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RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o papel da Educação Física no
contexto social feminino, para compreensão de como as práticas corporais, como a
dança e o teatro, podem auxiliar no desenvolvimento do convívio social de mulheres
entre 30 a 60 anos de idade. Neste trabalho falaremos de um grupo de mulheres nessa
faixa etária, que fazem aula de dança, em uma academia de Goiânia, a qual o grupo não
faz parte, pois o local é apenas cedido para os encontros. Para coleta de dados foi
utilizada a entrevista com todo grupo e apenas com a professora, além da observação
participante. Após a investigação do problema, foi realizada a intervenção que consistiu
na Técnica Klauss Vianna, sistematizada no livro de Jussara Miller, A Escuta do Corpo,
para que houvesse uma perspectiva renovadora da dança.
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* Práticas Corporais: são componentes da cultura corporal dos povos, dizem respeito ao homem em
movimento, à sua gestualidade, aos seus modos de se expressar corporalmente. Nesse sentido, agregam as
mais diversas formas do ser humano se manifestar por meio do corpo e contemplam as duas
racionalidades: a ocidental (ginásticas, modalidades esportivas e caminhadas podem ser exemplos) e a
oriental (tai-chi, yoga e lutas, entre outras) (CARVALHO, Yara Maria de. Promoção da Saúde, Práticas
Corporais e Atenção Básica. Revista Brasileira de Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde,
2006).
1. INTRODUÇÃO
Essa frase impulsiona uma crítica urgente ao que tem sido defendido por
muitos profissionais da área que não querem se relacionar com outros saberes. Saberes
estes que devem ser levado em consideração seja um simples saber do aluno com suas
experiências de vida ou de um profissional atuante. As pessoas precisam ser respeitadas
pelo que elas são e não apenas pelo que elas têm a oferecer.
Falcão e Saraiva (2006) nos traz que as cidades brasileiras têm carência
nos que diz respeito ao incentivo de práticas corporais. Essa carência é refletida na falta
de espaços para determinados grupos de pessoas como do grupo pesquisado que se
reúnem em um espaço cedido em academia de dança em Goiânia, onde os encontros
acontecem uma vez por semana, sendo na segunda-feira às 19h. Não é cobrado nenhum
valor para o grupo ocupar o local, elas tem toda liberdade dentro da academia e são
respeitadas como qualquer outra turma da academia.
O espaço físico é grande, mas não é todo utilizado pela academia. A sala
de aula utilizada pelo grupo fica uma sala, onde nos horários das aulas, acontece
ministrada uma aula de Hip-Hop e tanto os alunos quanto a professora são adolescentes
e daí eles colocam o som no último volume atrapalhando o grupo que está na sala ao
lado. Mas quando isso acontece à secretária da academia solicita que o volume seja
diminuído a sala ao lado, a do grupo, e objeções volume é diminuído. Esse fato é
interessante porque o grupo não é desprezado por não pagar mensalidade ou por não
fazer parte da academia, nem tão pouco por serem mulheres mais velhas. O Grupo é
respeitado porque na lógica da academia o que vale é o tentar aprender, a busca por
novas oportunidades. Durante toda observação no local os alunos respeitavam essas
mulheres por aquilo que tem a oferecer e não somente por serem pessoas que
necessitam de uma atenção mais específica devido à idade de cada uma.
Para uma aproximação e conhecimento da realidade vivida por estas
mulheres foi utilizada a entrevista com a professora, que tem 48 anos de idade e vinte e
cinco anos de atuação com dança, sendo feitas as seguintes perguntas: Qual a sua
proposta de trabalho para essas mulheres? Como você acredita que o teatro e dança
pode auxiliar no desenvolvimento social das participantes? Você se baseia em alguma
literatura para organizar as metodologias aplicadas nas aulas? Qual (is)? As
metodologias respondem as expectativas das alunas?Para você quais são maiores
dificuldades enfrentadas pelas alunas?A respeito do conhecimento corporal e superação
de limites físicos, emocionais, entre outros, você têm visto mudanças significativas na
vida de suas alunas?
Para a discussão com todas do grupo foi utilizada a entrevista, em forma
de grupo focal,que “é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o
propósito de obter informações de caráter qualitativo em profundidade”( Gomes e
Barbosa, 2009, p.3) e foram levantadas as seguintes questões: Como o aprendizado da
dança e o teatro tem contribuído para o desenvolvimento pessoal de vocês; Qual o
principal objetivo na participação de vocês nesse grupo; Os objetivos têm sido
respondidos; Quais são as maiores dificuldades que vocês encontram para estarem aqui.
As aulas aplicadas pela professora têm respondido as expectativas de vocês. No dia do
grupo focal participaram apenas cinco alunas, pois as demais estão com dificuldade de
horário e enfrentado limitações como doença. As alunas serão identificadas como A, B,
C, D e E de idade 29, 53, 48, 58 e 55 anos.
Como resposta para algumas dessas perguntas temos uma fala importante
da aluna C: “É, a maior dificuldade é em horário né, porque nós temos uma carga horária
como esposa, como mãe né, então nós temos que da conta de lava, passa, cozinhá, cuida de
filhos, de marido [...] algumas até trabalham também né, quando tem seu serviço já sai seis
horas né.”
Podemos perceber que a dificuldade para a mulher ter o seu próprio
tempo não é fácil e por isso muitas não conseguem se programar ou de fato não tem
como ter acesso as práticas corporais somente para elas.Outra dificuldade que elas
encontram para estar ali é a questão de vencer as limitações do próprio corpo,
representada na fala da aluna D quando levantada a questão de maior dificuldade
encontrada para estar ali:
Pra mim é consegui acompanha. A idade 58 anos não é para qualquer um [...]
e também problemas de tendinite então isso tem me atrapalhado entendeu?
Eu não consigo fazer os exercícios, acompanhar, como eu gostaria, acho que
se eu estivesse bem na questão de meu ombro e meu braço acho que eu faria
melhor, porque e já comecei a fazer balé 3 a 4 anos atrás mas tive que parar
por causa do problema no ombro, se não fosse isso já estaria bem. Mas é uma
coisa muito prazerosa estar aqui para a saúde e comunhão.
Essas são questões que não devem ser tratadas como empecilho para elas
estarem ali, pois até mesmo elas não acreditam que seja um fato para parar de praticar
os exercícios, uma vez que tem se tornado algo prazeroso e um meio de superação e
conquista como demonstra a aluna D em sua fala. E como superação, há um caso de
uma aluna que teve câncer e achou naquele lugar um novo começo: “estar aqui foi
maravilhoso pra mim, eu tenho uma nova vida, eu saber que eu poderia de novo, assim,
continuar minha vida né, depois que eu tava com seis meses de operada. Foi um marco na
minha vida né de reinício da minha vida.”
A professora relatou também sobre o relacionamento das alunas no grupo
e também como o fato delas estarem ali e realizar apresentações interferem nos
relacionamentos com as famílias, após a entrada delas no grupo. Ela diz:
Bom, isso é visível pelo que acontece nesses quatro anos é [...] umas
preocupando com as outras estar relacionando, participando da vida das
outras orando uma pelas outras e sabe dos problemas busca ajuda e isso é
uma forma de estar desenvolvendo. Agora elas entre a família ou mesmo
cada vez que elas apresentam a família se orgulham das mães participando,
são sonhos que foram enterrados talvez quando crianças, pessoas que não
tiveram oportunidade de aprender balé quando criança, então agora elas estão
realizando um sonho, isso é muito bom.
Outra questão levantada por uma das alunas diz respeito à aparência, a
beleza do corpo. Inclusive na fala a aluna A destaca que “quanto a postura cara eu era
toda entrevada sabe!?(risos) e assim eu andava na rua olhando pra baixo, mas hoje não. Hoje
eu ando grande, alta, bonita e assim exibida também(risos). Hoje eu tenho muito auto-estimo
entende!?”. A aluna expõe que o fato dela estar ali gerou uma segurança no seu próprio
comportamento, que antes se sujeitava ao controle que “ocorre através de artifícios
midiáticos, de imagens e discursos veiculados nos meios de comunicação que
convocam os sujeitos a falar de um lugar de ideal de corpo, ou seja, fala-se na beleza
associada à juventude.” (MINATO; TRAESEL, 2009, p.3).
Durante as aulas a professora faz bastantes elogios quanto aos
movimentos de cada aluno, usando isso como uma forma de incentivo. Ela não trata as
alunas como se estivesse dando aula para criança, mas sim respeitando os limites e
estimulando o que cada uma pode oferecer. Essas aulas não obedecem a um padrão
específico, mas a professora inclui o aprendizado dos movimentos do balé de uma
maneira descontraída e mais solta. São exercícios de resistência, flexibilidade, força,
tudo sem uma ordem correta, mas articulado com o que as alunas conseguem fazer. A
professora passa sempre alguns exercícios básicos para que elas façam em casa. Cada
passo ensinado é corrigido pela professora que fica bem atenta a cada movimento
realizado pelas alunas.
As alunas possuem comportamentos diversificados, algumas quando não
conseguem realizar os movimentos param e ficam esperado o próximo, outras até
conversam sobre assuntos do cotidiano e esquecem-se de fazer os exercícios e a
professora precisa chamar a atenção para que não haja conversas paralelas a aula, mas é
algo bem descontraído e nada com autoritarismo.
Após o ensino dos movimentos, elas se reúnem em uma conversa para
avaliar se aula foi boa, quais exercícios foram realizados de uma forma confortável e
satisfatória, daí em diante a conversa toma vários rumos. A aula acaba por volta de 22h
e algumas vão embora com a professora e outras moram perto da academia.
A partir destas observações e conversas, pode ser traçado o plano de
ação, para a intervenção no campo de trabalho, sendo efetivado na segunda etapa da
pesquisa. Esta intervenção teve como objetivo apresentar a dança em seus aspectos
gestuais, técnicos e conceituais, tendo como referência a Técnica Klauss Vianna
apresentada por Jussara Miller em seu livro A escuta do corpo e com isso promover as
práticas corporais, no caso à dança, como um auxílio no desenvolvimento do convívio
social dessas mulheres. O método de aplicação seguiu os estágios de sistematização da
própria Técnica de Klauss Vianna, que permite o desbloqueio do corpo, para que haja
uma transformação dos movimentos já padronizados, o conhecimento dar articulações e
ossos presentes no movimento e enfim o processo criativo (MILLER,2007).
O corpo é o meio pelo qual nos comunicamos, seja a comunicação verbal
ou não verbal. Comunicamo-nos através de gestos mecanizados e sem nenhuma
percepção durante o nosso dia a dia, estamos sempre em constante movimento, mas não
nos questionamos se estão certos ou não. Não somos ensinados a questionar, pensar
como queremos, devemos apenas repetir o que nos é ensinado. Com isso é preciso que
haja formas diferentes de ensino. São necessários métodos que nos façam ter
consciência do trabalho corporal realizado.
A dança e a movimentação cotidiana não se prendem ao passado ou ao
futuro, nem a um professor. O que interessa é o agora. Ninguém melhor do
que você pode questionar sua postura, suas ações. Não são as seqüências de
postura dadas por uma pessoa à sua frente que farão de você um bailarino ou
uma pessoa de movimentação harmônica. A dança começa no conhecimento
dos processos internos. Você é estimulado a adquirir a compreensão de cada
músculo e do que acontece quando você se movimenta. (VIANNA, 2008, p.
104)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Planejamento
Tema da intervenção
MANHÃ: 8-12HS
NOITE: 19-21e30HS
Processo lúdico
Tema da intervenção
(Acordar O Corpo)
Acordar o corpo
Objetivos específicos Despertar a sensibilidade das alunas em relação aos
movimentos
Bibliografia
Neste dia a professora me ligou por volta de quatro horas da tarde dizendo
que não haveria aula, porque uma das alunas, a mais velha de 65 anos, estava
muito doente devido alguns agravos da diabetes. Ela havia combinado com duas
alunas para ir visitar essa aluna que estava doente.
A professora me disse que esta lendo os livros e que qualquer dúvida me
ligaria para questionamentos.
Então fui embora para casa para continuar produzindo os planos de ação e
projeto.
APÊNDICE IV
A aula hoje começou com um atraso de meia hora e estavam presente cinco
alunas.
Na sala ao lado estava acontecendo a aula de Hip-Hop dos adolescentes e o
som estava muito alto. Como a música estava com o volume muito alto, a
professora utilizou o som para começar o aquecimento. Nesse momento ela colocou
o tema da intervenção em prática.
A música era bem agita e professora começou dirigindo os movimentos. Após
algumas sequências dirigidas, ela pediu que cada uma fizesse um movimento livre
de forma bem solta, mas consciente, pensando no que poderia ser feito.
O resulto foi surpreendente. A maneira como cada aluna se deslocava,
inventava novos movimentos era muito interessante. Algumas um pouco tímidas,
outras já se soltaram e expuseram o que, conforme relato de algumas, estava
guardado dentro delas.
A professora adorou a experiência e até utilizou alguns movimentos feito pelas
alunas na coreografia.
Durante toda aula vivenciei juntamente com as alunas as experiências e foi algo
maravilhoso, poder compartilhar o estudo realizado e aprender a viver com cada
uma delas. Uma vez que a vida de cada uma ali ensinava sem que fosse necessário
utilizar palavras.
A aula terminou por volta de 21:40h e estávamos com alegria imensurável.
APÊNDICE VI
Hoje cheguei mais cedo, por volta de 18:30h e fiquei conversando com a
secretária da academia, ela tem em média 42anos e me disse que adora trabalhar ali.
Disse-me também que se tive tempo gostaria de participar das aulas que o grupo
faz, pois gosta muito do método que a professora utiliza, acha muito bom o carisma
que a professora tem e o cuidado com as alunas.
Fato importante, pois indica que o trabalho realizado por este grupo traz
interesse em outras pessoas.
A professora chegou por volta de sete horas e ficamos conversando sobre
assuntos variados como novelas, trabalho, família. Neste momento falamos também
do meu trabalho realizado ali e pedi que ela me cedesse cinco minutos da aula para
apresentar alguns resultados apurados por mim, referente ao trabalho. Ela falou que
não teria problema algum e pediu para ver o que eu tinha preparado. Mostrei a ela e
expliquei algumas anotações. Ela gostou muito e disse que seria um incentivo para
a turma.
As alunas chegaram, como de costume, atrasadas devido os condicionantes
sociais (atraso de ônibus, trabalho, família, e outros).
Antes de iniciar a aula apresentei o resultados da minha intervenção, que foram
quanto a participação das alunas nas aulas, o incentivo a mudança de pensamento
quanto ao movimentos realizados na dança e como é falho o incentivo e trabalho
com mulheres na idade delas.
Elas gostaram das colocações e disseram que realmente não é fácil estar ali,
mesmo que seja uma vez na semana. Isso porque praticamente todas trabalham, tem
filhos e até netos, precisam cuidar da casa. Elas também disseram que acha falha do
governo não apresentar programas de incentivo ao esporte para pessoas da idade
delas. O incentivo seria disponibilizar mais lugares adequados, com informação e
pessoas qualificadas e fácil acesso, demonstrando como o papel do professor de
Educação Física nessa contribuição, pois é ele quem pode promover junto com a
comunidade meios de incentivo.
Pedi que elas fizessem uma breve avaliação de minha participação nas aulas, de
forma verbal, bem rápido, pois a hora já estava avançada.
A professora começou e me pediu em primeiro lugar desculpas por ter cedido o
momento para que eu mesma ministrasse as aulas, mas que o que eu tinha passado
para elas foi de suma importância, uma vez que ela tinha essa teoria como suporte
para programar suas aulas e esse tema da Técnica Klauss Vianna possibilita
planejar uma aula mais abrangente, sem focar apenas a técnica do Balé.
As alunas agradeceram a minha presença e disseram que é muito bom saber que
a Universidade disponibiliza trabalhos assim e esperam que isso sempre continue,
não só com elas, mas em outros lugares como abrigos para menores e hospitais.
Feita a intervenção, passamos para a aula e depois fomos embora as 22h.