Professional Documents
Culture Documents
Resumo
Abstract
Sustainable development has emerged as the main objective of the global ecology movement
at the end of the 20th century. That’s a proposal that aims uniting economical development
and environmental preservation, satisfying present and future human needs. However, the
analysis of the “Brundtland Report” (UN) presents contradictions concerning its sustainable
development proposal, which raise doubts about the possibilities of those goals held by the
apologists of this new model of development. This work aims at exploring those
contradictions and demonstrating that social and environmental problems generated by
capitalism will not be solved by the sustainable development proposal, because this
development model does not question capitalist social relations, only proposes changes in its
technical relations.
1
Sobre o primeiro pressuposto ver TOSTES, 2006. Em relação ao segundo pressuposto, encontra-se a
contradição capital-trabalho em O capital de Marx; sobre a “segunda contradição do capital” – capital-natureza –
ver MONTIBELLER Fº., 2004. O terceiro pressuposto é baseado, sobretudo, em LAYRARGUES, 1998 e
LOUREIRO, 2006.
Desenvolvimento promovida pela IUCN,2 em Ottawa, Canadá. Praticamente utilizado como
sinônimo de ecodesenvolvimento, o desenvolvimento sustentável e eqüitativo deveria ter por
princípio integrar conservação da natureza e desenvolvimento, de modo a satisfazer as
necessidades humanas fundamentais mantendo a integridade ecológica e respeitando a
diversidade cultural e a autodeterminação social (MONTIBELLER Fº., 2004, pp. 49-50).
Em 1987, a CMMAD3 retoma o conceito de DS no relatório Nosso Futuro Comum,
fazendo a seguinte definição:
2
IUCN é a sigla em inglês da União Internacional para a Conservação da Natureza, uma organização não-
governamental criada em 1948 com o objetivo de elaborar estratégias para a conservação da natureza.
3
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU.
Internacional (FMI) devem ter um papel central no financiamento dessas novas tecnologias.
Outra forma de mitigar a situação é a transferência de tecnologias limpas do “Norte” para o
“Sul”.
Ajuda financeira e transferência de tecnologias somente são possíveis se houver mais
cooperação entre os povos e aqui temos o segundo elemento básico do DS. Essa cooperação é
fundamental para “assegurar o progresso humano continuado e a sobrevivência da
humanidade” (ibidem, p. 2). Há uma crença de que governos realmente representam os povos
e, assim sendo, governos devem cooperar uns com os outros e ter consciência de que
desenvolvimento humano (econômico) não está separado das questões relativas ao meio
ambiente. Deve haver cooperação entre todos os países devido à interdependência econômica
e ecológica.
O terceiro elemento básico da proposta de DS é a expansão do mercado. Há autores
que defendem a tese da pobreza como culpada dos problemas ambientais. A CMMAD, por
exemplo, afirma que:
4
A proposta de ecodesenvolvimento surgiu das discussões da ECO 72 em Estocolmo, na Suécia. O conceito foi
originalmente concebido por Maurice Strong e posteriormente desenvolvido principalmente por Ignacy Sachs.
A noção de justiça social presente na proposta de ecodesenvolvimento busca um “teto
de consumo material”, com um nivelamento médio dos padrões de consumo em que o
“Norte” deve diminuir e o “Sul” aumentar o consumo. Por outro lado, na proposta de DS a
justiça social será alcançada através de um “piso de consumo material”, com o crescimento
econômico tanto do “Sul” quanto do “Norte”, desde que sejam criadas tecnologias mais
eficientes que produzam mais bens com menos recursos e poluam menos (ibidem, pp. 148-
151).
No que tange à questão da tecnologia, o ecodesenvolvimento almeja a produção de
tecnologias que melhor se adaptem às condições naturais e culturais de cada ecorregião do
mundo, de modo a satisfazer as necessidades culturais humanas e, ao mesmo tempo, respeitar
os limites naturais de cada ambiente. Por sua vez, a proposta de DS aponta a necessidade da
transferência de tecnologias do “Norte” para o “Sul” (ibidem, pp. 151-152).
Com relação às estratégias de política-econômica, a proposta do ecodesenvolvimento
critica o livre mercado e defende uma maior participação do Estado e dos movimentos
sociais, enquanto o DS defende uma política-econômica bem mais liberal, tendo inclusive a
expansão do mercado como um dos eixos da proposta (ibidem, pp. 152-153).
Após fazer essas considerações acerca das diferenças entre as duas propostas de
desenvolvimento, Layrargues chega a seguinte conclusão:
Ao que tudo indica, o discurso ambiental vem sendo apropriado pelas forças de
mercado. Um indício disso pode ser apreendido dessas diferenças entre as propostas de
desenvolvimento. O ecodesenvolvimento, com sua crítica ao livre mercado, com a defesa de
um “teto de consumo material” que limitaria o mercado e diminuiria o consumo de supérfluos
e com sua defesa à autodeterminação dos povos na criação de tecnologias mais apropriadas a
cada região, não conseguiu ser a idéia-força que pretendia, visto que sofria bastante
resistência do capital. Durante os anos 1970 e 1980, a discussão entre preservação da natureza
e desenvolvimento não conseguiu encontrar no ecodesenvolvimento uma solução. Entretanto,
no final dos anos 1980 surge o desenvolvimento sustentável, um conceito vago e contraditório
que, como num passe de mágica, “permitiu a reunião de ‘desenvolvimentistas’ e
‘ambientalistas’, conseguindo pôr sob seu guarda-chuva posições de início politicamente
inconciliáveis” (AMAZONAS & NOBRE, 2002).
A proposta de DS apresentada em Nosso Futuro Comum reforça o capital. Logo, o DS
tornou-se um instrumento geopolítico interessantíssimo na cooptação do movimento
ambientalista. Enrique Leff observou isso ao afirmar que:
↓ (economia) ↓
Depredação Excedente de Poluição
população
Problemas ambientais
O processo produtivo está na raiz da crise ambiental. É esse processo que determina o
uso mais ou menos intenso de certo recurso natural (problema da depredação e extinção), a
quantidade maior ou menor de detritos após o processo produtivo (problema da poluição) e
quem vai participar e de que forma no processo produtivo (problema do excedente de
população, da pobreza). O processo produtivo, dessa forma, é um fator-chave para o
entendimento da crise ambiental.
A partir do início da produção da vida material, novas relações entre o ser humano e o
meio ambiente foram forjadas, como: a) desenvolvimento de um conceito de tempo: distingue
a ação (presente) dos objetos (passado) com os quais se realiza e do propósito (futuro); b)
produção de instrumentos sem a pressão do “imediato”, possibilitando a produção de objetos
não-imediatos e com isso a criação de necessidades espirituais; c) possibilidade de
objetivação da natureza e do desenho mental, permitindo o desenvolvimento tecnológico e a
reflexão sobre os limites de seu controle. Sendo assim, “o eixo ou atrativo em torno do qual
se organizou toda a vida humana foi a produção da vida material, que teve raiz na fabricação
de instrumentos. A fabricação de instrumentos permitiu um relacionamento novo com o meio
ambiente” (ibidem, p. 79).
Sem dúvida alguma, pode-se afirmar que todas as sociedades existentes até hoje
sempre destruíram o meio ambiente, porém de maneiras diferentes e com intensidades
diferentes. O conteúdo, que é a relação homem-ambiente ou sociedade-natureza, permanece o
mesmo no sentido de uma relação técnica necessária (o trabalho humano); no entanto a
forma, esta sim, muda de acordo com a organização social, pois está ligada às relações sociais
de produção, que faz com que as relações técnicas sejam mais ou menos intensas quanto à
destruição e poluição do meio ambiente. Com isso, questionar o conteúdo sem questionar a
forma não faz sentido algum. No entanto, “curiosamente as relações no interior do processo
produtivo não são discutidas, mas apenas seus efeitos” (ibidem, p. 104).
Foladori apresenta uma tese na qual o que “determina” as relações técnicas são as
relações sociais de produção. Nas palavras do autor:
(...) não é que o Estado se ausente ou se torne menor. Ele apenas se omite
quanto ao interesse das populações e se torna mais forte, mais ágil, mais
presente, ao serviço da economia dominante. (...) A política agora é feita
pelo mercado. Só que esse mercado global não existe como ator, mas como
uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que não têm
preocupações éticas, nem finalísticas (SANTOS, 2003, pp. 66-67).
Existem processos e fenômenos que são naturais, alterando o ambiente e a vida como
um todo. Contudo, Wallerstein acredita que há pouco mais de 30 anos está acontecendo algo
especial: um aumento do “nível de perigo”, ou seja, problemas graves como aquecimento
global, acidentes nucleares e buracos na camada de ozônio.
Esses problemas resultam da própria dinâmica da economia capitalista. O autor aponta
dois traços fundamentais do capitalismo como os principais culpados pelo atual aumento do
“nível de perigo”: 1) é um sistema que tem necessidade de se expandir, tanto geograficamente
quanto em termos de produção total; 2) um elemento essencial da acumulação de capital é
“não pagar as contas”. Trata-se do “segredo sujo” do capitalismo.
Um dos traços elementares do capitalismo, a necessidade de expansão, encontra
legitimação na idéia de que o ser humano tem o direito (senão o dever) de conquistar a
natureza e obter o máximo proveito dela. Wallerstein adverte que expansão e conquista da
natureza já existiam em outros sistemas históricos, porém não tinham prioridade existencial
como no capitalismo. O autor entende que:
o que o capitalismo histórico fez foi empurrar esses dois temas – a expansão
real e sua justificativa ideológica – para o primeiro plano, e assim conseguir
suprimir as objeções sociais ao terrível duo. (...) A expansão teve um efeito
cumulativo. Toma tempo derrubar árvores. (...) Toma tempo despejar toxinas
nos rios ou na atmosfera (WALLERSTEIN, 2002, p. 113).
A contradição é que, ao mesmo tempo, essa “democratização do mundo” faz com que
muitas pessoas desejem diminuir a degradação do ambiente e reivindiquem um ar mais limpo,
uma água potável, mais árvores, etc. Wallerstein observa essa contradição quando afirma que
“muitas pessoas querem desfrutar tanto de mais árvores como de mais bens materiais, e
grande parte delas simplesmente separa as duas reivindicações em suas mentes” (ibidem, p.
114).
O outro traço fundamental do capitalismo é que os capitalistas não pagam todas as
suas contas, ou seja, durante a expansão da economia as empresas geram o que os
economistas chamam de externalidades. De acordo com a economia neoclássica, trata-se de
uma “falha de mercado”, em que o preço não dá conta dos custos e benefícios sociais,
podendo a externalidade ser positiva ou negativa. Historicamente, os capitalistas geraram
várias externalidades negativas no que diz respeito ao meio ambiente e à justiça social. Uma
empresa, por exemplo, polui determinado rio com sua produção e posteriormente a população
da cidade abastecida por esse rio tem que pagar a uma outra empresa para despoluir a água
para consumo humano. A empresa poluidora deveria responsabilizar-se pela despoluição, mas
não o fez, porque isso exigiria um grande gasto de recursos financeiros da empresa, o que
diminuiria seus lucros.
O objetivo de aumentar a produção, por parte dos capitalistas, é obter lucro. Este é a
diferença entre o preço de venda e o custo total de produção, multiplicado pelo montante total
de vendas. Para lucrar mais, deve-se diminuir o custo total ou elevar-se os preços de venda. O
problema identificado por Wallerstein é o da restrição dos preços de venda pelo “mercado”, o
que leva a uma solução capitalista: reduzir ao máximo o custo total da produção. Mas como?
Wallerstein argumenta que “o preço da mão-de-obra tem aí um papel muito importante, e isto
inclui, é claro, o preço da mão-de-obra que entrou em todos os insumos” (ibidem, p. 114). O
valor da mão-de-obra resulta de dois elementos: 1) relação entre oferta e demanda de mão-de-
obra e 2) o poder de barganha da força de trabalho. Os capitalistas tentam impor de toda
forma um nível baixo de salários, diminuindo assim os custos de produção. Com um número
cada vez maior de pessoas indo para as cidades, o argumento marxista mais aceito é que o
aumento da população nas cidades forma um “exército industrial de reserva” necessário ao
capital, pois o poder de barganha da força de trabalho por melhores salários diminui.
No entanto, Wallerstein defende um argumento segundo o qual a desruralização do
mundo provoca o aumento dos salários e não a sua diminuição. O autor explica que o poder
de barganha é diferente de acordo com a mão-de-obra e que “o grupo mais fraco sempre foi o
dos moradores nas áreas rurais que vão para áreas urbanas pela primeira vez em busca de um
emprego assalariado” (ibidem, p. 114). Sendo assim, por mais baixo que seja o salário urbano
(em padrões mundiais ou mesmo locais), ele representa uma vantagem econômica em relação
à área rural. Wallerstein acredita que isso muda com o tempo, com os trabalhadores exigindo
uma remuneração cada vez maior, pois eles vão descobrindo formas alternativas de obter
renda no centro urbano, que é uma renda maior que aquela oferecida aos trabalhadores rurais
recém-chegados à cidade.
Segundo Wallerstein, há com isso uma tendência da taxa média de lucros cair com o
tempo. Os capitalistas tentam então reduzir todos os outros custos de produção além da mão-
de-obra (vale lembrar que os insumos que entram na produção também sofrem o
“fortalecimento da mão-de-obra urbana”). Algumas inovações técnicas permitem reduzir
alguns custos, além da ajuda de governos para manter monopólios. Mas os capitalistas
precisam dividir seus gastos com alguém: o Estado, ou seja, os contribuintes. O Estado ajuda
as empresas basicamente de duas formas: 1) através de subsídios legais, ou seja, o governo
aceita pagar a conta formalmente. Além disso, governos podem prover infra-estrutura para
empresas; 2) omissão com relação aos deveres das empresas, ou seja, não fazer nada para que
as empresas internalizem alguns dos seus custos, como o custo de restauração do ambiente
visando sua preservação. Ocorre que os subsídios legais são medidas ruins politicamente, com
protestos de empresas competidoras e dos contribuintes. A omissão do Estado em relação aos
deveres das empresas encontra menos resistência, o que permite as empresas continuarem
com as externalidades.
Os movimentos ecológicos avançaram uma série de propostas capazes de um
enfrentamento sobre essas questões. As empresas temem os argumentos ecológicos e alegam
que medidas de preservação são muito caras. Há dois tipos básicos de operação de
preservação do ambiente: 1) limpeza dos efeitos de produção (como remover resíduos não-
biodegradáveis); 2) investir na renovação dos recursos naturais que foram usados
(replantando árvores, por exemplo). De acordo com Wallerstein, “a implementação de
medidas ecológicas significativas, seriamente levadas a cabo, pode muito bem representar um
golpe de misericórdia na viabilidade da economia-mundo capitalista” (ibidem, p. 116).
Os capitalistas, em geral, não vão assumir os custos ambientais por ser caro demais, o
que inviabiliza a manutenção da taxa média de lucro mundial atual. Diante disso, há três
alternativas apontadas por Wallerstein (2002, p. 116):
Referências
MARX, Karl. O capital. Livro 1, vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. [traduzido do
original de 1890, 4ª ed.].
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
10ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.