Professional Documents
Culture Documents
Cena em um ato
de Anton Tchekhov
Personagens
2
É UM SALÃO BEM ILUMINADO. UMA MESA GRANDE, POSTA PARA O
JANTAR. AO PÉ DELA, CRIADOS DE LIBRÉ CUIDAM DOS ÚLTIMOS
ARRANJOS. NOS BASTIDORES, TOCA-SE A ÚLTIMA FIGURA DE UMA
QUADRILHA.
3
NASTÁSSIA: (PERCORRENDO A MESA COM O OLHAR,
CONTANDO OS TALHERES) - Um, dois, três, quatro,
cinco...
APLÓBOV: Não gosta de ouvir a verdade? Ah! Aí está! Deve agir co-
mo uma pessoa correta. Eu da senhora quero apenas
uma coisa: que aja como uma pessoa correta!
ZMEIÚKINA: Ah, como o senhor é... Eu já lhe disse que a minha voz
não está boa, hoje.
IAT: Eu lhe imploro, cante! Só uma nota! Por favor! Só uma no-
ta.
ZMEIÚKINA: Não, a minha voz não está boa, hoje. Tome, abane o le-
que para mim... Está calor! (A APLÓBOV.) Epaminond
Maksímitch, por que essa tristeza? Como pode um noivo
sentir-se assim? Não tem vergonha, seu enjoado? Vamos
lá, em que está pensando?
5
IAT: É divina! Divina!
DIMBA: Sim.
JIGÁLOV: : E leões?
6
NASTÁSSIA: (AO MARIDO) - Por que abusar da bebida e dos petis-
cos? Está na hora de todos sentarem-se. Não espete o
garfo nos lagostins... Eles foram preparados para o gene-
ral. Talvez ele ainda venha...
7
camos tempo e comecemos imediatamente. Senhores, eu
proponho um brinde aos recém-casados!
8
DÁCHENKA: Ele quer mostrar que tem instrução e fala sempre de coi-
sas que ninguém entende.
NASTÁSSIA: Não, ninharia não era! Você, meu caro, pode falar, mas
desde que controle sua língua. Mais de mil rublos em di-
nheiro nós demos, três casacos de mulher, a cama e toda
a mobília. Vá ver se o senhor encontra um dote desses
em outro lugar!
10
DÁCHENKA: (À MÃE) - Mãezinha, que choro é este? Eu estou tão feliz!
DIMBA: - Pra que falá? Eu não entender o qual... Que ser isso?18
ZMEIÚKINA: Não, não! Não venha com evasivas! E a sua vez! Levan-
te-se!
ENTRA NIÚNIN.
NIÚNIN: Já, já. Quando eu saí da sua casa, ele calçava as galo-
chas. Esperem, senhores, não comecem a comer, ainda.
12
NIÚNIN: (GRITA) Ei, músicos, uma fanfarra!
JIGÁLOV: Nós não somos da nobreza, das altas rodas, somos gente
simples, mas não vá Vossa Excelência pensar que há a-
qui alguma vigarice da nossa parte. As pessoas de bem,
para nós, vêm em primeiro lugar, para elas nós não eco-
nomizamos. Tenha a bondade!
13
REVÚNOV: Bom, se é assim, então está bem... (DIRIGINDO-SE
PARA A MESA.} Pois é, imensamente!
REVÚNOV: Ahn? Sim, sim... pois é. É verdade. Pois sim... mas o que
é isto? O arenque está uma delícia e o pão também. Me-
rece um beijo quem...
14
isso não quer dizer nada, acontecia também quererem
mostrar pompa, numa ocasião ou outra, mas...
(AVISTANDO MOZGOUOI.) Pois então, o senhor é mari-
nheiro?
IAT: Isto significa: "eu respeito Vossa Excelência por suas vir-
tudes". Acha que fazer isso é fácil? Veja isto, agora...
IAT: Isto agora significa: "madame, como eu estou feliz por tê-
la nos meus braços!"
16
PADRINHO: (OFENDIDO) Por que ele sempre me interrompe? Desse
modo, ninguém conseguirá fazer uma saudação!
MURMÚRIO GERAL.
17
NIÚNIN: (EMBARAÇADO} — Senhores, que maçada... que fazer?
Não sei...
NASTÁSSIA: Sabe muito bem qual. Deve ter recebido vinte e cinco ru-
blos de Andréi Andréitch... (A NIÜNIN.) Que papelão, An-
driúchenka! Eu não lhe pedi que nos arranjasse um tipo
desses!
18
NASTÁSSIA: Andriúchenka, onde estão os vinte e cinco rublos?
ALVOROÇO GERAL.
CORTINA
19