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Oficina de Audiovisual

MÓDULO 01 – Sinopse e Roteiro

A- Introdução a linguagem cinematográfica

Entendemos por linguagem cinematográfica os termos técnicos usados pelos


que trabalham em cinema e TV. de forma que possam obter um a uniformidade
de comunicação.
Infelizmente, não existe um a padronizaçâo definitiva para os diversos
termos. Algum as vezes, um determinado nome para um plano pode ter um
outro nome em países e lugares diferentes. Por exemplo, o equipamento
utilizado para movimentar a câmera em um determinado plano chama-se dolly.
Porém , é comum chamar o dolly de carinho ou mesmo de travelling, que é o
nome de um determinado movimento de câmera.

Diesege - Ação temporal do filme, ou seja, existe sempre que houver mudança
de tempo, longa ou curta. na estrutura do filme. Exemplo de diesege curta:
sempre que há um corte de um plano para outro. subentende-se um
determinado espaço de
tempo. Exemplo de diesege longa: quando, de um plano para outro, a ação se
passa em dias, semanas, meses ou mesmo anos.

Elipse - Supressão de um ato dramático. o qual será resolvido postenormenre .


Ex.: Um homem atira em um outro, focalizando-se o disparo do revó lver . Após
um fade, vê-se em um enterro a esposa do homem baleado, levando o
espectador a deduzir que o tiro matou o personagem, ainda que isso não tenha
se explicitado na tela.

Foco dramático - Entendemos por foco dramático o ponto ou ação de uma


cena a que se quer atrair a atenção do espectador. A atenção do espectador
sera voltada para os segurutes pontos:
a) o personagem que estiver falando:
b) o personagem que se movimentar (num grupo de pessoas, a que se
movimentar terá a atenção do espectador);
c) personagem mais bem iluminado ou com roupa mais clara;
d) personagem em foco;
e) personagem em primeiro plano;
f ) o ponto brilhante na cena mais escura e ponto escuro em uma cena brilhante.

O diretor poderá utilizar outros recursos para atingir os seus objetivos, como
cenografia, perspectivas, luz, lentes, ângulos de câmera etc.
Plano (shot)
Plano é a imagem entre doi s cortes, ou seja, o temp o de duração
entre ligar e desligar a câmera a cada vez. Usado pelo diretor para descrever
como o filme será dirigido, é a menor unidade narrativa de um roteiro técnico.
A camera pode estar parada ou em movimento, podendo-se também alcançar a
sensação de movimento através da alternaçâo do foco da lente ou com a lente
zoom.
O tempo de duração de cada plano varia com as necessidades dramáticas de
cada cena e a preferência do diretor.
Na filmagem de um longa-metragem , a média é de 15 a 20 planos/dia.
Em TV, 30 a 40 planos/dia, e num seriado para TV filmado em 16 mm, 20 a 30
planos/dia .Num filme de ritmo normal, a média varia entre 500 e 600 planos.
Nos de ação, 900 planos ou mais.

Cena
É o conjunto de planos.

Seqüência
É o conjunto de cenas. Uma sequência tem início,meio e fim. A seqüência de um
casamento . por exemplo, pode ser formada pelas cenas do pedido do
casamento num restaurante; a cena da mulher num a loja comprando o vestido
de noiva; em casa provando o vestido; o noivo num bar na festa de despedida
de solteiro; o noivo esperando na igreja; a noiva chegando; a cerimônia do
casamento; a saída na porta da igreja; terminando com o carro partindo com os
noivos.

Mal comparando com um livro, podemos dizer que:


a) um plano é uma palavra:
b) um conjunto de planos (cena) é uma frase;
c) um conjunto de cenas (seqüência) é um capítulo.

Tomadas (takes) - É o número de vezes que o plano será repetido. Um plano


poderá ter uma ou quantas tomadas o di reto r achar necessário até estar
satisfeito.

O plano é a forma como o diretor narra o roteiro.

Os planos normalmente usados em cinema são:


Câmera na mão - Usada em casos específicos em que queremos acentuar uma
ação simulando o movimento de deslocamento do ator. Ex.: ponto de vista do
personagem correndo por uma mata (fig. 23).

Grua- Equipamento sim lar ao dolly, consistindo em um longo braço balanceado


por contrapesos, atingindo alturas maiores (fig. 24).

Panorámica- Movimento da camera sobre seu própno eixo, no sentido da


esquerda para a direita ou vice-versa.

Tilt - O mesmo movimento anterior, só que de baixo para cima e vice-versa


(também chamado, comumente, de panorâmica de cima para baixo).

Zoom out e zoom in - Lente mais usada no telejornalismo, pois o que mais
Importa é a clareza do objeto filmado, do qual nem sempre podemos chegar
perto. A diferença entre a zoom e o carrinho é que a zoom traz ou afasta o objeto
no espaço cênico em relação à câmera. e o carinho desloca-se no espaço
cênico em direçâo ao objeto em questão ou dele se afastando. Nos movimento
de zoom, o espaço cênico é maior ou menor durante o seu movimento do que
no deslocamento do carrinho.

Foco das lentes - Podemos também simular movimento de camera


simplesmente deslocando o foco da lente de um personagem para outro num
plano inferior.
Para que servem os diversos planos

Vamos trabalhar sobre uma determinada cena de um roteiro para estudar a


utilização dos planos.

Descrição da cena no roteiro:


Uma mulher vestida com um robe sobre a camisola de dormir faz um jogo de
palavras cruzadas em uma revista, à mesa do cafê da manhã. O marido entra na
sala, preparado para ir trabalhar, portando uma pasta e com o paletó em uma
das mãos.

O marido senta-se à mesa e começa a ler o jornal enquanto toma café.


A mulher lhe pergunta:
Mulher
Querido, qual o rio brasileiro com oito letras?

Marido (absorto lendo o jomal)

Solimões!

Enquanto a mulher escreve na revista. o mario olha apreensivo para o relógio


na parede, serve um último e apressado gole de cafê, dobra o jornal, levanta-se,
põe o paletó , pega a pasta e dirige-se para a mulher do outro lado da mesa,
beijando-lhe a testa.
Marido
Desculpe. querida. mas estou atrasado.

O marido sai, enquanto a mulher continua fazendo suas palavras cruzadas;


pára, põe o lápis na boca e olha distraidamente para frente.
Fim da cena.

Toda essa cena pode ser filmada em plano geral, com a câmera em um só
determinado lugar (plano master).
A nossa primeira reação será, com certeza, o desejo de separar alguns detalhes
do conjunto da ação para mostrá-los separadamente, pois, vendo a ação dos
atores de longe, não podemos seguir claramente o que eles fazem. Em
determinados momentos gostaríamos de ver alguns detalhes sem que o resto da
ação nos incomodasse.
Para evitar que toda a ação seja tomada em plano geral, vamos supor que
usaremos várias câmeras, que filmarão ao mesmo tempo toda a ação, porém
com planos distintos.
Câmera 1: Preparada para filmar em plano geral (master)
Câmera 2: Preparada para filmar o marido em plano americano
Câmera 3: Preparada para filmar em plano Americano a açao da esposa
Câmera 4: Preparada para filmar em plano proximo, sobre o ombro do marido
Câmera 5: Preparada para filmar em plano proximo sobre o ombro da mulher
o close da revista
Câmera 6: Preparada para filmar em plano plano proximo a reaçao do homem
Câmera 7: Preparada para filmar a esposa em plano proximo
Câmera 8: close do relogio

A cena montada ficou com 12 planos e tem 125 segundos de duração.


Utilizando os planos filmados, cortados e repetidos a partir da última ação,
podemos contar a açâo de maneira interessante. Lembramos que so é possível
usar planos previamente filmados. O montador nada pode fazer se você pedir,
na montagem planos que não filmou.
O que vimos acima chamado " de decupagem de direção. que é o trabalho de
planejamento da açâo feito pelo diretor e o desenho da cena de planta baixa
de direção. Para isso, é necessário que ele veja a locaçao e saiba o espaço
fisico de que dispoe para posicionar a câmera em relaçào ao movimento dos
atores. A decupagem de direção é a base do roteiro técnico, que será o roteiro
de trabalho da equlpe.
Dessa forma , todos os técnicos, e atores envolvidos saberiam com
antecedencîa o que se espera deles.
O diretor de fotografia. que viu previamente a locação com o diretor, saberia o
que iluminar e quais lentes usar.

O cameraman saberia as posições da câmera e se a cena pede ou não


movimento da câmera .

O diretor de arte definiria antes pelo roteiro qual a cozinha e faixa econômica do
casal, para definir os objetos de cena sobre a mesa, o tipo de relógio, figurino
etc

O contra -regra saberia os objetos de cena.


A figurinista conheceria as roupas a serem usadas.

O montador ligaria os planos de acordo com a versâo e o ritmo da cena (planos


mais curtos o mais longos) exigidos pelo diretor. No nosso caso, o foco
dramático da cena (a atenção do espectador) é o marido. Mas, utilizando os
mesmos planos, poderíamos tornar a mulher o foco dramático, se esse fosse a
intençao do diretor.

É necessário filmar a cena com várias câmeras?


Claro que não. Fazer as tomadas com várias câmeras seria antes de tudo um
gasto desnecessário de filme . No exemplo com cinco câmeras, filmou-se cinco
vezes mais que o necessário . Já que, de cada tomada, apenas uma parte foi
utilizada e eliminou-se de outras a mesma cena para evitar repetições.
Isso se dá somente em circunstâncias excepcionais ou em cenas muito difíceis e
onerosas para repetir. Nesse caso devido a necessidade de posicionar as
câmeras de forma que uma não possa ser vista pelas outras, o trabalho se torna
mais dif icil .
Então, é preferível filmar com uma só câmera, interrompendo o trabalho dos
atores e mudando as câmeras de um lugar para outro de acordo com os planos
exigidos? Sim. É evidentemente mais sensato e econômico trabalhar assim, e é
dessa forma que os filmes são feitos.
Claro que essa forma de trabalhar, de fazer cada tomada com a mesma camera,
exige dos atores uma forma muito particular de trabalho, o ator não interpreta
uma cena de forma continua, porém com largas interupçôes em plena
intensidade de uma ação .
Enquanto se posiciona a câmera e se modif ica a iluminação, o ator é obrigado a
esperar e depois se lembrar das dif iculdades e emoçôes da cena interrompida .
para continua-la com a mesma disposição de animo e o mesmo rumo e
intensidade dramática .

Continuidade de cena - Outro problema é que cada gesto ou movimento de


plano para plano deve ter a mesma continuidade do plano anterior da cena.
Por exemplo: se no plano geral o marido tem o jornal na mâo esquerda e depois
em plano americano o jornal esta na mao direita, os planos náo se combinam
logicamente e a cena nao poderà ser montada. Assim vale para os detalhes
vestimentarios. Como em um longa-metragem os detalhes sao incontaveis, os
continuistas se valem de muitos instrumentos para realizar o seu trabalho.
Fazendo anotaçoes no roteiro, utilizando fotografia digital, laptop …
B- Como escrever e formular um roteiro

O que é um roteiro?
Um guia, um projeto para um filme? Uma planta baixa ou diagrama? Uma série
de imagens, cenas e seqüências enfeixadas com diálogo e descrições, como
uma penca de peras? O cenário de um sonho? Uma coleção de idéias?
O que é um roteiro?
Bem, não é um romance e certamente não é uma peça de teatro.
Se você olha um romance e tenta definir sua natureza essencial, nota que a
ação dramática, o enredo, geralmente acontece na mente do personagem
principal. Privamos, entre outras coisas, de pensamentos, sentimentos, palavras,
ações, memórias, sonhos, esperanças, ambições e opiniões do personagem. Se
outros personagens entram na história, o enredo incorpora também seu ponto
de vista, mas a ação sempre retorna ao personagem principal. Num romance, a
ação acontece na mente do personagem, dentro do universo mental da ação
dramática.
Numa peça de teatro, a ação, ou enredo, ocorre no palco, sob o arco do
proscênio, e a platéia torna-se a quarta parede, espreitando as vidas dos
personagens. Eles falam sobre suas esperanças e sonhos, passado e planos
futuros, discutem suas necessidades e desejos, medos e conflitos. Neste caso, a
ação da peça ocorre na linguagem da ação dramática; que é falada, em
palavras.
Filmes são diferentes. O filme é um meio visual que dramatiza um enredo
básico; lida com fotografias, imagens, fragmentos e pedaços de filme: um relógio
fazendo tique-taque, a abertura de uma janela, alguém espiando, duas pessoas
rindo, um carro arrancando, um telefone que toca. O roteiro é uma história
contada em imagens, diálogos e descrições, localizada no contexto da estrutura
dramática.
O roteiro é como um substantivo — é sobre uma pessoa, ou pessoas, num
lugar, ou lugares, vivendo sua "coisa". Todos os roteiros cumprem essa premissa
básica. A pessoa é o personagem, e viver sua coisa é a ação.
Se o roteiro é uma história contada em imagens, então o que todas as histórias
têm em comum? Um início, um meio e um fim, ainda que nem sempre nessa
ordem.
Na elaboração de um roteiro, o roteirista tipicamente o desenvolve da seguinte
forma:
Story tine - Idéia sucinta do roteiro. com cerca de 5 linhas.

Sinopse - E uma breve idéia geral da historia e de seus personagens,


normalmente não ultrapassando uma ou duas páginas (para um longo
metragem).

Argumento - É o conjunto de ideias que formarâo o roteiro. Com as açôe


definidas em seqüências. com as locações, personagens e situações dramáticas
com pouca narracâo e sem os diálogos. Normalmente entre 45 e 65 páginas.

Roteiro literário - Finalizado com as descrições necessarias e os diálogos. Este


Roteiro, sem indicaçóe, de planos, servirá como base para o orçamento inicial e
os projetos de captação. Tem normalmente entre 90 e 120 páginas.

Roteiro técnico - Roteiro decupado pelo diretor com indicaçôes de planos,


movimentos de câmera, e que servirâ para o 1° asistante de direçâo fazer a
análise técnica, o diretor de produção o orçamento final. Será o guia de trabalho
da equipe técnica.

Existem diferentes formas de definir um roteiro.


Uma, simples e direta, seria: como a forma escrita de qualquer projeto
audiovisual. Atualmente o audiovisual abarca o teatro, o cinema, o vídeo, a
televisão e o rádio.
A especif icidade do roteiro no que respeita a outros tipos de escrita é a
referência diferenciada a códigos distintos que, no produto final, comunicarão a
mensagem de maneira simultânea ou alternada. Neste aspecto tem pontos em
comum com a escrita dramática - que também combina códigos -, uma vez que
não alcança sua plena funcionalidade até ter sido representado.
A "representação" do roteiro, no entanto, será perdurável, em função da
tecnologia da gravação.
Assemelha-se também ao romance na possibilidade de manipular a fantasia na
narração, já não na sua capacidade de jogar com o espaço e o tempo de forma
mais fidel na, mas sim inclusive no fato de não depender da representação
humana.
O roteiro é o princípio de um processo visual, e não o final de um processo
literário. "Escrever um roteiro é muito mais do que escrever.
Em todo caso, é escrever de outra maneira: com olhares e silêncios, com
movimentos e imobilidades, com conjuntos incrivelmente complexos de imagens
e de sons que podem possuir mil relações entre si, que podem ser nítidos
ou ambíguos, violentos para uns e suave para outros, que podem impressionar a
inteligência ou alcançar o inconsciente, que se entrelaçam, que se misturam
entre si, que por vezes até se repudiam, que fazem surgir as coisas invisíveis ...
O romancista escreve, enquanto o roteirista trama, narra e descreve.
O campo de trabalho de um roteirista é cada vez mais amplo. Na realidade, um
chefe de família que mostra suas fitas gravadas em vídeo e narra como foram
suas férias está fazendo o papel de roteirista. Na minha trajetória, desde
os desenhos animados até o balé, creio que trabalhei em todas as
especialidades.
Os produtores compreendem cada vez melhor que sem material escrito não se
pode dizer nada. O que fica bem no papel fica bem na tela. Um bom roteiro não
é garantia de um bom filme, mas sem um bom roteiro não existe com certeza
um bom filme.
Um roteiro deve possuir três aspectos fundamentais:
Logos : o discurso, a organização verbal de um roteiro, sua estrutura geral.
Um roteiro, a sua história, provoca identif icação, dor, tristeza.
Pathos é o drama, o dramático de uma história humana.
É, portanto, a vida, a ação, o conflito quotidiano que vai gerando
acontecimentos. O pathos afeta as pessoas que, arrastadas pela sua própria
história, quase não são responsáveis pelo que lhes acontece - o seu drama -,
nem pelo que as destrói - a sua tragédia -, convertendo-se inclusive em motivo
de divertimento - a sua comédia - paraos outros.
A mensagem tem sempre uma intenção. É inútil tentar fugir à responsabilidade
de a emitir. Tudo é escrito para produzir uma influência. É o ethos, a ética, a
moral, o signif icado último da história, as suas implicações sociais, políticas,
existenciais e anímicas. O ethos é aquilo que se quer dizer, a razão pela qual se
escreve. Não é imprescindível que seja uma resposta; pode ser uma simples
pergunta.
De maneira muito geral, podemos dizer que esta forma escrita a que chamamos
roteiro é algo de muito efêmero: existe durante o tempo que leva convertendo-se
num produto audiovisual. Embora existam roteiros editados em forma de livro -
existem coleções dedicadas a isso -, o roteiro propriamente dito é como se fosse
uma crisálida que se converte numa borboleta, imagem proposta por Suso
d'Amico, a grande roteirista italiana.

ETAPAS DE UM ROTEIRO
A ferramenta de trabalho que dará forma ao roteiro
Logos Pathos Ethos A escrita de roteíros exige uma disciplina específica.
Deve avançar-se por partes. É uma construção que obedece a uma estrutura
lógica. A personalidade do escritor pode, sem dúvida, matizar essas partes.
Assim, para Field:
"Escrever um roteiro é um processo passo a passo. Um passo de cada vez.
Primeiro, encontra-se um tema; depois, estrutura-se a idéia; em seguida,
definemse as personagens; mais tarde, procuram-se os dados
que façam falta; posteriormente, estrutura-se o primeiro ato em fichas de 3x5;
então, escreve-se o roteiro, dia a dia. Primeiro o primeiro ato, depois o segundo,
e depois o terceiro. Quando o primeiro rascunho está pronto, fazem-se uma
revisão profunda e as alterações necessárias para o ajustar à dimensão
adequada. Por ultimo é preciso poli-lo até estar pronto para ser visto
por todos.":
A própria subjetividade da explicação anterior reflete o aleatório da fragmentação
do processo. Na realidade, as fases que se seguem na composição do roteiro
provêm de uma experiência: do autor ou da empresa produtora. Não existem
receitas magistrais: apenas talento e trabalho. Vamos propor-nos cobrir seis
etapas no processo que nos leva ao roteiro final:
idéia
conflito
personagens
ação dramática
tempo dramático
unidade dramática
Primeira etapa: IDÉIA
Um roteiro começa sempre a partir de uma idéia, de um fato, de um
acontecimento que provoca no escritor a necessidade de relatar. A busca da
idéia ou a sua descoberta são atividades nem sempre fáceis de abarcar. As
idéias são por vezes sutis e difíceis de alcançar. No entanto, terão de converter-
se no fundamento do roteiro, e isso exige o maior cuidado para as descobrir,
isolar e definir. Falaremos mais longamente sobre isto e sobre a filosofia da idéia
no terceiro capítulo.

Segunda etapa: CONFLITO


Mas a idéia audiovisual e dramática deve ser definida através de um conflito
essencial. A este primeiro conflito, que será a base do trabalho do roteirista,
chamaremos conflito-matriz. Embora a idéia seja algo de abstrato, o
conflito-matriz deve ser concretizado por meio de palavras.
Começa aqui o trabalho de escrever: fazemos um esboço e começamos a
imaginar a história, tendo como ponto de partida uma frase a que chamamos
story line. Assim, a story line é a condensação do nosso conflito básico
cristalizado em palavras. Por exemplo: "A história conta o drama de
uma mulher que mata seus quatro filhos e depois enlouquece."
Esta frase contém, sugere já, o enredo, a intriga. Diz-se que um bom roteiro,
uma boa obra de teatro, se pode resumir numa única frase.
Uma story fine deve ser breve, concisa e eficaz. Não deve
ultrapassar as cinco linhas, e através dela devemos ficar com
a noção daquilo que vamos contar. Resumindo, o conflito básico apresenta-se
por meio da story line e concretiza o que vamos desenvolver.

Terceira etapa: PERSONAGENS


Chegou o momento de pensar em quem vai viver esse conflito básico: claro
está, criar as personagens. Há quem pense que são as personagens que dão
origem a uma história. Em qualquer caso, as personagens sustentam o peso da
ação e são o ponto de atenção mais imediato para os espectadores ... e para os
críticos. Diz Linda Seger: "Os críticos adoram dizer de um filme que as
personagens não se desenvolvem nem mudam. O desenvolvimento de um
caráter é essencial para um bom argumento. Conforme uma personagem se
move desde a motivação até o objetivo, algo tem de suceder no processo. Uma
personagem bem desenhada ganha amiúde com sua participação no
argumento, e um argumento ganha alguma coisa com a implicação da
personagem."8 O desenvolvimento da personagem faz-se através da elaboração
do argumento ou sinopse. Nesta fase começaremos a desenhar as personagens
e a localizar a história no tempo e no espaço: a história começa aqui, passa por
ali e acaba assim. Por exemplo: "A minha história começa na Catalunha, no ano
1000. Arnau é um cavaleiro medieval, dono de terras, que provoca a inveja dos
outros nobres ... o cunhado tenta matá-lo .. ." e assim até o final. Na sinopse é
fundamental a descrição do caráter das personagens principais. Por outras
palavras, a sinopse é o reino da personagem. É ela quem vai viver essa história,
onde e quando a situamos.
Quarta etapa: AÇÃO DRAMÁTICA
Na quarta etapa construiremos a ação dramática, isto é, a maneira como vamos
contar este conflito básico, vivido por aqueles seres chamados personagens. Ao
o que, quem, onde e quando, juntamos então o como. De que maneira vamos
contar essa história. A isto chama-se ação dramática. Para trabalhar na ação
dramática, somos obrigados a construir uma estrutura. A estrutura é um dos
fundamentos do roteiro e a tarefa que maior criatividade exige do roteirista.
Assim, a quarta etapa será, na realidade, a construção da estrutura. Não é fácil
definir este conceito, e tratá-loemos de uma forma pragmática. O filme ou o
telefilme acabados são estruturados em seqüências. As seqüências organizam-
se segundo uma unidade de ação, narrativamente imprecisa, composta por
cenas, determinadas pelas alterações do espaço e a participação das
personagens. A estrutura é, portanto, a organização do enredo em cenas. Cada
cena tem uma localização no tempo, no espaço e na ação: é algo que sucede
em algum lugar, num momento preciso. A estrutura será, na prática, a
fragmentação do argumento em cenas. Mas ainda assim estamos unicamente
fazendo uma descrição de cada cena; ainda não chegou o momento dos
diálogos. A estrutura é o esqueleto formado pela seqüência de cenas. Os
italianos chamam à estrutura escaletta.

Quinta etapa: TEMPO DRAMÁTICO


A noção de tempo dramático é muito complexa. Podemos dizer que dentro de
uma cena se desenvolveuma ação dramática. Esta decorre num determinado
tempo. Este pode ser lento, rápido, ágil etc. Paul Jackson observa que "o tempo
é o segredo, não só para uma boa comédia, mas também para qualquer bom
texto dramático'L'Este tempo dramático, juntamente com a ação dramática, dar-
nos-á o sentido da função dramática. Esta terminologia ação, tempo, função
pode parecer difícil por agora; contudo, espero que no final do livro já seja clara.
Nesta altura - quinta etapa - introduzimos a noção de tempo dramático: o
quanto, quanto tempo terá cada cena. Isto é, colocamos os diálogos nas cenas
e, através deles, começamos a dar ao trabalho uma forma de roteiro. Assim,
nesta etapa, completaremos a estrutura com o diálogo. Então, cada cena terá o
seu tempo dramático e a sua função dramática. Este trabalho já se concretiza no
chamado primeiro roteiro. As personagens desenvolvem-se - quem é quem,
como e por quê - falam - há diálogos. A cena abre-se, desenrola-se e acaba.
Colocaremos as emoções, a personalidade e os problemas de cada
personagem: aquilo que há de suceder detalhadamente em cada cena. É o
primeiro rascunho do roteiro a que se juntarão revisões, correções ou
retoques. Os americanos chamam-lhe first draft ou treatment.
Este rascunho de roteiro será revisto por algumas mãos
- o produtor, o diretor - e irá proporcionar a primeira visão do trabalho realizado.
Virão depois o segundo rascunho, o terceiro... até que o roteiro esteja pronto
para ser produzido. Chamo a esta fase de múltiplas revisões a Guerra do papel.
Sexta etapa: UNIDADE DRAMÁTICA
Chegados a este ponto, o roteiro deve estar pronto para ser filmado ou gravado.
Se se trata de um roteiro de filme, podemos chamar-lhe screenplay. Se for para
a televisão, televisionplay; teleplay ou Tv script, É o roteiro final.
Aqui o diretor vai trabalhar com a unidade dramática do roteiro, isto é, com as
cenas. Poderá telefonar-nos e dizernos: "Tenho dif iculdade em realizai a cena
37" ... ou "Amanhã vamos rodar a cena 85". Quer isto dizer que o roteiro
final é o guia para construção do produto audiovisual. É o momento em que a
unidade dramática, a cena, se torna realidade. Segundo um dito tradicional, há
três erros que se podem cometer num produto audiovisual: erro no roteiro, erro
na direção ou erro na montagem. Existem vários formatos de roteiro. Existe
também uma diferença entre "roteiro literário" e "roteiro técnico". Estes aspectos
serão desenvolvidos quando falarmos sobre o "roteiro final". Neste livro vamos
referir-nos sobretudo ao roteiro literário, aquele que contém todos os
pormenores necessários para a descrição da cena, a ação dramática e os
diálogos, sem incidir excessivamente sobre as questões de planif icação técnica,
tais como movimentos de cãmera, iluminação, pormenores de som etc. Na
produção profissional estas funções costumam ficar aos cuidados da equipe
de produção.

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