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ESCOLA BÍBLICA - REVISTA E ATUALIZADA

Olga Maria R. N. Sant’Anna


Pontualmente, no mesmo local, um grupo se reunia para estudar a Bíblia, apesar de
estar limitado pelo cabresto dogmático que impôs a si mesmo com o passar dos anos. M
as, a presença de um visitante inesperado trouxe grande surpresa e inquietação. Em seu
discurso, o visitante apresentou uma interpretação nova e inconcebível aos seus ouvin
tes. Diante da argumentação contundente, e sem meios de respondê-la, não houve outra pos
ição a tomar, a não ser a rejeição total acompanhada de perseguição.
Um segundo grupo recebeu o mesmo visitante, mas ao ouvir coisas tão conflitantes c
om o que acreditava até aquele momento, se dedicou a pesquisar e verificar a funda
mentação bíblica dos argumentos apresentados. Ao findar a pesquisa, o grupo aceitou as
afirmações do visitante.
Talvez pudéssemos registrar dessa forma as reações antagônicas dos judeus tessalonissens
es e bereanos diante da releitura que Paulo fez do Antigo Testamento para aprese
ntar Jesus como o Cristo, há muito esperado por eles. Exaltamos a atitude dos bere
anos porque tomaram a decisão acertada, mas negligenciamos o processo em que isto
aconteceu. Infelizmente não estamos oferecendo aos crentes de hoje os subsídios nece
ssários para o mesmo aprofundamento na Palavra. Não oferecemos os instrumentos para
que o crente tome decisões acertadas pautado na Palavra de Deus. Cabe a pergunta:
Que tipo de ensino bíblico temos oferecido? Por que os membros de nossas igrejas não
estão preparados para discernir as muitas doutrinas que chegam até eles? Podemos pe
nsar em algumas possíveis respostas.
Supervalorização do Professor
Tem-se adotado um modelo tradicional de ensino colocando o professor no centro d
o processo ensino-aprendizagem.Aliás, o pensamento ainda dominante é: o professor en
sina - o aluno aprende. Por isso direcionou-se todo o esforço pedagógico para transm
itir conteúdo ao professor, que por sua vez deve transmiti-lo ao aluno. Paulo Frei
re denomina este processo de "Educação Bancária", pois se faz o depósito de conhecimento
no outro. É interessante verificar este processo na descrição do papel do professor d
e adultos como intérprete da Palavra na visão de Norvel Welch:
• O professor da Escola Bíblica Dominical é um intérprete da Bíblia. Ele foi nomeado para
este fim. Ele fica ao lado do seu aluno para dar as melhores explicações possíveis, p
ara esclarecer palavras e frases difíceis, para desaconselhar conclusões precipitada
s e para evitar interpretações espúrias, forçadas ou prejudiciais.
Afirmar que algumas pessoas podem interpretar a Bíblia e outras não, é voltar a Idade
Média. As Sagradas Escrituras eram objeto de posse da Igreja e somente nela, por i
ntermédio do clero, é que o povo podia ouvir seus ensinamentos. É bom lembrar que os b
atistas, assim com fez Lutero, defendem o livre exame das Escrituras.
Uma visão mais interativa do papel do professor , podemos encontrar em Lucien E. C
oleman Jr. Para ele a função do professor é facilitar a aprendizagem, criar condições favo
ráveis para que ela aconteça. Além de interpretar a Bíblia, o professor tem a difícil tare
fa de ajudar os alunos a interpretá-la.
• O que é mais fácil: ajudar alguém a compor sua própria interpretação da Bíblia ou simpl
te contar-lhe a sua? O que exige mais capacidade: "expor o assunto" de uma manei
ra pré-fabricada ou orientar os alunos à medida que eles descobrem a verdade por con
ta própria?
Mas, no dia-a-dia da Escola Bíblica em muitas regiões do Brasil, infelizmente, nem p
rofessor, nem aluno interpretam a Bíblia. Ambos reproduzem a interpretação feita pelo
autor da revista utilizada, com total ausência de senso crítico.
Ensino Bíblico Para Reprodução
O resultado disto, depois de anos, é um ensino bíblico com ênfase na reprodução. Produzind
o alunos passivos e dependentes, que não sabem "responder a razão de sua fé". Eles som
ente repetem o que seu professor ou pastor lhe transmitiu. Estão prontos para repr
oduzir os argumentos daqueles que mais o impressionaram, mesmo que sejam líderes d
e doutrinas divergentes. Quando os questionamentos externos, fogem dos parâmetros
da revista, nossos alunos não sabem reagir.
Podemos imaginar que os tessalonicenses visitados por Paulo na sinagoga podiam r
eproduzir somente os ensinamentos de seus mestres. Não estavam preparados para uma
confrontação com um ensinamento diferente. Sem conhecer e utilizar os princípios de i
nterpretação bíblica, sem desenvolver o hábito de pesquisar em outras fontes além da revis
ta, do professor ou do pastor, nosso povo está despreparado para enfrentar o misti
cismo deste final de século.
No entanto, segundo o autor do livro Programa de Educação Religiosa, "o objetivo da
educação religiosa é a formação de uma consciência que oriente a conduta do cristão à luz d
avra de Deus ..." A formação da consciência crítica para tomada de decisões acertadas, pri
ncipalmente aquilo em que devemos crêr, vai acontecer mediante problematização, debate
, reflexão. Precisamos criar um clima favorável a questionamentos por parte dos alun
os, mas precisamos oferecer-lhes condições de usarem os princípios hermenêuticos em sua
confrontação com a Bíblia . É indispensável conhecer os instrumentos básicos para interpret
r a Bíblia e achar as possíveis respostas para os questionamentos feitos ou novas idéi
as que aparecem constantemente.
Separação entre Bíblia e Realidade
Por mais importante que a Bíblia seja para nós, não podemos ensiná-la fazendo um corte c
om a vida, com a realidade do aluno. Mais importante que o saber cognitivo da Bíbl
ia, mais importante do que a memorização de capítulos inteiros, é entendermos a sua mens
agem ontem e hoje. O que Deus está nos dizendo através de Sua Palavra? Informações sobre
os fatos históricos são importantes para entendermos o contexto, mas se pararmos tão
somente neste estágio, a Palavra não cumprirá o seu objetivo: conhecermos a vontade de
Deus.
Outro aspecto a considerar é que a Palavra de Deus ensina a cada um de nós a lição que p
recisamos. Deus sabe exatamente aquilo que precisamos mudar em nossas vidas e nós
também sabemos. Num processo de ensino-aprendizagem é o aluno quem deve descobrir co
mo aplicar o texto bíblico estudado em sua vida. Normalmente, numa visão paternalist
a de ensino, o professor é quem dá a aplicação do texto pronta para o aluno no final da
aula.
Estrutura Enferrujada
Uma estrutura educacional existe para facilitar o processo de ensino-aprendizage
m. Porém na Escola Bíblica muitas vezes acontece o contrário: professor e aluno são opri
midos pela estrutura. Por isto optamos por analisar a estrutura com os olhos do
professor e do aluno. Talvez possamos encontrar respostas para perguntas como: P
or que é constante a busca por professores? Por que é baixa a freqüência e reduzido o núme
ro de matriculados?
O Professor
São muitas as exigências para o professor da EBD. Além de ensinar a Palavra, segundo N
orvel Welch ele também deve ser exemplo em sua vida cristã; evangelizar colocando Cr
isto como Salvador em qualquer lição que ensinar; ser o líder da classe na visitação dos d
oentes e faltosos e ainda ser o amigo e conselheiro de todos os alunos. Quase qu
e estamos descrevendo um super-crente. A realidade é outra. A vida do professor é ag
itada durante toda semana. Seu tempo tem que ser dividido com família, trabalho e
muitas vezes estudo. É hora de perguntarmos que apoio o professor tem recebido par
a realizar seu trabalho? Se entendemos que ele é importante no processo, então temos
que ajudá-lo. Abaixo você pode encontrar algumas sugestões.
Fatores Motivadores Fatores Desmotivadores
• Ao ser convidado, receber suas tarefas por escrito.
• Participar do processo de escolha do currículo.
• Escolher o conteúdo que gostaria de ensinar e se aprofundar.
• Receber orientação pedagógica direcionada às suas dificuldades no ensino. •
de dominar a cada trimestre todo o conteúdo da revista, sem ter chance de se aprof
undar em um livro ou período histórico da Bíblia.
• Receber a revista com poucos dias de antecedência para se preparar.
• Participar de Estudo Prévios cansativos, que tentam explorar todo o conteúdo do tri
estre em poucas horas.
• Receber xerox de capítulos de comentários ou dicionários que auxiliarão em sua pesq
referente as lições que serão estudadas.
• Receber um cartão ou uma visita no dia do seu aniversário. A ausência de espaç
o e recursos didáticos.
• Ser avaliado a cada trimestre pelos alunos e pela Escola, de forma que possa id
entificar os aspectos que demonstram seu progresso e/ou dificuldades.
• Utilizar diferentes tipos de avaliação para identificar o desenvolvimento ou não da c
lasse a cada trimestre.
• Ter oportunidades para compartilhar vitórias e dificuldades com outros colegas em
encontros informais, que favoreçam momentos devocionais e de lazer.
• Receber da secretaria um relatório que demonstre a freqüência da classe com nomes e e
ndereços de alunos faltosos, assíduos e visitantes. • A carência de apoio pedagóg
co teológico.
• Ter suas aulas interrompidas com freqüentes avisos.
• Não ter o mínimo de uma hora para desenvolver a aula.
• Trabalhar todos os domingos do ano sem direito a férias.
• Nunca receber uma palavra de incentivo e reconhecimento do seu trabalho.
O aluno
Para começar, a EBD é uma escola muito fácil de entrar e difícil de sair. O processo de
matrícula acaba por baratear o ensino. Segundo o Manual da EBD, a pessoa pode se m
atricular em qualquer domingo do ano, depois de uma ou mais visitas a uma classe
. Somente em caso de morte, transferência para outra igreja ou mudança de residência p
ara outra cidade é que se admite que um nome seja retirado dos registros da secret
aria.
Que esforço a pessoa deveria fazer se ele é um aluno permanente numa escola? Que mot
ivação teria para ser assíduo se sabe que deve fazê-lo por toda a sua vida e não por um pe
ríodo? Na minha opinião, seria mais atraente oferecermos ao aluno propostas de curso
s, com currículo e carga horária definida, em que ele percebesse o seu desenvolvimen
to ao vencer etapas. Atualmente, o aluno passa para uma outra etapa automaticame
nte quando vence o estágio de desenvolvimento físico e mental de sua faixa-etária. Mas
, existem outros fatores desmotivadores e motivadores.
Fatores Motivadores Fatores Desmotivadores
• Pertencer a um grupo de estudo de seu interesse ou de sua faixa-etária.
• A cada trimestre ter mais de uma opção de estudo e matricular-se para tal.
• Estar aprendendo mais sobre Deus e como interpretar e aplicar a Sua Palavra.
• Perceber que a cada etapa, o estudo apresenta um grau maior de dificuldade.
• Fazer descobertas durante o estudo.
• Usar diferentes materiais de apoio para pesquisa.
• Participar de atividades extra-classe que sejam complementação do estudo bíblico.
• Receber apoio da classe para superar dificuldades pessoais.
• Compartilhar com a classe seus pedidos de oração.
• Ser avaliado em seu desenvolvimento no conhecimento bíblico por professor e colega
s e por ele mesmo.
• Fazer a cada domingo, a aplicação do texto bíblico com sua vida.
• Periodicamente, fazer uma auto-avaliação.
• Ter mais opções de dias e horários para o estudo bíblico. • Ouvir a exp
arte do professor .
• Estudar um conteúdo que não escolheu.
• Estudar o mesmo assunto diversas vezes e com abordagem semelhantes.
• Ser esquecido no dia do seu aniversário.
• Ter o estudo interrompido por constante faltas do professor.
• Usar uma literatura de apoio pouco atraente.
• Ter o seu tempo de estudo reduzido por avisos e abertura do departamento a que p
ertence.
• Passar um trimestre após o outro, sem nunca identificar o seu crescimento ou não de
ois do estudo.
• Ouvir do professor a aplicação do texto bíblico.
• Nunca ser ouvido pelo professor, diretor da EBD e demais líderes, sobre como vê a e
trutura adotada, o nível de ensino, etc.
• Nunca receber uma palavra de incentivo por sua frequência e assiduidade.
• Apesar de seu esforço no estudo da lição, não lhe é dada a oportunidade de ter a ex
de conduzir processo ensino-aprendizagem.
• Ter dois professores que se revezam a cada domingo. Apesar do assunto ser o mesm
o, o processo é interrompido, pois cada professor tem o seu estilo.
PASSOS PARA REVISÃO E CORREÇÃO
1. Avaliar: reunir a liderança da EBD para avaliar o momento atual e identificar o
pontos fortes e fracos.
a. Entrevistar o pastor para identificar sua visão sobre EBD.
b. Desenvolver um formulário de pesquisa onde professor e aluno podem expressar su
as opiniões sobre a administração da EBD, sua estrutura (horário, salas, abertura e ence
rramento, divisão em departamentos e classes por faixa-etária, etc), literatura, e t
ambém colher sugestões.
c. Com cuidado e sensibilidade, desenvolver um formulário para que o aluno avalie
o trabalho do professor ao final do trimestre.
d. O aluno também deve ser avaliado pelo professor para verificar a aprendizagem d
o mês ou trimestre. (Deve-se evitar perguntas objetivas que provocam respostas que
foram memorizadas.)
e.Incentivar a auto avaliação do aluno e do professor.
2. Planejar: Reunir o Conselho da EBD para que a partir das informações coletadas, i
dentificar as necessidades, redefinir a estrutura a ser utilizada, estabelecer a
lvos, definir estratégias e o cronograma de execução. Se for necessário nomear uma comis
são para estudar e sugerir o currículo, mas que seja receptiva a coletar sugestões de
professores e alunos. O currículo deve ser flexível e com alternativas para alunos e
professores.
3.Orientar: Cada pessoa que atua na EBD (diretor, professor, secretários, líderes de
integração) precisa estar segura sobre as tarefas que terá que realizar. Muitas vezes
é mais produtivo orientar individualmente e acompanhá-las em suas dificuldades.
a. Dar tarefas por escrito
b. Solicitar leituras de apoio, se necessário,
c. Ajudar na execução de tarefas de maior dificuldade,
d. Agendar datas para apresentação de tarefas
e. Elogiar o cumprimento das tarefas
Para a prover a formação de professores, algumas igrejas utilizam a Classe de Profes
sores Permanente, algumas vezes antes do horário da EBD, outras vezes por revezame
nto de professor titular e auxiliar durante o horário da EBD. Depois de algum temp
o esse sistema se torna cansativo e ineficaz. Quero sugerir a promoção de um curso p
ara professores com um currículo elaborado a partir das necessidades identificadas
na avaliação ou individualmente. O importante é que o curso tenha uma duração definida e
não muito extensa (três meses), que tenha o assunto bem delimitado, que seja em horári
o adequado para a maioria dos professores. Ao final, o professor deve receber um
certificado num momento especial, diante de toda igreja.
4. Promover:
a.Carta aos faltosos e membros da igreja que não são alunos, convidando para novos c
ursos, classes ou projetos que foram planejados.
b. Cartazes, faixas, mural da EBD, boletim da EBD, etc.
c. Anúncios em rádio (se possível e viável)
d. Promoção de eventos: Congresso da EBD, culto sob a direção da EBD com ênfase no Estudo
Bíblico; Dia da Bíblia, Acampamentos, etc.
5. Avaliar:
Não haveria razão de escrever este artigo, caso os educadores e pastores, tivessem o
hábito de avaliar permanentemente. Por melhor que seja o projeto a ser experiment
ado, deve ser avaliado.Alguns poucos educadores já descobriram esse caminho e estão
promovendo mudanças significativas em seu sistema de ensino bíblico.
Vivemos um momento de transição muito importante. Queremos romper que a Escola Bíblica
Tradicional, mas ainda não encontramos soluções para todos os problemas. Uma coisa é ce
rta: não existe uma proposta modelo de EBD que atenda a todas as igrejas. Mais int
eressante do que isso, seria a existência de vários modelos de EBD, que nos servisse
m de motivação para elaborarmos uma proposta adequada para nossa realidade. Estamos
nesta direção!

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