Professional Documents
Culture Documents
RESUMO
O presente artigo tem como objeto o estudo da relação entre direito de informação e
direitos da personalidade, especialmente diante do excessivo uso indevido da
intimidade da pessoa humana pelos meios de comunicação. Uso esse, que muitas vezes
causa danos irreparáveis ao seu titular. O estudo destes institutos se faz necessário para
que haja uma delimitação de até onde a exposição da pessoa é válida no exercício ao
direito à liberdade de expressão e comunicação. Assim ao analisarmos esses direitos
pode-se ter uma melhor compreensão da atualidade constitucional brasileira, pois esses
institutos possuem grande relevância para a criação e manutenção do Estado
Democrático de Direito, uma vez que o Constituinte reconhece, ampara, protege e
individualiza a pessoa humana.
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do 10º período de Direito da Escola de Direito e Relações Internacionais das
Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
2
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade.
São Paulo: Atlas, 2001, p. 11.
2
3
NUNES, Gustavo Henrique Schneider. O direito à liberdade de expressão e direito à
imagem. www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigosc/Gustavo_imagem.doc, Pg 2
4
AFFORNALI, Maria Cecília Naréssi Munhoz. Direito à própria imagem. Curitiba: Juruá,
2003, p. 50.
5
TÓFOLI, Luciene. Ética no jornalismo. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 73 – 83.
6
Ibid., p. 38 – 39.
7
CENEVIVA, Walter. Informação e privacidade. In: XVIII CONFERÊNCIA NACIONAL
DOS ADVOGADOS: cidadania, ética e estado. 2002, Salvador. Anais. Brasília: OAB, 2003, p. 1513.
8
NUNES, op.cit., p.2
3
9
SERRANO, op. cit., p. 21-22.
10
FARIAS, Edimilsom Pereira de. Colisão de direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e
a imagem versus a liberdade de expressão e comunicação. 3. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,
2008. p. 152.
11
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais: Uma teoria Geral dos
Direitos Fundamentais na Perspectiva Constitucional.. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado.
2009. p. 391.
4
Com relação aos limites aos direitos da personalidade, pose-se dizer que o
exercício de direitos como os da personalidade não poderiam sofrer limitações, mas
como exceção a essa regra, estaria a sofre limitação voluntária, desde que não
permanente, nem geral13, ou seja, cabe ao titular do direito conceder autorização, mas
essa autorização não diz respeito a todos os direitos e deve prever um prazo para essa
limitação.
Já em relação aos limites existentes a liberdade de imprensa, deve-se ter em
mente que, sendo a Liberdade de imprensa um direito de manifestação do pensamento
pela imprensa, ela (liberdade de imprensa), assim como os demais direitos, possui
como limite ao exercício de sua livre manifestação o direito de terceiro.14
Como formas de limites ao direito de informação têm se a proteção aos direitos
da personalidade, que podem se dar de duas formas: uma no sentido positivo, isto é a
sua proteção como um direito em si, e que está previsto na CF/8815 e outra visão, em
um sentido negativo, quando há sua proteção no artigo 220, §1º CF/88.16
Assim, por se tratarem de direitos igualmente protegidos pela CF/88, os limites
a esses direitos devem ser exceção, e deve-se utilizar de critérios como o da
proporcionalidade e de questões como da responsabilidade profissional, daqueles que
se utilizam desses direitos. E, devendo apenas o, magistrado, no caso concreto
acomodar de forma harmônica esses direitos.17
O direito à imagem sendo ele uma faculdade que o indivíduo (titular da
imagem) possui de “impedir que terceiros, sem autorização, registrem sua imagem ou
a reproduzam, qualquer que sejam o seu meio”. Assim, para que haja violação a esse
12
CARVALHO, op. cit. p. 50-51.
13
VIERIA, op. cit., p. 126.
14
GUERRA, op. cit., p. 101.
15
Artigo 5, X CF
16
FARIAS, op. cit., p. 141.
17
SERRANO, op. cit., p 87.
5
direito, basta que a imagem seja utilizada sem a autorização de seu titular. 18 Desta
feita, dois são os limites ao exercício ao direito à imagem: um que decorre da própria
vontade de seu titular (consentimento), isto é, da possibilidade que este tem de dispor
destes direito, que ira se revela nas autorizações, e outro que decorre de lei, que como
exemplos tem se os casos previstos no artigo 20 Código Civil. AFFORNALLI observa
que “o exercício do direito à imagem encontra limitações de duas espécies. As
primeiras limitações decorrem da própria natureza de direitos da personalidade que é,
de sua característica de direito essencial (...). A segunda ordem de limitações impostas
ao direito à própria imagem diz respeito à preponderância do interesse público.” 19
Observa-se assim, que é possível uma “violação” aos direito à imagem,
primeiramente, em razão da própria essência desse direito, direito essencial, do qual é
possível ao seu titular coloca-lo a disposição, assim nestes casos, cabe exclusivamente
ao titular desses direito, a possibilidade de “decidir sobre a captação ou exposição de
sua imagem”. E uma outra possibilidade de violação destes direitos e quando se trata
de interesses da coletividade (interesse público). Edilsom Pereira de FARIAS ensina o
que seriam os interesses da coletividade:
18
BORGES, op. cit., p. 156.
19
AFFORNALLI, op. cit., p. 59.
20
FARIAS, op. cit., p 137
21
CUPIS, op. cit., p. 146.
6
22
AFFORNALLI, op. cit., p.61.
23
CUPIS, op. cit., p. 148.
24
BELTRÃO, op. cit., p. 124.
25
Artigo 20 Código Civil.
26
DE CUPIS, op. cit. p. 128.
7
27
Artigo 138,§ 3 CP não é permitido e no artigo 139 CP não é aceita, a não ser no § único.
28
FARIAS, op. cit., p.122.
29
SARLET, op. cit., p. 392.
30
Ibid., p. 21.
31
Ibid., p. 391-392.
32
SERRANO, op. cit., p. 21.
8
alheia, além de evitar a divulgação das informações obtidas por meio de intromissão
indevida.”33
Os direitos da privacidade são irrenunciáveis, o que não impedem que exista
uma limitação temporária de seu exercício. O que pode existir é uma mobilidade em
relação aos limites da privacidade, dependendo de que Estado está se falando e da
pessoa titular deste direito, pois existem os “anônimos” e também aqueles que são
dependem da exposição de pública, como por exemplo, os políticos, os artistas.” 34 Na
visão de BITTELI, dois seriam esses limites:
Essas limitações são umas espécies de exceções, pois normalmente não se pode
invadir este espaço privado da pessoa, porém nestas situações há a possibilidade de se
adentrar na esfera privada do indivíduo, em razão da preponderância do interesse
coletivo sobre o particular.36 Exceções, essas que se dão em razão de autorização
própria do titular deste direito, ou “por determinações da legislativo ou judiciário (...)
para administração da justiça e da ordem pública.”37 Assim, por tratar-se de um espaço
particular, profundo e secreto, teoricamente não poderia ser “invadido”. Porém, há a
possibilidade de invasão do espaço quando esses direitos estão ligadas a questões de:
interesse público, pessoa pública e também quando há a autorização do próprio
indivíduo para que assuntos de sua vida particular sejam divulgados, especulado por
terceiros e nas relações de emprego.38
Assim há uma dificuldade em delimitar, exatamente, o que diz respeito a
intimidade/vida privada (assuntos particulares) dos assuntos da vida
33
BORGES, op. cit. p 162.
34
Ibid., p 163.
35
BITELLI, Marcos Alberto Sant‟Anna. A privacidade e a crise do direito da comunicação
social: o controle regulatório. In: MARTINS FILHO, Ives Gandra ; MONTEIRO JUNIOR, Jorge.
(Orgs.). Direito a Privacidade. São Paulo: Idéias & Letras. 2005. p . 279.
36
BITTAR, op. cit., p. 111.
37
VIEIRA, op. cit., p. 132.
38
Ibid., p. 135.
9
privada/intimidade que são de interesse público (aqueles que devem ser divulgados),
pois normalmente vida privada e interesse publico estão intimamente relacionados.39
Para BITELLI, os limites encontrados para os direitos da vida
privada/intimidade seriam: interesse público o próprio consentimento (a autorização
outorgada) para que assuntos de sua intimidade/vida privada sejam discutidos,
comentados por terceiro, aqui há a necessidade de se verificar, alem da autorização, se
o assunto (relacionado a privacidade) e também de interesse da sociedade e por último
“os limites impostos pelo caráter público das pessoas.40 Quando se fala em interesse
público deve-se atentar ao fato de que interesse público não é a mesma coisa do que
curiosidade pública.41
2 APARENTE CONFLITO
Com o transcorrer dos tempos, o rol dos direitos fundamentais aumentou. Inúmeras gerações
(dimensões) surgiram. Se, por um lado, há um fator seguramente positivo nessa majoração
quantitativa de direitos fundamentais, por outro, torna-se usual a existência de conflitos entre
estes, na medida em que alguns findam por ser, em algum momento, antagônicos. Isto porque
os direitos fundamentais apresentam natureza princípiológica, ou seja, são deveres abstratos e,
ao contrario das regras, não possuem diretrizes pré estabelecidas de resolução conflitual.42
39
TAVARES, op. cit., p. 237.
40
BITELLI, op. cit., p. 280.
41
Id.
42
TAVARES, op. cit., p. 214.
10
43
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional: e a teoria da constituição. 7.
ed. Coimbra: Edições Almedina, 2003. p. 1268.
44
BELTRÃO, op. cit., p. 51.
45
FARIAS, op. cit., p. 105.
46
CENEVIVA, op. cit., p. 1513.
47
Não notória ou pública.
11
48
BELTRÃO, op. cit., p. 50-51.
49
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 595600. Maria Aparecida de Almeida Padilha e RBS. Zero Hora Editora
Jornalística S/A. Relator: Ministro César Asfor Rocha. 13. set. 2004. Supremo Tribunal de Justiça.
Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200301770332&dt_publicacao=13/09/2004>.
Acesso em: 29. set. 2009.
50
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 984803. Hélio de Oliveira Dorea e Globo Comunicações e Participações S/A.
Relatora: Ministra Nancy Andrighi. 19. ago. 2009. Supremo Tribunal de Justiça. Disponível em: <
12
https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200702099361&dt_publicacao=19/08/2009>.
Acesso em: 29. set. 2009.
51
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 1053534. Roberta Salustino Cyro Costa e Empresa Jornalística Tribuna do Norte.
Relator: Ministro Fernando Gonçalves. 06. out. 2008. Supremo Tribunal de Justiça. Disponível em:
<
13
Esse julgado refere-se a uma foto que fora publicado pela ré, na qual a autora
estava ao lado de um ex-namorado e a legenda, notícia que acompanhava a foto, é de
os dois se casariam naquele dia, quando, na verdade, o homem da foto se casaria com
outra mulher. O fato veio a causar grande constrangimento moral, pois, segundo narra
o julgado, a recorrente estava noiva e com casamento marcado com outro homem. Diz,
ainda, que houve reconhecimento do erro, através de errata publicada pelo Jornal, mas
sem pedido de desculpas, tudo levando a crer que houve malícia na publicação da foto.
Os julgados citados acima, são só alguns dos exemplos, dos vários52 casos
existentes na justiça brasileira, onde é possível visualizar nos casos concreto o conflito
existente entre o direito a informação e direito da personalidade e suas conseqüência.
Anualmente, inúmeros são os processos relacionados a essa matéria que são julgados
pelo STJ. Em publicação recente53, sobre o assunto percebe-se que os Ministros, estão
utilizado de técnicas de ponderação para buscar uma possível solução para esses tipos
de colisões no caso concreto.
https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200800931970&dt_publicacao=06/10/2008>.
Acesso em: 29 set. 2009.
52
REsp.nº. 58101; REsp.nº.783139; REsp.nº.818764; REsp.nº.141638; REsp.nº.883630;
REsp.nº. 1025047 e Apn. nº.338.
53
Em 19 jul. 2009 - O conflito entre liberdade de informação e proteção da personalidade na
visão do STJ.
14
Independente de suas expressas previsões em textos constitucionais (ex: arts. 1º e 5º, inciso
LIV) ou legais (ex: art. 2º da Lei nº. 9.784/99), o que importa é a constatação, amplamente
difundida, de que a aplicabilidade dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade não
está excluída de qualquer matéria jurídica.55
54
SECO, Andréia. Direito de Imagem Frente ais ditames Constitucionais da Privacidade de
do Direito de Informação. Disponível em:
<http://www.almeidalaw.com.br/news/noticia.php?noticia_id=128.> Acesso em: 12 out. 2008.
55
SARLET, op. cit., p. 396.
56
CAMPOS, Helena Nunes. Princípio da proporcionalidade: a ponderação dos direitos
fundamentais. Caderno de Pós-Graduação em Direito Político e Econômico, São Paulo, v. 4, n. 1, p.
23-32. Disponível em: <
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Mestrado/Direito_Politico_e_Economico/Cadern
os_Direito/Volume_4/02.pdf.>. Acesso em: 25 jun. 2009.
57
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad.: Virgilho Afondo
as Silva. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 116.
15
restritiva deve ser idônea à consecução da finalidade pretendida. Isto é, deve haver a
existência de adequação para se atingir o os objetivos pretendidos.59
O sub-princípio da necessidade, ou princípio da exigibilidade, ou do meio mais
benigno, busca que a medida restritiva seja realmente indispensável para a
conservação do direito fundamental e, que não possa ser substituída por outra de igual
eficácia e, até menos gravosa, isto é nenhum meios menos gravoso se mostrara eficaz.
60
Assim, se houver diversas formas para que se busque o resultado, deve-se buscar a
que menos afete os direitos em questão.
Por fim, o sub-princípio da proporcionalidade em sentido estrito que se
caracteriza pela idéia de que os meios devem ser razoáveis com o resultado
perseguido. É o mandamento do sopesamento propriamente dito.61 E o ônus causado
pela norma deve ser inferior ao benefício por ela engendrado. É o que se pode chamar
de custo beneficio, a ponderação entre os danos causados e os resultados a serem
obtidos.62 O equilíbrio no conflito entre esses direitos, deve seguir a proporcionalidade
no sentido estrito – “proporcionalidade é um consectário lógico da natureza da norma
de direito fundamental.”63
Assim, diante do caso concreto de colisão de direitos fundamentais, a solução
para os conflitos entre os princípios exige exercício de ponderação, pois é possível
atingir vários resultados, através de diferentes argumentos, sem que um invalide o
outro. Para atingir de forma satisfatória o princípio da proporcionalidade, deve-se
verificar qual a disposição constitucional que tem peso maior para a questão concreta a
ser decidida.64 Através da utilização dos critérios da adequação e necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito..
58
Ibid., p.117.
59
MENDES, op. cit., p.250.
60
CAMPOS, op. cit. p. 23-32.
61
ALEXY, op. cit., p. 116.
62
CAMPOS, op. cit., p. 23-32.
63
BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de
constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 1996.p.
160.
64
ALEXY, op. cit., p.116.
16
4 CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO
65
FARIAS, op. cit., p. 152-153.
66
Para verificar qual dos interesses possui maior peso no caso concreto.
67
Ibid., p. 95.
68
O conflito entre liberdade de informação e proteção da personalidade na
visão do STJ. Diponivel em:
<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=92895&tmp.area_
anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=liberdade de expressao>. Acesso em: 26 jun. 2009
69
ALEXY, op. cit., p. 90.
17
70
DWORKIN, Ronald. Levando o Direito a sério.Trad.: Nelson Boeira. São Paulo: Martins
Fontes, 2002. p. 39.
71
SUIAMA, Sergio Gardenghi. Censura, liberdade de expressão e colisão de direitos
fundamentais na Constituição de 88. Disponível em:
<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/congresso/xtese5.htm.> acesso em: 15
set 2009
72
SILVA, op. cit., p. 91.
73
DWORKIN, op. cit., p. 39.
74
BARROS,op. cit., p. 158.
75
DWORKIN, op. cit., p. 40.
76
Ibid., p. 39.
77
Ibid., p. 41 42.
78
CANOTILHO, op. cit., p.1255.
18
79
SUIAMA, op. cit.
80
ALEXY, op. cit., p. 93-96.
81
Ibid., p. 94.
82
Ibid., p 93-96.
83
GODOY, op. cit., p. 66.
84
CARVALHO, Luiz, Liberdade...p. 47-48.
19
o mesmo declarado inválido ou que nele deverá ser acrescido cláusula de exceção.85 O
que ocorre é que há uma prevalência de um desses princípios sobre o outro no caso
concreto. E conforme demonstra ALEXY, “se dois princípios colidem – o que ocorre,
por exemplo, quando algo é proibido de acordo com um princípio e, de acordo com o
outro, permitido -, um dos princípios terá que ceder”86 , então deve-se buscar qual será
a melhor aplicação, qual deles merece ser sobreposto ao outro, no caso concreto. Pois
MENDES ensina que:
ALEXY, fala que “os princípios não dispõem da extensão de seu conteúdo em
face dos princípios colidentes”90 isto é, não há como determinar com base no próprio
princípio qual deles deva prevalecer, no caso de conflito, então deve-se levar em
consideração a carga argumentativa a favor de um dos princípios e contra o outro
princípio.91 Assim, a solução se da por sobrepesamento, tenta-se definir qual dos
85
Acrescida há umas das regras, quando há conflito entre duas regras.
86
ALEXY, op. cit., p. 93
87
MENDES, op. cit., p. 183.
88
SECO, op. cit.
89
ALEXY, op. cit., p. 93-96
90
Ibid., p. 93-94;105-106.
91
Ibid., p. 105-106.
20
interesses, que abstratamente estão no mesmo nível, tem maior peso no caso concreto -
entre os interesses conflitantes.92 E como bem observado por GODOY, que: “como
princípios que são, os direitos da personalidade e a liberdade de imprensa suscitam
constante concorrência, cedendo um, diante do outro, conforme o caso, e no mínimo
possível, mas nunca se excluindo, reciprocamente, como aconteceria se tratasse de
simples regas.”93
Nos casos em que a solução do conflito decorre de uma limitação à um desses
direitos prevista na Constituição, segundo o qual FARIAS chama de “reserva de lei” 94,
o legislador resolverá o conflito reduzindo o direito que está sujeito a essa reserva de
lei, isso sempre dentro do limite.95 Assim, no que se diz respeito à resolução destes
conflitos por parte do legislado, pode-se dizer que no art. 220, § 1º CF, funciona como
uma reserva de lei, a qual possibilitaria ao legislador disciplinar sobre o exercício da
liberdade de expressão e comunicação. Ocorre que, embora haja essa autorização,
expressa na CF/88, para que os limites referente as esses direitos sejam traçados de
forma mais clara, com o intuito de prevenir possíveis confrontos com outros direitos
fundamentais, o legislador, não se preocupa em elaborar lei que regulamente a matéria
e que esteja em consonância com a CF de 88. Como norma infraconstitucional que
disciplina a questão de liberdade de expressão e comunicação, tem-se a Lei nº. 5250
que é de 1967, e trata de crimes de “calúnia e difamação se o fato imputado ainda que
verdadeiro, disser „respeito à vida privada do ofendido e a divulgação não foi motivada
em razão de interesse público”. Há também a Lei nº. 7.232/84, lei de informática, que
em seu artigo 2º, VIII, determina que devem ser protegidos os dados armazenados,
processados e veiculados, que digam respeito ao interesse da privacidade e de
segurança das pessoas físicas e jurídicas, privadas e públicas.96
O projeto da nova lei de imprensa, lei nº. 3.232/92, em seu artigo 23, pretende
tratar dos conflitos entre a liberdade de informação e os direitos da personalidade,
entre eles os relativos à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, de forma mais
pontual. Com base nessa lei, esses conflitos serão resolvidos em favor do interesse
92
Ibid., p. 94- 95.
93
GODOY, op. cit., p. 68.
94
FARIAS, op. cit., p. 171.
95
Id.
96
Ibid., p. 153-154.
21
público visado pela informação, utilizando-se, até mesmo, de mecanismos legais como
limites de ponderação a direitos fundamentais.
E segundo FARIAS “em se tratando de direitos submetidos à reserva legal
expressa, compete ao legislador, primeiramente traçar os limites adequados, de modo a
assegurar o exercício pacífico de faculdades eventualmente conflitantes.”97
Mas enquanto esses projetos não são aprovado e novas regulamentações
infraconstitucionais sobre o assunto não são editadas, pode-se mencionar que a forma
de resolução de conflitos entre direitos da personalidade e direito a informação, por
intermédio da legislação infraconstitucional, não é adequado. Assim, cabe ao
legislador brasileiro, para que, possa legislar de forma mais adequada e satisfatória os
assuntos referentes à colisão entre direitos fundamentais, observar a atitude de paises
como a Espanha, por exemplo, que possui uma “lei orgânica com escopo de amparar
os direitos à honra, à intimidade pessoal e familiar e a própria imagem em face dos
choques oriundos das publicações de opiniões, fatos ou imagens que afetam esses
direitos da personalidade.”98
E enquanto isso cabe a jurisprudência solucionar os casos de conflito entre
direitos fundamentais, quando não está presente a reserva de lei, e ela busca faze-lo de
forma mais adequada, vem tentando solucionar tais conflitos, de forma que os direitos
contrapostos sejam sacrificar o mínimo possível, através de elementos fornecidos pela
doutrina. Assim, para que essa solução ocorra da forma mais adequada possível, ela
utiliza-se de critérios como o da ponderação dos bens envolvidos em cada caso 99,
conforme já demonstrado nos julgados acima. Para FARIAS, “a jurisprudência guia-
se, principalmente, pelos princípios da unidade da constituição, da concordância
pratica e da proporcionalidade, articulados pela doutrina.”100 Pois para ela
(jurisprudência), não existe um caminho pré-determinado, para que possa ser seguido
de forma metódica a cada caso.
Isto é, para a jurisprudência, não existe uma formula a priori que deva ser
aplicada a todos os casos, o que ela deve fazer é verificar cada caso, estudando-o,
97
MENDES, Gilmar Ferreira. Prefácio.In: FARIAS, op. cit. p. 17.
98
FARIAS, op. cit., p. 154.
99
Ibid., p. 156.
100
Id.
22
101
Ibid., p. 156-159.
102
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Trad.: José Lamego. 3. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. apud. GODOY, op. cit., p. 74.
103
GODOY, op. cit., p. 70-72.
104
MENDES, Gilmar. Prefácio...p. 21.
23
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad.: Virgilho Afondo as Silva.
São Paulo: Malheiros, 2002.
AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
BUCCI, Eugenio. Sobre ética e Imprensa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
27
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Aspectos de teoria geral dos direitos fundamentais.
In MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártines Coelho; BRANCO,
Gustavo Gonet. Hermenêutica Constitucional e Direitos Fundamentais. Brasília:
Brasília Jurídica, 2002. p. 103-194.
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 595600. Maria Aparecida de Almeida Padilha e RBS. Zero Hora
Editora Jornalística S/A. Relator: Ministro César Asfor Rocha. 13. set. 2004. Supremo
Tribunal de Justiça. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?
registro=200301770332&dt_publicacao=13/09/2004>. Acesso em: 29 set. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 984803. Hélio de Oliveira Dorea e Globo Comunicações e
Participações S/A. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. 19. ago. 2009. Supremo
Tribunal de Justiça. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?
registro=200702099361&dt_publicacao=19/08/2009>. Acesso em: 29 set. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Federal. Ação de indenização por dano moral.
Recurso Especial n. 1053534. Roberta Salustino Cyro Costa e Empresa Jornalística
Tribuna do Norte. Relator: Ministro Fernando Gonçalves. 06. out. 2008. Supremo
Tribunal de Justiça. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?
registro=200800931970&dt_publicacao=06/10/2008>. Acesso em: 29 set. 2009.
CALDAS, Pedro Frederico. Vida Privada, liberdade de imprensa e dano moral. São
Paulo: Saraiva. 1997.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. n. 1. São Paulo: Saraiva.
2002.
DWORKIN, Ronald. Levando o Direito a sério. Trad.: Nelson Boeira. São Paulo:
Martins Fontes, 2002
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993.
29
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Trad.: José Lamego. 3. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
SAMPAIO, Jose Adércio Leite. Direito à intimidade e à vida privada. Belo Horizonte:
Del Rey. 1998.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais: Uma teoria Geral
dos Direitos Fundamentais na Perspectiva Constitucional.. 10. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado. 2009.
SILVA, José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivado. 27. ed. São
Paulo: Malheiros. 2006.
SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de personalidade e sua tutela. 2. ed. São Paulo: RT,
2005.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.