You are on page 1of 12

FATORES PSICOLÓGICOS QUE IMPLICAM NA AÇÃO DO CONDUTOR E O

DESAFIO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO1

Leni de Souza Barros2

RESUMO: Este artigo visa verificar os fatores psicológicos que implicam na ação/comportamento do
condutor e interferem significativamente no dia-a-dia, no ambiente, na família e, logicamente, no
trânsito. Assim, o desafio da educação para o trânsito se torna uma tarefa ainda mais árdua e
desafiadora. É indiscutível a necessidade de se melhorar a Educação para o Trânsito, pois é clara a
quantidade de acidentes que ocorrem pela falta de prudência dos motoristas. Há necessidade de se
promover e conscientizar a população para que haja comportamentos humanos mais seguros no
trânsito. Pois, para realizarmos o ato de conduzir precisamos que a nossa capacidade física e mental
esteja em ordem para que não coloquemos a nossa vida e a de outros em risco. Apesar de muitas
mudanças e melhorias com o novo Código de Trânsito Brasileiro, o Brasil ainda tem muito que investir
na educação voltada para o trânsito. O problema está em identificar os problemas psicológicos
existentes e fazer com que este candidato procure ajuda profissional antes de iniciar o processo que
resultará na sua CNH e se inserir num trânsito que já está problemático no Brasil e que necessita de
uma intervenção rápida e eficiente.

Palavras-chave: Psicologia; trânsito; educação; comportamento humano no trânsito.

ABSTRACT: This article aims at to verify the psychological factors that imply on behavior of driver that
a lot interfere significantly on day-by-day, in the environment, on family and obviously, on the traffic.
Such, the challenge of traffic education becomes very difficult and hard. It is very important make
better traffic education, therefore the amount of accidents is clear happened because of bad drivers. It
has necessity promotion and conscientiousness populations for safe behaviors in the traffic. Then, for
drive the car we need to be perfect body and mind, because we can put in danger our live and live of
other peaples. Even though many change the subject on the new brazilian code traffic, Brazil still has
much that to invest in the traffic education. The problem it is to find psychological problems and make
sure this person go to professional help before your driver license and include on the problematic
brazilian traffic that it needs a fast and efficient intervention.

Key words: psychology, traffic, education, human behavior on the traffic.

Introdução

Os fatores psicológicos que implicam na ação/comportamento do condutor


interferem significativamente no dia-a-dia, no ambiente, na família e, logicamente, no

1
Artigo Científico orientado pelo professor ms. Antonio Carlos Thonny e depositado como requisito
para obtenção do título de especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, pela
Faculdade de Informática de Ouro Preto do Oeste, mantida pelas Escolas Unidas de Ouro Preto do
Oeste.
2
Autora do artigo, Psicóloga, Perita Examinadora de Trânsito, Pós-graduanda em Metodologia e
Didática do Ensino Superior.
trânsito. Assim, o desafio da educação para o trânsito se torna uma tarefa ainda
mais árdua e desafiadora.
É indiscutível a necessidade de se melhorar a Educação para o Trânsito, pois
é clara a quantidade de acidentes que ocorrem pela falta de prudência dos
motoristas. Há necessidade de se promover e conscientizar a população para que
haja comportamentos humanos mais seguros no trânsito. Pois, para realizarmos o
ato de conduzir precisamos que a nossa capacidade física e mental esteja em ordem
para que não coloquemos a nossa vida e a de outros em risco. Assim, devemos
pensar no papel do psicólogo como um importante interventor na busca de novas
maneiras para que haja a prática psicológica adequada neste vasto campo de
trabalho que é zelar, também, pelo bem estar social, pessoal e atuar onde as
necessidades da sociedade exigem.
Apesar de muitas mudanças e melhorias com o novo Código de Trânsito
Brasileiro, o Brasil ainda tem muito que investir na educação voltada para o trânsito.
Números alarmantes têm nos perseguido como num grito de socorro, esperando por
soluções que tardam. Nesse sentido, Thielen (2005) afirma que no Brasil em 2002
foram registradas 18.877 vítimas fatais e 318.313 vítimas não fatais de acidentes de
trânsito. Já, de acordo com a ABRAMET (2007) nas rodovias estaduais de São
Paulo somadas com federais registram 492 acidentes por dia. O quadro é tão grave
que, somente em 2006, nas rodovias estaduais de São Paulo, foram registrados
70.603 acidentes, com 35.024 feridos e 2.191 mortos. São consideradas as
melhores estradas do país mas registraram 193 acidentes por dia. Nas rodovias
federais pavimentadas, em todo território nacional, foram 109.278 acidentes com
66.066 feridos e 6.116 mortos. Somando somente as rodovias federais com as
estaduais de São Paulo, temos 492 acidentes por dia, 277 feridos e 23 mortos. É
quase 1 morto por hora e 1 ferido a cada cinco minutos, sem contar os dados das
rodovias estaduais e municipais de todos os demais estados do país", acrescenta o
Coordenador do SOS Estradas.
Nós, psicólogos, precisamos elaborar mais propostas de intervenção na área
da saúde pública e contribuir para o avanço desta.
Pelo fato de trabalhar com a Avaliação Psicológica de Candidatos à CNH,
percebo que muitos candidatos têm problemas psicológicos e não têm consciência
de sua condição, ou se têm, mesmo assim, querem ou necessitam de suas CNH’s.
O problema está em identificar os problemas psicológicos existentes e fazer com
que este candidato procure ajuda profissional antes de iniciar o processo que
resultará na sua CNH e inserir-se num trânsito que já está problemático no Brasil e
que necessita de uma intervenção rápida e eficiente.
Melhorar o trânsito brasileiro a partir de uma educação voltada para os
aspectos psicológicos implícitos neste contexto representa um cuidado maior com a
formação do condutor, com a vida de todos que participam deste trânsito e com a
saúde pública de nosso país.
Ter indivíduos mais saudáveis, física e psicologicamente, no trânsito, significa
uma melhor qualidade de vida, pessoas mais conscientes do “eu-individual” e do
“outro” enquanto “sociedade” e estará saindo de uma situação egocêntrica para uma
vida inserida num contexto social.
Hoffmann (2003) descreve que o ambiente de trânsito mostra ao motorista o
que ele deve ou não fazer, e que, um dos comportamentos importantes é a tomada
de decisão frente às condições variadas a que nos submetemos, inesperadas ou
emergentes à situação de trânsito. Assim, podemos perceber que o fator psicológico,
o estado emocional do condutor, é um componente imprescindível no momento
desta tomada de decisão.
De acordo com o CTB, Art. 76º, a educação para o trânsito será promovida na
pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações
coordenadas entre órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de
Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas
respectivas áreas de atuação. Ou seja, a competência esperada do Estado não se
verifica no dia-a-dia, pois, de acordo com o que vivenciamos esta não é a realidade,
ou não ocorre com a freqüência com que deveria, pois os acidentes continuam em
grande número. É preciso uma intervenção mais concreta, assídua, rotineira,
freqüente e decisiva, além de uma análise objetiva de suas condições de existência
(educação para o trânsito) e de funcionamento para que, de fato, haja uma
significativa alteração nas estatísticas de acidentes, sejam eles com vítimas ou não.
Não há como não associar a condução de um veículo ao estado emocional do
condutor. Quando o condutor está atrás de uma direção é como haver uma junção
entre ambos, homem = máquina, máquina = homem. Pois, para alguns, segurar na
direção de um veículo é como tomar o poder em suas mãos, ganhar a liberdade ou
até mesmo, ter uma arma em suas mãos. Assim, o psicólogo pode atuar na
prevenção dos fatores que levam ao acidente e nos conflitos associados a ele
(medo, angústia, ansiedade, nervosismo, raiva etc).
O motivo de estudarmos os fatores psicológicos que implicam no
comportamento humano no trânsito Asch (1977, p.64) explicita bem quando
descreve que “muitos processos internos, que influenciam a ação, não são
representados na consciência”. Ou seja, são de natureza inconsciente, e um fato
desses deve ser de competência para tratamento psicológico. Daí se dá a
necessidade de se estudar esses fatores que influenciam e alteram a vida do
indivíduo e em sociedade, e contribuir com a promoção de ações que visam o bem-
estar individual e coletivo.
Educação para o Trânsito é promover cidadania, é contribuir para o
desenvolvimento da sociedade e melhorar a convivência, o senso coletivo.
Para se estudar um fato complicado como o trânsito é preciso decompô-lo em
seus elementos, identificá-los e descrevê-los, para então, estudar as formas pelas
quais se poderá intervir de maneira construtiva, visando o bem-estar humano e a
forma de melhor convivência em sociedade.

Definição de Trânsito e o CTB

Existem várias definições para o trânsito, mas todos concordam que dele
participam pessoas, veículos, animais e é uma questão social e política a se tratar.
De acordo com DENATRAN (2006) o CTB – Código de Trânsito Brasileiro
define Trânsito como a movimentação e imobilização de veículos, pessoas e animais
nas vias terrestres.
Tonglet (1999) diz que a realidade do trânsito se dá pelo movimento,
circulação, afluência de pessoas ou de veículos que seguem manifestações volitivas
individuais.
No trânsito, os acontecimentos são democráticos e inclui todas as pessoas
sem distinção de classe social, religião, política ou de educação. É uma questão de
atitude social que envolve pessoas, grupos e classes, sendo os três principais
subsistemas o homem, a via e o veículo (Rozestraten, 1988).
Vasconcelos (1985) define trânsito como uma luta pelo espaço, pelo tempo e
pelo acesso aos equipamentos urbanos - é uma negociação permanente do espaço,
coletiva e conflituosa. E essa negociação, dadas as características da nossa
sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a disputa pelo espaço tem uma base
ideológica e política, depende de como as pessoas se vêem na sociedade e de seu
acesso real ao poder. Nada mais que o princípio da alteridade e ascensão ao poder.
“Trânsito é um fenômeno público e coletivo e que a melhoria da qualidade de
vida no mesmo depende delas: motoristas e transeuntes” (Thielen, 2005, p. 4).
Para Rodrigues (2007) é preciso analisar o trânsito como funciona, como as
pessoas participam dele - pedestres, motoristas, passageiros -, quais são seus
interesses e necessidades. Considera que o trânsito é uma questão social e política,
e que pode ser uma luta pelo espaço e pelo tempo e reflexo de uma desigualdade
na própria sociedade, resultado de relações sociais e de poder que se manifestam.
Participar de um trânsito é ser um integrante ativo de uma negociação,
transação, de um relacionamento, é ser co-participante, é interagir com o outro, com
a sociedade, é ser político e cidadão.
No CTB, no Art. 147º, diz que o candidato à habilitação deverá submeter-se
a exames de aptidão física e mental, escrito, sobre legislação de trânsito, de noções
de primeiros socorros, conforme regulamentação do CONTRAN, e de direção
veicular, realizado na via pública, em veículo da categoria para a qual estiver
habilitando-se, realizados pelo órgão executivo de trânsito. Em nenhum momento,
no CTB é citado ou mencionado que deva fazer parte um trabalho de
conscientização quanto aos aspectos psicológicos envolvidos no ato de condução
automotora.
Para que tenhamos bons e conscientes condutores, precisamos que estes
tenham a consciência de seu estado emocional no ato de dirigir.
Da mesma forma que existe uma campanha para que não dirijam depois de
ingerir bebida alcoólica ou com sono, deveriam existir campanhas para que não
dirijam emocionalmente abalados, pois este, é tão prejudicial ao trânsito quanto um
condutor alcoolizado.
Os § 2º e 3º do Art. 147º refere-se aos exames de aptidão física e mental
onde diz que será preliminar e renovável a cada cinco anos, ou a cada três anos
para condutores com mais de sessenta e cinco anos de idade, no local de residência
ou domicílio do examinado (incluído pela Lei nº 9.602, de 1998), que incluirá o
condutor que exerce atividade remunerada ao veículo e também os referente à
primeira habilitação (Redação dada pela Lei nº 10.350, de 2001). Seria este o tempo
correto para uma renovação dos exames, não sendo trabalhado os aspectos
psicológicos durante o processo de habilitação e renovação?
Num período de cinco anos um condutor pode sofrer um abalo emocional
capaz de interferir ou prejudicar sua maneira de conduzir colocando em risco outras
pessoas no trânsito. Além do que se sabe, muitos têm resistência em procurar um
tratamento psicológico, ou, como sugere Tonglet (1999, p.12) “muitos têm seu
primeiro contato com a Psicologia por intermédio da Avaliação Psicológica para
obtenção da C.N.H”.
Vale ainda complementar que muitos quando chegam para a avaliação
psicológica para obterem a CNH não têm idéia do que irão fazer nesta. Muitos não
sabem o papel de um psicólogo e que importância isso tem para o trânsito.

A Psicologia do Trânsito

A Psicologia do Trânsito é uma área, relativamente, nova e que tem se


desenvolvido muito no Brasil nos últimos anos.
Segundo Hoffmann (2003) a Psicologia do Trânsito nasceu em 1910 e seu
precursor foi Hugo Munsterberg. Trouxe os testes psicológicos para o campo do
trânsito com o objetivo de diminuir os acidentes por meio de uma testagem dos
candidatos a motorista em geral, “selecionando os indivíduos que apresentavam
capacidades atualizadas para desempenho intelectual, motor, racional e emocionais
satisfatórios necessários à operação de transitar” (2003, p.39).
Ainda, segundo Hoffmann (2003) houve um marco histórico na Psicologia do
Trânsito com o Dr. Reinier Rozestraten. É com este que a psicologia do trânsito
começa a se enraizar e ser amplamente difundida no Brasil.
A psicologia do trânsito é uma área que estuda, por meio de métodos
científicos empíricos, os comportamentos humanos no trânsito, assim como os itens
conscientes e inconscientes que os modificam. Segue ainda dizendo que o maior
causador de acidentes no trânsito é o comportamento humano, assim, devemos
estudar as causas de seu funcionamento ineficiente e o que leva à disfunção do
sistema homem-veículo-via (Rozestraten, 1988).
Vale citar aqui um questionamento de Hoffmann, onde diz que, considerando
o participante do trânsito como causa e conseqüência da sociedade, do ambiente
social e físico, onde temos de procurar os antecedentes dos acontecimentos de
trânsito, especialmente a desobediência, erros, lapsos e demais comportamentos

que viram violações do código do trânsito e até, colisões, fatal ou não(2003, p.51).

A resposta para esta pergunta é o papel da psicologia do trânsito.

O papel da psicologia deve ser desvelar e resgatar o sentido coletivo


intrínseco às ações do ser no mundo. É resgatar o outro. É integrar a
responsabilidade das ações individuais a partir de uma perspectiva
coletiva. No trânsito não há possibilidade de escolhas individuais sem
conseqüências coletivas, sempre as ações irão interferir no "outro", pois,
como ensina a física, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao
mesmo tempo (Thielen, 2005, p.8).

A Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica está recebendo uma influência multidisciplinar do


trânsito e com isto apresentará novos caminhos assumindo um enfoque educacional,
formativo e preventivo. Considera ainda que a avaliação psicológica deva ser
encarada como uma etapa da formação do candidato à C.N.H. e como uma
alternativa de revisão sistemática das funções mentais do motorista profissional
(Tonglet,1999).
O objetivo do trabalho do psicólogo do trânsito, no que se refere à avaliação
psicológica dos candidatos à CNH, é detectar motoristas acidentógenos3 e retirá-los
do trânsito. Além de contribuir para repensar o comportamento do condutor e
proporcionar condições mais favoráveis para o enfrentamento do trânsito.
Tonglet (1999) considera que a avaliação psicológica, os testes, não podem
ser algo estranho ou alheio ao dia-a-dia do condutor, precisam estar em

3
Trata-se daquele condutor causador de acidentes em potencial. Refere-se conforme nova tendência
a “criminosos do trânsito”. Vide Congresso da ABRAMET, em http://www.congressoabramet.com.br.
conformidade com a realidade do trânsito como da função mental necessária a ser
utilizada no ato de conduzir um veículo.
Partindo deste pressuposto, faz-se necessário que a Avaliação Psicológica
não seja uma obrigação para o condutor, mas sim um auxílio para a manutensão de
sua CNH.

Fatores Psicológicos implícitos no ato de conduzir

São muitos os fatores psicológicos que inferem no ato de conduzir mas


faremos apontamentos sobre a atenção, a ansiedade, depressão, estresse,
agressividade ou estado de raiva, conflitos internos e fobias neste artigo.
O condutor em seu veículo no trânsito necessita de muita atenção,
concentração e direção segura, e entra em conflito com as características do
ambiente ao dirigir sob influência de substâncias psicoativas4, estressado,
emocionado, fatigado ou sonolento e se o condutor estiver atento ao seu mundo
interior, aos seus problemas, poderá diminuir, e muito, sua capacidade para
perceber e analisar os estímulos exteriores. Assim, perderá um pouco de sua
percepção da realidade, diminuindo seu reflexo, e provocar uma resposta
inesperada ou imprópria a um estímulo que poderá resultar num acidente de trânsito
ou mesmo, apenas, prejudicar o trânsito (Hoffmann, 2003).
Um dos fatores que interfere também no ato de conduzir é o estresse. Parot
(2001) define Estresse em psicologia como termo empregado para evocar as
múltiplas dificuldades que o indivíduo tem para enfrentar (os acontecimentos
estressantes da vida, também chamados acontecimentos vitais) e os meios de que
dispõe para administrar esses problemas (as estratégias de ajustamento).
Quando uma pessoa passa por um importante momento ou acontecimento
estressante a possibilidade dessa pessoa sofrer um acidente aumenta ou duplica,
mas que o estresse por si só não é um fator eficiente para provocar um acidente de
trânsito, pois o momento estressante depende da personalidade da pessoa e da
situação em que tal evento ocorre (Hoffmann, 2003).

4
. Refere-se às substâncias tóxicas como álcool, drogas, estimulantes, etc.
Um condutor em certos momentos tem que utilizar sua atenção difusa, que é
a função mental que focaliza vários estímulos que estão dispersos no ambiente
fornecendo um conhecimento instantâneo para o indivíduo; em outro momento sua
atenção de maneira concentrada, que é a função mental que focaliza apenas um
estímulo dentre muitos dispondo de maior tempo para alcançar o nível de
assimilação da aprendizagem; e ainda em outro momento focaliza sua atenção
discriminativa que é a função mental que ao focalizar dois ou mais estímulos faz-se
necessário uma separação do estímulo de seu interesse para então emitir uma
resposta específica (Tonglet, 1999).
Para Parot (2001) a agressividade pode ser como a disposição permanente
para se engajar em condutas de agressão reais ou fantasiosas. Distingui uma
agressividade maligna, destrutiva, e uma agressividade benigna, em que a
combatividade se exprime pela competição e pela criatividade. Parot afirma que
agressividade, conforme as escolas de psicanálise, é como uma pulsão unitária e
independente, a projeção do instinto de morte ou de destruição (S. Freud) ou como
uma manifestação do desejo de poder sobre o outro e de afirmação de si (A. Adler).
Spielberger (2003) em seus estudos sobre Estado e Traços de raiva, diz que
raiva, hostilidade e agressão, às vezes, criam uma confusão conceitual. Para ele,
raiva é considerada geralmente como mais elementar que hostilidade ou agressão.
Raiva refere-se a um estado emocional que abrange sentimentos que variam desde
aborrecimento leve ou irritação até a fúria e raiva, que são acompanhados por uma
estimulação do sistema nervoso autônomo. A hostilidade tem uma conotação de um
conjunto de sentimentos e atitudes que motivam comportamentos agressivos e
frequentemente vingativos. Já a agressão, diferentemente da raiva e da hostilidade,
que são sentimentos e atitudes, refere-se a comportamentos destrutivos e punitivos.
Segundo estes conceitos, pode se verificar que qualquer uma dessas características
em alteração em um indivíduo pode causar danos à saúde (como distúrbios físicos).
Segundo Hoffmann (2003) sabe-se que poucas horas de sono faz com que
no indivíduo os reflexos ficam comprometidos pela baixa reação aos estímulos e
diminui a concentração, características estas importantíssimas para o condutor.
Complementa, ainda, que a sonolência causada pela insônia pode ser
desencadeada por muitos fatores: estresse, depressão, trabalho, ansiedade,
enfermidades, consumo de estimulantes, etc.
Tonglet (1999, p.35) acrescenta que um motorista que esteja
desanimado por conflitos internos, terá rebaixada sua motivação
para dirigir e isso irá causar alterações na sua percepção, pois ele
poderá não dar conta de perceber corretamente a sinalização de
trânsito, ou mesmos de não vê-los no momento apropriado. Voltado
para seus aspectos psíquicos, ele está investindo pouca energia no
mundo externo e os estímulos de fora podem não atingir o limiar
mínimo para ocorrer a estimulação dos receptores, que são as
células nervosas especializadas, capazes de responder a estímulos
específicos.

Hoffmann (2003) destaca que muitas pessoas desconhecem o fator de que a


depressão é uma alteração psicofísica e que pode causar diminuição da atenção,
alterações do sono, alterações na sua capacidade de tomada de decisão, diminuição
do campo visual e tendências suicidas. Estas capacidades são indispensáveis para
conduzir e não podemos, simplesmente, fechar os olhos às mesmas.
Parot (2001) define Ansiedade como uma emoção gerada pela antecipação
de um perigo difuso, difícil de prever e de controlar. Diz ainda que os distúrbios
ansiosos compreendem as fobias, as crises de angústia ou ataques de pânico, a
ansiedade generalizada, manifestações obsessivas e compulsivas, e a ansiedade
pós-traumática.

Conclusão

Asch (1977) diz que se deve observar um organismo em seu ambiente e que
o indivíduo é parte integrante desse ambiente, mas que, de certa maneira, separado.
Diz ainda que os nossos interesses e relações de dependência são medidos por
processos psicológicos como o “estímulo (grifo da autora), que é uma
transformação de condições de campo que exige um equilíbrio modificado” e
“resposta (grifo da autora), que é a ação para o restabelecimento do equilíbrio em
ação, que exige esforço e atenção”. Ou seja, de acordo com as diferenças
individuais, cada sujeito reagirá conforme a sua característica, recebendo o estímulo
e dando sua resposta que é, totalmente, individual e intrínseca.
Hoffmann (2003) afirma que a real produção de conhecimentos psicológicos
no trânsito, em união com o meio técnico-científico poderão proporcionar uma ampla
visão deste fenômeno estabelecendo programas eficazes de humanização do
trânsito, prevenindo acidentes, etc., resultando num real benefício para a sociedade.
Portanto, concluímos que o bom motorista deve estar sempre vigilante,
atencioso ao trânsito, ter tranqüilidade, ser capaz de fazer julgamentos rápidos e
precisos, ter bom ajustamento da personalidade, ter controle sobre os medos e
conflitos, ter consciência de seu estado emocional, além de ter boa concentração. As
conseqüências lógicas dessas atitudes são comportamentos mais humanos no
trânsito, vida digna e o objetivo final da vida em sociedade: cidadania.
Para que a educação para o trânsito seja mais eficaz, deveria haver a
disciplina “Psicologia do Trânsito”, no curso realizado nos CFC’s, em que todos
esses assuntos pudessem ser tratados, ao menos, discutidos. Muitos ainda ignoram
esses aspectos e não sabem como tratá-los. E, levando em consideração que o que
se deseja atingir ou intervir, é o condutor, quanto maior for o conhecimento das
causas prováveis, origens, de um possível acidente, maior será a eficácia da
prevenção do mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMET, 2007 – Associação Brasileira de Medicina de tráfego. Acidentes no


carnaval mataram 490 nas estradas. Data: 6/3/2007. Disponível em:
http://www.abramet.org/informacoes/noticiasVer.asp?id=147. Acesso em
28.05.2007.

ASCH, Solomon Elliott. Psicologia Social. Trad. De Dante Moreira Leite e Miriam
Moreira Leite. 4. ED. São Paulo: Nacional, 1977.

BLEGER, José. Psico-higiene e psicologia institucional. Trad. De Emília de


Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

DENATRAN, 2006. CTB – Código de Trânsito Brasileiro: instituído pela Lei nº


9.503, de 23.09.97 – Brasília.
HOFFMANN, M. H.; Comportamento Humano no Trânsito.São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003.

PAROT, F.; R. Doron. Dicionário de Psicologia. São Paulo: Ática, 2001.

RODRIGUES (2007), José Nivaldino. Por que buscar a Paz no Trânsito?


Disponível em http://sos.estradas.com.br/estudos.asp. Acesso em 28.05.2007.

ROZESTRATEN, R. J. A. (1988). A Psicologia do Trânsito – Conceitos e


processos básicos. São Paulo: EPU/EDUSP.

SIDEKUM, Antonio (2002). Ética e Alteridade: A subjetividade ferida. Unisinos.

SPIELBERGER, Charles D. Manual do Inventário de Espressão de Raiva como


Estado e Traço. Tradução e adaptação de Ângela M. B. Biaggio – 2. ED. Ver. E
ampl. Pelo Departamento de Pesquisas da Vetor Editora – São Paulo: Vetor, 2003.

THIELEN (2005), Iara Picchioni, Manoel Ricardi Neto; Diogo Picchioni Soares;
Ricardo Carlos Hartmann. Metaphor: o jogo do trânsito..Universidade Federal do
Paraná, 2005. Disponível em http://www.pepsic.bvs-psi.org.br . Acesso em
28.05.2007.

TONGLET, Emílio Carlos. BFM-1: Bateria de Funções Mentais para Motoristas:


Teste de Atenção. São Paulo: Vetor, 1999.

VASCONCELOS, Eduardo. O que é Trânsito. São Paulo: Brasiliense. 1985.

You might also like