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Diego Schwartz1
1. INTRODUÇÃO
A vida moderna e os inventos da era industrial, frutos surgidos
da inteligência humana nos últimos séculos, colocaram à nossa dis-
posição um grande número de coisas que nos trazem comodidade,
conforto e bem estar, como o avião, a locomotiva e o automóvel,
mas que, por serem perigosos, são capazes de acarretar danos às de-
mais pessoas.
Assim, superiores razões de política social impõe-nos o dever
jurídico de cuidado e vigilância das coisas que usamos, sob pena de
sermos obrigados a reparar o dano por elas produzido (CAVALIERI
FILHO apud STOCO, 2004, p. 934).
A doutrina convencionou denominar essa responsabilidade
como “responsabilidade pela guarda da coisa”, ou “responsabilidade
pela guarda das coisas inanimadas” ou, ainda, “responsabilidade pelo
fato das coisas” (STOCO, 2004, p. 934).
Não bastasse o perigo decorrente das coisas inanimadas supra
mencionadas, a mesma situação se aplica ao dono ou possuidor de
animal feroz, que por ventura venha a ferir ou matar alguém que
dele se aproxima.
É por vivermos em uma sociedade perigosa, onde não apenas os
homens, mas também as coisas e os animais podem acarretar graves
riscos ao nosso patrimônio ou à nossa integridade físico-psíquica,
REVISTA DA ESMESC, v. 15, n. 21, 2008
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA E DO ANIMAL | 459
ora em estudo pode-se dizer, que tal presunção cede também ante a
segura prova produzida pelo proprietário de que a ruína não derivou
de falta de reparo, cuja necessidade fosse manifesta. Mas Rui Stoco
reconhece que “é uma prova difícil, porque, como já havia ponde-
rado Aguiar Dias, se caiu é porque necessitava de reparos” (2004, p.
945).
Por outro lado, entendendo ser objetiva a responsabilidade do
proprietário do edifício, devendo este reparar os danos causados a
terceiros independentemente de ter agido com culpa, incluem-se,
entre outros, juristas do porte de Álvaro Vilaça Azevedo (2000, p.
291), Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona Filho (2005, p.198), e Silvio
de Salvo Venosa (2005, p. 115).
Sobre essa corrente, indispensável citar as palavras de Pablo Stol-
ze e Rodolfo Pamplona Filho:
Longe de querermos pacificar a questão, mas apenas esboçando o nos-
so pensamento, cuidaremos de registrar que, em nosso entendimento,
essa regra consagra indiscutivelmente a responsabilidade civil objetiva
do dono do edifício ou construção.
Observe que falamos em “dono”, e não em simples possuidor ou de-
tentor. Se, por exemplo, a construção do imóvel alugado desmorona,
óbvio que responderá o seu proprietário, podendo assistir-lhe uma
eventual ação regressiva, no caso de culpa do locatário.
E a vítima, para obter a devida compensação, não precisará provar a sua
culpa na ausência de reparos que causou o desfecho fatídico [...]
Se quisesse admitir a responsabilidade fundada na culpa não consigna-
ria o preceito de forma tão categórica (2005, p. 198-199).
5. CONCLUSÃO
A convivência em sociedade exige um complexo de normas dis-
ciplinadoras que estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre
os indivíduos que a compõem. Esse conjunto de normas, denomi-
nado direito positivo, que deve ser obedecido e cumprido por todos
os integrantes do grupo social, prevê as conseqüências e sanções aos
que violarem seus preceitos.
Aquele que pratica um ato, ou incorre numa omissão de que
resulte dano, deve suportar as conseqüências do seu procedimento.
Cuida-se de uma regra elementar de equilíbrio social, na qual se
resume, em verdade, o problema da responsabilidade.
Por sua vez, as normas da responsabilidade civil pelo fato da coi-
sa e do animal, têm não só uma função patrimonial ao tornar inde-
ne o dano experimentado pela vítima, como também um conteúdo
de cunho moral, social, religioso e ético, coibindo comportamentos
prejudiciais à sociedade, o que retrata bem os princípios da sociali-
dade, eticidade e operabilidade nos quais se baseou o atual Código
Civil de 2002.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Álvaro Vilaça. Teoria geral das obrigações. 8.ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000.
FIUZA, Ricardo (coord.). Novo Código Civil comentado. 5.ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2006.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito
civil: responsabilidade civil. 3.ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2005. v. III.
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6.ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 5.ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
Agradecimento
Ao nobre professor Jânio de Souza Machado, célebre jurista ca-
tarinense, pela orientação, apoio e ensinamentos transmitidos nas
aulas de Direito das Obrigações do curso da ESMESC.
Ao professor MSc. Jaime Ramos pela dedicação, apoio e ensina-
mentos transmitidos nas aulas de Direito Processual Penal do curso
da ESMESC.