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Aplicações
A aplicação mais imediata dos organismos transgênicos (e dos organismos
geneticamente modificados em geral) é a sua utilização em investigação científica. A
expressão de um determinado gene de um organismo num outro pode facilitar a
compreensão da função desse mesmo gene.
No caso das plantas, por exemplo, espécies com um reduzido ciclo de vida podem ser
utilizadas como "hospedeiras" para a inserção de um gene de uma planta com um ciclo
de vida mais longo. Estas plantas transgênicas poderão depois ser utilizadas para estudar
a função do gene de interesse, mas num espaço de tempo muito mais curto. Este tipo de
abordagem é também usado no caso de animais, sendo a mosca da fruta um dos
principais organismos modelos.
Em outros casos, a utilização de transgênicos é uma abordagem para a produção de
determinados compostos de interesse comercial, medicinal ou agronômico, por
exemplo. O primeiro caso público foi à utilização da bactéria E. coli, que foi modificada
de modo a produzir insulina humana em finais da década de 1970. Um exemplo recente,
já em 2007, foi o fato de uma equipe de cientistas conseguir desenvolver mosquitos
bobucha resistentes ao parasita da malária, através da inserção de um gene que previne a
infecção destes insetos pelo parasita portador da doença.
TRANSGÊNICOS - A controversa interferência na genética da natureza
Poucos assuntos geram tanta controvérsia como os transgênicos. Organismos
transgênicos, ou organismos geneticamente modificados (OGMs), são animais e plantas
que sofrem modificações geradas pela transferência de características (genes) de uma
espécie para a outra. A discussão sobre as vantagens e desvantagens desta “interferência
biotecnologia” do homem na natureza fica mais complexa quando falamos na produção,
comercialização e consumo de alimentos transgênicos.
Os alimentos transgênicos são produzidos através da engenharia genética. Obtem-se
assim, dentre as muitas possibilidades, feijão com proteína da castanha-do-pará, trigo
com genes de peixe, tomates que não apodrecem, milho com genes de bactérias que
matam insetos e soja resistente a herbicidas.
O objetivo, segundo a corrente de cientistas que defende a sua comercialização, é
equacionar problemas na agricultura criando espécies mais resistentes, aumentando a
produtividade e minimizando, por consequência, a incidência da fome em países do
Terceiro Mundo.
Do outro lado estão os ambientalistas e a corrente de cientistas que não concordam com
esses argumentos e ainda acusam a indústria patrocinadora dos transgênicos de não ter
providenciado testes suficientes para comprovar, ou não, os possíveis perigos causados
pela manipulação genética dos alimentos na saúde das pessoas e no meio ambiente (veja
o quadro “Os 10 maiores perigos”) e de não orientar os consumidores sobre os cuidados
a serem tomados.
Um dos avanços em relação aos acordos sobre OGMs foi alcançado somente no final do
ano passado, quando a Organização Mundial do Comércio assinou o Protocolo de
Biossegurança em Montreal, Canadá. Esse documento define a disciplina do comércio
internacional de produtos transgênicos, exigindo de alguns países provas suficientes
sobre a segurança para o meio ambiente e para a saúde humana. Até então, a produção
de transgênicos não seguia essas regras.
Polinização cruzada
Uma das preocupações manifestadas em relação à utilização de plantas transgênicas
prende-se com a possível polinização cruzada entre estas espécies com as existentes na
natureza ou com culturas não modificadas. Vários estudos têm demonstrado que a
existência de polinização cruzada é real, mas que diminui drasticamente com a distância
à cultura transgênica. Abud et al. (2007), num estudo realizado no Brasil, demonstraram
que após 10 metros de distanciamento entre plantas de soja transgênica e soja
convencional, a polinização cruzada é negligenciável. No caso do milho, Ma et al.
(2004) referem que essa distância é de aproximadamente 30 metros. Tais dados levam a
que, para a plantação de uma cultura transgênica, tenha que ser respeitada uma
determinada distância de segurança em relação às culturas vizinhas. Os investigadores
defendem que esta distância deve ser avaliada caso a caso devido às diferenças no
tamanho, peso e meio de transporte dos diferentes grãos de pólen.
Uma outra controvérsia relacionada com a polinização cruzada foi à utilização da
chamada tecnologia Terminator (em português Exterminador). Esta tecnologia baseia-se
na adição, à planta em causa, de um gene que não permite a produção de pólen viável. A
utilização desta ferramenta permitiria então a não propagação do pólen transgênico,
evitando quaisquer cruzamentos com outras plantas. Esta ação das empresas de
produção de transgênicos foi largamente condenada por ser vista como uma tentativa de
evitar que os agricultores pudessem propagar as plantas por mais que um ano,
obrigando-os a comprar novas sementes todas às temporadas.
Polêmica
Atualmente existe um debate bastante intenso relacionado à inserção de alimentos
geneticamente modificados (AGM) no mercado. Alguns mercados mundiais, como o
Japão, rejeitam fortemente a entrada de alimentos com estas características, enquanto
que outros, como o Norte e Sul-Americanos e o Asiático têm aceitado estas variedades
agronômicas.
Desde 2004, após seis anos de proibição, a União Européia autorizou a importação de
produtos transgênicos. No dia 2 de março de 2010, a União Européia aprovou o plantio
de batata e milho transgênicos no continente, após solicitações dos Estados Unidos. A
batata transgênica será destinada para a fabricação de papel, adesivos e têxteis. O milho
atenderá a indústria alimentícia. Cada país da União Européia poderá ser responsável
pelo cultivo transgênico em suas fronteiras em votação marcada para o meio do ano.
Os transgênicos no Brasil
Uma vantagem disso tudo é que o Brasil passou hoje a ser o maior produtor de soja
OGM free do mundo, fazendo com que seja o país preferido pelo mercado europeu e
japonês na exportação dos grãos.
No entanto, uma denúncia veiculada no Jornal Nacional, da TV Globo, em 16/05/00,
alerta que alguns agricultores do Sul do país já utilizam as sementes de soja transgênica
importadas ilegalmente da vizinha Argentina.
Independente de produzir ou não os alimentos transgênicos, o fato é que uma boa parte
da população brasileira, em sua maioria sem saber, já consome e pode ter em suas
dispensas os alimentos modificados.
Diversos produtos importados, encontrados nas prateleiras da maioria dos
supermercados, podem já contêr em suas composições soja, tomate ou milho
transgênicos, como é o caso dos sorvetes, chocolates, molhos, coberturas para doces e
sobremesas, bebidas com soja, alimentos para bebê, biscoitos, catchup, molho de
tomate, sucos, pipoca e muitos outros.
Se os alimentos transgênicos dizem respeito, antes de tudo, à alimentação e saúde das
pessoas, é fundamental e bastante aconselhável que todos conheçam o assunto para
poder participar dessa discussão em torno da aplicação da engenharia genética nos
alimentos que consumimos ou que iremos consumir em nosso dia-a-dia.
Fatores Socioeconômicos
• Grande parte das polêmicas originadas com a questão dos transgênicos está
diretamente relacionada a seu efeito na economia mundial. Países atualmente
bem estabelecidos economicamente e que tiveram sua economia baseada nos
avanços da chamada genética clássica são contra as inovações tecnológicas dos
transgênicos. A Europa, por exemplo, possui uma agricultura familiar baseada
em cultivares desenvolvidos durante séculos e que não tem condições de
competir com países que além de possuir grandes extensões de terra, poderiam
agora cultivar os transgênicos. Para, além disso, localizam-se em espaço europeu
muitas das empresas produtoras de herbicidas/pesticidas, que são naturalmente
peças importantes na aceitação ou não de variedades agrícolas que possam
comprometer os seus negócios.
Alergenicidade
Algumas das críticas que os transgênicos têm recebido têm a ver com o potencial reação
alérgica dos animais/humanos a estes alimentos. O caso mais conhecido foi à utilização
de um gene de uma noz brasileira com vista ao melhoramento nutricional da soja para
alimentação animal. A noz em causa era já conhecida como causadora de alergia em
determinados indivíduos. O gene utilizado para modificação da soja tinha como função
aumentar os níveis de metionina, um aminoácido essencial. Estudos realizados
verificaram que a capacidade alergênica da noz tinha sido transmitida à soja, o que
levou a que a empresa responsável terminasse o desenvolvimento desta variedade.
Mais recentemente, investigadores portugueses do Instituto de Tecnologia Química e
Biológica, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, e do Instituto Superior
de Agronomia, entre outros, testaram a resposta alérgica de diversos pacientes à
alimentação com milho e soja transgênica. Este estudo não detectou qualquer diferença
na reação às plantas transgênica, quando comparada com as plantas originais.
Já a vertente contrária frisa primeiramente as questões éticas, questionando até onde vai
o direito humano de alterar a natureza; e aponta que, desde Malthus, sabe-se que o
problema da fome não é em razão da falta de alimentos, mas sim à má distribuição
destes – o que contraria o argumento dado por aqueles que defendem os OMG.
Além disso, algumas evidências já foram identificadas, como o fato de que o material
genético transgênico suplanta o perímetro de 20 metros (definidos como "seguros" pela
CTNBio) entre as culturas, contaminando lavouras convencionais, como no Paraná,
pelo milho MON 810; intoxicação de espécies animais e vegetais por componentes de
transgênicos, como anfíbios, pelo glifosato; a resistência dos OMG (e das pragas
agrícolas, como a lagarta-do-cartucho) aos pesticidas, fazendo com que a utilização
destes produtos, após alguns anos, supere de forma assustadora os valores utilizados em
culturas convencionais (segundo o Ibama, 85% a mais), causando impactos ambientais
ainda maiores; a ocorrência de alergias, intolerâncias alimentares e outros problemas
fisiológicos (o jornal britânico The Independent divulgou que a Monsanto havia
realizado uma pesquisa que apontava que ratos alimentados com uma dieta rica em
milho geneticamente modificado desenvolveram rins menores e alterações em seu
sangue); eliminação ou afastamento de polinizadores; e a possível monopolização da
agricultura nas mãos de grandes empresas, prejudicando a agricultura familiar (esta que
responde pela maior parte dos produtos alimentares consumidos no Brasil). Quanto a
este último fator, é interessante pontuar o caso das plantas transgênicas estéreis
classificadas como sendo do tipo “terminator”: por não se reproduzirem, fazem com que
o agricultor tenha a constante necessidade de comprar novas sementes, além do
agrotóxico específico desta cultura, chamado Round-up, produzido pela mesma
empresa.
Assim, percebe-se que, pelo menos até que mais estudos sejam feitos, até que melhorias
na fiscalização sejam adotadas, e até que argumentos e resultados consistentes relativos
à segurança deste tipo de produto sejam fornecidos, deveria ser considerado o princípio
da precaução. A falta de créditos a esta prática foi que permitiu com que o mal da vaca
louca pudesse também causar contaminações humanas, e que inúmeros bebês
nascessem com deformidades pelo uso da talidomida por suas mães, durante a gestação.
Fatores Socioeconômicos
Grande parte das polêmicas originadas com a questão dos transgênicos está diretamente
relacionada a seu efeito na economia mundial. Países atualmente bem estabelecidos
economicamente e que tiveram sua economia baseada nos avanços da chamada genética
clássica são contra as inovações tecnológicas dos transgênicos. A Europa, por exemplo,
possui uma agricultura familiar baseada em cultivares desenvolvidos durante séculos e
que não tem condições de competir com países que além de possuir grandes extensões
de terra, poderiam agora cultivar os transgênicos. Para, além disso, localizam-se em
espaço europeu muitas das empresas produtoras de herbicidas/pesticidas, que são
naturalmente peças importantes na aceitação ou não de variedades agrícolas que possam
comprometer os seus negócios.
É também utilizado o argumento de que o cultivo de transgênicos poderia reduzir o
problema da fome, visto que aumentaria a produtividade de variadas culturas,
nomeadamente cereais. Porém, muitos estudos, inclusive o do ganhador do Prêmio
Nobel de Economia, Amartya Sen, revelam que o problema da fome no mundo hoje não
é ligado à escassez de alimentos ou à baixa produção, mas à injusta distribuição de
alimentos em função da baixa renda das populações pobres. Dessa forma questiona-se a
alegação de que a biotecnologia poderia provocar uma redução no problema da fome no
mundo.
Utilização de compostos químicos
Argumentos a favor dos transgênicos incluem a redução do uso de compostos como
herbicidas, pesticidas, fungicidas e certos adubos, cuja acumulação pode causar sérios
danos aos ecossistemas a eles expostos. As organizações ambientalistas questionam se
os benefícios da utilização destas plantas poderiam compensar os possíveis potenciais
malefícios por elas causados, como foi atrás referido.
Um exemplo interessante são as culturas baseadas na tecnologia Bt, resultante de um
melhoramento por transgenia (incorporando genes da bactéria Bacillus thuringiensis)
que confere à planta uma proteção natural a larvas de certos insetos, tornando
praticamente desnecessário o controle destes por meio de pesticidas normalmente
neurotóxicos, de alta agressividade ambiental, que em culturas não transgênicas são
utilizados em larga escala. Tem sido posta em causa recentemente se esta tecnologia
afetaria também insetos não-alvo, como abelhas e borboletas. No entanto, têm sido
publicados alguns artigos científicos demonstrando que os insetos não-alvo são mais
abundantes nos campos de plantas transgênicas do que nos campos convencionais
sujeitos a pesticidas. Mas recentemente, um estudo de uma equipe de investigadores da
Universidade de Indiana descobriu que o pólen e outras partes da planta de milho
transgênico Bt são lixiviadas para os cursos de água perto de campos de milho até
distâncias de 2 km, apresentando efeitos de toxicidade na mosca-da-água, que é um
alimento importante para organismos superiores dos ecossistemas aquáticos, tais como
os peixes e anfíbios.