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Gerenciando os Pensamentos

Qual é a maior fonte de entretenimento humano? Não é o esporte, a TV, a literatura nem a
sexualidade, como Freud pensava. A maior fonte é o mundo das idéias. Quantos pensamentos
produzimos por dia? Milhares e milhares. Pensamos sobre os fatos passados e futuros, sobre
as circunstâncias da vida, sobre as tarefas do dia a dia, sobre as pessoas com as quais vivemos.
Tente parar de pensar. Você não conseguirá. Pensar é o destino do homem.

Algumas pessoas viajam tanto no mundo dos seus pensamentos que não conseguem se
concentrar em nada, suas memórias ficam péssimas. Ficam tão esquecidas que acham que
estão com problemas neurológicos graves, por isso procuram diversos médicos. Fazem exames
e tomam diversos medicamentos, inclusive vitaminas, mas nada resolve o esquecimento. Por
que não resolve? Porque nem os médicos nem os pacientes percebem que o déficit de
memória é uma defesa positiva do cérebro da pessoa que está estressada.

Gostaria que esse conceito médico fosse corrigido: o déficit de memória em jovens e adultos
estressados e hiperpensantes é freqüentemente uma defesa do cérebro e não o sintoma de
uma doença. O cérebro bloqueia os determinados territórios da memória impedindo que a
pessoa que já está tensa e desgastada pense excessivamente e gaste energia cerebral. As
exceções ligadas a degeneração cerebral e outras doenças existem, mas são raras. Se você
pensa demais e está esquecido, não se preocupe, seu cérebro está protegendo-o.

Ninguém consegue interromper a produção de pensamentos! Só é possível gerenciá-la. A


própria tentativa de interrupção já é um pensamento. Pensamos acordados ou sonhando. Os
cientistas pensam enquanto pesquisam; as crianças enquanto brincam; os idosos, enquanto
recordam.

Gerenciar os pensamentos é gerenciar a liberdade de pensar, é ser livre para pensar, mas
nunca escravo dessa liberdade. É ótimo ser livre, mas não de liberdade exagerada aos seus
pensamentos, caso contrário, será vitima da ansiedade. Estamos acostumados a detectar
poluição ambiental, mas não a poluição psicológica. No recôndito da alma, muitos vivem uma
vida poluída e ansiosa e não demonstram. Tornaram-se especialistas em disfarçar a sua dor.

É possível ter uma excelente conta bancaria, mas ter um saldo negativo de tranqüilidade. É
possível dirigir uma grande empresa, mas não ter o mínimo de controle sobre os pensamentos
negativos. É possível ser um intelectual com vasta cultura, mas fazer do mundo das idéias uma
grande fonte de angustia.

Daniel Goleman escreveu sobre a “Inteligência Emocional” com brilhantismo. Alguns anos
antes de Goleman publicar seu livro, eu pesquisava e escrevia a “Inteligência Multifocal”. Nas
minhas pesquisas, pude detectar claramente que para as áreas nobres da emoção é preciso
aprender a gerenciar os pensamentos. Somente assim é possível reeditar o filme de nossa
história registrado na memória e sofrer mudanças substanciais na personalidade. Existimos
para escalar o topo das montanhas ainda que tenhamos de passar pelos vales da ansiedade e
das frustrações.
É importante entendermos as causas do passado para reorganizarmos o presente, mas é
igualmente importante gerenciarmos os pensamentos e as emoções do presente para
acelerarmos o processo.

Para gerenciar com maturidade o mundo das idéias e das emoções precisamos de algumas
técnicas de treinamento. No momento destacarei a técnica do D.C.D. (duvidar, criticar e
determinar). Vejamos.

Primeira:
Duvidar de tudo que não promove vida.

Duvide do conteúdo de todas as idéias e de todos os pensamentos que debelam sua saúde
psíquica. Duvide da sua incapacidade de superar seus conflitos, seus fracassos, sua
insegurança, sua ansiedade. Duvide da sua incapacidade de ser feliz.

A dúvida esvazia a ditadura das derrotas, das angustias, da depressão. Devemos assumir com
honestidade nossas fragilidades, limitações e conflitos, mas não devemos nos deixar controlar
por elas. Cuidado com a ditadura do medo, das idéias negativas, das doenças emocionais.
Retire o medo do trono da sua mente e substitua-o pela esperança.

Não duvide do valor da vida, da paz, do amor, do prazer de viver, enfim, de tudo que faz a vida
florescer. Mas duvide de tudo que a compromete. Duvide do controle que a miséria,
ansiedade, egoísmo, intolerância e irritabilidade exercem sobre você. Use a duvida como
ferramenta para fazer uma higiene no delicado palco da sua mente com o mesmo empenho
com que você faz higiene bucal.

Segunda:
Criticar a passividade do eu.

O “eu” representa a vontade consciente. Resgatar a liderança do eu é gerenciar a produção


dos pensamentos. O “eu” precisa deixar de ser passivo, tímido e submisso diante dos
pensamentos. Um dos maiores erros educacionais é transformar o homem numa pessoa fraca
em seu próprio mundo.

Critique diariamente os pensamentos negativos. Confronte com as idéias que o paralisam e o


desanimam. Você não é obrigado a viver passivamente as idéias que são encenadas no palco
da sua mente.

Discorde frontalmente de todos os pensamentos e fantasias que o amedrontam, entristecem,


deprimem. Cada pensamento que nos incomoda deve ser questionado com ousadia e
determinação pelo “eu”. Tentar parar de pensar ou se distrair são técnicas usadas há milênios
sem resultados. A única possibilidade que temos é de gerenciar os pensamentos.

Terceira:
Determinar dar um choque de lucidez na emoção.

A emoção é bela, mas ingênua. Não seja passivo diante das suas dores, determine o que você
quer sentir. Não peça licença para ser feliz, determine ser feliz. Determine ser tranqüilo,
sereno, alegre. O campo de energia emocional precisa se submeter a autoridade do “eu”.

A emoção aprecia uma ordem, mas domina pessoas passivas. Não é possível nem desejável
controlar completamente a emoção. Ela dá sentido a vida porque é uma energia incontrolável.
Mas não a deixe ser muito ingênua, de-lhê um choque de lucidez. Outro erro educacional
grave é que nunca nos ensinaram que nossa emoção não e obrigada a viver o conteúdo dos
pensamentos negativos e das fantasias destrutivas. É preciso treinar a emoção para sermos
seguros e lúcidos.

Deixe a emoção solta para que você possa amar, ser tolerante e tranqüilo, mas não a deixe
solta para dirigir sua razão. A maioria dos crimes, dos conflitos sociais, das ofensas nunca
resolvidas e dos traumas sociais nunca apagados foi produzida porque a emoção governou a
razão. Determine não submeter sua emoção ao conteúdo dos pensamentos perturbadores.
Jamais se esqueça de que há uma força dentro de você que está desativada ou mal usada.

Faça a técnica do “D.C.D.” diversas vezes por dia durante um ano e durante toda a vida mais
suavemente. Faça-a no silencio da sua mente. Sem ninguém ouvir, cause uma revolução na sua
emoção e nos seus pensamentos.

Eu testemunhei pessoas emergindo de situações aparentemente irrecuperáveis para a


psiquiatria e retornando a plenitude da vida por exercitar sistematicamente essas técnicas e
aprender a resgatar a liderança do “eu”.

Treine gerenciar seus pensamentos e emoções e veja o que acontecerá ao longo dos meses.
Talvez você se surpreenda com a força que está escondida atrás da sua fragilidade.

Fonte: Augusto Cury - Treinando a Emoção para ser Feliz.

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