medidas adotadas
por Roosevelt para combater o desemprego nos Estados Unidos durante a crise econômica causada pela quebra
da bolsa de valores de Nova York, em 1929.
Outro fator que inviabilizava qualquer possibilidade de aliança entre o Brasil e a Alemanha era a aversão da
opinião pública brasileira ao nazismo. O nazismo tentou fincar raízes no Brasil. Para isso, montou uma rede de
propaganda: antes da entrada do Brasil na guerra, muitos jornais e revistas nazistas chegaram a circular entre
a comunidade de imigrantes alemães nas regiões Sul e Sudeste.
Na verdade, havia simpatizantes do nazismo e do fascismo no Brasil tanto dentro quanto fora das colônias
alemã e italiana. Apesar disso, o nazismo nunca conseguiu conquistar a simpatia da maioria dos brasileiros.
Entre os que repudiavam o nazismo estavam opositores do Estado Novo, como, por exemplo, os comunistas -
que, por razões óbvias, nutriam simpatia pela União Soviética - e alguns membros do próprio governo Vargas,
que eram simpáticos às democracias liberais (Estados Unidos, Inglaterra, etc.). Dentre estes últimos, Oswaldo
Aranha, então ministro das Relações Exteriores.
Além disso, após os afundamentos de navios brasileiros e as passeatas da UNE exigindo que o Brasil declarasse
guerra à Alemanha, grande parte da população brasileira passou a repudiar o nazismo, o que impediu o
aumento de seus simpatizantes em território brasileiro.
O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas, de Roberto Sander.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. (Sem perder o rigor da pesquisa, a narrativa de Sander é tão envolvente
quanto um bom romance de espionagem.)
National Geographic Brasil: Edição Especial, nº 63-A, São Paulo: Abril, 2005. (Edição especial lançada por
ocasião dos sessenta anos do término da Segunda Guerra. Traz uma coletânea dos melhores artigos sobre o
assunto já publicados pela revista. Há três reportagens sobre o Brasil.)
Filme:
Senta a pua! - Direção: Erik de Castro. Brasil, 1999. (Documentário que conta a história dos pilotos da FAB
durante a Segunda Guerra Mundial.)
JOSEF STALIN
21/12/1879, Gori, Geórgia
5/3/1953, Kunzewo, Rússia
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Ossip (em georgiano) ou Iosif (em russo) Vissarionovich Djugatchvili, dito Stalin, filho de um sapateiro e de
uma lavadeira, perdeu o pai cedo e, tendo também perdido os outros irmãos, foi criado pela mãe.
Após os primeiros estudos na escola religiosa russo-ortodoxa de sua cidade natal, foi enviado para o seminário
na capital georgiana, Tbilisi (ou Tiflis). Revoltado com a disciplina do estabelecimento e influenciado pela leitura
de romancistas realistas russos e de Darwin, acabou expulso do seminário, no último ano de estudos, 1899.
Entrou quase que imediatamente para a luta revolucionária. Militante do movimento social-democrático,
membro do comitê clandestino de Tbilisi, em 1902 é preso e deportado para a Sibéria, de onde foge em 1904.
Em 1905 organiza uma greve geral em Baku; encontra Lênin no congresso partidário realizado na Finlândia.
Preso novamente em 1908, é banido para Vologda, de onde foge no ano seguinte, dirigindo-se em junho para
São Petersburgo. Eleito para o comitê central do Partido Comunista Bolchevique, é preso mais uma vez em
1910. Foge em meados do ano seguinte.
Em 1912, colabora na fundação do jornal partidário Pravda (Verdade). Novamente preso em 1913, é exilado
para o círculo polar ártico, de onde seria libertado, em março de 1917, pelo governo Kerenski. Dedica-se,
então, inteiramente ao trabalho no Pravda.
Revolução Russa
Em 1913 adota o nome por que ficaria conhecido: Stalin (homem de aço). Desempenha, na Revolução de
Outubro de 1917, um papel principalmente de organizador. É nomeado comissário das Nacionalidades no
Conselho dos Comissários do Povo.
Durante a guerra civil, participa ativamente da luta, sendo inicialmente enviado a Tsaritsin, cidade às margens
do Volga que - de 1925 a 1961 - seria chamada de Stalingrado. O primeiro desentendimento sério entre Stalin
e Trotski ocorre na luta em Tsaritsin, por questões de estratégia militar.
A 3 de fevereiro de 1922, Stalin é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Em 1923, no congresso do partido, Stalin ataca abertamente a tese de Trotski
sobre a "revolução permanente". Com a morte de Lênin, a 21 de janeiro de 1924, Stalin une-se a Kamenev e
Zinoviev, sendo eleito sucessor de Lenin.
A luta aberta entre Stalin e Trotski é vencida pelo primeiro. Stalin também afasta da direção seus próprios
aliados, Kamenev e Zinoviev, que discordam da tese do "socialismo em um só país", defendida por Stalin. Este
perseguirá até a morte seus três oponentes.
Expurgos
No segundo plano quinquenal, procura dar maior ênfase ao desenvolvimento da indústria leve. Em 1936,
ordena o início dos famosos processos de Moscou, que resultam em amplo expurgo nos quadros partidários,
criando um clima generalizado de terror em todo o país. Milhares são presos, torturados e mortos. Nem mesmo
as forças armadas ficam imunes, e vários de seus principais dirigentes são fuzilados.
Em 22 de junho de 1941, a Alemanha declara guerra à URSS. Stalin assume o comando supremo das forças
armadas soviéticas, com o posto de marechal, em março de 1943.
Stalin passa a insistir com as nações ocidentais, já em guerra com a Alemanha, para que abram nova frente de
luta, a fim de aliviar o campo soviético. Dissolve, em 1943, o Komintern, organização encarregada de fazer a
ligação com os comunistas do mundo inteiro.
Participa de conferências com os dois dirigentes supremos dos EUA e do Reino Unido - Roosevelt e Churchill -
em Teerã (1943), Ialta (1945) e Potsdam (1945 - com Harry Truman, que assumira a presidência dos EUA
depois da morte de Roosevelt), estabelecendo as bases para o desenvolvimento e o desfecho da Segunda
Guerra Mundial.
Terminada a guerra, já no começo de 1946 acentua-se a divisão entre os aliados da véspera, e Stalin passa a
atacar os EUA como "imperialistas". É o início da Guerra Fria. Em 1947, ressuscita o Komintern, sob o nome de
Kominform.
O bloqueio de Berlim - de 31 de março de 1948 a 12 de maio de 1949 - leva a divisão entre os dois campos a
um ponto crítico. As divergências entre as principais nações capitalistas e o grupo socialista liderado pela URSS
persistem até muito depois da morte de Stalin.
Stalinismo
Em 1953, no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o sucessor de Stalin, Kruschev, denuncia o "culto
da personalidade" stalinista e os crimes e atrocidades atribuídos a Stalin.
Político duro e sem escrúpulos, Stalin usou seu poder para destruir todos os que surgiram em seu caminho.
Temido e admirado, é, muitas vezes, retratado como um homem de inteligência medíocre, que conseguiu seu
poder graças, exclusivamente, à esperteza impiedosa. Essa avaliação, contudo, é uma subestimação, pois a
ideologia concebida por Stalin - que passou à história com o nome de stalinismo - teve grande importância na
consolidação do regime soviético e de suas terríveis injustiças.
A ditadura fascista
Érica Turci*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Entre 1922 e 1924, Benito Mussolini governou de forma conciliatória, não se sobrepondo ao poder do rei Vítor
Emanuel 3o, o que não agradou a muitos dos membros do Partido Nacional Fascista, que queriam a
instalação de uma ditadura. Mas aos poucos Mussolini foi organizando um governo paralelo.
Em janeiro de 1923, as milícias fascistas foram transformadas na Milícia Voluntária de Segurança Nacional.
Ao mesmo tempo se formou o Grande Conselho Fascista, que se reunia às escondidas, com o objetivo de
formular as diretrizes políticas para os membros do PNF que aos poucos iam assumindo cargos no governo.
Tanto a MVSN quanto o Grande Conselho ficavam sob ordens diretas de Mussolini.
Em 1924 ocorreram eleições parlamentares na Itália, depois de uma ampla reforma eleitoral que privilegiava os
interesses do PNF. Em meio a espancamentos e fraudes, os fascistas e seus aliados conseguiram 2/3 das
cadeiras do Parlamento.
Numa das primeiras sessões do novo Congresso, em maio de 1924, o deputado socialista Giacomo Matteotti fez
um discurso apresentando provas das inúmeras fraudes durante as eleições, exigindo sua anulação. Poucos
dias depois, Matteotti foi seqüestrado e somente em agosto seu cadáver foi encontrado.
Violência
Diversos grupos antifascistas lançaram manifestos culpando Mussolini pelo assassinato do deputado Matteotti, o
que só fez aumentar a violência das milícias fascistas, que aproveitavam da situação para pressionar o governo
a acelerar a implantação da ditadura.
Em janeiro de 1925, Mussolini discursou diante da Câmara dos Deputados, assumindo a responsabilidade por
todos os acontecimentos passados, sem especificar quais, e desafiando seus adversários. Ninguém se
manifestou.
Entre 1925 e 1926, com o apoio do rei, dos industriais, do Exército e da Marinha, Mussolini promoveu uma
ampla perseguição política, impondo o PNF como partido único, e iniciando a ditadura fascista, em que ele era o
Duce (o guia) da nova fase política italiana.
A ditadura
A partir de 1925 a economia passou a ser firmemente controlada pelo Estado, com o apoio dos capitalistas
italianos. Os prefeitos das cidades passaram a ser nomeados pelo rei, por indicação de Mussolini. A censura foi
ampliada: a educação, as artes, os esportes, as rádios, o cinema e, até mesmo, o lazer da população seguiam
as orientações fascistas. Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, responsável pelo julgamento de
"crimes" políticos, sendo juízes os oficiais da MVSN.
A filiação ao PNF era quase uma obrigatoriedade entre os italianos, pois só assim se poderia prestar concursos
públicos, ter livre passagem entre as várias regiões ou exercer qualquer cargo no funcionalismo público. A sigla
do partido fascista, PNF, era explicada comicamente, no humor popular como "Per necessitá familiare" (Por
necessidade familiar).
Em abril de 1926 uma nova legislação trabalhista foi criada: patrões e empregados deveriam participar das 22
corporações organizadas pelo Estado, a fim de resolver seus embates dentro das leis impostas. Em cada
corporação, empresários e empregados tinham o mesmo direito, o problema era que os primeiros apoiavam o
fascismo e os segundos eram representados por sindicatos fascistas, os únicos que tinham permissão para
participar das corporações.
A negociação de fato não acontecia, mas era uma tentativa de suprimir a luta de classes através do modelo
corporativista fascista. Dessa forma Mussolini pretendia aniquilar as organizações trabalhistas e, ao mesmo
tempo, aumentar o poder do Estado sobre as relações sociais. Mesmo não resolvendo as questões trabalhistas,
o modelo corporativista era usado como propaganda de uma nova sociedade que o fascismo se propunha a
construir.
Tal centralização política se intensificou quando o Grande Conselho Fascista foi oficializado em 1928, pois na
prática incorporava os poderes legislativo e judiciário.
Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio dos católicos, Mussolini assinou com
o papa Pio 11 três acordos, que ficaram conhecidos como Tratado de Latrão:
1. A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o
Estado Italiano;
3. A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as
escolas.
Apesar das inúmeras medidas centralizadoras de Mussolini, o Estado Totalitário não se implantou efetivamente
na Itália, pois a monarquia foi mantida, garantindo ao Rei Vitor Emanuel 3o parte do poder, ao mesmo tempo
em que, a Igreja Católica, depois do Tratado de Latrão, passou a ter maior participação no cenário internacional
e, também, na educação e na cultura italiana.
Quando o modelo fascista iniciou seu declínio durante a Segunda Guerra Mundial, tanto a Igreja quanto a
monarquia, buscando manter seus privilégios, agiram de forma decisiva para tirar Mussolini do poder.
CAPÍTULO NOVE
O LEVANTE INTEGRALISTA
ATAQUE AO PALÁCIO GUANABARA
O "putsch" de 11 de maio não foi o início de uma nova era, mas o epílogo
de um mal sucedido namoro entre o chefe dos integralistas, Plínio Salgado e
o presidente da República, com falsas juras de uma união que Getúlio
Vargas jamais pretendia realizar.
Havia, enfim, muita gente que, pelos mais variados motivos, desejava
ver Getúlio longe do governo. Mas, sem sombra de dúvidas, eram os
integralistas que possuíam a estrutura adequada, com uma vasta
ramificação dentro das Forças Armadas e com uma milícia paramilitar
supostamente bem treinada e em condições de realizar o golpe, com pleno
sucesso.
Não ficou pedra sobre pedra. O novo regime acaba com os partidos
políticos, transformados em sociedades culturais ou beneficentes; fecha a
Câmara Federal, o Senado, as Assembléias Legislativas e as Câmaras
Municipais. Nomeia interventores nos Estados, subordinados diretamente ao
presidente da República (Os governadores que lhe foram fiéis permanecem
nos cargos. O do Rio Grande do Sul já fora obrigado à renúncia. Foram
afastados os de Pernambuco e Bahia e, meses depois, Cardoso de Melo, em
São Paulo, era substituído por Ademar Pereira de Barros).
Conspiração e ação
Além disso, o plano continha uma omissão que lhes foi fatal. Conforme
previsto, os telefones regulares foram todos silenciados, mas os
integralistas se esqueceram de que o governo contava com uma rede
telefônica oficial, baseada no PBX instalado no Palácio do Catete, o qual,
pelo trabalho de um telefonista (era um homem que manejava o PBX) fazia
a interligação dos palácios, dos quartéis, da Chefatura de Polícia e das casas
dos ministros. Em suma, para cessar de todo a comunicação, era preciso
tomar de assalto do Palácio do Catete e dominar o PBX, colocando-o a
serviço da rebelião, detalhe não considerado nas planilhas de ataque.
Foi pelo telefone oficial que o general Góis Monteiro deu alarme à
Chefatura de Polícia e ao forte de Copacabana, quando revoltosos tentaram
arrombar as duas portas de seu apartamento. Foi por esse telefone,
também, que Alzira Vargas conseguiu se comunicar com o mundo externo,
dando conta dos apuros por que passava o palácio residencial da
Guanabara.
"Fui ao telefone. Estava cortada a linha. Corri à varanda que dava para a
rua e pude ver automóveis e caminhões, com gente armada, tendo um dos
carros, sobre o estribo, granadas de mão, que pude reconhecer, do alto
para baixo, devido à luz clara da lua. Entretanto, os assaltantes não se
lembraram de que eu possuía um telefone oficial, com o qual pude
comunicar-me com a Fortaleza de Copacabana, o Forte Duque de Caxias e a
Polícia, solicitando o envio urgente de tropas de choque para acudir ao
edifício onde me encontrava bloqueado.
Foi nessa ocasião que, como vimos, Dutra e mais doze soldados
entraram pela portaria dos fundos, apelidada de "Dondoca", e conseguiram
chegar ao edifício onde se encontravam sitiados os demais.
"No silêncio da noite, ecoou um tiro. Nem me mexi. Minha cabeça estava
começando a entrar em contato com o travesseiro para despedir a ameaça
de enxaqueca. Além do mais, não era a primeira vez que isso acontecia. Um
soldado sonolento apoiar-se à arma e, inadvertidamente, puxar o gatilho,
era tão comum. Um segundo tiro me fez considerar que era muita
coincidência: duas sentinelas distraídas, quase ao mesmo tempo. No
entanto, só decidi renunciar ao meu repouso quando Jandira gritou
assustada, abrindo a janela do quarto. Dois projéteis mais se alojaram,
desta vez na parede, a poucos centímetros do batente de sua janela, em
resposta imediata à sua imprudência.
"(...) Com a mais absoluta inconsciência, saí feita uma flecha em direção
à Secretaria. Por ser o caminho mais curto, desprezei o corredor e passei
por dentro dos quartos, que se comunicavam todos. Papai estava colocando
o revolver à cintura, por cima do pijama e perguntou onde eu ia. Eu também
não sabia.
"(...) O investigador de plantão, Manuel Pinto da Silva, estava em baixo,
tentanto fechar a grade de ferro. Também tinha sido despertado de
surpresa e, de pijama, ainda, empunhava uma metralhadora. Disse-me:
‘Parece que estão atacando o palácio. (...)"
A defesa improvisada
A espera angustiante
"Não fiquei sabendo nem como nem por que o general Eurico Gaspar
Dutra foi o único membro do governo que conseguiu atravessar a trincheira
integralista. (...) Não entendi, até hoje, embora os acontecimentos me
tenham sido relatados por ele próprio, como conseguiu se libertar sozinho
de seus atacantes, o general Góis Monteiro. Não sei como, nem por que, o
general Canrobert Pereira da Costa foi raptado em trajes caseiros e
apareceu prisioneiro na Esplanada do Castelo. Ignoro os motivos que
obrigaram as tropas enviadas em nosso socorro gastar mais de cinco horas
para percorrer menos de cem metros.
Tratamentos diferenciados
Tanto a intentona comunista de 1935, quanto o "putch" integralista de
1937, foram golpes armados, intentados contra as instituições, e
executados de forma traiçoeira e covarde, à revelia da população brasileira,
mas um e outro receberam tratamento diferenciado pelo poder.