Professional Documents
Culture Documents
de ALCIDES NOGUEIRA
A JAVANESA……………………………….……………………………………………………………………………..2
PERSONAGEM:
UM HOMEM
“J’avoue
J’en ai
Bavé
Pas vous
Mon amour
Avant
D’avoir
Eu vent
De vous
Mon amour
Ne vous déplaise
En dansant la Javanaise
Nous nous aimions
Le temps d’une chanson
A votre
Avis
Qu’avons
Nous vu
De l’amour
De vous
A moi
Vous m’avez eu
Mon
Amour
Ne vous déplaise
En dansant la Javanaise
Nous nous aimions
Le temps d’une chanson
Hélas
Avril
En vain
Me voue
A l’amour
J’avais
Envie
De voir
En vous
Cet amour
Ne vous déplaise
En dansant la Javanaise
Nous nous aimions
Le temps d’une chanson
La vie
Ne vaut
D’être
Vécue
Sans amour
Mais c’est
Vous qui
L’avez
Voulu
Mon amour
Ne vous déplaise
En dansant la Javanaise
Nous nous aimions
Le temps d’une chanson
PRIMEIRO MOVIMENTO
HOMEM - Por que você fez isso?... Não tinha o direito de decidir
sozinha... O filho também era meu... Não me perguntou
nada sobre o aborto... (T) Como é só um direito seu?...
Não!... Eu fiz esse filho... Nós fizemos... (T) O corpo é
seu?... Direito ao corpo?... Claro que sei que o corpo é
seu, mas/... (AMPARA) Você vai cair... Está fraca... Fazer
um aborto nesta espelunca!... (CONDUZ A JAVANESA)
Não estou dando uma de chorão... Não estou sendo
melodramático... Mas você devia ter conversado
comigo... Eu nem sabia que estava grávida... (SENTA A
JAVANESA NA CADEIRA E SE AFASTA.)
LUZ CAI. O HOMEM SAI CORRENDO. VAI PARA OUTRO PONTO. FICA
ESTÁTICO. OLHA PARA O VAZIO, COM 55 ANOS.
HOMEM - Eu sabia que você não ia ler aquela carta... Não tinha
paciência para isso... Não tinha paciência para nada...
Por isso, abortou... Para não carregar um filho na
barriga durante nove meses... Se ele já nascesse
crescido, talvez fosse diferente... Mas isso tanto faz,
como você sempre repetia... Como repetia sem parar a
sua canção...
HOMEM - Você leu a carta?... Tinha certeza que não... Nem sei
porque escrevi tudo aquilo... (T) Mas se não leu a carta,
por que veio me trazer uma resposta?... (ABRE O
ENVELOPE E TIRA UM PAPEL EM BRANCO) Claro... Um
papel em branco... Só um papel em branco... A sua
resposta é branca... Não tem palavras... O que você iria
me dizer?... Nada... (T) Então, por que veio me
perturbar?... Ah, porque é uma mulher elegante... Que
não deixa de responder as cartas que recebe... Sei...
Mesmo que essa resposta seja um nada... (T) Como não
é um nada?... O que está escrito aqui?... (T) Eu que não
entendo a sua escrita?... Qual escrita?... Uma escrita
invisível?... Está bem, já que não consigo ler... já que
não tenho olhos para isso... traduza a sua carta... (INDO
ATRÁS DELA) Você não vai sumir de novo!... Espera,
Javanesa!... (AGARRA A JAVANESA) Finca os olhos
nos meus!... Diz a sua verdade!... Qualquer que seja!...
Mesmo uma verdade inventada agora, mas diz!... Chega
desse jogo... (T) Você não vê que está acabando
comigo?... Que jogou minha vida para o alto, e agora eu
ando de lá pra cá catando os pedaços, tentando
remontar como eu era?... E não consigo nem me
lembrar desses dias de antigamente... Do meu jeito que
se perdeu... Não, não se perdeu... Você me jogou fora...
(T) Não estou louco... Não estou cobrando nada... Eu
perdi a memória de mim!... Eu rodopio como pião bôbo,
batendo aqui, batendo ali, me machucando... (T) Eu
estou machucado, Javanesa... (ABRE OS BRAÇOS)
Olhe para o meu corpo!... Você conhece muito bem este
corpo!... Ele sente fome do seu... Uma fome imensa, do
tamanho do mundo... Eu vou acabar morrendo seco,
esturricado, porque você é meu alimento, minha água...
Mas você quer isso mesmo... Que eu morra seco e
esturricado... (ESTENDE UM DOS BRAÇOS,
TERNAMENTE) Seria tão simples... (T) Eu acreditei que
talvez você quisesse... Que talvez você ficasse comigo...
Não para sempre, porque o sempre não existe para
você... Mas que ficasse aqui... Aninhada em mim...
(PEGA A JAVANESA PELA MÃO E CORRE COM ELA
PARA OUTRO PONTO) Veja!... Aquele tapete caucasiano
que você gostou... Que disse ser mágico e voar por
cima de todas as casas, por cima de todas as cabeças,
por cima de todas as dores... Está aqui!... Eu comprei...
Esperando que você viesse... A luminária de papel-de-
arroz, que você dizia deixar a luz mais bonita porque ela
ficava solta... E que essa luz iluminava as pessoas por
A JAVANESA……………………………….……………………………………………………………………………..13
LUZ CAI ENQUANTO O HOMEM SEGUE PARA OUTRO PONTO. LUZ SOBE
E ELE ESTÁ COM 55 ANOS.
LUZ CAI SOBRE O HOMEM QUE SAI, FIRME, DESSE PONTO. LUZ SOBE
SOBRE O HOMEM QUE, COM 25 ANOS, OLHA POR UMA JANELA.
A JAVANESA……………………………….……………………………………………………………………………..15
HOMEM - Veio para ficar de vez?... Para ficar para sempre?... (T)
Eu sei, eu sei... O sempre não existe... Mas vai morar
aqui, comigo?... Parar de sumir e reaparecer?... (T) É
verdade, Javanesa?... Vai ser minha mulher?... (T) Não,
esse MINHA é apenas força de expressão... Eu sei que
você não é de ninguém... (ROLA COM A JAVANESA
PELO CHÃO) Se estou feliz?... Se eu quero isso?...
(BERRA) Agora eu arrebento o mundo!... (AGARRA A
JAVANESA) Toda palavra é inútil!... Todo gesto é
opaco!... Seu corpo!... Sua chuva!... Caia sobre mim
como gotas sagradas, Javanesa!... Absolva a minha
idiotice masculina!... Coloque meu coração entre seus
A JAVANESA……………………………….……………………………………………………………………………..16
LUZ CAI SOBRE O HOMEM. ELE ESPERA UM TEMPO. VAI PARA OUTRO
PONTO. LUZ SE ACENDE SOBRE A CADEIRA VAZIA. O HOMEM, COM 25
ANOS, VAI SE APROXIMANDO LENTAMENTE, MAL CONTENDO SUA
RAIVA.
SEGUNDO MOVIMENTO
Pra mim tanto faz... (T) Não vou dizer meu nome... Pra
quê?... Não, não diz o seu, não quero saber... Tanto faz...
(VAI SAINDO) Por que você quer que eu fique?... A
gente vai se encontrar de novo... A cidade pode ser
imensa, mas a gente vai se encontrar... Eu sei... (T)
Saber o quê de mim?... Não tenho nada de interessante
pra contar... E, sinceramente, acho que você também
não... (T) Eu vou mesmo... Ah, o guarda-chuva,
obrigada... Estava esquecendo... Vai chover... Não
acredita?... Espera pra ver... (T) Não insista... Não vou
com você para aquele bar... A gente vai ficar jogando
conversa fora... Dizendo coisas bobas... (T) As flores?
Comprei naquela banca ali... Não acredito!... Não
conhecia saudades?... Nem sabia que existia uma flor
com esse nome?... (RI) Você precisa aprender muita
coisa... (SENTE A MÃO DO HOMEM) Gosto do seu
toque... Sua mão é bonita... (AGITA-SE) Eu vou...
JAVANESA - Eu vou falar!... Eu vou tentar falar!... Sei que você quer
ouvir... Mas as palavras crescem em minha boca... Elas
me deixam quase sem fôlego... As palavras são vivas...
(T) Não seja agressivo... (OLHANDO PARA O HOMEM,
QUE ESTÁ EM PÉ) Eu não sei o que eu quero... Eu seria
desonesta... Seria leviana, se dissesse AGORA que
quero viver com você... Nunca soube o que é dividir a
vida... (T) Vida se divide?... Eu tenho medo... Você não
acredita nisso, mas eu tenho medo... Você ainda está
com muita raiva... (LEVANTA-SE) Por que eu ficaria?...
Você não quer... Eu estou sempre indo embora para me
sentir viva... É só isso... Não há mistério algum... Está
chovendo de novo... Chove quando chego... Chove
quando eu parto... (E VAI)
JAVANESA - Uma bússola não iria resolver sua vida... Nem a minha...
Será que tínhamos norte?... Meu barco seguia bêbado
pelas correntezas, mas eu via os pele-vermelhas nas
margens, eu via os fetos boiando em meio às
azulidades... E ficava deitada ao sol, enquanto ele
navegava furiosamente, porque sabia que, de repente,
ele iria de encontro a um cais... Você!...
LUZ CAI SOBRE A JAVANESA, QUE SAI DESSE PONTO. LUZ SOBRE
SOBRE ELA, COM 25 ANOS, COMO SE OLHASSE PARA UMA JANELA.
JAVANESA - Naquela tarde, eu não deveria ter ido até a sua casa!...
Pedido para entrar!...
JAVANESA - Eu vim para ficar!... Estou falando sério!... Vim para ficar
com você... (T) O sempre não existe... (T) Vou, vou
morar aqui... Não sei... Já disse que nunca sei quando
bate a vontade de sumir... Mas duvido que essa vontade
apareça agora!... (T) Uma Javanesa não mente, sabe
disso!... (T) SUA mulher não!... Não sou de ninguém...
Ah, entendi, força de expressão... Eu falo que tenho
dificuldade em entender as suas palavras... (ABRE OS
BRAÇOS) Vem!... (ROLA COM O HOMEM PELO CHÃO)
Quer mesmo que eu fique?... (SENDO AGARRADA
PELO HOMEM) Não diga nada!... Não se mexa!... Para
quê?... Meu corpo está junto ao seu!... A chuva nos
protege!... Entenda que sou apenas uma mulher e você
apenas um homem!... Só isso!... Eu também nunca
soube o que era o amor... Mas agora entendi!... “Por
isso guardo desse meu amor escasso o meu amor
maior.”5 Sonhe esta Javanesa!.... Como eu te sonharei!...
TERCEIRO MOVIMENTO
FIM