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Na vida real, a voz dizendo o meu nome não era nem um pouco máscula.
Isso porque pertencia a um menino de doze anos de idade.
Eu desviei o meu olhar dos rodopiantes casais e olhei para baixo. Ao invés
do cara totalmente gato usando um smoking, ao meu lado estava o meu
meio-irmão ruivo, segurando uma bandeja de massas italianas.
“Kelly está realmente brava,” Mestre mais conhecido como David para todo
mundo, menos para mim – disse. “Ela disse que eles estão deformados, ou
algo assim.”
“Suze, você é louca?” Kelly Prescott veio andando toda afetada, a saia de
seu vestido de baile Nicole Miller brilhando na luz da lua que estava sob o
pátio da Missão. “Você realmente espera que as pessoas comam isso?”
Eu olhei para massa, que não estava no formato de concha que deveria
estar, mas parecidos com pretzels.
“Hm,” ele disse, olhando nervosamente a Kelly, que, sendo a garota mais
bonita de Carmel, Califórnia, nos considera, meros mortais, completamente
loucos. Ela estava certa sobre um de nós. E não era o Mestre. “Deve haver
mais.”
Ainda assim, ele só tinha feito isso depois de seu primeiro encontro, Cheryl
McKenna, inesperadamente, bem...
Morreu.
Mas, ei, era Greg. Que tipo de louco iria recusar um convite de ir ao baile
com Greg?
Eu te digo que tipo: eu. Não que ele tenha me convidado, claro. Mas se ele
tivesse, eu teria sido forçada a recusar. Porque meu coração pertence a
outro. Mesmo que isso não me faça tão bem.
Dando a Kelly um sorriso que ela não merecia, eu levei a bandeja com os
canapés estragados de volta para a cozinha. Tendo sido construída há uns
quatrocentos anos pelos monges franciscanos, quando as paredes de três
pés de espessura ainda não eram consideradas um erro em decoração, o
colégio atualizou seus equipamentos – e colocou até eletricidade – de nodo
que quando entrei na cozinha, pude ver meu reflexo na enorme geladeira
Subzero na parede de trás. E vamos dizer que eu não estava muito animada
com o que eu via.
Oh, o vestido longo estava legal. Com meu cabelo preto na altura dos
ombros e meu arranio de flores no pulso – dado pelo meu padrasto – eu
parecia uma garota de outra época.
Foi o sorriso que fez isso. O sorriso que, cada vez que eu via, fazia
enfraquecer alguma coisa dentro de mim.
Porque mesmo ele estando morto por cento e cinqüenta anos, Jessé ainda
era o cara mais lindo que eu já tinha visto.
E eu tinha visto muito deles. Caras, quero dizer. Porque, como o garoto
daquele filme, eu vejo gente morta.
Não que eu vá dizer a ele. Porque que tipo de cara – mesmo um cara morto
– poderia amar uma pessoa estranha como eu?
"Acontece," eu disse, tirando os meus olhos dos olhos pretos como a noite
de Jesse, sem falar da parte em que sua camisa for a de moda abria e
revelava abdômen que Greg Sanderson teria invejado, "que eu estou muito
ocupada agora."
"É verdade" eu disse. "Não tenho tempo pra conversar. Estou aqui no
comando para fazer esta noite de formatura uma noite da qual essas
pessoas jamais esquecerão. "
"Então isso significa que você não vai dançar?" ele perguntou.
Eu congelei com minha nova bandeja cheia de novos canollis sem nenhuma
deformação, canollis que eu tinha acabado de tirar do freezer.
Cheryl, escutando a minha voz, veio meio insegura para a porta da cozinha.
Seus olhos azuis estavam esperançosos enquanto olhava para Jesse e eu.
"Olá," ela disse, no jeito confuso, mas educado, que os mortos recentes
usam. "Você viu meu namorado, Greg? Ele devia me trazer aqui hoje a
noite, só que nunca apareceu. Ele deve ter esquecido."
Jesse e eu trocamos olhares. O dele era impossível de ser lido. O meu, como
eu pude ver muito bem pelo reflexo na geladeira, era de pena.
Bem, e por que não? Vendo Cheryl daquele jeito era só uma prova concreta
de minha estranheza.
"Eu sei, Cheryl," eu disse gentilmente. "É a noite de formatura. E Greg está
aqui."
O rosto meigo de Cheryl se animou. "Ele está aqui? Onde? Oh, eu tenho que
encontra-lo."
Ela se virou para sair da cozinha. Eu a parei. Os espíritos dos mortos são
sem matéria para todos, menos os estranhos como eu, claro. Para nós, eles
são de carne e osso, ou no caso de Jessé, músculos e sorrisos misteriosos.
"Greg está aqui, Cheryl," eu disse. "Mas... ele está com outra pessoa."
"Eu sei, Cheryl," eu disse. "Mas Greg teve que chamar outra pessoa porque
você... bem, você morreu, Cheryl."
Ela balançou a cabeça. "Não, eu não morri," ela disse. "Isso é ridiculo. Eu
não estou morta. Olhe para mim, estou bem aqui. Eu não estou morta."
Quem pode culpá-la? Ela tinha apenas 18 anos, e estava apaixonada. Tinha
todos os motivos para viver... faculdade, carreira, casamento, filhos... e
agora...
"NÃO!" ela gritou, seu rosto bonito se transformando numa máscara de ódio
e desespero. "NÃO! Eu não acredito em você! Você está mentindo!"
"Você está com ciúmes, é isso!" ela gritou. "Com ciúmes de mim!"
E foi aí que ela bateu os dois pulsos na bandeja de canollis, fazendo seu
conteúdo sair voando.
"Pare com isso!" eu gritei, segurando os seus pulsos. Não importa o quanto
ela contorcesse seu corpo ou me chutasse, eu não a deixaria ir. Não dessa
vez.
"Você está morta, Cheryl," eu disse. "Você está me escutando? Morta. Não é
justo, mas é assim que as coisas são. Eu queria que você tivesse vindo pro
seu baile. Eu sei que é o sonho de toda garota ir ao seu baile de formatura
com o cara que ela ama. Mas Cheryl, Greg já superou. Foi difícil pra ele, mas
ele superou. É hora de você fazer o mesmo."
Simples assim.
"É o sonho de toda garota vir ao seu baile de formatura com o cara que ela
ama?" ele repetiu, com as duas sobrancelhas levantadas.
"Oh, é," Jesse disse, saindo da minha frente enquanto eu passava por ele.
"estou vendo isso."
"Não tem mais," eu disse, e me virei porque vi Kelly nos olhando por cima
do ombro de Greg. O que iria acontecer agora, eu não queria saber. Porque
não poderia ser tão ruim como o que aconteceu à pobre Cheryl McKenna,
morta aos 18 anos.
Eu a mim, que nasci como uma estranha que pod ever fantasmas.
"Você nunca respondeu a minha pergunta," ele disse, numa voz tão suave
quanto o luar. "As pessoas do século 21 ainda dançam?"
Meu coração batia como um trovão, muito mais alto que a música lenta que
tocava. "Um," eu disse, mal podendo engolir porque minha garganta estava
muito seca. "As vezes."
FIM