You are on page 1of 14

SOBRE O CRIME DE NARCOTRÁFICO E LAVAGEM DE CAPITAIS

Muito tem se discutido em todas as esferas da sociedade sobre os temas

drogadição e narcotráfico. São milhões de usuários de estupefacientes em todo o

mundo, os quais ao consumirem tais substâncias que causam farmacodependência,

acabam também por contribuir para o aumento dos demais tipo de criminalidade.

Não obstante, quando falamos especificamente no consumo de tais

substâncias, temos que nos eximir de qualquer tipo de hipocrisia, para em primeiro

plano constatar, e depois finalmente aceitar, que o uso de substâncias que geram

dependência química não são apenas aquelas tidas pelas mais variadas legislações

nacionais e convenções internacionais como ilegais, mas também aquelas que são

reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos como legais. Daí a necessidade do

operador do direito analisar brevemente o “universo” da droga (principalmente os

motivos que levam as pessoas a procurar tais substâncias, bem como suas

consequências na sociedade) não apenas sob a ótica do direito penal, mas também

com a ajuda de extratos suplementares oriundos dos estudos das ciências sociais e da

própria medicina.

Encarar o “problema da droga” como um problema exclusivamente do


âmbito da repressão estatal, da aplicação de sanções legais para punir produtores,
intermediários e consumidores, não é suficiente para minimizar substancialmente os
efeitos da drogadição, se bem que é indispensável o combate direto por parte do
poder estatal contra o comércio de estupefacientes. Se uma parte significativa da
sociedade recorre ao uso de entorpecentes, nada mais óbvio de que nem mesmo o
desenvolvimento e bem-estar gerado pelo liberalismo/capitalismo foi suficiente para
afastar as pessoas das zonas obscuras de uma vida calcada no consumismo, na
competição e na valoração exacerbada do ter e não do ser.
Como bem assinala Richard Bucher, especialista em toxicomania, em sua
obra Drogas e Drogadição No Brasil (pg.02):

Até hoje, esta política tem sido dominada pela


preeminência atribuída à repressão. A abordagem repressiva é
indispensável concernente à oferta de produtos ilícitos. No entanto,
privilegiando a repressão em detrimento de outros modos de
intervenção, esquece-se de considerar uma série de fatores que são
fundamentais para um trato pertinente da questão. Esquece-se, por
exemplo, que as drogas ilícitas, alvo das investidas repressivas, não
são as drogas mais consumidas no Brasil, nem as que mais geram
dependências; que a presença de drogas na sociedade não é um
artefato criado por traficantes internacionais, mas que obedece a uma
lógica intrínseca (e às vezes perversa) ao próprio funcionamento
dessa sociedade; que a procura por drogas não está ao alcance de
mecanismos de intimidação repressiva; que a presença de “fatores de
risco” na população é uma questão de saúde pública e de educação
(e não de polícia), e que assim deve ser tratada. (BUCHER, Drogas
e drogadição no Brasil,1992, p.02)

Ainda Richard Bucher:

O célebre “combate as drogas” não passa de uma


fantasia, quando pretende erradicar as substâncias psicoativas da
vida social, como se elas fossem algo ocasional e supérfluo, um mal
acrescentado por fora e não inerente à sociedade. Tratadas desta
forma, as drogas transformaram-se em um mito carregando uma
série de não-ditos – e todo mito tem uma função social, seja tão
somente aquela de bode expiatório. Responsabilizadas pela maioria
dos males que assolam a juventude ou a sociedade como um todo,
elas são então apresentadas como típico inimigo externo ameaçando
o equilíbrio e a harmonia de inocentes populações. (BUCHER,
Drogas e drogadição no Brasil,1992, p.03)

Toda sociedade tem suas drogas (ou as drogas que merece), sejam lícitas ou

ilícitas. Há de se salientar que os limites entre as substâncias consideradas ilícitas e as lícitas

não são absolutos, mas flutuantes e sujeitos à relatividade cultural e histórica. Os excessos

do consumo de estupefacientes em certos momentos históricos e em certos países podem

constituir um sintoma social, a ser entendido no contexto global de outros sintomas de

marginalização ou de disfuncionamento sociocultural e econômico.

É sabido que o ser humano sempre procurou uma espécie de fuga para as suas

dores, para as suas desilusões, para os revezes inevitáveis que se sucedem durante a sua
existência individual. A procura por um alívio é inerente ao homem, sujeito aos percalços de

uma existência carregada de deveres e de direitos. Em todas as sociedades e em todas as

épocas, a drogadição, em maior ou menor escala, se fez presente. O uso de bebidas

alcoólicas e de ervas alucinógenas, ou então de substâncias voltadas para o curandeirismo

sempre acompanharam a humanidade na sua jornada de luta contra a escassez, seja ela

material ou emocional.

A verdade é que as drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas sempre foram

companheiras do ser humano na sua busca por alivio para suas tensões e aflições ou

simplesmente serviam de auxiliares no arquitetamento de mundos imaginários onde o

próprio indivíduo usuário construía um lugar de felicidade e paz somente dele. A droga é um

sucedâneo da cultura, e é normal que ela siga as evoluções desta última. Há períodos onde,

em consequência de mudanças de estilo de convivência de uma população, há cada vez

menos espaço participativo para a droga, onde sua inserção em rituais compartilhados pela

comunidade se enfraquece, onde o único espaço no qual consegue ainda penetrar, se situa no

“vazio cultural interno” de indivíduos isolados e problemáticos. Por conseguinte, estes se

tornam os marginalizados daquelas sociedades cujas expressões culturais, em crise, perdem

a sua coesão integradora.

Em realidade, o problema das drogas é um problema que abrange variadas

esferas do conhecimento e da sociedade. É um problema de saúde pública, de segurança, de

geopolítica, e por consequência, nos dias atuais, um gravíssimo problema para as

autoridades competentes resolverem ou minimizar os seus feitos, haja vista que as

organizações criminosas podem ditar os segmentos de políticas públicas, devido ao alto grau

de montante que movimentam e do poder corruptivo que concentram.


Portanto, o que nos interessa no tema aqui em questão, é o tráfico de drogas

ilícitas e o seu comércio, e principalmente a lavagem de capitais ou branqueamento1, porque

nenhuma organização criminosa se sustenta se não detiver certo poderio econômico e não

puder fazer circular os montantes obtidos das zonas escuras2 do tecido social. E não

podemos deixar de salientar que a criminalidade organizada que espalha os seus tentáculos

pelo globo terrestre, portanto, internacional, também se estabelece e atinge os seus objetivos

devido aquilo que bem observa Hassemer,

A criminalidade organizada não é apenas uma


organização bem feita, não é somente uma organização
internacional, mas é, em última análise, a corrupção da legislatura,
da Magistratura, do Ministério Público, da polícia, ou seja, a
paralisação estatal no combate a criminalidade... é uma
criminalidade difusa que se caracteriza pela ausência de vítimas
individuais, pela pouca visibilidade dos danos causados bem como
por um novo modus operandi (profissionalidade, divisão de tarefas,
participação de gente insuspeita, métodos sofisticados etc.) Ainda
mais preocupante, para muitos, é fruto de uma escolha individual e
integra certas culturas (HASSEMER, 1993,p.85 e ss).

Alberto Silva Franco ressalta,

O crime organizado possui uma textura diversa: tem


caráter transnacional na medida em que não respeita as fronteiras de
cada país e apresenta características assemelhadas em várias nações;
detém um imenso poder com base numa estratégia global e num
estrutura organizativa que lhe permite aproveitar as fraquezas
estruturais do sistema penal; provoca danosidade social de alto
vulto; tem grande força de expansão, compreendendo uma gama de
condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas difusas; dispõe de
meios instrumentais de moderna tecnologia; apresenta im intrincado
esquema de conexões com outros grupos delinquentes e uma rede
1
Há três terminologias que os países utilizam para este delito. A primeira é a da língua francesa blanchiment d'argent,
que resultou em espanhol e português na expressão “branqueamento de dinheiro”. Já a experiência norte americana
e alemã, optou por money laudering e gueldwaschen, ou seja, que nominam o ilícito, tendo em vista a ação
desenvolvida de lavagem ou de ação e conduta que produzam o resultado visado. Já as línguas francesa, espanhola e
portuguesa, mais especificamente de Portugal, optaram pelo resultado, ou seja, o branqueamento. A única expressão
autônoma é a dos italianos, os quais denominam o ilícito de riciclaggio.
2
Ao falarmos aqui em zonas “escuras” queremo-nos referir, muito precisamente, àquele lado da sociedade onde, por
ausência de transparência ou por provocada opacidade, se realizam as mais diversas atividades ilícitas. Porém, o
conceito (zonas “escuras”) não deixa de suscitar algumas ambiguidades, no momento em que cotejamos com a ideia
central da chamada “sociedade de risco” que Ulrich Beck, desde há alguns anos, introduziu no pensamento
sociológico. Como se sabe, a tese central da chamada “sociedade de risco” consiste na afirmação e defesa de que o
nosso tempo se caracteriza pelo fato de os “lados sombrios” do progresso determinarem, cada vez mais, a dinâmica
social.
subterrânea de ligações com os quadros oficiais da vida social,
econômica e política da comunidade; origina atos de extrema
violência; exibe um poder de corrupção de difícil visibilidade; urde
mil disfarces e simulações e, em resumo, é capaz de inerciar ou
fragilizar os Poderes do próprio Estado. (FRANCO, Boletim
IBCCrim, 1997, n.21, p.5).

Para fins de ilustrar a gravidade do problema narcotráfico/lavagem de dinheiro,

faz-se necessário citar o que o jornalista bielorrusso, ex-agente da KGB, Daniel Estulin

escreveu em sua obra Los Senõres de las sombras:

Según la investigación de 2001n del Congreso de


Estados Unidos, resumida por el senador de Michigan Carl Levin,
“los bancos estadunidenses y europeos blanquean anualmente entre
500.000 millones y un billón de fondos criminales de todo el mundo,
la mitad de los cuales los blanquean exclusivamente los bancos
estadunidenses. Se calcula que la mitad de esse dinero llega a
Estados Unidos”. Es decir, que em lá década de 1990, los bancos
estadunidenses blanquearon y pusieron em circulación em la red
financeira entre 2,5 y cinco billones de dólares (de dinero negro e
corrupto. Sin el dinero ilegal, la economia de Estados Unidos se
hundiría. Según datos actuales, el déficit comercial de Estados
Unidos ronda casi los 900.000 millones de dólares. Compárese com
la suma de dinero blanqueada anualmente de 250.000 a 500.000
millones. El dinero negro cubre parte del déficit estadunidense em su
balance comercial. (ESTULIN, Los senõres de las sombras, 2007,
p.242).

Para um breve enquadramento do problema, faz-se necessário compreender que

em todas as sociedades os bens, independentemente da sua natureza sempre gozaram de

mobilidade e a sua circulação constituiu e constitui um dos índices mais importantes para a

valoração do dinamismo ou desenvolvimento de qualquer comunidade humana devidamente

organizada. Certo está Faria da Costa quando diz,

A imobilidade ou cristalização dos bens determina,


quase sempre, uma equivalente imobilidade ao nível político-social
e, consequentemente, também dentro do espaço do direito. (COSTA,
O branqueamento de capitais, in Direito Penal Econômico e
Europeu: Textos Doutrinários, 1999, p.303).

Seguindo raciocínio do autor especializado em direito penal econômico,

podemos concluir que o crime da lavagem de capitais sempre se dará naqueles lugares onde
há imensa liberdade para a circulação de capitais. A lavagem sempre será facilitada em

lugares em que não há mecanismos legais que rastreiem a fonte do dinheiro sujo.

Portanto, onde há circulação de riqueza, ou seja, de dinheiro, haverá lavagem

de capitais.

Com bem assinala Faria da Costa,

Nesta óptica, o dinheiro representa também a riqueza, a


qual, quando olhada pelo direito penal, pode ser protegida nos
momentos da sua formação, conservação e circulação.(COSTA, O
branqueamento de capitais, in Direito Penal Econômico e Europeu:
Textos Doutrinários, 1999, p.303).

Aprofundar-se no estudo da lavagem de capitais é aprofundar-se nos estudos da

circulação do dinheiro. Por consequência é deslindar o próprio sistema financeiro

internacional.

Mas o que é o dinheiro?

Mais uma vez recorremos aos ensinamentos de Faria da Costa:

O dinheiro é a palavra de uso que, na linguagem


cotidiana, traduz vários significados, nos quais cabe a noção
econômica de moeda. Se o dinheiro (ou a moeda) representa
qualquer coisa que funciona geralmente como intermediária de
trocas, assumindo-se, desse jeito, com uma utilidade, que não é
obviamente uma utilidade intrínseca, já a verbalização da sua
representação concreta se afirma, quanto a nós, através de um valor
de uso próprio. (COSTA, O branqueamento de capitais, in Direito
Penal Econômico e Europeu: Textos Doutrinários, 1999, p.303).

Mas qual é o bem jurídico protegido quando falamos em legislação

criminalizadora da lavagem de capitais?


A delimitação do bem jurídico protegido pela lei de lavagem de dinheiro é bem

difícil, uma vez que a prática deste delito lesiona um grande número de bens essenciais,

indispensáveis, sendo impossível dizer qual deles detêm maior importância.

Para o direito penal, há a necessidade de se ater sobre o aspecto social do bem

jurídico, devendo ser um bem imprescindivel para a harmônica convivência humana em

sociedade.

São os bens jurídicos protegidos pela lei de lavagem o patrimônio: a saúde

pública, a ordem tributária, a ordem sócio-econômica e a administração da justiça. Quanto a

administração da justiça, foi entendido com um bem protegido pela lei da lavagem, pelo

cunho preventivo que a lei representa, a partir do momento que pretende evitar o crime

antecedente (ou precedente) criminalizando-se a conduta que faz dos produtos ilícitos

capitais com aparência legal, ou seja, sem vestígios dos crimes graves.

Roberto Podval em seu estudo sore o tema afirma que o bem tutelado é a

administração pública, pois afinal, os autores da lavagem, visando proteger os responsáveis

pelo crime antecedente, acabam obstruindo a justiça, impossibilitando a punição dos

culpados.

É impossível separar o narcotráfico da lavagem de capitais.

Pode-se falar genericamente em “capitalismo da droga?

Mohsen Toumi afirma que sim. Em um notável estudo publicado em Science et

Vie Economie de novembro de 1989, Mohsen Toumi assiná-la que:

É necessário dizer que há algo que tem de ser feito: o


conjunto do tráfico de estupefacientes teria gerado 500 bilhões de
dólares em 1988. Ou seja, o equivalente do PIB da França em 1985!
Entenda-se que este número repousa na estimativa do volume físico
de droga consumida e, neste domínio, só é possível extrapolar a
partir das apreensões efetuadas. No caso da heroína, as autoridades
americanas e francesas calculam que tais apreensões não
representam mais de 5% da produção mundial. No total, no último
ano, o consumo de folhas (coca, marijuana, haxixe) terá atingido
30.000 toneladas e o pó (cocaína e heroína) 800 toneladas.
Multiplicando essas quantidades pelos preços de venda a retalho
praticados um pouco por todo o mundo, obtêm-se montantes que
variam entre 300 e 500 bilhões de dólares. M. Kendall, secretário-
geral da Interpol, inclina-se mais para o segundo número. Mas,
qualquer que seja o montante, esses narcodólares representam uma
massa enorme de dinheiro líquido. É aí que começam os problemas
dos que auferem a maior parte dessa fonte de riquezas: os
transformadores de produtos base, os transportadores e os grossistas.
(MONCOMBLE, O poder da droga na política mundial, 1997, p.9).

Yann Moncomble afirma em sua obra O Poder da Droga na Política Mundial,

O primeiro é apenas um problema físico: como


armazenar e transportar uma tal quantidade de notas? Parece difícil a
sua deslocação ao longo do dia num furgão blindado como se este
fosse um porta-moedas e, naturalmente, é suspeito pagar a dinheiro
toda uma série de transações. Em numerosos países, de resto, os
pagamentos in cash não são admitidos a partir de um dado montante.
Impossível, pois, depositar no banco uma mala cheia de notas; é a
melhor maneira de levantar suspeitas, pelo menos nos grandes
estabelecimentos com porta aberta. Segundo problema: o dinheiro,
continuando líquido, não traz qualquer benefício. É necessário
investi-lo e colocá-lo, pois. (MONCOMBLE, O poder da droga na
política mundial, 1997, pgs. 9 e 10).

Por isso a necessidade de “branquear”, isto é, de o fazer mudar de natureza

(transformá-lo em moeda escriturada), de dar-lhe uma aparência respeitável (dissimulando a

sua origem delituosa) e utilizá-lo de maneira aproveitável (em ativos mobiliários ou

imobiliários).

A lavagem de dinheiro possui três momentos de execução: ocultação,

mascaramento e integração.

A ocultação consiste em desvincular-se materialmente de grande quantidade de

dinheir sujo. Quase sempre a ocultação ocorre em local diverso onde foi praticado o crime

precedente.
O mascaramento é uma fase que engloba muitas manobras. Pode-se dizer que é a

ocultação do produto ilícito mediante a realização de inúmeras transações financeiras. É a

tentativa de apagar o “rastro”, as “pegadas” contábeis dos fundos ilícitos através de um

complexo sistema que envolve inúmeras transações financeiras, visando dificultar a

detectação desses fundos às autoridades.

O último momento da lavagem é o da integração. É a volta do dinheiro lavado

com a finalidade de reintegrar-se ao mercado financeiro. É nesta fase que o dinheiro sujo já

adquiriu feição legal.

Este expressão, “branquear” não é recente, eis que remonta à época da proibição

nos EUA, quando as receitas de vendas de álcool ilícito em notas bancárias eram investidas

em lavanderias de bairro, legalmente inscritas no registro comercial.

Novamente Yann Moncomble esclarece:

O sistema era simples. Comprar um estabelecimento a


dinheiro era perfeitamente possível nessa época. Tinha uma dupla
vantagem: por um lado, o dinheiro “sujo” era investido num
comércio legal, por outro, pagando os clientes em espécie, era fácil
aumentar a receita normal da semana juntando-lhe o benefício
proveniente do tráfico de álcool. O gerente levava tudo ao seu banco,
que de nada suspeitava.
Hoje existem numerosos e melhores meios para
branquear os narcodólares. O velho sistema da lavanderia do tempo
da proibição ainda é utilizado. A compra de um estabelecimento
comercial onde os clientes pagam a dinheiro é um valor seguro.
Segundo os especialistas, é difícil descobrir nesses investimentos o
que provém da droga ou de outras formas de delinquência.
(MONCOMBLE, O poder da droga na política mundial, 1997,
p.10).

Os numerosos e melhores meios se dão através de instituições financeiras,

paraísos fiscais, centros Off Shore, bolsas de valores, companhias seguradoras, mercado

imobiliário, etc.
Rodrigo Santiago afirma:

Foi justamente, com o aparecimento do fenômeno do


crime internacional organizado que se sentiu necessidade de passar a
punir o branqueamento de capitais e outros produtos do crime.
O conceito de crime organizado deixa-se recortar pela
soma dos seguintes elementos: a existência de uma entidade com
vista à prática de crimes, durante um longo período ou por um
período indeterminado de tempo; adoção de métodos operacionais
planeados metódica, sistemática e friamente, determinados pela
vontade de maximização das vantagens; com recurso ao terror; e o
desiderato de obtenção de influências políticas e econômicas.
(SANTIAGO, O branqueamento de capitais e outros produtos
do crime, publicado em Direito Penal Econômico e Europeu:
textos doutrinários,Vol. II, 1999, pgs. 364 e 365).

Por causa da internacionalidade das organizações criminosas que se dedicam a

traficar estupefacientes é que se pode falar que a farmacodependência de substâncias, tais

como a cocaína e a heroína, é um fenômeno global.

Há de se salientar que embora o crime organizado se situe principalmente no

âmbito do tráfico internacional de estupefacientes, também os tentáculos se estendem a

outras áreas da criminalidade, tais como o terrorismo, a prostituição, o tráfico de órgãos, o

tráfico de armas, a pornografia, o contrabando, etc.

Não há dúvidas do choque e do prejuízo que o narcotráfico e a lavagem de

capitais causa a ordem democrática. Sua difusão é susceptível de atingir substancialmente o

princípios da comunidade jurídica, a qual tem o dever de assumir o respectivo combate

contra o organized crime.

Faria da Costa, ao distinguir o crime organizado dos demais, afirma,

De sorte que o que distingue, em termos muito simples


e sintéticos este tipo de criminalidade se pode resumir no seguinte:
a) perigosidade, gravidade e extensão dos fenômenos que o
sustentam; b) particular ressonância ao nível da opinião pública,
determinando, simultaneamente, repúdio social, mas outrossim
amolecimento da consciência ética, quando se veem as instâncias do
poder público ficar bloqueadas ou ser, de forma absoluta,
inoperantes; c) racionalização e inserção sociológica dentro dos
parâmetros da chamada “cultura da corrupção”; d) afirmação
inequívoca de uma dimensão tipicamente internacional; e)
dificuldades, particularmente sensíveis, na determinação e
consequente ataque a uma tal fenomenalidade através dos comuns
meios jurídico-penais.3

Como se vê, a “institucionalização” da criminalidade organizada, no mínimo

desmoraliza o Estado democrático de direito. Não é admissível um “Estado dentro de um

Estado”.

E ninguém duvida de que existem no mundo Estados verdadeiramente minados e

controlados por organizações criminosas, com o consequente recuo da sua conformação

democrática. Tal é o caso da Colômbia com os seus cartéis e as FARC-EP.

Alguns esforços tem sido feitos para combater a lavagem de capitais oriundos do

narcotráfico. Desde os anos 80, nos Estados Unidos tem-se adotado o lema “follow the

money” por entidades como a Drug Inforcement Administration, e o Federal Bureau of

Investigation.

Inúmeros instrumentos de cooperação internacional e acordos foram feitos, tais

como o Plano de Ação contra Lavagem de Dinheiro (ou GPML – Global Plan Against

Money Laudering), Convenção de Viena, Grupo de Ação Financeira sobre lavagem de

dinheiro – GAFI, CICAD (Comissão Interamericana para o controle do abuso de drogas),

Unidades Financeiras de Inteligência – UFI (ou FIU – Financial Intelligence Unit), Grupo

de Egmont, além é claro de outras entidades e organismos voltados para o combate a

lavagem de capitais.

3
Apud COSTA, José Faria, O branqueamento de capitais, Conferência proferida em Madrid em outubro de 1992,
Jornadas en honor al Professor Klaus Tiedemann, citada a partir do original, 9.
A lavagem de capitais tornou-se para o crime organizado uma necessidade

imprescindível. A luta contra ela coenvolve sempre o combate à ação delituosa prévia, da

qual nasce a vantagem que carece de ser branqueada.

Por isso se entende que a melhor maneira de abordar e consequentemente

minimizar os efeitos do narcotráfico, é através de mecanismos legais que regulem e

monitorem o sistema financeiro para fins de inibir a lavagem de dinheiro sujo, aprofundando

o estudo das etapas inerentes a lavagem, sem contudo ferir princípios jurídicos consagrados

tais como o princípio bancário da não ingerência e a regra da discrição (segredo)

profissional.

Entretanto, até que ponto o Estado pode tomar medidas de cunho persecutório

sem ferir direitos e garantias do cidadão?

Para que se possa apresentar a denúncia, os indícios devem ser seguros e não

meras probabilidades. Ressalte-se ainda que deve haver a concorrência de uma pluralidade

de indícios e a existência de razões dedutivas. E entre os indícios e os fatos deve existir um

enlace preciso, racional, ou seja, é de suma necessidade a prova real do delito procedente.

Por isso, pode afirmar-se o caráter subsidiário ou acessório do branqueamento,

pois a respectiva atuação pressupõe necessariamente, um fato ilícito prévio 4, ou seja, o crime

de narcotráfico.

4
SANTIAGO, Rodrigo, O branqueamento de capitais e outros produtos do crime, in Direito Penal Econômico
e Europeu: Textos Doutrinários, vol. II, 1999, pg. 366, ed. Coimbra,.
BIBLIOGRAFIA
Bucher, Richard, Drogas e Drogadição no Brasil, ed. Artes Médicas, 1992.

Moncomble, Yann, O Poder da Droga na Política Mundial, ed. Hugin, 1997.

Santiago, Rodrigo, O branqueamento de capitais e outros produtos do crime,

in Direito Penal Econômico e Europeu: Textos Doutrinários, Vol.II, ed.

Coimbra, 1999.

Costa, José Faria da, O branqueamento de capitais (Algumas Reflexões à Luz

do Direito Penal e da Política Criminal), in Direito Penal Econômico e

Europeu: Textos Doutrinários, Vol.II, ed. Coimbra, 1999.

Santos, Cláudia Fernandes dos, Lavagem ou ocultação de bens, direitos e

valores, em http://jus.uol.com.br/revista/texto/3838

Gomes, Alzeni Martins Nunes, Lavagem de Dinheiro, em

http://jus.uol.com.br/revista/texto/4498

You might also like