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Realmente, não se pode confundir presunção com indício, pois este é prova
elencada no Título VII do Código de Processo Penal pátrio, art. 239, vazado nos
seguintes termos: ‘‘Considera-se indício a circunstância conhecida e provada que,
tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra
ou outras circunstâncias.’’ Aquela, ao seu turno, não foi recepcionada pelo
legislador como prova, em que pese, na prática, ser de vital importância na
persecução penal, em homenagem ao princípio da verdade real, adotado pela
legislação processual em vigor.
Mas qual é o poder efetivo de convencimento dos indícios? Depende, como todas
as outras provas, do conjunto probante analisado, vez que nosso direito, adotando
o princípio do livre convencimento, não hierarquizou o valor de nenhuma prova,
como traz certo a exposição de motivos do CPP em vigor: ‘‘Todas as provas são
relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor decisivo, ou necessariamente
maior prestígio que outra.’’ Nesse diapasão, mesmo as provas diretas e plenas
são analisadas no conjunto, e não se sobrepõem às outras.
Não quis o legislador ordinário permitir que a materialidade fosse provada por
silogismo, ao contrário da autoria que pode sê-la, desde que forte o suficiente a
convencer o julgador. Se o quisesse, não falaria no mesmo texto em provas e
indícios. Não cabe aí a interpretação extensiva, porquanto tratar-se de norma que
restringe a liberdade, mesmo cônscio de que, para o decreto de prisão preventiva,
caso exista dúvida, a decisão milita em favor da sociedade. Todavia, extrai-se do
texto que, com referência à materialidade, não pode haver dúvida, é necessário
‘‘prova da existência do crime’’.
Mesmo nessa hipótese, há que haver o exame de corpo delito, via indireta. Ou
seja, deve ter presenciado o crime, pelo menos, uma testemunha. Não suprindo a
falta de testemunho a confissão do autor, no preceito do art. 158 do CPP:
‘‘Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-la a confissão do acusado.’’ (Atente-se
para o fato de que a confissão é prova no nosso direito, e mesmo assim não
serve, isoladamente, como prova de materialidade, dada a preocupação da
certeza absoluta quanto à existência do delito).
Fonte: http://www.neofito.com.br/artigos/art01/penal83.htm