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Resenha sobre o prólogo e a conclusão, do livro “A sociedade em rede”,

CASTELLS, Manuel. 2007. Elis de Andrade é aluna do PPGSD/UFF.

O autor analisa os importantes acontecimentos que ocorreram a partir do


final do segundo milênio da Era Cristã transformando o cenário social do
homem. Podemos dizer que houve uma revolução, pelo fato de se ter
modificado toda a estrutura social, política e econômica, sendo assim,
podemos considerar que houve uma revolução tecnológica centrada na
informação que remodelou a base material da sociedade de forma acelerada.
Castells utiliza como ponto inicial para analisar as transformações na
nova economia, sociedade e cultura em processo de transformação a
revolução da tecnologia da informação, devido a sua penetrabilidade em todas
as esferas das atividades do homem. Mas ao fazer sua escolha metodológica
partindo do ponto da tecnologia da informação o autor não descarta a
possibilidade do surgimento de novos processos sociais em conseqüência da
transformação tecnológica. Para Castells a tecnologia não determina a
sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica,
pois existem muitos fatores que influenciam a descoberta científica e a
inovação tecnológica (criatividade e iniciativa empreendedora). Embora a
sociedade não determine a tecnologia, ela pode sufocar seu desenvolvimento,
principalmente quando isto acontece por intermédio do Estado. Embora não
determine a evolução histórica, a tecnologia ou sua falta acaba tendo certa
capacidade de transformação social.
O livro que é dividido em três volumes, pretende estudar o surgimento
de uma nova estrutura social, onde esta é manifestada de várias maneiras
conforme a diversidade de culturas em todo o planeta, esta nova estrutura
social em questão está associada ao surgimento do informacionalismo,
moldado pela reestruturação do modo capitalista de produção ao final do
século XX. O autor fundamenta esta abordagem através da perspectiva
histórica que as sociedades são organizadas por relações históricas em
processos estruturados de produção, experiência e poder. Vamos às definições
para que fique claro o significado das palavras acima: produção é a ação do
homem dobre a matéria (natureza) para transformá-la em seu benefício,
consumindo parte dele e acumulando o excedente para o investimento para
vários objetivos. Experiência é a ação dos homens sobre si mesmos,
determinada pela interação entre as identidades biológicas e culturais dos
homens em relação a seus ambientes naturais e sociais. A experiência é
fundamentada pela eterna busca da satisfação das necessidades e desejos do
homem. Poder é a relação entre os homens que baseado na produção e
experiência impõe a vontade de alguns sobre outros pela utilização potencial
ou real de violência física ou simbólica, sendo as instituições sociais criadas
para impor o cumprimento das relações de poder existentes em cada período
histórico. O poder tem como base o Estado, mantendo como monopólio
institucionalizado a violência, embora o que Foucault chamou de microfísica do
poder, também atue de forma diferente, pois está incorporada nas instituições e
organizações, difundida em toda a sociedade.
A produção é considerada um processo social complexo, pois cada um
dos indivíduos é diferenciado internamente, o trabalho é muito diferenciado e
estratificado de acordo com cada trabalhador no processo produtivo. O produto
é usado de duas formas pela sociedade: consumo e excedente. As estruturas
sociais interagem fortemente com os processos produtivos que irão determinar
as regras para apropriação, distribuição e uso do excedente. As regras
constituem modos de produção, definindo as relações sociais de produção e
determinando a existência de classes sociais. O princípio que estrutura a
apropriação e controle do excedente caracteriza o modo de produção
capitalista.
Uma das mudanças que ocorreram em conseqüência da revolução
tecnológica foi a reestruturação do sistema capitalista a partir da década de 80,
no qual o desenvolvimento desta tenha sido moldado pela lógica e interesses
do capitalismo. O sistema alternativo presente no período histórico, que o autor
chama de “estatismo” também tentou redefinir os meios de seus objetivos
estruturais preservando a essência desses objetivos. A tentativa “estatista”
fracassou em partes pela incapacidade de assimilar e utilizar os princípios do
informacionalismo que fazem parte das novas tecnologias da informação.
Apesar da tecnologia da informação ser organizada no paradigma das
esferas dominantes da sociedade, a tecnologia e as relações técnicas de
produção difundem-se por todos os tipos de relações e estruturas sociais,
perpassando o poder e a experiência e modificando-os. Sendo assim, as
formas de desenvolvimento ajustam toda uma à esfera de comportamento
social.
Para Castells, a tendência social e política características da década de
90, foram a construção da ação social em torno das identidades primárias.
Sendo os primeiros passos históricos das sociedades informacionais a
caracterização da identidade como seu princípio organizacional. Identidade é
definida pelo autor como “o processo pelo qual um ator social se reconhece e
constrói significado principalmente com base em determinado atributo cultural
ou conjunto de atributos, a ponto de excluir uma referência mais ampla a outras
estruturas sociais”. (Castells, 2007, p.57) A construção social dominante de
novas formas de utilização de espaço e tempo cria uma meta-rede que ignora
as funções não essenciais, os grupos sociais subordinados e os territórios
desvalorizados; gerando uma distancia social enorme entre essa meta-rede e a
maioria das pessoas, atividades e locais do mundo. Sendo assim,

“Quando a rede desliga o Ser, o Ser, individual ou coletivo,


constrói seu significado sem a referência instrumental
global: o processo de desconexão torna-se recíproco após a
recusa, pelos excluídos, da lógica unilateral de dominação
estrutural e exclusão social”. (Castells, 2007, p.60)

Castells detecta que as estruturas sociais emergentes levam à


conclusão, como tendência histórica, que as funções e processos dominantes
da era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes. De
forma simples o autor define o conceito de rede, “é um conjunto de nós
interconectados” e “nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” (Castells,
2007, p.566). Prosseguindo sua definição:

“Redes são estruturas abertas capazes de expandir de


forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam
se comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que
compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por
exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma
estrutura social com base em redes é um sistema aberta
altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao
seu equilíbrio. Redes são instrumentos apropriados para a
economia capitalista baseada na inovação, globalização e
concentração descentralizada; para o trabalho,
trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e
adaptabilidade”. (Castells, 2007, p.566).

Sob uma perspectiva histórica ampla, a sociedade em rede mostra uma


transformação qualitativa da experiência humana, pois recorrendo os antigos
modelos sociológicos, o primeiro foi caracterizado pela dominação da natureza
sobre a cultura, o segundo modelo caracterizou a dominação da natureza pela
cultura. Estamos entrando em um novo estágio em que a cultura refere-se á
cultura, tendo sobrepujado a natureza a ponto de esta ser renovada
artificialmente. Com a convergência da evolução histórica e da transformação
tecnológica nos encontramos em um modelo puramente cultural de interação e
organização social. Este é o início de uma nova era, a era da informação
marcada pela autonomia da cultura frente às bases materiais de nossa
existência.
Apesar do grande recorte feito pelo autor para analisar as mudanças
ocorridas na sociedade pós-moderna, em diferentes áreas (política, economia e
cultura), no final do século XX, ele aborda as áreas anunciadas na parte
introdutória, dando subsídios ao leitor com teorias sociológicas, definições de
termos e contribuições de outros autores (como Scott Lash, Alain Touraine,
Daniel Bell e Nicos Poulantzas) que também estudam o tema em questão.
Contudo, como não tive contato com toda a obra (as partes analisadas foram
somente o prólogo e a conclusão), os dois capítulos estudados me deram a
dimensão exata do grandioso tema proposto e dos sólidos argumentos
introduzidos pelo autor.

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