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O Sonho do Planeta
Valdenir Benedetti
Nascido em uma família de raízes indígenas, no interior do México, Don Miguel Ruiz
cresceu em contato íntimo com a tradição tolteca, mantida viva por sua mãe curandeira e
por seu avô, que era um nagual (xamã). Don Miguel Ruiz foi educado para ser também um
nagual, mas o contato com a vida moderna acabou levando-o a estudar medicina e a
tornar-se cirurgião e professor de cirurgia. Uma profunda crise pessoal reaproximou-o de
suas origens e fez com que se dedicasse intensamente durante vários anos ao estudo da
tradicional sabedoria tolteca.
Introdução
Este texto “aconteceu” em um dia qualquer, encantei-me com o texto de Don Miguel Ruiz
em um livro que achei na estante do fundo de uma livraria aqui de Salvador (Os Quatro
Compromissos, Ed. Best Seller), e sua leitura foi ficando mais clara na medida em que eu
digitava trechos do livro e interpretava-os criticamente acordo com a linguagem
astrológica, como eu procuro pratica-la.
Alguns dias depois, escrevi a segunda parte do Sonho do Planeta, já com uma visão mais
astrológica dos caminhos para se libertar ou se confrontar com este grande sonho em nossas
vidas. Agora, aí está o texto completo para ser usufruído e compartilhado por mais pessoas.
Imposição cultural e domesticação
O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de
um sonho. Você está sonhando neste momento. Está sonhando
com o cérebro acordado.
(...) A diferença é que, quando o cérebro está acordado, existe
uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma
linear.
Esta é uma forma de ver a realidade como uma projeção da mente. Se pensarmos no
horóscopo e olharmos esta idéia sob o prisma da Astrologia, podemos entender que os
símbolos, como nós os interpretamos, são leituras deste sonho coletivo, e que seu
verdadeiro significado permanece oculto na “moldura” de nosso sonho da realidade.
Talvez seja momento de, se pretendermos acordar de fato, começarmos a perceber que pode
haver outra leitura, outra interpretação para os símbolos astrológicos. Neste caso, se
chegarmos a uma percepção dos significados dos sonhos pessoais além das imposições
deste Sonho do Planeta, estaremos a caminho da libertação, estaremos indo em direção ao
Acordar, usando a Astrologia!
É impressionante como a visão que temos da Astrologia e suas funções está comprometida
e submetida a este Sonho do Planeta. Não conseguimos simplesmente nos livrar ou nos
distanciarmos deste sonho, destas regras existenciais e morais que existiam antes de
nascermos. Isto vale para cada palavra dita sobre um horóscopo, e isto vale também para as
regras de interpretação, para os significados que atribuímos aos planetas.
Toda interpretação feita por quem está submerso no Sonho será feita de acordo com as
regras e critérios desse sonho.
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Astrológicamente cada um dos símbolos planetários tem uma correlação com nossa
capacidade de criar significados internos para o que eles representam, e estes significados
passam a ser distorcidos pelos que nos ensinaram as regras deste Sonho.
Neste caso, Vênus, por exemplo, vai simbolizar basicamente o que papai e mamãe
(representando nossos formadores em geral) nos apresentaram, um modelo de desejo, um
modelo de amor que não é necessariamente a representação de todas as possibilidades
simbolizadas por Venus, e que corresponderiam apenas ao que é filtrado e permitido
experimentar dentro do plano do Sonho. O mesmo ocorre com o Sol, com a Lua e com os
demais planetas e símbolos.
O que nós entendemos por desejo (Vênus), comunicação (Mercúrio), expansão (Júpiter),
estrutura (Saturno) e assim por diante, é apenas nosso reflexo, nossa reação inconsciente
àquilo que nos foi imposto a partir de um sonho coletivo.
Esta capacidade de discriminar está correlacionada astrológicamente com Vênus, que rege a
ponderação e a escolha, e é este o primeiro planeta que precisa ser trabalhado para que a
gente possa começar a escolher outras coisas onde focalizar a atenção.
Quando mudamos o foco de atenção, mudamos a dimensão dos acontecimentos, pois “as
coisas acontecem no plano onde nos focalizamos” e, portanto, podemos focalizar além do
modelo imposto pela cultura, para que esta realidade sonhada saia de foco e consigamos
perceber uma realidade além das regras impostas por este sonhar coletivo.
Mas há um pequeno problema: para usarmos Vênus em nossas vidas de outra forma,
aprendendo a escolher o que queremos, e não o que nos é imposto, também teremos que
mexer em outros atributos de Vênus, especialmente o Desejo e tudo que está relacionado a
ele, particularmente nossos padrões afetivos. A resistência para aceitar uma transformação
em nossa pseudo-realidade afetiva tende a ser muito grande.
Lua e Mercúrio
Para “captar-nos” a atenção, os “formadores” utilizam nossa Lua natal, pois a necessidade
de sobrevivência e continuidade, qualidades essenciais e biológicas, são atributos
simbolizados pela Lua, e nós somos, em um primeiro momento da vida, na infância,
manipulados pela necessidade de sobreviver. Se não prestarmos atenção, não poderemos
sobreviver. Então, assim capturam nossa atenção, exatamente como faz um cachorrinho
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quando ouve o barulho de sua tigela de comida sendo arrastada no chão. Usa-se a
necessidade básica de sobrevivência para chamar a atenção do cão. Com as crianças é a
mesma coisa, apenas a forma é diferente. A Lua nos dá a medida deste mecanismo de
prender a atenção delas, de estabelecer um vínculo de controle.
Mercúrio, por sua vez, cumpre sempre a função – entre outras – de intermediário entre a
Lua e os planetas que vêm na seqüência. Mercúrio assimila o discurso e as regras que
passaram primeiro pela nossa Lua natal, funcionando como o canal de expressão das
condições existenciais de quem vive submerso no Sonho do Planeta. Esse planeta
incorporará neste momento da vida a capacidade de racionalizar, justificar e tornar a
realidade descritível. É o passe de entrada no plano da mente.
Quanto ao que é bom e mau, bonito e feio, certo e errado, já é um atributo eletivo de Vênus,
o planeta da escolha e da eleição, e é assim que nossos critérios estéticos e afetivos são
contaminados pelo Sonho do Planeta.
Os planetas vão funcionar, a partir desta idéia, em duas direções, tanto para captar a atenção
dos outros quanto para dar atenção a tudo que está fora de nós. Vamos usar o mesmo
instrumento que foi usado para nos condicionar para tentar condicionar os outros, a mesma
fórmula, o mesmo discurso, e mais uma vez a essência de nossa Lua e demais planetas foi
“capturada” e distorcida, e cada vez mais vamo-nos comprometendo com este Sonho do
Planeta e suas regras e padrões.
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O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que
acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A
linguagem é o código para entendimento e a comunicação entre
os seres humanos. (...) Uma vez que se compreenda o código,
nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma
pessoa para outra.
Podemos considerar que, por ser a IX casa, se contada a partir da VII 1, a casa III
corresponde ao “conhecimento do outro” e, por ser a VI da X, corresponde ao método, aos
procedimentos e rituais que o mundo externo utiliza para se manifestar. Curiosamente, este
procedimento através do qual o mundo cristaliza-se em nossa vida é o discurso, a palavra, o
mundo das idéias, os padrões de descrição e elaboração mental da realidade. Isto torna o
“mundo exterior em nós” uma idéia, uma descrição.
Essas conotações da casa III mostram bem o mecanismo da imposição e de como acabamos
utilizando nossa inteligência, discurso e capacidade de expressão como um mecanismo
condicionado para alimentar constantemente através das explicações o Sonho do Planeta,
que na verdade é ou se torna um grande discurso, um imenso blá-blá-blá, uma realidade
exclusivamente mental.
Por meio desses símbolos, Lua e Mercúrio principalmente, os acordos mentais são
estabelecidos, ou melhor, são impostos à mente da criança, e só resta a nós entender o
mundo através desses códigos que nos foram impingidos.
Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua
religião e valores morais – eles já existiam antes de você nascer.
Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou
não acreditar(...) Não escolhemos ao menos nosso próprio
nome.
É interessante observar que os valores que se estabelecem em nosso ser Lunar, nossa
criança interna, e que se expressam e são absorvidos por intermédio de Mercúrio, contêm
uma série de referências e argumentos para se “auto-alimentarem” constantemente.
Podemos identificar esse fenômeno exatamente agora, quando nos perguntamos: “quem
disse que este D. Miguel está certo? De onde ele tirou esta idéia maluca de Sonho do
Planeta? Então não existe realidade? Etc, etc...”
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Aqui, e em vários outros trechos, Valdenir trabalha com o conceito de casas derivadas. O raciocínio é
simples: cada casa, contada a partir do Ascendente (casa I), corresponde a uma área específica de
experiências. A casa VI, por exemplo, indica métodos, rotinas de trabalho, hábitos pessoais etc. A casa VII
representa o outro, o parceiro, o cônjuge – ou o adversário. A casa XII, que é a sexta a partir da sétima, pode
representar então os hábitos e rotinas do outro (do marido ou da esposa, por exemplo). Outro exemplo bem
esquemático: a casa III representa padrões de linguagem e de articulação de pensamento, enquanto a casa X
simboliza, entre outras coisas, o chefe, a autoridade. A casa XII, que é a terceira a partir da décima, pode ser
lida, então, como a forma de falar ou de pensar do chefe. (Nota do Editor)
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Os contra-argumentos mercurianos, dentro do modelo do Sonho do Planeta, são quase
sempre negar qualquer evidência deste próprio sonho. Somos condicionados a dizer, por
exemplo, diante de qualquer experiência que possa nos fazer romper os acordos com o
sonho e despertar, que é “coisa de maluco”, que não é “científico”; e nesta contra-
argumentação, percebemos o quanto a função mercuriana costuma ser uma expressão, um
recurso e uma extensão da atividade Lunar, pois são os condicionamentos mais profundos e
inconscientes que oferecem os principais argumentos que utilizamos para justificar a
manutenção de qualquer coisa, até mesmo da idéia de que o sofrimento é parte da
existência e deve ser aceito passivamente. Pode também ocorrer um tipo de acomodação
dentro da condição de tão freqüentemente, por não sabermos quem somos, chegarmos a
parecer ser algum tipo de ração, um alimento mantenedor do Sonho do Planeta, aquele que
foi sonhado há muito tempo antes de nós, e que continua nos possuindo e se alimentando da
energia vital que escapa de nós a partir de nossa inconsciência.
Sem querer parecer cruel, muitas vezes podemos estar agindo como gado, submetendo-se
sem questionar ou sem ao menos saber o que está acontecendo a regras às quais não temos
o menos acesso e, quando temos, raramente nos atrevemos a questiona-las, pois fomos
ensinados a pensar que temos algo a perder se reagirmos, seja nosso conforto, estabilidade e
segurança, seja nossa ilusão de paz.
Somente acreditamos e fazemos este acordo porque a sobrevivência física depende disto!
Só nos é dada a ração, o leite, o pão, o afeto, o reconhecimento, se aceitarmos o acordo, e é
assim que se subjuga a criança dentro de nós, é assim que se condiciona a função lunar para
que ela seja uma expressão de um sonho que não é o nosso. O dispositor da Lua (o planeta
que rege o signo onde a Lua se encontra, sua casa e signo) representa as condições e o
mecanismo de imposição de um modelo formativo da personalidade. São os termos do
acordo, as cláusulas do contrato que, se não aceitarmos naquele momento, sugerem os
primeiros castigos, as primeiras perdas, a primeira dor. Só resta então à criança a alternativa
de concordar.
(ver artigo complementar sobre o dispositor da lua e criança interior no final do livro)
As crianças acreditam, ou seja, dão um crédito, porque elas não tem ainda conhecimento da
mentira. O adulto, dá um crédito quando não tem convicção de nada, e a convicção é um
estado de quem tem conhecimento. Apenas quando temos “conhecimento” real de algo,
podemos agir com convicção, em vez de agir com fé.
Por isso, a maioria das religiões institucionalizadas – aliás, a maioria das instituições, sejam
econômicas, políticas, familiares, sociais ou religiosas – tem interesse em que as pessoas
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acreditem em seus dogmas e verdades, pois só através da fé a gente pode aceitar certas
mentiras que, por exemplo, os políticos e economistas contam para manter seu Sonho de
Poder. A mesma fórmula de exigir a fé sem questionamento é utilizada na educação das
crianças por pais que acreditam neste sonho, que têm fé nele. É a reprodução da idéia da fé
de pai para filho através de infinitas gerações, e essa fé exclui qualquer hipótese de embasar
as atitudes na sabedoria e no conhecimento, pois quem tem sabedoria, tem também
convicção, e dificilmente seria conivente com o sonho dos outros, com a ilusão.
Para libertar-se desses acordos que incluem e exigem a crença passiva é necessário rebelar-
se, e para rebelar-se contra tudo isso é necessário estabelecer uma relação consciente com o
Conhecimento das Leis Naturais, que irão nos fortalecer e permitir que a força do universo
flua através de nossas vidas, é necessário também sair da ilusão do Sonho do Planeta, do
Maya, e necessário, principalmente, agir com Convicção.
Para isto a Astrologia pode ser muito boa, um poderoso instrumento de libertação, mas
infelizmente nós (astrólogos) também fomos convencidos na infância de que o bom e o
certo é o Sonho do Planeta, e nossos conseqüentes Sonhos Pessoais.
Todo o discurso astrológico, particularmente nesse caso, é sustentado pelas nossas crenças,
pela idéia de que o que vemos e sentimos é a única dimensão possível da realidade, é a
realidade verdadeira. Aprendemos a acreditar que o mundo é o que nos descreveram a partir
do instante em que nascemos e durante a primeira infância, e fica muito difícil conceber
outra possibilidade. Intuímos que existem outras dimensões, que existe uma outra
“realidade” possível, além de Saturno, além da estrutura visível e palpável, mas insistimos
em reduzir esta “realidade” a denominadores comuns atrelados à manutenção do Sonho do
Planeta, e acabamos por usar a Astrologia como um recurso adicional para reforçar este
Sonho, em nós e nos outros.
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Mas percebam como é complicado nos atrevermos a questionar as definições que damos a
Sol e Lua no horóscopo. Estamos tão submersos em um padrão de ilusão da realidade
absolutamente lógico e coerente que nos foi imposto – até mesmo porque os referenciais
de lógica e coerência também nos foram ensinados – que se torna inconcebível e
tremendamente arriscado nos atrevermos a afirmar que talvez o Sol e a Lua possam ter
outros significados além daquele aceitável dentro do plano do Sonho. Quem se arrisca?
O outro e a separatividade
Um bom exemplo da imposição de crenças pelo sonho é a intensidade com que nos
projetamos, focalizamos nossas expectativas de relacionamento na casa VII, a casa que
representa o “outro” no horóscopo. Na verdade, poderia ser o “outro que está em nós”,
mas no Sonho do Planeta, que precisa da separatividade para subsistir, é um “outro” que é
identificado como algo que está sempre fora de nós, e com o qual temos que nos preocupar,
e para o qual temos que sempre dar conta de nossos atos e tudo mais, isto desde a infância,
desde a necessidade primária (cobrada e condicionada) de prestar contas de cada mínimo
movimento ou sorriso ou lágrima a nossos pais e formadores. Isto apenas continua re-
criando a crença de que a casa VII representa algo ou alguém que está fora de nós, está
separado de nós, e precisa ser seduzido, conquistado e mantido para que nos sintamos um
pouco inteiros. Na verdade, se rompermos com essa crença e esse acordo, se pudermos ser
por um segundo verdadeiramente inteiros e plenos, nos rebelaremos e acordaremos deste
eterno Sonhar.
Ah, e se nos rebelássemos e acordássemos não precisaríamos do outro como nos é imposto
pelo Sonho do Planeta, pois o outro está, em princípio, dentro de nós mesmos, e só
podemos perceber e reconhecer nele até onde podemos perceber e reconhecer o que está
dentro de nós. Se estamos vivendo e experimentando o que está dentro de nós apenas na
dimensão de um sonho, o outro torna-se uma ilusão que, com a primeira brisa da
consciência, o primeiro vislumbre de nossa verdade interior, se desfaz...
E então, dentro dessa realidade imaginária, a casa VII passa a ser uma imensa fonte de
problemas, talvez a mais significativa deste planeta, pois, nas condições impostas pelo
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Sonho do Planeta, o “outro” é sempre a referência da minha realidade, ou melhor, da minha
ilusão de que existo.
Se o outro é uma ilusão e uma projeção, e se ele é a referencia de minha própria existência,
o que sou eu então?
Quem de nós quer transgredir esta regra? Quem de nós ousaria dizer que não precisamos do
outro para não sofrermos de uma imensa solidão? Quem de nós se atreve a atribuir um
significado diferenciado à casa VII, que não seja uma mera projeção de nossa profunda
carência? Quem de nós encara a possibilidade de que, por sermos naturalmente inteiros e
plenos não precisamos de ninguém para nos completar?
Quem pode aceitar a idéia de que na verdade nascemos sós e continuamos sós, e só de nós
mesmos, de cada um, depende nossa realização e nossa vida?
Não são incomodas essas idéias? Eu me sinto incomodado pensando isto. É assustadora a
idéia de que posso não precisar da pessoa que amo, a perspectiva de que posso apenas
compartilhar com ela minha plenitude natural, experiência que infelizmente não me é
permitida neste plano da existência por não ser conveniente às regras de manutenção e
controle do Sonho do Planeta.
Vamos portanto, por pura comodidade e para não ter que enfrentar a dolorosa verdade,
continuar descrevendo e analisando a casa VII (descrição que pode ser adaptada a todas as
outras casas) como algo que temos que conquistar FORA de nós mesmos, como algo que
pode ser identificado como uma experiência a ser vivida fora da gente, e não como algo que
já existe em nós, bastando ser acessada pela consciência.
Para a Astrologia que praticamos dentro desta dimensão ilusória, a utilização de conceitos
como o de ser bom ou mau é essencial. Daí que temos também “bons e maus aspectos”,
piores ou melhores configurações. Tanto na vida quanto na análise da vida, através do
horóscopo ou do que for, usamos basicamente os mesmos padrões conceituais. Esta busca
de referenciais nos padrões externos e nos modelos sociais, utilizada intensamente na
metodologia característica da Astrologia, tem a função de nos manter divididos e confusos,
submersos na ilusão, atrelados ao Sonho do Planeta.
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Enquanto isso, projetamos neste contexto biológico da existência, que não tem definições
de “bem e mal”, nossos conceitos pessoais, adquiridos exatamente no processo de
domesticação da psique.
Este é o procedimento que o Sonho do Planeta adota para nos forçar a construir critérios de
Valor sobre os quais iremos alicerçar nossa realidade. A casa II do horóscopo corresponde
ao universo dos valores pessoais, e, nessa dimensão do Sonho, os valores são elaborados e
mantidos por um mecanismo de punição e recompensa. Isto nos deixa constantemente
inseguros e ameaçados, além de incapazes de perceber que já temos dentro de nós todos os
valores de que precisamos. Não estamos nos referindo a objetos e recursos materiais, como
alimentos e roupas. Estamos falando de valores.
Mas é próprio do sistema mantenedor do Sonho no qual está submerso o planeta, que
projetemos e busquemos a referência de nossos valores fora de nós, pois nos sentimos
separados do outro e, por isso, o outro tem de reconhecer e endossar meu Valor, pois sem
isto eu não tenho como ter consciência de mim mesmo ou desses valores.
Isso é explicado astrológicamente pela condição que a casa dos valores do outro, a VIII
casa, passa a possuir por ser a VII casa quando contada a partir da casa II a dos valores
pessoais, ou seja, os valores pessoais são projetados e referendados na casa que lhe faz
oposição, como se esses valores fossem separados do indivíduo, da mesma forma que foi
explicado a respeito da casa VII quando se reconhece o “outro” como uma entidade externa
e separada da pessoa.
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aos outros, (...). Fingimos ser o que não somos porque temos
medo de ser rejeitados.
Podemos considerar também o fato da casa II ser a V a partir da X , a quinta casa a partir do
Meio do Céu. Neste caso ela, a casa II, representaria a “cristalização”, a materialização, a
formatação dos princípios que regem nossa presença no mundo social, a confirmação do
nosso status, e a resultante da expectativa que os outros tem de nós. Representa a
conseqüência de nossa imagem pública, além de mostrar a possível recompensa obtida por
nossa atuação e responsabilidade social.
A casa X se “fixa”, condensa-se, toma forma, materializa-se através da casa II. E como
estamos falando de uma condição que vem de fora, que vem do mundo, nossos valores
podem vir a ser a expressão e a sedimentação de todo um modelo, de uma série de códigos
e regras estabelecidas para que sejamos coniventes com o Sonho do Planeta.
É por isso que a cobrança em termos de valores, a manipulação das inseguranças, o reforço
constante dos apegos é um instrumento tão poderoso na manutenção desse paradigma social
que vivemos nos dias atuais.
A casa dos valores pessoais, representada no horóscopo como “questão II” (casa, signo,
planetas, regente, etc.), passa a ser, a partir do mecanismo aprendido de recompensa e
punição – e a conseqüente insegurança que este mecanismo produz – outra base da
sustentação do Sonho do Planeta em nós.
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É o terreno fértil onde é gestado nosso Sonho Pessoal, na verdade, a ilusão implantada do
que somos e podemos ser nesse contexto – onde a necessidade de “ter” parece ser muito
mais importante do que a necessidade de “ser” – infelizmente fertilizado pela idéia da
separatividade.
Junto a esta imposição de valores, está um mecanismo que em princípio é delicado, mas
vai-se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, cada vez mais atuante, e
poderíamos dizer que é a palavra-chave, a senha, a base da manutenção de todo o Sonho: o
apego.
Nossos critérios de valor passam, em função dos condicionamentos, a ser mantidos com a
insistência e determinação de quem precisa deles para sobreviver. Possuir algo, seja uma
idéia, um conceito, um bem qualquer, é sempre uma questão de vida e morte no plano da
grande ilusão coletiva. Com o tempo, vamo-nos tornando escravos deste apego, de tal
forma que a experiência de possuir passa a ser mais importante que o próprio objeto
possuído.
Há também a ilusão de poder e controle que a posse nos oferece, e isto confere à mente
condicionada a idéia de que somos autores de nosso destino, pois podemos possuir mais ou
menos coisas, podemos dispor das “coisas” como não podemos dispor de nossa própria
vida, e isto é bastante confortável.
Cada vez que analisamos a casa II de um horóscopo em termos do que a pessoa pode ter ou
não ter, em termos de sua possibilidade financeira, de seu potencial de materializar e obter
mais ou menos segurança, estamos endossando o Sonho do Planeta e a escravidão do
indivíduo a ele, estamos reforçando os mecanismos de apego ou de insegurança da pessoa,
exatamente por vivermos e estarmos sendo coerentes com o mesmo sonho, exatamente por
nossa Astrologia ser criada e estabelecida dentro da grande ilusão.
O Sonho do Planeta reconhece como normal que alguém sempre perca para alguém ganhar.
Isto mantém e alimenta a separatividade, a idéia de que somos separados uns dos outros.
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Isso não é uma apologia contra possuir bens ou viver com conforto, apenas o
reconhecimento de que a submissão à idéia da posse nos rouba a humanidade, exacerba um
individualismo mesquinho e egoísta e nos compromete com a ilusão de que não somos
partes de uma mesma totalidade, de que estamos desvinculados uns dos outros. Isso apenas
fortalece a condição de sermos partes de um sonho coletivo e nos tira a autonomia de
podermos escolher como viver nosso próprio destino.
(...) Os adultos dizem “Não faça isto, não faça aquilo”. Nós nos
rebelamos e dizemos “Não!”. Rebelamo-nos porque estamos
defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas
somos pouco, e os adultos são grandes e fortes.
O que este “Não” provoca em nós é a grande desconexão, a ruptura com o Universo, uma
separação dolorosa com o grande organismo cósmico e a conseqüente e permanente
sensação de solidão, solidão cósmica!
Esta separação a que somos induzidos para que, isolados e fracos, nada possamos fazer,
transforma-nos em uma célula sem organismo, um órgão sem corpo, e parece que a
consciência da separação – esta sim, permitida pelo Sonho do Planeta – deixa-nos perdidos
e perplexos, sempre em busca de um outro para compor nossa totalidade perdida.
A grande função da Astrologia poderia ser o re-conectar com o universo, com o “em
cima”, com o “corpo de Deus”, pois é uma linguagem que se baseia justamente na
harmonia e nas correlações universais. Mas para que isto acontecesse, seria necessário que
a Astrologia se desvinculasse do Sonho do Planeta e parasse de alimentá-lo, parasse de
concordar e endossar a separatividade humana, não funcionasse mais como uma explicação
reducionista para nossa pequenez e isolamento.
Bem que poderíamos utilizar a linguagem da Astrologia, que é uma simples observação da
linguagem da Natureza – antes de ser reduzida a mínimos denominadores comuns pela
necessidade de justificar o Sonho em que vivemos – como uma das grandes ferramentas
para nos reconectarmos ao todo, para experimentarmos o “religare” com o sagrado.
Mas para isto temos que ousar abrir mão de uma série de conceitos e regras baseados na
idéia de bom e ruim, bem e mal.
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Para que isso aconteça, talvez tenhamos que parar de obedecer aquilo que não é do próprio
ser.
Cada gesto do ser em direção à transformação tende a ser um gesto ilusório, um argumento
retórico para nos fazer sentir confortáveis dentro deste Sonho, para atenuar nossa rebeldia e
fazer com que não nos sintamos pequenos e apegados, para fazer com que vivamos dentro
de outra ilusão: a de que estamos reagindo e fazendo alguma coisa, de que não somos
totalmente covardes e acomodados.
Mas, abandonar a idéia de que precisamos do outro para sermos completos – que é um dos
fundamentos do Sonho do Planeta – isto não conseguimos conceber.
O planeta Júpiter e a questão que o envolve – casa IX, Sagitário – representam a elaboração
das Leis de um modo geral. Representam nossa aceitação às Leis, nossa identificação com
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as Leis, sejam as do Livro da Lei que regula o nosso Sonho coletivo, sejam as Leis da
Natureza.
A casa IX do horóscopo, por ser a terceira casa de Fogo, o Fogo Mutável, representa uma
passagem, um momento de compreensão na dinâmica dos signos. Enfim, esta casa é o
aspecto mais sublime de nossa identidade, simbolizada pelo Fogo, é o momento em que
transcendemos nosso modelo normal e conhecido de ser e experimentamos uma passagem
dimensional para outro plano da existência, conquistamos uma nova Identidade. Por isso, a
casa IX simboliza o futuro da nossa identidade, aquilo que queremos ser além de nós
mesmos, aquilo que gostaríamos de “ser quando crescermos”.
Ir além de mim mesmo, como indica o Fogo Mutável de Sagitário e é a função da nona
casa, implica ter acesso às Leis Naturais que permitem isto. Implica estabelecer uma
relação mais profunda com a Totalidade, e por isso o mecanismo de compreensão das Leis
que regulamentam todos os movimentos da Natureza.
Neste caso, em função do compromisso com o Sonho do Planeta, e com nosso Sonho
Pessoal, – que foi elaborado a partir de nosso filtro pessoal (identificável pelo horóscopo),
mas cujos parâmetros foram fornecidos pelo Sonho coletivo – a perspectiva de sermos mais
do que somos, de evoluirmos para outro plano da existência, para projetarmos e criarmos a
expectativa de uma nova e cada vez mais requintada identidade, torna-se limitada, ou
melhor, atrelada a este Sonho. E, como podemos observar, a proposta do Sonho do Planeta,
de um modo geral, é de acumular, ter cada vez mais, possuir, estabilizar, conservar. Tudo
bem, não é uma má proposta, afinal, estamos encarnados e somos por enquanto seres
físicos, profundamente vinculados e dependentes de uma realidade material. Mas o
problema é que é só isto, paramos nisto, nos bastamos com isto.
Fica difícil saber para onde ir, além destes referenciais materiais e comportamentais. Fica
difícil imaginar que poderíamos ser algo mais do que somos, sem abrir mão do conforto
material e da segurança.
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Tanto a questão II quanto a questão IX (quando as outras casas todas do horóscopo)
tornam-se um peso, algo que nos puxa para a estagnação, em vez de serem referências para
a transformação e evolução.
É tão forte o peso do Sonho do Planeta que, escrevendo estas linhas, fico imaginando que
não sei o que mais poderiam significar estas casas, que experiências elas poderiam
representar além da possibilidade da pessoa ser alguém “mais importante e com mais
dinheiro e estabilidade”, e também imagino – dentro de minha própria resistência em
acordar do sonho – que conquistar isto (segurança, estabilidade etc.) é o caminho e a base
para a evolução. Fui convencido e meus olhos não conseguem atravessar a névoa e ver algo
além. Sinto que existe, mas ainda não reconheço em mim mesmo a capacidade de Ver
além.
Como diz o Osho, “...um tomate não pode analisar outro tomate, ele precisa ser mais que
um tomate para isto...”, e, em termos de olhar a dimensão da nossa existência dentro do
estado do Sonho, somos ainda tomates tentando se entender. Por isso a mesmice e a
repetição dos conceitos astrológicos; por isso nossa resistência em aceitar que a Astrologia
poderia ser diferente do que é. É a mesma resistência em aceitar que nós poderíamos ser
diferentes do que somos.
Este “algo” que existe dentro de nós e que julga é, na verdade, o significado reduzido,
distorcido e adaptado pelo Sonho do Planeta para a expressão autorizada de cada símbolo
planetário em nosso horóscopo pessoal. Cada expectativa representada por um planeta
conduz a um julgamento, pois construímos a realidade a partir desta expectativa, e quando
não conseguimos elaborar uma realidade adequada e satisfatória à nossa expectativa,
tentamos estabelecer outros critérios para mudar esta realidade, e o mecanismo disso é o
julgamento.
Praticamente todo “julgamento” que fazemos é uma projeção do significado dos símbolos,
na forma como eles se manifestam dentro de nós, vinculados aos condicionamentos e
dependentes deles. Isto serve tanto para a descrição astrológica das configurações, dos
signos e símbolos no horóscopo, quanto para a percepção que cada um de nós tem de si
mesmo.
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Daí que Vênus, por exemplo, passa a corresponder simplesmente aos critérios universais de
relacionamento, mas este desejo e estes critérios de relação estão de acordo com o Livro da
Lei, são aceitáveis dentro do grande Sonho do Planeta, não representam nenhuma
liberdade, nenhuma transgressão. Apenas adaptação aos padrões comuns e aceitáveis pela
Ilusão Coletiva de certo e errado.
Evidentemente que Vênus utilizado de acordo com a Lei do grande Sonho Coletivo, não
representa necessariamente infelicidade ou desequilíbrio. É necessário sabermos caminhar
também neste sonho, pois é nele que nascemos. Mas, olhando em volta de nós, olhando em
nossas próprias vidas, percebemos com clareza a quantidade de experiências que deixamos
de viver, a intensidade do sofrimento amoroso que as pessoas encontram, a dificuldade que
existe para se fazer uma escolha saudável e viver uma relação harmoniosa e plena. Por que
será?
Bem, imaginamos que, para o Sonho do Planeta, para que Ele se mantenha, não seria
conveniente que as pessoas experimentassem a plenitude do relacionamento consciente,
isento de culpa e de competição e conflitos inúteis, pois assim todos descobririam que
estamos juntos, que podemos trocar, compartilhar e confiar uns nos outros, e isto seria
extremamente perigoso e revolucionário para a manutenção do Sonho, pois eliminaria
nossa maior fragilidade.
Isto foi apenas um exemplo de como a necessidade de julgar tudo segundo os critérios do
Livro da Lei, o manual de regras do Sonho do Planeta, distorce e nos faz viver distantes de
nós mesmos, alheios à nossa plenitude e aos seres divinos que somos.
Pensemos em outro exemplo: Saturno. Este aí, uma das molas mestras da manutenção das
leis que nos atrelam ao grande Sonho. O julgamento que Saturno faz da realidade é sempre
baseado no medo, na fragilidade de nossa estrutura, exatamente porque no Livro da Lei
consta que nascemos frágeis (educadores, parentes etc., insistem obsessivamente em
mostrar nossa fraqueza, e que, se não formos obedientes à Lei, seremos punidos), consta
que o Medo é uma das referências para definirmos e julgarmos a realidade.
Será que Saturno em outra dimensão de compreensão é apenas medo? É apenas necessidade
de segurança? É apenas rigidez? Ou estes critérios, que funcionam como lentes para que
vejamos o mundo apenas de acordo com eles, apenas se prestam para que nos mantenhamos
atrelados ao Sonho do Planeta e suas decorrências?
O jogo da vítima
Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa
parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a
responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: “Sim,
você não é bom o suficiente”.
O movimento da vida, seja no Sonho ou fora dele, é sempre um fluir e refluir, “a vida vem
em ondas como o mar”, como diz a canção. Tudo é energia, tudo flui através de ondas, e
isto é um fenômeno comprovado fisicamente.
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Neste vai e vem, o julgamento e sua contrapartida também estão submetidos ao fenômeno
ondulatório. O julgamento é o mundo se apresentando para a gente e sendo filtrado por
nossos canais distorcidos e modulados pelo Sonho, o que costuma provocar uma resposta à
altura desse julgamento, que é a conduta de vítima.
Júpiter, por exemplo, julga moralmente, e depois se torna vítima moral do julgamento que
faz, como forma de justificar-se e suportá-lo. Saturno julga o peso, a medida e a
conveniência das coisas todas, e torna-se vítima do medo de sair da medida, perder os
limites, perder a estrutura. Marte julga a energia investida, por si mesmo e pelos outros,
julga a sexualidade e o vigor das coisas – em vez de simplesmente vivê-las como lhe
compete – quase sempre com base em regras que nem sempre correspondem ao tônus e à
natureza da pessoa; depois se torna vítima de seu desejo, vítima de seu gesto, que isto faz
parte do script de manutenção do Sonho. Mercúrio vive do julgamento que cada palavra de
seu discurso, cada movimento de sua compreensão produz; e é vítima da incompreensão
que isto provoca, é vítima de eternos mal entendidos, ou pior, vítima da interpretação
inadequada do que é real e do que é imposto a nós pelo Sonho. Vênus, o senhor do desejo,
julga acompanhando os critérios impostos pelo Livro da Lei, em vez de simplesmente
desejar com o coração; torna-se uma vítima contumaz de suas escolhas inadequadas e de
seus desejos sem coração.
Quem ama sem julgamento? Quem não conhece a condição de ser vítima do amor? Vítima
das escolhas amorosas que foram produto de julgarmos entre o certo e o errado, entre o
bom e o ruim, com base em critérios que são culturais, em vez de obedecermos nosso
coração.
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chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus
ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional.
Quebrar as regras é muito difícil. Sempre temos a sensação de que temos algo muito
precioso a perder, fomos convencidos disto desde a infância. Mas nunca sabemos o que é
este algo que podemos perder. O que será?
A idéia de que “não nos bastamos” se impõe quase que absolutamente como um código de
leitura do horóscopo. A interpretação passa a ser feita em função da pressão, das cobranças
do contexto onde a pessoa vive. Praticamente toda interpretação dos símbolos astrológicos
costuma ser uma descrição das expectativas que a sociedade tem do indivíduo, e se ele está
correspondendo ou não a elas, se está feliz por sentir-se aceito na tribo, por ter algum grau
de importância na tribo, ter status, ser o que esperam dele. Bem, talvez isto seja o certo, não
é? Quem sabe?
Os vínculos pessoais e sociais em geral, que poderiam corresponder a uma troca amorosa,
a uma complementação energética e afetiva, acabam funcionando como desafios e
questionamentos desnecessários; funcionam como exercedores de pressão, como se cada
pessoa fosse uma “quadratura” que nos mantém eternamente vigilantes e atentos às
ameaças do julgamento do “outro”, e sempre preparados para assumir o papel de vítima,
completando a trama das relações de dependência.
Quando ousamos sermos nós mesmos, seguir nosso instinto ou coração, a reação que surge
não é apenas a angústia existencial: realmente abrem-se as feridas de nossa desconexão
com a essência, e temos que nos intoxicar de ilusões, ou de comportamentos típicos de
vítima, para suportarmos a dor desta ruptura com a gente mesmo. Como Vítimas, fica mais
fácil, a coisa se justifica, redime-se de certa forma.
A Astrologia do conformismo
19
É por isso que precisamos de um bocado de coragem para
desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não
haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade
que terminamos por concordar com todas elas.
A Astrologia, esta Astrologia que tem sido praticada durante tanto tempo, comprometida
com o Sonho do Planeta, assusta-nos ainda. Percebemos eventualmente um tipo de aroma,
uma certa luz que pode nos conduzir para além das Leis que regulam e nos mantém neste
estado adormecido, mas muitas vezes nos falta a coragem para desafiá-las.
Está funcionando, está – teoricamente – dando “consciência” a nós, mas a consciência que
uma Astrologia comprometida com o grande Sonho nos dá é limitada e delimitada pelas
Leis reguladoras deste Sonho. É uma Astrologia engajada e comprometida. A consciência
que ela nos dá é a repetição das normas e regras mantenedoras, adormecedoras. Satisfaz a
vaidade intelectual, mantém-nos aparentemente ligados ao universo e com acesso às leis da
Natureza. Mas nossa visão, empanada pela neblina do sonho, não nos permite ver além das
descrições convencionais, de que Saturno é o medo, Marte, o sexo e a Lua, a mãe, e assim
por diante. Intuímos que existe algo além desta descrição, mas quem de nós ousa ir além?
Quem de nós ousaria romper com a regra, fugir do padrão, recusar-se a aceitar a mera
descrição comportamental como modelo de consciência, quando não é consciência coisa
nenhuma. Descrição não é consciência.
Mas podemos todos questionar se este mundo ao qual estamos atrelados, esta “realidade”
na qual estamos submersos e com a qual estamos comprometidos, permite nosso
crescimento além dos limites dela, permite uma verdadeira integração com com a natureza,
permite a constatação da plenitude que intuímos existir em nós.
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existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de
nós baseia tudo nessas regras.
O horóscopo pode ser visto como uma reprodução, uma expressão gráfica do Livro da Lei,
e funcionar como um poderoso instrumento mantenedor na regulamentação do sonho
pessoal, depende apenas de como for utilizado, e acreditamos que, até o presente momento,
o horóscopo e a Astrologia são usados quase que exclusivamente para a manutenção da Lei
e do Sonho, raramente para a libertação e transformação.
Podemos usar interpretação para julgar e manter, alimentar o status quo, reforçar os
padrões morais e manter a pessoa atrelada a seu nível de exigência. Poderíamos ousar
afirmar que toda interpretação que seja coerente com a realidade, como a percebemos
dentro dos limites de quem está adormecido, é um julgamento!
Certos padrões que se repetem na análise, procedimentos comuns, como por exemplo
afirmações do tipo “você é assim!”, “você tem um grande potencial para a cura”, “tua
capacidade de relacionamento está bloqueada pelo aspecto de Saturno com Vênus”, “o
Urano dominante no teu mapa te torna uma pessoa excêntrica e com grande necessidade de
ser livre”, “A posição de Pluto confere uma grande necessidade de poder – ou potencial
para exercer poder”, são reforços ao estado de inconsciência ao qual somos todos
submetidos pelo Livro da Lei, pois todas estas afirmações, citadas como exemplo, só fazem
sentido em uma realidade na qual estamos separados dos outros, não estamos de fato
vinculados à humanidade, nos achamos especiais e únicos, e estas características são muito
eficientes para afastar a gente de si mesmo, para manter a gente dopado e embriagado pelo
sonho cultural que vivemos.
Fazer uma pessoa sentir-se feliz e confortável dentro dos problemas dela, mostrar saídas
para que ela se conforme e mude sem mudar nada na verdade, não creio que seja mal.
Aliás, é o pouco que podemos fazer com a Astrologia tradicional. Mas esta estratégia e este
uso da Astrologia é um meio de manter a pessoa adormecida, acreditando que aquela vida,
aqueles problemas ou pequenas soluções, são tudo que lhe resta.
Talvez seja mesmo, não é? Quem sabe? Aliás, minhas defesas e meus medos estão aqui me
cutucando desesperadamente para que eu não acredite que haja algo além daquilo que o
mundo me convenceu que existe, não haja nada além da Astrologia que eu conheço, a não
ser algumas novas técnicas e algumas variações sobre o mesmo tema. Será que resisto?
Será que me entrego à pressão do sonho que está me assobiando que sou ridículo em querer
pensar além do que me é permitido? Ai! Que faço eu?
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A multiplicação do castigo
O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de
vezes pelo mesmo erro. (...) Temos uma memória poderosa.
Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que
somos culpados e castigamos a nós mesmos.
Está aí uma interpretação clássica da Lua: a memória. Esta conjectura, sobre nos punirmos
muitas vezes pelo mesmo erro, mostra uma diferença bastante objetiva entre os seres
submersos na grande ilusão e os animais, por exemplo.
Os erros que cometemos, excluindo aqueles que são de fato prejudiciais à própria vida, são
erros sob o ponto de vista de quem? O que são os erros na verdade, quem ou o que os
define?
Um animal que, após horas espreitando sua caça, erra o salto e deixa escapar o alimento,
cometeu um erro. Mas será que ele pára e se lamenta disto? Será que ele acha que isto é
motivo de punição? Ou mesmo um cão doméstico, que morde uma criança que lhe puxou o
rabo, errou de fato? Merece ser castigado? E a criança, errou?
O que são nossos erros? Estamos sujeitos a investir nossa energia em um projeto
inadequado, ou podemos escolher para nos relacionarmos uma pessoa que depois nos trará
problemas, eventualmente investimos nossas economias em algo que posteriormente se
mostra um fiasco financeiro, enfim, são os erros que cometemos por nos encontrarmos na
condição de aprendizes permanentes do viver, e estarmos sujeitos a isso. Serão esses os
nossos erros ou estamos apenas condicionados a acreditar que são erros?
Mas dentro de uma ótica de que a vida é aprendizado, esses “erros” seriam motivos para
sermos punidos? É motivo para sofrermos e nos martirizarmos muitas e muitas vezes,
lamentando nosso fracasso, envergonhando-nos das escolhas erradas, e algumas vezes até
mesmo somatizando estes sentimentos e frustrações até adoecer? Não estávamos, afinal,
apenas experimentando e aprendendo?
Quem foi que determinou que temos que sofrer por não sermos perfeitos e estarmos neste
constante aprendizado? Ah!! Este simbólico Livro da Lei, que impõe um modelo ilusório
de superioridade e perfeição a todos nós.
E a vida se torna insuportável por esta cobrança de perfeição e superioridade, que foi
forjada desde a primeira infância, na fase lunar da formação de nosso caráter, e
estrebuchamos o tempo todo para sermos o que não somos. Não podemos ser perfeitos, e
nos falta o tempo para refletir e questionar se é bom viver assim, nos punindo, com medo
constante da falha, do erro, do fracasso e do julgamento que os outros que vão fazer de nós,
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exatamente como nossos pais e formadores faziam, e que nós mesmos continuamos
fazendo o tempo todo.
E a Lua, dentro deste contexto, representa a função da memória e passa a conter – por suas
correlação com o momento da formação da personalidade, a infância – o script que
insistimos em repetir.
Todo este movimento das pessoas representadas pelas casas são projeções. Nada disto
existe na verdade. Os dramas e alegrias são uma descrição que fazemos, a partir de nossas
expectativas individuais, pois outra pessoa, vendo o mesmo fato acontecer, poderia ter uma
interpretação completamente diferente da nossa, a interpretação dela.
23
A questão Saturno
No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram,
vivam com medo e criem dramas emocionais. (...). Se
observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito
difícil de viver porque é regido pelo medo.
O último planeta visível, o limite entre tudo que acreditamos, ou fomos convencidos a
acreditar, e o que está além, o invisível, o transcendente, que tantos de nós buscam
avidamente, como se ir além do visível fosse a salvação.
A realidade “além de Saturno” é descrita por nós dentro dos limites descritos pelo Livro da
Lei, é configurada através dos padrões a que estamos condicionados e que alimentam nosso
estado de adormecidos. A realidade transpessoal, portanto, também está limitada aos
critérios e padrões estabelecidos pelo Sonho do Planeta.
É como aqueles filmes que mostram um céu onde todas as vaidades, medos e desejos deste
plano funcionam igualzinho, apenas as aparências são mais luminosas e clean, talvez em
um cenário de núvens e harpas, mas projetadas como uma reprodução do Sonho do Planeta.
Um grande shopping center angelical.
Será isto mesmo? Será que, conservando os mesmos desejos, os mesmos dogmas, as
mesmas crenças e a mesma descrição do mundo, conseguiremos nos libertar deste estado de
sofrimento e crueldade contra a vida?
Será que continuando a achar que este mundo é certo, que esta percepção que temos de nós
mesmos e de nossos limites é certa, que nossa pequenez e mesquinhez é certa, que alguns
são espiritualmente melhores do que outros, que alguém sempre tem que perder para
alguém ganhar – um dos mais poderosos princípios da Lei que mantém o mundo em
conflito – enfim, alguém ainda acredita na mudança, na melhoria dentro deste paradigma
que o Sonho do Planeta nos impõe há tantos séculos?
24
disso para confirmar o que sentimos e vivemos, cada vez que precisamos nos sentir
aprovados e aceitos, estamos na verdade procurando o endosso e a confirmação de que
estamos cumprindo a Lei, esta mesma Lei que provoca a separação entre os Homens, que
desperta a competição, a crueldade social, a arrogância e egoísmo de muitos.
Cada vez que queremos mostrar ao mundo nosso sucesso, nossa conquista, desejamos na
verdade ser avalizados e reconhecidos como sintonizados com a Lei. A vaidade é uma
ferramenta através da qual somos usados e escravizados a este sistema, é um soporífero que
nos afasta de nós mesmos todo o tempo.
Cada vez que estamos amando, e queremos gritar ao mundo nosso amor, nosso encanto, é
possível que estejamos na verdade inseguros, não acreditando que o amor possa realmente
estar acontecendo, e queremos a aprovação do mundo, precisamos do testemunho,
buscamos nos outros a confirmação de que o amor possa existir em nosso coração. Neste
momento submetemos o amor ao paradigma da vaidade e das regras que determinam que
eu não posso ser senhor de minha vida e meu destino sem a aprovação da sociedade, dos
outros.
E continuo adormecido, e o amor que sinto se funde e dilui-se no meu sonho, no sonho de
todos nós, que, se pensarmos bem e diante de tantas regras e restrições, não parece estar
sendo um sonho de plenitude, liberdade e felicidade...
É interessante a analogia que a Astrologia faz entre o Inferno e o signo, casa e regente de
Escorpião, o signo da transformação. Num raciocínio básico, parece que a idéia de Inferno
tem grande correspondência com o processo de transformação propriamente dito, e
praticamente todos os sentimentos negativos relacionados a este “viver no inferno”, como
o ciúme, o ódio, a inveja, são manifestações do medo da transformação, costumam aparecer
quando é momento de se transformar e sair um pouco do velho Sonho.
Se pensarmos no Livro da Lei, e nos regulamentos que fazem da nossa existência um tipo
de inferno, onde em geral, o lado mais feio e pequeno do Homem prevalece, veremos que a
transformação pessoal é contra todos os princípios que regem a manutenção do Sonho do
Planeta. Mudança é tudo que não convém, a grande ameaça ao sonho, o risco de nos
despertar. Aceitar e viver a transformação nos liberta do sonho (ou pesadelo para alguns),
coloca-nos de frente com a verdade, conduz-nos a um confronto com a realidade e liberta-
nos das mentiras que nos contamos para aceitarmos viver atolados na estagnação da não-
mudança.
Talvez por isso exista tanto preconceito contra o oitavo signo, a oitava casa e Plutão, seu
regente, indicadores notáveis de mudança e renovação. São apresentados muitas vezes
como canais do pecado, do sofrimento, da obsessão, da sexualidade inadequada, e
principalmente, da Morte, como se a Morte fosse algo a ser evitado e temido com todas as
nossas forças.
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Claro que biologicamente estamos comprometidos com a vida, mas também estamos
envolvidos com a inexorabilidade da morte. Mas quando a Lei mantenedora do sonho nega
a idéia da morte, apresenta-a sempre como perda, dor, sofrimento, e apenas isto, na verdade
a idéia é nos remeter para a casa II, a casa dos valores pessoais, para uma visão distorcida
da casa II, transformando este campo de projeção em uma relação absoluta com a forma,
com a posse, com a matéria e nossa relação com estas coisas como a única forma de evitar a
tão temida morte. Na verdade, o que se pretende evitar com esta negação cultural da morte
é que percebamos que morrer é transformar-se, e cada pequena transformação é uma
pequena morte.
Associar a morte e o inferno a Escorpião e sua questão é uma forma de nos manter
afastados do “bicho-papão”; um esquema muito bem elaborado pela cultura do Sonho para
que neguemos e vejamos sempre a transformação como o mal, como a dor, como a perda.
Assim, nos apegamos cada vez mais à realidade material, como se ter bens e propriedades
mantivesse a plenitude da vida, desse algum poder de superar a inevitável morte e tirasse-
nos do caminho do fim da realidade material, do fim do corpo físico, do fim do ego e da
vaidade.
Sinto muito por todos nós, mas acreditar nisto só traz sofrimento e solidão, porque tudo
acaba e tudo se transforma.
Ah! Ainda temos a esperança de continuar depois da morte, com o mesmo Ego. Outra
ilusão para nos manter sonhando e impedir-nos de agir e de nos transformarmos enquanto
estamos vivos e encarnados.
Creio que algo em nós se dilui no universo, nossa energia vital se funde com a totalidade da
Natureza, volta para os lábios de quem soprou a vida em nós, e nosso espírito, talvez vague
ou vá mesmo para algum lugar de aprendizado, mas nada disso podemos saber ou controlar.
O ego, nossos apegos e medos, nossas vaidades, pequenos poderes e bens materiais aos
quais nos vinculamos, nosso corpo, estes acabam mesmo! Apesar de preferirmos acreditar
em algo “além” para satisfazer nosso apego ao sonho do planeta, para o qual a função do
“apego” e da “conservação” das formas é uma das mais importantes referências.
Sinto muito, sinto por todos nós, pois sair da ilusão significa provar o sabor ácido da des-
ilusão. É o preço.
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Basta ver a história de absolutamente todas as religiões institucionalizadas, por melhor que
sejam as intenções de seus divulgadores e sua boa fé, todas estão certas, todas são
portadoras da verdade divina. Basta ver algum tipo de Astrologia tentando convencer as
pessoas que está certa, que através dela se sabe alguma verdade e descobre-se algum
caminho, desde que se acredite nela, é claro. Tudo no mesmo balaio. Tudo instrumento para
manter a pessoa “crente”. E é preciso estar dormindo para ser um “crente” e dar crédito ao
que nos contam astrólogos, psicólogos, padres, pastores e pais. Se estivermos acordados,
em vez de acreditar passivamente, vamos experimentar, testar e ver o que podemos fazer
com tudo isto... ou não?
Acontece que tanto o que temos “a mais” em termos de presença, quanto o que nos falta
energéticamente, de acordo com os símbolos astrológicos, está realmente dentro de nós,
que ninguém nasce imperfeito diante da perfeição e impecabilidade da Natureza e tudo que
precisamos já está contido em nosso ser.
Bem, creio que temos que ter algum cuidado para que a Astrologia que praticamos não seja
também uma crença falsa em nossa mente. Será que é? Como podemos saber? Quem de
nós, apaixonados pela Astrologia, eternos estudantes desta linguagem, está realmente certo
de que a Astrologia que conhece e pratica está certa?
Nosso bom senso, nossa lógica, nossos critérios mais razoáveis nos dizem que a Astrologia
que praticamos – e estou estendendo esta idéia às várias linhas e estilos de prática
astrológica – é correta e honesta. Mas e se nosso bom senso, nossa lógica, todos os limites
culturais de nossas fórmulas de entender o mundo não estiverem certos?
Bem, creio que jamais saberemos quem está certo. Mas a quem importa realmente estar
certo ou não? A quem devemos satisfação de nossa verdade ser a verdade correta?
27
de vista de outras pessoas, por causa do medo de não sermos
aceitos e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas.
Creio que este aspecto – o medo de não sermos aceitos ou de não sermos bons o suficiente
para outras pessoas – sugere um problema fundamental na leitura do horóscopo.
O significado dos planetas e configurações pode ser bastante distorcido em função desta
expectativa da pessoa, que a motiva a reagir de forma distorcida, contrariando sua natureza,
pelo medo de desagradar e não ser reconhecido e aceito por aqueles a quem ama.
Claro que, por mais que tentemos trair nossa natureza essencial, mostrada pelo mapa
astrológico, não vamos conseguir fugir muito do que os símbolos sugerem como nossos
potenciais básicos, e neste caso, estamos sujeitos a ter que expressar estes potenciais de
forma bastante inadequada e corrompida para tentar nos adaptar a um contexto exterior, a
uma cobrança que nem sempre vem das pessoas, muitas vezes vem de nossa crença
condicionada do que é certo e errado, crença esta imposta pelo sonho da humanidade, o
Sonho do Planeta.
Por isso, muitas vezes expressamos certas qualidades de nosso horóscopo de forma tão
inconveniente e incompreensível, e outras vezes, traímos nosso próprio destino e ficamos
perplexos quando uma configuração planetária que poderia representar qualidades positivas
e interessantes expressa-se através de nossas atitudes e dos acontecimentos decorrentes
como fonte de conflitos e problemas.
Vale uma boa analise destas questões, sem preconceito, sem se apegar ao velho e
anacrônico modelo meramente descritivo. Talvez a idéia de se perguntar o QUE foi
imposto e condicionado a mim através destas experiências (casas, questões), e o que tenho
que fazer para me libertar disto, como posso me rebelar contra tudo isto, pode ser algo
funcional e interessante para nos auxiliar a despertar.
Mas só de pensar nisto fico arrepiado e me inclino a desistir imediatamente. Afinal, quem
quer enfrentar o mundo, o Livro da Lei, e no fim, ficar só? Esta é a grande ameaça que
acaba nos obrigando a ceder ao Sonho do Planeta.
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O SONHO DO PLANETA – PARTE 2
É tudo uma imensa utopia. Esta teoria do Sonho do Planeta é tão provável quanto qualquer
outra teoria. Podemos preferir acreditar na necessidade da forma e da imagem e no poder da
posse, e isto ser tão real quanto a tese do Sonho do Planeta. Jamais saberemos. Mas uma
coisa podemos perceber, independentemente de aceitar ou não, acreditar ou não: o processo
de domesticação e condicionamento de nossa mente, a imposição de uma cultura, de um
modelo de realidade qualquer.
Se isto é bom ou mau, se é certo ou errado, se aceitamos ou não, não é o que estamos nos
propondo a discutir aqui, mas simplesmente estamos avaliando a possibilidade de existir
uma programação externa, e que esta programação – fornecida principalmente pela família
e pelos educadores como interface entre o indivíduo e a sociedade – é o que determina a
maneira como usamos nossos recursos e possibilidades, e não é necessário termos dúvidas
deste fato. É palpável, é físico, é observável em cada um de nós e em cada um ao nosso
redor. Poderíamos imaginar o que seria nossa vida sem esta programação imposta. Como
seríamos? Não sei se melhores ou piores, mas... quem sabe?
Os animais selvagens e alguns raros seres humanos não são sujeitos a este tipo de
programação cultural, moral, econômica. Será que é isto que distingue os homens
civilizados dos selvagens? Um script imposto, um programa do qual não conseguimos
fugir?
Todas as técnicas que conhecemos e que são aceitas no ocidente para que o Homem resgate
seu equilíbrio e conquiste algum bem estar, como a yoga ocidentalizada ou as psicoterapias
em geral, estão comprometidas e são definitivamente vinculadas à manutenção deste
“script” social, ou das Leis do Sonho. De certa forma a pessoa se integra e sente felicidade
na medida em que não é agredida pela cultura e pelo ambiente, na medida em que consegue
conviver e sobreviver aos fatores externos, na maioria das vezes ignorando ou negando
muitos de seus talentos e capacidades naturais, inclusive, mantendo tudo que é instintivo e
básico sob o mais rígido controle. Quanto maior o controle de si mesmo, maior a chance de
ser aceito e “amado” por seu grupo social.
A aceitação do indivíduo pelo grupo parece ser o “ponto de fuga”, o foco principal deste
painel que compõe o processo de manutenção do Sonho do Planeta. Ser aceito, ou ser
amado – de acordo com a interpretação de alguns – é experiência que nos motiva a ser
29
como somos, a obedecer as leis e até mesmo a transgredir nossos desejos mais íntimos e
nossos instintos.
E como estamos todos de alguma maneira comprometidos com o Sonho do Planeta e com a
manutenção deste sonho, um dos condicionamentos fundamentais para que consigamos
sobreviver à ausência de nós mesmos, à perda de contato com nossa essência, é jamais
pararmos para examinar aquilo que achamos que somos, não parar nem um instante de se
descrever e se esforçar para manter uma certa imagem idealizada de si mesmo, jamais
fazer autocrítica, pois o distanciamento crítico pode-nos fazer perceber que talvez
estejamos vivendo um imenso equívoco. E o tal do Sonho do Planeta e suas leis não
permitem que se faça isto, pois a ilusão de vida que vivemos é muito frágil diante da força
verdadeira da Vida, e não sobreviveria a um segundo sequer se fosse confrontada com
coragem.
Podemos formar uma imagem curiosa sobre o estado do viver dentro do Sonho. Se
considerarmos a Água, elemento que representa o sentimento nos planos mais profundos e
reais, e também as emoções, quando se refere esta energia à expressão do Ego; e se
considerarmos o Ar o elemento através do qual se forma a realidade “pensada”, idealizada,
onde se formam as ilusões – que podem ser simples descrições de como percebemos a
realidade – , e se entendermos que vivemos normalmente a fusão deste mundo das idéias e
deste mundo das emoções, o que cria um Ar molhado, ou uma Água aérea, algo muito
semelhante a uma neblina, uma névoa que é talvez o elemento mais ativo e participante na
formação de nosso cotidiano, de nossas ilusões.
Teríamos formado aqui um quinto elemento, a Neblina, que é a fusão do sentimento com o
pensamento, da água com o ar, e que carece principalmente do elemento Terra, o elemento
das sensações e da forma. Se assim for, onde está neste úmido universo a realidade física?
Bem.... de certa forma, talvez seja toda ela, a realidade física, uma criação da mente e dos
sentimentos, ou dos desejos... figuras criadas da neblina, com a mesma substancialização
dela, efêmera como ela, pois qualquer golpe de ar – o que dentro desta simbologia
representaria um pensar vigoroso e realista – ou uma onda mais forte na água das emoções,
poderia espalhar a neblina, deixaria a Luz invadir e talvez apagar todos os fantasmas, todas
as expectativas, praticamente toda a realidade criada com esta substância da qual se formam
os sonhos.
30
O homem natural e as sementes da cabaça
O horóscopo mostra, em princípio, duas possibilidades:
Este “Homem Natural” na verdade pode ser também compreendido como uma entidade
imaterial, uma manifestação energética, uma “emanação da Águia”, como diria Don Juan
Matus. Ele é composto originalmente de energia caótica da natureza, que se condensa e se
manifesta, ou seja, quando esta energia pura se organiza, toma forma e se manifesta, o
homem acontece, passa a existir através das idéias, do sentimento e do intento.
O sentimento, no caso, não deve ser confundido com emoção, que é uma expressão do ego
e da psique. Sentimento existe em todos os seres, independentemente do uso ou não da
razão. É uma forma pura de expressão da energia essencial, seja por exemplo a alegria, seja
o medo. A emoção é um sentimento. Sente-se emoção.
O intento é a força natural que move os átomos, que movimenta e direciona a energia vital,
conduzindo-a para um estado de aglutinação, dando a ela forma e consistência. O intento
conduz a energia do sentimento para o mundo da forma e das sensações, o mundo do
“Tonal”, como era denominado pelos xamãs toltecas.
Poderíamos dizer que o Horóscopo mostra, em uma primeira análise, o plano e a estrutura
energética do homem, onde o sentimento e a energia vital em estado puro se direcionam
para este ou aquele módulo, e mostra também em uma segunda etapa a aglutinação desta
energia caótica, onde ela se transforma em realidade, em gesto, em objeto, em caráter, em
personalidade ou qualquer outro tipo de formatação que a energia aglutinada possa assumir.
Tudo que existe – a pedra, o perfume, o som, a cor, o gesto – é materialização da energia
vital e caótica da qual se compõe o universo, em infinitos níveis de freqüência e amplitude.
A física moderna prova e comprova isto.
Quando unimos – através do intento – a energia essencial, vital e caótica, que nomeamos
aqui, por analogia, como “sentimento”, com a energia aglutinada e formatada a que
chamamos matéria ou realidade física, construímos e permeamos o mundo, atravessamos os
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espaços vazios entre as formas e os gestos e expressamos e experimentamos o que
conhecemos como Vida.
Uma segunda coisa que o horóscopo pode mostrar é onde este Homem Natural é mais
frágil, onde ele pode ser manipulado e receber programas e condicionamentos que
distorçam sua natureza, quais seus pontos fracos, por onde uma realidade externa pode ser
implantada em sua psique. Mas o horóscopo não mostra que isto vai acontecer, apenas nos
sugere por onde pode acontecer, ou que simplesmente pode acontecer.
A visão que podemos ter do horóscopo tende a ser a visão de seres agarrados às sementes
dentro da cabaça: recusamos largar as sementes, recusamos abrir mão de um modo
específico de ver a realidade e de nossa mania ou até compulsão de alimentar e manter a
auto-imagem que nos foi proporcionada por nossos pais e pela sociedade. Esta é a segunda
visão do horóscopo, aquela que mostra nossas fragilidades e nosso comprometimento com
o que esperam da gente.
Neste caso, o mapa astrológico passa a ser um excelente referencial de expectativas. Cada
configuração, cada aspecto vai representar um tipo de expectativa, algum espaço a ser
preenchido, algum tempo a ser vivido, mas sempre dentro de um padrão que não é
necessariamente o nosso. O horóscopo se torna um mapa da expectativa que o mundo tem
de nós, e nossas expectativas passam a ser reações ao que o mundo externo espera de nós,
num tipo de movimento circular, e assim ele é visto e interpretado dentro do padrão
imposto pelo Sonho do Planeta.
De alguma forma, existe algo como uma “expectativa coletiva”, que cria a realidade como
nós a concebemos, o Sonho do Planeta, o mitote dos xamãs, o Maya dos indús, e esta
expectativa é maior e mais poderosa que a capacidade pessoal de idealizar e criar nosso
próprio sonho, nossa própria realidade, e de alguma maneira nos constrange ou nos
corrompe ou nos seduz e nos obriga a nos submetermos a ela, a submetermos nossas
qualidades pessoais e nossos talentos a ela.
Estamos perguntando neste momento: “... mas o que vamos olhar no horóscopo então?
Este cara é maluco! A vida é o que é, e temos que usar a Astrologia para tentar melhorá-la,
o que já é uma grande coisa....”
Isto está certo, é assim mesmo que fazemos, estamos agarrados demais às sementes dentro
da cabaça para imaginarmos que poderia ser diferente. Mas existem pequenas coisas que
podemos fazer. Tentativas frágeis, delicadas, suaves diante da imponência do sonho que
nos consome e absorve tanto, diante da nossa necessidade de preservar nossa imagem
construída, nossa crença em um mundo e em um tipo de mundo que aprendemos a amar.
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A primeira coisa a fazer é entender o mapa dentro do conceito de Energia Pura, energia
vital, energia do Caos, e a partir disto, fazer uma fusão entre este conceito e os conceitos de
forma, de materialização desta energia, pois que tudo é energia, e podemos olhar a partir de
um lado físico formatado por nossa mente ou dentro uma perspectiva energética e sem
forma. Ou melhor ainda, podemos olhar de ambas as maneiras.
(ENIGMA/Miltinho e Magro)
Precisamos considerar que o Ser está submetido a um contexto maior que ele: o ambiente
planetário e as condições sociais ao nosso redor são muito poderosos, e qualquer análise
que fizermos de um indivíduo, através do horóscopo ou outro instrumento, tem de levar em
consideração a pressão do ambiente. A análise pode ser feita não a partir dos potenciais do
indivíduo, simplesmente, mas da correlação entre suas qualidades naturais e a possibilidade
destas qualidades se manifestarem em um contexto que pode ser hostil a algumas
características e bastante favorável para outras.
Mas, dentro de nós, muitas vezes aparece um ser selvagem, aparece a necessidade de viver
o amor e a relação em outra dimensão, talvez mais instintiva, talvez mais biológica, menos
formal, e aí vem a cobrança, a culpa, o sentimento de estarmos transgredindo as regras. Que
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regras são estas? Algumas são determinadas pelo bom senso e necessidade de preservar
padrões de segurança, outras pelo respeito aos limites e contingências biológicas do ser
humano, mas estas, se nosso instinto de sobrevivência não estiver detonado, não podemos
transgredir, pois não há força que nos afaste da vida em si mesma, a não ser a loucura e o
excesso de pressão. Essa transgressão biológica e agressão à própria vida não está no
horóscopo, não está em nenhuma programação conhecida da natureza.
Bem, talvez esse procedimento seja o mais correto e eu esteja especulando sobre uma
utopia, uma impossibilidade, não é? Mas vou continuar nesta especulação, pois algo dentro
de mim está insatisfeito e pede que eu continue esta escavação dentro dos critérios que
nortearam minha própria vida. Pressinto como que um certo brilho, uma chave, uma
passagem que não consigo ainda atingir, mas que está lá me esperando, e se eu insistir e
continuar, em algum momento a porta se abre, e aí posso escolher entrar ou ficar,
mergulhar ou ficar. A escolha ainda é minha.
E este é nosso maior medo. Agarramo-nos às informações assimiladas, às regras que nos
deixam seguros e coerentes, aos comportamentos, aos estilos, às técnicas que permitem
uma aceitação de nosso trabalho, de nossa vida pelas pessoas, e sabemos que, se nos
atrevermos a questionar e contestar tudo isto que praticamos, o preço pode ser o
isolamento, o deboche, a ironia dos que permanecem. Por isso é mais fácil e cômodo não
questionar, não colocar em dúvida nosso conhecimento, nosso trabalho. Por isso é tão
incômodo questionar a Astrologia e a prática da Astrologia que tem sido tão “eficiente”
durante estes séculos, ou décadas. Eficiente para manter o mundo como ele é, apenas isto.
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Não estamos tolamente pretendendo mudar o mundo, ou simplesmente quebrar as regras,
mas temos a lucidez de perceber que alguma coisa não encaixa nisso tudo, alguma coisa
que, apesar de toda informação maravilhosa que a Astrologia e a análise do horóscopo
proporcionam, continua igual, sempre a mesma, como um som contínuo, tão perene que já
não o ouvimos mais. Tantos anos de trabalho e, na verdade, nada mudou, pelo menos nada
que não mudaria naturalmente, dentro dos limites permitidos a nós, seres domesticados. A
corrente do cachorro vai até um certo ponto, e ele se acostuma tanto a isto que raramente
sente que está acorrentado, e acaba entendendo a corrente como uma parte do seu próprio
corpo.
Quem se olhar um pouco, com algum distanciamento crítico, certamente sentirá. E o que
estou dizendo não é uma insatisfação pessoal apenas, não é uma mera visão egóica do
mundo sustentada por meus próprios problemas, que estes eu procuro confrontar e
administrar. É uma percepção maior, como uma voz, como um ruído incômodo, como o
sentimento de que estamos sendo sonhados por um imenso sonhador, e que nos
esquecemos há muito tempo de quem realmente somos e podemos ser, e tudo que fazemos
é com a finalidade de endossar e reforçar este esquecimento, inclusive a Astrologia.
Nossa tendência normal é negar, ironizar, sermos sarcásticos com tudo aquilo que nos
incomoda. Temos este tipo de procedimento como atitude pessoal muitas vezes, mas temos
também como atitude coletiva quando algo, uma nova informação, um novo
questionamento, vem mexer com os padrões de ilusão aos quais estamos acostumados e
condicionados. A gente pára de ler, a gente pára de pensar, a gente diz que é uma bobagem
qualquer coisa que atinja o ponto de ruptura, que passe perto da tênue membrana que divide
o plano do sonho do plano da realidade. Negamos e ironizamos tudo que nos possa
conduzir ao ponto de ruptura porque precisamos de defesas contra o desconhecido, e
precisamos de estratégias para dar significado à nossa existência, para nos sentirmos
alguma coisa, alguém dentro de uma realidade sonhada, e nem sempre sonhada por nós
mesmos, e estas estratégias, como a ironia e o deboche, por exemplo, invalidam e
ridicularizam toda alternativa que não seja aquela à qual estamos passivamente
condicionados.
Existem práticas, procedimentos, atitudes mágicas e rituais que permitem que a gente vá
despertando e recordando nosso estado natural, lembrando que somos anjos que se
esqueceram de sua condição divina e se comprometeram e se corromperam com o plano da
forma. Vamos ousar falar disso, e ousar tentar chegar a algum lugar, que na verdade é lugar
nenhum... Estas indagações talvez não levem a nada, talvez levem à tudo, não importa.
Fazendo se faz, caminhando se faz o caminho, e isto importa.
Carregando a cruz
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A cruz, os quatro grandes ângulos do horóscopo, determina os vértices da estrutura, os
pontos de partida do modelo, da estrutura existencial simbolizada pelo mapa. Por isso a
cruz é tão importante em tantas cosmogonias, tão importante como símbolo em tantas
magias, em tantas alquimias. Representa mais que a estrutura pessoal, rerpesenta todas as
estruturas, do micro ao macrocosmos, e através dela, desta misteriosa chave “tetra”,
podemos abrir muitas portas e termos acesso a muitas dimensões.
Mas, no plano do Sonho, o Guerreiro é domesticado e treinado para ser um Herói, apenas
um Herói, e viver passa a ser um ato de heroísmo, enquanto, para o Guerreiro, a vida é uma
luta para ser lutada, um caminho para ser percorrido, uma aventura para ser vivida.
O Herói é um cretino. Todo seu movimento costuma ser sustentado pelo medo, pela
covardia, pelo sentimento de que, se não fizer o que lhe mandam fazer, ou o que lhe
disseram que seria o “certo”, será abandonado à sua própria sorte e ficará só, como todos
os heróis acabam ficando. A fenomenologia motivadora da performance do Herói inclui
sempre o Medo, a Vaidade e a Moral, respectivamente as anti-virtudes dos signos do
elemento Fogo: Áries, Leão e Sagitário.
O Guerreiro assimila e atua em função das virtudes, as qualidades positivas destes signos,
respectivamente, a capacidade de Agir, a capacidade de Centralizar e a capacidade de
Idealizar.
Mas o que o Sonho do Planeta e sua interface, nossos pais e educadores, nos cobram, é a
importância e a necessidade de sermos heróis, que corresponde a uma condição muito
mais cômoda e pertinente à manutenção de um sistema neurótico de valores. Todas as
cobranças sociais tem como componente fundamental o medo de fracassar, de não ser o
melhor, ou sentimentos dolorosos e frustrantes quando nossa vaidade é ferida. Muitas vezes
por vaidade mantemos situações e relações impertinentes e infelizes, só para não “parecer”
que fracassamos aos olhos dos outros. Finalmente, a cobrança moral é uma das mais
limitadoras e castradoras que vivemos, e não estou me referindo à moral biológica e natural
que todos o seres têm que viver, mas sim à moral tacanha e limitadora que sempre implica
no julgamento que as outras pessoas, também escravas desta moral limitadora, podem fazer
de nós.
O Guerreiro, que é uma entidade desperta e independente do Sonho do Planeta, não tem
medo de fazer o que tem de fazer, apenas tem os cuidados naturais de autopreservação, os
medos biológicos; não se rende à vaidade, porque não olha para trás para saber se agiu
certo ou errado, exatamente porque age com o coração, e não de acordo com as instruções
e regras que sua mente assimilou durante a fase de domesticação da psique. Por não se
entregar à vaidade, a anti-virtude de Leão, o Guerreiro não tem de ficar provando que está
certo, que fez a escolha certa, e por isso, pode tranqüilamente desistir de suas escolhas
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inadequadas, pode aprender com elas e simplesmente cair fora sem preocupação com o
julgamento dos demais, ou com a aflição de ter fracassado ou feito sucesso. Por ser assim, o
Guerreiro permite que flua através dele a grande virtude de Leão, que é a capacidade de
centralizar e liderar. Mas poucos humanos conseguem reconhecer que seu medo, vaidade e
moral, e isso os faz seguirem líderes que endossem justamente estas características
escravizantes, e jamais as qualidades que promovam liberdade.
Estes três signos de fogo são projeções e emanações do Ascendente, compõe o triangulo da
identidade e funcionam como referência básica do ponto de partida da existência, onde tudo
começa, onde se define o Projeto de Vida de uma pessoa.
Outra grande qualidade do Guerreiro, além da utilização dos melhores recursos da trilogia
do Fogo – ação, centralização, idealização – é sua capacidade de “estar presente”, estar
aqui e agora, o que significa não se comprometer com o passado, não ser vítima de sua
própria história, não se sentir obrigado a manter a tradição que lhe foi imposta. Isto vale
desde o compromisso com o nome de família ou com a característica racial com que
nasceu, até a necessidade de obediência passiva aos ancestrais, ou dependência financeira,
moral ou psicológica deles. E não significa que o Guerreiro não ame ou respeite seus
ancestrais. Pelo contrário. Seu amor é mais verdadeiro e autêntico do que o daqueles que
apenas se conformam e fazem porque foram “treinados” a acreditar que aquilo é o certo,
não importando se estão felizes ou não com sua postura.
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O estar presente é uma senha, uma fórmula poderosa para ingressarmos no caminho do
Guerreiro e obtermos força e consciência para nos desvincularmos um pouco mais do
Sonho do Planeta. Estar presente implica utilizar as quadraturas entre o Ascendente e as
casa IV e X – representando o passado e o futuro – como a corda de um arco, como uma
tensão positiva que nos impulsiona e nos atira em direção à liberdade. Significa
desvincular-se do peso e do compromisso passivo com o próprio passado (casa IV) e da
escravidão do Status (casa X), que é um tipo de compromisso com o futuro idealizado e
esperado de nós pelas leis do Sonho. Esta relação com o passado e o futuro pode ser uma
mola propulsora positiva para Agirmos, Centralizarmos e Idealizarmos, ou pode ser uma
resistência negativa para vivermos com Medo, escravizados à Vaidade e a Moral que se
originam no triangulo da identidade, o triangulo de fogo, e são também representadas por
estas áreas da vida e do horóscopo.
Para estar presente, além do questionamento que devemos fazer em relação ao nosso
vínculo com o passado e com o futuro impostos, existe uma atitude essencial que deve estar
sempre em pauta, uma atitude que deve ser o centro e a essência de nossa conduta
cotidiana, e que deve permear todos os nossos gestos e atitudes e palavras: a verdade.
Dizer a verdade é uma atitude que nos conduz diretamente ao outro vértice da cruz, ao
ponto oposto ao que simboliza o Guerreiro, aquele que chamamos de casa dos
Relacionamentos, ou campo de projeção psíquica onde nos projetamos no “outro”.
O braço da cruz que representa o “outro”, ou o “Tu”, é o lugar oposto ao ponto que
simboliza o Guerreiro, é seu complemento, é o campo onde projetamos nossas expectativas
mais essenciais, onde se configura a ilusão da existência, a ilusão do que pretendemos ser
junto à outras pessoas. É onde encontramos o “outro”, e é como buscamos o “outro”, onde
tecemos e criamos um ambiente onde expressar nossa identidade.
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Chamamos a este espaço, à experiência descrita por ele e ao modelo arquetípico que aí se
forma, de “Amante”, que simboliza aquele que ama, aquele que se relaciona, aquele que
estabelece contatos energéticos e mentais com o ambiente. É o movimento de nos
confrontarmos com nosso reflexo no mundo, de nos vermos através dos olhos das outras
pessoas, de praticarmos aquilo que se chama relacionamento. Enfim, é a atitude que cria o
ambiente e a realidade como nós podemos percebê-la.
Neste caso, este campo de projeção psíquica será correspondente ao território onde o Sonho
do Planeta toma forma e cria seu cenário, materializa-se, a partir de nossas expectativas de
Guerreiro ou de Herói, conforme for nosso grau de evolução e nossa experiência de vida.
É por isso que a questão do Relacionamento é tão importante na nossa cultura, talvez a que
demande maior energia e desprendimento em nossas vidas, pois é através desta experiência
que a realidade se forma, e o Sonho do Planeta passa a ser fundamental em nossas vidas. É
por isso também que, dentro de um modelo que não é o de nossa essência, não é o que
verdadeiramente o Guerreiro liberto do Sonho procura, existem tantos problemas,
frustrações e angústias relativas ao relacionamento. É através da imposição de um padrão
de relacionamento pertinente ao grande Sonho que vivemos em um estado de carência e
solidão, porque, para as Leis do Sonho, “Eu” sempre preciso de alguém para me completar,
“Eu” nunca estou completo em mim mesmo, “Eu” jamais me basto, nunca sou pleno. O
“outro”, dentro deste modelo de pensamento, é a confirmação e praticamente a razão da
minha existência, e aí começam todos os problemas.
Quem procura por necessidade, encontra seu semelhante, aquele que também necessita, e
daí são dois necessitados se encontrando, o que multiplica as carências e debilidades
energéticas de cada um. Quem não procura, por estar completo e pleno, encontra – sem
procurar – aquele que também está completo e pleno, e a relação acontece em um plano de
completamento e plenitude. Mas isto não é o que normalmente nos é ensinado pelos nossos
formadores e mestres. É ensinado que temos que procurar no “outro” nosso complemento e
totalidade, e que sozinhos pouco valemos e sofreremos de solidão. É um acordo e um
condicionamento muito forte este, e nos condena a viver o medo constante e angustiante da
solidão, e nos obriga a viver em busca do outro para apaziguar este medo aprendido.
É tão incômoda esta informação que me sinto constrangido de escrever isto. Penso,
enquanto escrevo, que a necessidade de encontrar alguém é absolutamente natural e
instintiva, a necessidade de me sentir completo compartilhando meus sentimentos com
alguém deveria ser correta, e não uma fonte de sofrimento. Penso também que sempre pode
existir alguém que nos complete e nos faça feliz. Lembro meus amores e os momentos de
felicidade que já vivi nesta existência através de relacionamentos intensos e enriquecedores,
e algo em mim quer afastar esta idéia exótica de que já sou completo, sempre fui completo,
e que na verdade não preciso de ninguém para me completar.
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que nós temos para trocar na experiência amorosa, no relacionamento? Será nossa
plenitude?
Aprofundando uma revisão dos relacionamentos mais marcantes e importantes que tive em
minha vida, e também na vida de pessoas próximas, percebo que realmente houve uma
troca verdadeira em todos eles, houve crescimento, descoberta. Nada do que se arrepender.
Mas percebo também que os relacionamentos, dentro do molde em que foram adaptados,
sustentados pelo preenchimento das carências e ausências, jamais trouxeram a consciência
de nossa totalidade. Sempre nos “noves fora” restou a sensação de ausência, abandono,
fracasso e solidão, mesmo considerando o lado bom da experiência amorosa.
Concordo que é difícil, diante das experiências permitidas, diante da percepção permitida
dentro das Leis do Sonho do Planeta, sentir que se pode ser uma pessoa inteira e completa.
Praticamente todas as circunstâncias e referências que podemos ter ao nosso redor, depõe
contra a idéia de que somos auto-suficientes. Isto é um dos fatores mais importantes para
nos manter atrelados à ilusão, pois uma pessoa que tenha consciência de sua plenitude e
totalidade é uma ameaça ao estado geral das coisas como nos foram apresentadas, pode
mesmo ser visto como um agente subversivo e perigoso.
Bem, quem está em busca desse estado de consciência, quem se propõe a ser um Guerreiro,
realmente não vai se incomodar de ser criticado e isolado e visto como um “alienígena” ou
maluco pelas pessoas ao seu redor. Mas certamente vai ter que pagar um alto preço pelo
isolamento que a submissão e a solidariedade das pessoas às Leis do Sonho vão
desencadear. E, na maioria das vezes, a pressão é tanta e tão insuportável que se torna
melhor voltar atrás, tornar-se “normal”, tornar-se “aceitável” para que parem de julgá-lo e
condená-lo utilizando a convenção do que é certo e errado. E ser auto-suficiente como Ser
Humano é inconveniente para a manutenção do Sonho.
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satisfeito por agora ter alguma resposta, alguma perspectiva ou esperança de melhorar sua
vida afetiva.
Não é o padrão interpretamos a casa VII em termos do que a pessoa pode ou deve buscar
dentro de si mesma para se tornar inteira. O mais comum é traduzimos astrológicamente
esta questão como a casa das “associações” ou dos “inimigos declarados”, e isto é certo,
mas é certo apenas dentro da ilusão na qual vivemos submersos, da ilusão de que a
realidade depende do “outro” e não de nós mesmos. Interpretarmos a sétima questão como
uma experiência interior e um caminho para o encontro consigo mesmo é bastante difícil e
pode desencadear defesas incríveis, tanto no interprete quanto no interpretado, já que nossa
psique foi treinada ou domesticada para nos impedir de ver além do que nos é permitido.
O Herói e o Mimado são a expressão mais autêntica de um relacionamento dentro das Leis
do Sonho do Planeta. Basta olharmos ao redor e em nossas próprias vidas e fazermos uma
avaliação crítica das condições gerais dos relacionamentos que vivemos e conhecemos. Um
dos parceiros costuma ser o Herói, sempre lutando para manter o padrão, sempre sofrendo e
reclamando que tem que fazer tudo. O Herói dispensa seus sonhos pessoais, abre mão de
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sua liberdade e comete o sacrifício da própria alma em nome do relacionamento: um
imenso gesto de heroísmo, um grande sacrifício sempre. Aliás, não é difícil percebermos
nos relacionamentos “normóticos” esse tipo de condição de sacrifício de ambas as partes,
inclusive temperado e endossado com frases do tipo “é necessário abrir mão e fazer
concessões de ambas as partes para que o relacionamento funcione”. Esta frase por
exemplo, é muitas vezes aceita por todos nós como uma coisa absolutamente normal.
Desde quando fazer sacrifícios para poder amar é normal? Desde quando, ou quem disse
que o Amor exige sacrifícios? Por que o sacrifício?
Estar nesta situação “sacrificada” para poder se relacionar é uma condição para que nos
mantenhamos pequenos e atrelados à grande ilusão. O sofrimento é uma ilusão que nos une
enquanto somos pequenos e não temos consciência de nossa plenitude. Podemos observar
também uma imensa quantidade de casais, independentemente da opção sexual, que se
empenham em sabotar um ao outro, em manter o outro em uma condição de dependência e
fragilidade, agindo até de uma forma inconsciente para manter a relação dentro deste
padrão de sacrifício e, às vezes, de miséria material ou emocional. Tudo isto porque estão
comprometidos com uma das muitas Leis constatáveis do Sonho do Planeta, aquela que diz
que “a relação tem de ser eterna”, tem que durar para sempre. Se não durar, é porque você
fracassou, não deu conta, não teve competência para “segurar” o outro ao seu lado, não teve
“controle” da situação (a necessidade de controlar as coisas, inclusive o sentimento, é outra
das grandes ilusões que aprendemos ser necessárias à sobrevivência dentro do grande
Sonho).
O Guerreiro e o Amante sabem que Eterno pode significar “É Terno”, ou seja, com
ternura, o que cria outra dinâmica para qualquer relacionar-se, sugere uma condição de
troca e de afetividade, e não de eternidade, que é uma tolice nesse caso. Aliás, a perenidade
da relação nos remete a outra questão muito importante relativa aos modelos ilusórios: a de
que a Morte não existe, ou não é para nós, ou é para algum momento muito distante perdido
no tempo. Aqueles que chegam próximo de experimentar a liberdade sabem, e sabem muito
bem, que a Morte é a única certeza, o único poder verdadeiro, e está ao nosso lado, como
uma aliada que nos possibilita viver intensa e plenamente. Ela, a consciência e o
reconhecimento da Morte, nos ensina a “ficar presentes”, assumir e usufruir do momento,
do agora, já!
O horóscopo pode ser um referencial muito útil para entendermos os mecanismos que nos
conduzem à identificação com o modelo do Mimado e nos distanciam do amadurecimento
e do crescimento que nos transformará em Amantes.
Mas para conseguirmos olhar o mapa assim, temos primeiro que acreditar que somos livres
da imposição de um padrão sócio-cultural de relacionamento, que é marcado pela
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dependência e pela carência. Será que estamos preparados para abrir mão de séculos de
condicionamento? Será que estamos preparados para assumir nosso instinto, deixar que
nossos animais de poder tomem conta de nosso destino? Deixar que esse conceito de
humanidade que há tantos anos fomos obrigados a adotar seja simplesmente jogado no
lixo?
Os três signos ligados à sétima questão, Libra, Aquário e Gêmeos, simbolizam três direções
básicas do comportamento cujas chaves são respectivamente o dom de harmonizar , a
capacidade de descentralizar e o talento para informar, representando os recursos e
caminhos básicos para que ocorra o relacionamento humano. Quando estas condições não
são atendidas – por não ter a pessoa amadurecido psicologicamente e ainda viver um
comportamento inadequado e mimado – o que afloram são as anti-virtudes, as qualidades
negativas destes signos, ou seja, a harmonia de Libra se transforma em necessidade de
justificativa, e justificar um erro ou uma falta é tornar este erro justo; a natureza
descentralizadora de Aquário, condição básica para a liberdade, que por sua vez é
necessária para que ocorra um relacionamento saudável, transforma-se em necessidade de
poder, em função da própria fragilidade daquele que não se sente, segundo os
condicionamentos do Sonho, o centro de um universo pessoal; e finalmente, o potencial de
informar e comunicar, próprio do signo de Gêmeos, quando distorcido pela carência e
sentimento de inferioridade daquele que não aprendeu a contar consigo mesmo, transforma-
se na popular e vulgar fofoca, que é a mais distorcida e perversa das formas de
comunicação pessoal, típica dos que não conseguem estabelecer um vínculo harmonioso
com os outros por não serem capazes de se relacionar consigo mesmos. Esse é o triangulo
do relacionamento.
Para sermos “um” conosco e com o “outro”, é importante que sigamos duas regras muito
simples e essenciais: Dizer sempre a verdade e não julgar.
Com a simples aplicação desses procedimentos, nós nos libertamos da imposição do Sonho
sobre nossas vidas, saímos da grande ilusão. Esta é a Lei, o procedimento básico do
Guerreiro em seu caminhar de encontro ao “outro” e ao si próprio.
Sempre que julgamos, estamos certamente projetando aquilo do outro que está em nós, mas
como quem julga é o ego, nós nos comprometemos cada vez mais com o plano do Sonho,
cuja grande interface com a realidade é o próprio ego. Além do mais, os parâmetros e
códigos de julgamento sempre são oferecidos pela estrutura do Sonho, jamais partem de
nosso próprio Espírito. Não são conteúdos de nossa essência, simplesmente porque o
Espírito sabe que somos todos expressões da mesma realidade divina, partículas de Deus, e
não há o que julgar, a não ser que pretendamos nos igualar e sermos coniventes com uma
estrutura subjetiva que nos afaste de nossa realidade espiritual, e aí então, seremos seres
incompletos sempre em busca de algo fora de si para nos tornarmos inteiros.
Artificialmente inteiros.
Para sermos nós mesmos, Guerreiros que se bastam, para nos integrarmos ao “outro” numa
relação plena e que podemos viver pelo prazer, e não por obrigação, para sermos
verdadeiros e aceitarmos a verdade como uma condição para viver amorosamente a vida, o
mergulho no passado e a libertação dele é uma condição das mais fundamentais, pois o
lastro e as correntes que prendem nossos sentimentos estão sob as pedras da história
pessoal, muitas que precisam ser dissolvidas, outras confrontadas, e outras resgatadas. Isto
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nos remete à discussão do eixo casa IV – casa X, que será o tema da última parte deste
trabalho.
O mago e o Rei
Vivendo o passado
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absorvidos pelo inconsciente e muitas vezes se perderem em recantos da memória aos quais
não temos acesso normalmente.
A imposição desta “realidade” precisa de um terreno fértil para fecundar, e este território é
nossa própria memória, utilizada quase como que um depósito de acordos e regras, a
maioria vindo de fora de nós, e nem sempre tivemos a oportunidade de questiona-las ou
vive-las criticamente.
O arquétipo que pode representar este vértice da cruz é o Mago, o Senhor dos Sentimentos,
e de alguma forma, isto não parece ter necessariamente uma ligação direta com o passado
em si, mas tem a ver com o inconsciente, com os conteúdos mais profundos da psique e do
Ser em si mesmo.
Para sermos Magos, senhores e canais do sentimento universal, é necessário que tenhamos
coração, é fundamental que tenhamos e atuemos sempre pelo coração, e isto não é fácil para
quem teve seu coração invadido e possuído ainda criança.
A forma que a sociedade, através daqueles que serviram de instrumento para a formação do
nosso caráter, roubou-nos o coração e a capacidade de agir através dos caminhos dele foi
por meio da imposição de uma realidade baseada principalmente em emoções e sensações,
ou seja: é permitido e exigido viver apenas através das emoções e usufruir das sensações
pertinentes a elas. Tais funções psíquicas andam de mãos dadas, e nesta condição, os
sentimentos são transformados em meras expressões emocionais, perdem sua natureza de
“voz do Espírito” e passam a representar manifestações do ego.
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tapar os buracos, colar as rachaduras do vazio emocional e da angústia em que vivem os
que “deveríamos” amar.
E assim, nessa ilusão de que estamos curando feridas emocionais, tornamo-nos seres
aparentemente fortes e racionais, livramo-nos dos sentimentos mais profundos e
verdadeiros, não conseguimos assumir nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade, pois temos
que ser duros ao lidar com emoções constantemente distorcidas e em desequilíbrio, que é o
que a criança costuma encontrar e até achar natural quando começa a entender o mundo que
a recebeu.
Pais que vivem um teatro de relacionamento “em nome dos filhos” ou, pior ainda, em nome
da aparência, do “que vão pensar de nós”; irmãos que negam o sangue e a cumplicidade
quando surge um problema financeiro ou um conflito de herança; enfim, depois que “vê” a
luz, a criança – a mesma que vai nos habitar até o fim de nossos dias – descobre que tem o
dever e a tarefa de conviver e se identificar com conflitos emocionais permanentes, que
provavelmente ela não identifica como sendo conflitos, e sim a vida como ela é. Se não for
na família, é na escola ou no trabalho, e ela aprende que, se ouvir a voz do coração e seguir
o caminho do espírito não será compreendida e entrará em conflito com uma realidade
totalmente administrada pelo ego vaidoso. Os sentimentos pertencem à esfera do Espírito, e
desses o ego não trata e não pode controla-los. Em geral, quando intensos e verdadeiros, os
sentimentos são descartados e, junto com eles, as propriedades do coração são também
esquecidas.
O artificio cultural para que nos tornemos escravos das emoções, dos desejos e dos
condicionamentos, em vez de senhores dessas qualidades, a pratica que foi proposta desde
a nossa infância é de que tenhamos controle da situação. O controle nesse caso é essencial
como ferramenta de manutenção do mundo como ele é e do Sonho como ele nos foi
imposto. Somos educados para desenvolver o máximo possível da capacidade de controlar
a aparente realidade, e esta capacidade implica no uso constante da razão, no domínio total
do objeto do controle e sua submissão a nossos desejos e regras, que na verdade são as
regras do Sonho do Planeta.
Claro que o controlador afirma estar fazendo o bem, afirma estar preocupado com os
outros, afirma que age de coração, mas o coração não controla: não é possível haver
controle no Amor verdadeiro, apenas sentimento transbordando, apenas doação.
Quando controlamos, precisamos nos ver como entidades separadas do objeto de controle,
seja outra pessoa, seja um sentimento ou um impulso de nosso coração, e a necessidade de
controle passa a ser um bisturi, uma lâmina cortante que nos separa de nós mesmos e dos
outros, e a forma mais comum que a mente usa para promover esta separação é a descrição
e o julgamento do que queremos controlar.
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Quando julgamos e descrevemos alguma coisa, precisamos estar separados desta coisa,
precisamos “entendê-la”, e por isso é tão comum surgir nos momentos de crise uma forte
necessidade de entendimento. Quantas vezes, durante uma consulta ou na conversa com
algum amigo que vive qualquer experiência mais difícil, ouvimos a frase “eu só queria
entender”. Convém lembrar que “entender” é diferente de “compreender”, que significa
uma união profunda com o objeto que se está compreendendo. Para haver compreensão, a
presença do coração e dos sentimentos é indispensável. Para haver somente entendimento, a
separação entre quem entende e o objeto entendido é essencial, e esse procedimento
representa um estímulo à separatividade.
O controlador nasce na casa IV. Nasce na família, é formado ainda quando criança, surge
quando suas fragilidades são continuamente acentuadas pela família ao ponto de fazê-lo
reagir desta forma para não sentir-se massacrado e humilhado o resto da vida. O
controlador nasce quando é arrancado o coração da criança por causa da ilusão de que neste
mundo é proibido mostrar fragilidade, é necessário ser duro, é preciso ser forte, é
imprescindível não ser um perdedor, é fundamental ter medo do fracasso o tempo todo, a
vida inteira.
É o olhar que constrói o mundo que ilusoriamente vivemos. William Blake disse que uma
árvore é uma coisa aos olhos de um tolo, e outra aos olhos de um sábio. É o olhar que
determina a qualidade do mundo e, consequentemente, nossa reação a ele.
Se vemos o mundo como algo hostil e opressivo que está sempre desmoronando sobre
nossas cabeças, algo do qual temos que nos defender o tempo todo e que nos obriga a
mentir para não sermos oprimidos e castigados, então é nisto que o mundo vai se
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transformar, apenas e exatamente nesta coisa terrível. Mas quem está construindo esta
“coisa” é nosso olhar, pois, se pudéssemos mudar o modo de ver e perceber o mundo,
talvez ele fosse diferente, talvez ele se transformasse e ficasse melhor.
O grande truque para nos tornarmos Magos, senhores do Sentimento em vez de escravos da
emoção, é prestarmos atenção ao que vem do coração, procurarmos ver e nos identificar
com o mundo através do coração. Mas, para que isto aconteça, é necessária uma revisão
completa do passado, uma recapitulação e um confronto com cada experiência já vivida,
com cada pessoa que conhecemos em nossa história pessoal, de tal forma que possamos nos
libertar do peso deste passado, dos condicionamentos, juramentos e promessas que
inconsciente ou conscientemente fizemos em algum momento de nossas vidas.
Mas isto dói, dói muito, pois quem é que quer realmente se livrar de hábitos e crenças que
têm segurado nossa barra e dado a confiança de que o que estamos vivendo é o certo, de
que nossas escolhas são as mais adequadas?
Don Juan, através de seu discípulo, Carlos Castañeda, diz que a realidade é formada pelo
hábito e pela memória. Isto pode significar que, se entendermos, através da aplicação da
memória, os caminhos de nossa história pessoal e de como esta história compôs e
estruturou nossos hábitos, entenderemos o mundo em que vivemos, entenderemos nossa
representação dentro do Sonho do Planeta. E, se mudarmos os hábitos, mudaremos também
nossa realidade estruturada sobre eles, sairemos do Sonho, seremos finalmente senhores de
nosso sentimento, em vez de escravos de desejos criados e emoções condicionadas.
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Acontece que, dentro do padrão no qual vivemos, se tentarmos ser pessoas vistas e aceitas
como “normais”, acabaremos por usar justamente as grandes deficiências destes três signos,
suas “anti-virtudes”, os significados que nos conduzem para a estagnação e estratificação de
comportamento e valores: o amuo, a culpa e a razão.
O “amuo” é o caminho que o símbolo de Câncer tem para nos conduzir à manutenção de
velhos hábitos, é o recurso do Sonho para nos impedir de gerar, de criar novas
possibilidades e uma nova realidade. A culpa é o mecanismo estratificador de Escorpião, é
aquilo que impede a transformação, a morte do velho e o nascimento do novo, e finalmente
a razão é o caminho escolhido por aquele que não quer viver a transcendência possível ao
símbolo de Peixes. É o eterno buscar da razão das coisas, seja do sentimento, seja das
percepções que o Coração tem da vida e do mundo. Esta busca de razões sempre vai
encontrar respaldo nas ilusões que nos são impostas.
Para nos libertarmos da rigidez do Sonho do Planeta, para vivermos uma realidade
sintonizada com nossa essência e menos distorcida pela imposição de critérios e valores que
nem sempre coadunam com nosso destino, enfim, para nos libertarmos do amuo infantil,
das culpas inúteis e da necessidade de ter e encontrar razão para tudo, existe um caminho
simples e extraordinário, é o caminho da Verdade e do Coração, por onde podemos
expressar nossos Sentimentos e dar um novo significado à vida, sem medo. Através do
coração podemos viver de fato o triângulo do sentimento que consiste em gerar,
transformar e transcender.
De olho no futuro
Dentro do modelo de pensamento que estamos apresentando neste texto, o Arquétipo que
tem correlação com a questão X – o Meio do Céu do horóscopo, o vértice da cruz que
representa o Futuro, em contraposição à casa IV, o passado – é denominado Rei, o Senhor
da Realidade, a fonte daquilo que é real.
Acontece que a única coisa que nos é permitido reconhecer como realidade se resume
apenas ao que o próprio Sonho do Planeta permite, ou seja, está restrito às informações que
foram decodificadas pelos educadores e implantadas em nossa psique durante a formação
da personalidade. O mundo é o que acreditamos que ele seja, e acreditamos que ele seja o
que nos ensinaram que ele é.
Durante a vida elaborando – através das experiências, dos confrontos e dos desafios que
enfrentamos – um critério muito pessoal de realidade, nossa própria forma de ver e pensar
o mundo. Mas mesmo esse critério pessoal é construído através dos filtros e padrões
estabelecidos e implantados em nós durante a primeira infância, como se fossem scripts
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que precisássemos seguir. Pouco podemos fugir disto, pequena é a distância que podemos
ter do sonho coletivo, da grande ilusão, basta ver os argumentos que estão aflorando em
nossa mente nesse exato instante contrapondo-se a essa idéia, perguntas do tipo “quem foi
que disse isso?”, ou afirmações do tipo “isso é tudo besteira metafísica”.
A expressão “o que vão pensar de mim?” (ou de você) é uma das mais poderosas formas de
manutenção e redução de nosso comportamento a denominadores comuns determinados
pelas expectativas da coletividade. A realidade pessoal passa a ser identificada pelo que as
pessoas podem pensar de nós ou ver em nós. Nossas ações são delimitadas pela expectativa
dos outros, e nossa capacidade transformar a realidade é modulada pelo desejo e
possibilidade de sermos aceitos ou não pela coletividade mais próxima.
Os signos que representam esta questão, a de nossa imagem social e da grande cobrança de
postura e sucesso que pesa sobre nós, são os signos de Terra: Capricórnio, responsável
pelos processos de estruturaçã da realidade, Touro, significador da formatação do mundo,
e Virgem, que simboliza os processos ritualísticos de purificação, tanto do indivíduo
quanto da sociedade. Esses três signos e suas casas correspondentes formam o que é
chamado de triângulo da materialidade, ou triângulo das sensações..
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símbolos astrológicos como caminhos para a nossa estruturação, formatação e purificação
nesse mundo, somos alvos das projeções negativas desses signos, somos vítimas de um
estado constante de tensão e insatisfação. Em vez de sermos estruturadores, somos
escravos da necessidade de vermos tudo como obrigação de viver e fazer pelos outros; em
vez de formatadores da realidade, somos motivados e mobilizados o tempo todo pelo
apego e, em vez de depurarmos e purificarmos o mundo, nossa ação é toda distorcida pelo
perfeccionismo patológico, tão valorizado em nossa cultura.
Este vértice da cruz, o ponto mais elevado dela, funcionalmente análogo à casa X, é talvez
o mais difícil de ser trabalhado no processo de despertarmos e nos libertarmos do Sonho do
Planeta, pois aí nessa área de experiencia, está o filtro de toda realidade social, de toda a
condição de sobrevivência e de dar significado maior à nossa existência. A cobrança é
muito grande, as exigências imensas, o esforço para atender a demanda de posturas e
comportamentos é extraordinário, profundamente desgastante e, na maioria das vezes,
afasta-nos cada vez mais de nossa essência. Quanto mais eu sou “aceito” e torno-me
importante no mundo em que vivo, tanto mais estou comprometido com as exigências de
uma realidade que existe principalmente fora de mim, e cada vez estou mais distante de
meu próprio centro, do núcleo da minha consciência.
Acreditamos que o ego, dentro de uma conceituação aceitável pelo Sonho do Planeta e
pelas pessoas com ele coniventes, é uma referência pessoal que se aproxima e identifica-se
bastante com a décima questão e seus significadores, particularmente Saturno. Libertar-se
da escravidão do ego é ultrapassar os limites representados por Saturno, e isto não significa
negar o ego e sua validade como interface entre o self e a realidade. Acontece simplesmente
que é nossa consciência que vai determinar a cor e o formato da realidade, e não contrário.
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informa, se tivermos acesso a Ele através da consciência, de que na verdade não há nada a
desejar e, portanto, não há por que viver insatisfeito.
Parece que, sob a ótica do Sonho, aplicada a um corpo, o desejo deve ser preenchido no
plano físico, e a insatisfação é sempre relativa a algo material. Por isso o eterno querer
mais, o acumular desnecessário e angustiante, a obsessão em preservar bens como se neles
residisse a única possibilidade de plenitude e felicidade e, finalmente, a conseqüente
escravidão a este significado que nos é permitido assimilar da casa II e ao signo de Touro. ,
Acredito que alguém que atingiu um certo grau de consciência e liberdade saberá que a
segurança de um homem, sua fortuna, seus bens, suas posses serão medidas muito mais
pela capacidade de dar do que de acumular. Esta é uma mudança de paradigma. No plano
do Sonho, a plenitude é medida em quantidade de bens que possuímos e conseguimos
acumular; no plano da consciência, a plenitude e inteireza é medida pela nossa capacidade
de dar.
Basta começar a “dar” para se libertar deste modelo das Leis do Sonho, basta parar de
atribuir importância exagerada às coisas, aos objetos, livrar-se deles. Basta não se
identificar com o aquilo possui fora de si. Isto não significa uma opção pela miséria, mas
apenas deixar de ser escravo dos bens que se tem, deixar de ser “possuído pelo que possui”,
apenas isto.
Quanto à sexta questão, pode significar uma escravidão ao método, uma exagerada
importância dos hábitos e manias e, com isto, um afastamento da consciência oferecida
pelos pequenos rituais, que nos aproximam do sagrado. Cada pequeno gesto que temos de
repetir, como escovar os dentes ou tomar café da manhã, pode ser uma pequena liturgia, um
procedimento sagrado que nos aproxima de nós mesmos e do aspecto divino que em nós
habita. Mas, de acordo com o Sonho do Planeta, tudo se transforma em hábito justamente
para que não tenhamos esta percepção da importância do cotidiano como um instrumento
de libertação e consciência, ou então, para que não tenhamos a consciência de que já somos
livres e podemos fazer o que quisermos dentro dos limites determinados pelo Espírito e
pela própria condição humana.
Prestar atenção no que se faz, todo tempo, é uma poderosa chave para entendermos nosso
papel no mundo. A casa VI é a IX casa contada a partir da X. Portanto, é a casa da
compreensão e do entendimento, corresponde às experiências que vão compor a equação
que explica nossa realidade, nosso status e compromisso com a coletividade.
Epílogo
Don Miguel diz que existem três domínios que levam as pessoas a se tornar Toltecas
(homens de conhecimento). O primeiro é o Domínio da Consciência, e significa tornar-se
consciente de quem somos, com todas as possibilidades. O segundo é o Domínio da
Transformação, e significa aprender como mudar, como ficar livre da domesticação a que
fomos submetidos. Significa aprender a dizer Não. O terceiro é o Domínio do Intento, e
intento, sob o ponto de vista dos xamãs, “...é aquela parte da vida que torna a transformação
de energia possível. Intento é a própria vida; é amor incondicional. O Domínio do Intento,
portanto, é o Domínio do Amor”.
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Percorrer o caminho entre Eu e o Outro, entre as casas I e VII, é aprender a lidar com o
Espaço, conhecer as Leis que regem o Espaço, tornar-se senhor do movimento, do fluir e
refluir da energia. Podemos percorrer este caminho dentro das regras do Sonho do Planeta,
e aí seremos escravos destas regras. Caminharemos em direção ao “outro” por acharmos
que precisamos dele, e isto nos coloca numa eterna posição de dependência passiva, de
necessidade, e nunca de inteireza. O ato de “necessitar” do “outro” passa a ser mais
importante que o próprio completamento que poderíamos conquistar.
Quando o Guerreiro segue este caminho com o Coração, e não com as razões da
necessidade do ser domesticado e submisso ao sonho, ele se transforma, transmuta-se, vira
o que a minha amiga e conselheira Antonia chamou de “Pacificador”, que é o estado
superior do Guerreiro, sua grande conquista.
O Pacificador é alguém que está livre do constante estado de angústia que o Sonho do
Planeta nos impõe para roubar-nos a energia vital, enfraquecer nossa vontade e submeter-
nos.
O Pacificador é um agente da paz. Alguém que conhece a força divina que existe no
coração de todos os homens. É um guerreiro, mas sua tarefa é ser um multiplicador da
consciência e da paz que ela traz.
Seguir o caminho do Coração implica primeiro estar livre da imposição das Leis que não
têm coração, ser imune a elas e ao medo de transgredi-las: seguir apenas as leis do Espírito,
que são na verdade as Leis da natureza, as leis da vida. Para isto, temos que ser capazes de
nos livrarmos de todas as amarras que o passado nos impôs...
Enfim, seguir o caminho do Coração é fazer o que se tem de fazer e jamais olhar para trás.
Valdenir Benedetti
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TEXTO COMPLEMENTAR
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A CRIANÇA INTERIOR, SUA FORMAÇÃO
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cresceu e não tem mais nada para crescer. Eles querem conservar o que já tem e
acumular sempre mais, insistem em manter os padrões de segurança aos quais estão
acostumados. A criança aceita o novo, a criança aceita crescer, e para impedir que as
pessoas adultas continuem a cresçer e se libertem, é preciso acuar a criança, é
necessário fazer com que as pessoas rejeitem e temam a criança que existe dentro de
nós. Basta ver como tantas vezes ficamos ofendidos quando somos "xingados" de
criança, infantil, etc. Talvez mais do que com qualquer outra ofensa.
Quem representa a criança no horóscopo é a LUA. O signo, a casa e os aspectos
envolvendo este planeta representam as condições nas quais percebemos e
eventualmente reconhecemos essa criança.
É importante observar que SATURNO rege Capricórnio, um signo oposto ao
regido pela LUA, Câncer, e isto representa uma oposição fundamental nos significados
destes dois símbolos. Representa também a complementaridade própria das aposições.
Oposição não é conflito, é complementaridade, é uma condição de busca constante.
Quando uma oposição é resolvida, transforma-se em conjunção e então, vive-se um
estado de plenitude, como por exemplo, quando resolvemos a oposição fundamental
entre as casas I e VII e conquistamos nossa totalidade.
O “dispositor” (regente do signo onde um planeta se encontra) indica os padrões
de imposição e controle sobre esse planeta, no caso de nosso estudo, a LUA. Esses
padrões são facilmente interpretados pela compreensão dos significados da casa onde
ele, o dispositor, se encontra. O regente de um planeta dirige as indicações deste planeta,
independente de formarem aspecto. Como o diretor de uma peça de teatro, que determina
os limites e as variações da performance de um ator, mesmo que não esteja presente em
todas as apresentações deste ator.
Vamos dar alguns exemplos da ação do dispositor sobre a LUA, analisada apenas
sob o ponto de vista da criança interior, pois sabemos dos inúmeros significados possíveis
para este astro. O regente ou dispositor do signo lunar será visto aqui como um
orientador, um educador, uma entidade que determina os limites e as regras que a criança
deve obedecer. Imaginemos o que é que nos impede de tomarmos certas atitudes, o que
nos impede de "chutarmos o pau da barraca" como muitas vezes nosso instinto solicita,
qual o argumento, a desculpa que usamos para justificar o 'não agir', quais os elementos
de nossa formação que justificam a acomodação e o medo de crescer, qual a força em
nós que diz que é sempre melhor ficar como está e finalmente, a quem ou ao que
pensamos estar agradando ou obedecendo quando nos acomodamos e desistimos de
mudar o mundo.
De um modo geral, todos os mecanismos de contenção da criança interior a
apresentam como alguém que atrapalha, alguém muito pouco confiável. Na verdade, é
importante para a estrutura social (SATURNO) reprimir a ameaça representada pela
criança que nos habita (LUA), pois se ela se libertar de suas amarras e questionar a
necessidade de conter sempre os instintos, obedecer sempre as regras, agradar sempre a
seus "superiores", ela (a criança) passa a representar um problema social. Aliás, qualquer
um que questione, que não aceite passivamente as regras impostas (mesmo que
absurdas), é visto como um problema, um rebelde a ser contido, uma ameaça ao estado
normal das coisas.
A sociedade elegeu seus representantes, os pais e educadores em geral. A eles
compete a tarefa de mantenedores de SATURNO, e sua tarefa é mostrar que só é bem
sucedido neste mundo quem obedece as regras passivamente, sem questiona-las.
Podemos observar que é comum pais infelizes exigirem de seus filhos que sigam o
padrão visivelmente insatisfatório de suas existências. Em nome de que? Em nome de
quem?
Podemos sugerir também o surgimento de alguns complexos específicos relativos
à determinação que o dispositor da LUA representa. Estes complexos são sínteses da
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idéia desta relação de dependência relativamente passiva que a LUA tem em relação a
seu regente.
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Regente da LUA na casa IV:
Toda estrutura familiar conspira para manter esta criança bem comportada. O apego ao
lar é imposto como condição para que seja reconhecido qualquer tipo de amor.
Argumentos como, quem não tem família não presta, ou os parentes são as únicas
pessoas com quem você pode contar ou confiar nesta vida, mantém a criança atrelada
aos dogmas, valores e preconceitos instituídos por aquela família. O passado funciona
como um instrumento de coação. O modelo familiar, determinador da história pessoal,
passa a funcionar como um programa rígido e imutável que não pode ser transgredido. O
passado é sempre melhor que o futuro, e o velho é inegavelmente melhor que o novo, os
parentes são melhores que qualquer outra pessoa e a segurança e proteção daqueles
com quem temos laços de sangue é nossa única esperança de salvação e conforto.
Complexo de família
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conforme lhe foi passado, merecem viver um relacionamento "adequado". É fácil perceber
este modelo educacional nas pessoas que, assim que se casam ou assumem um
compromisso afetivo, tornam-se "sérias", taciturnas, perdem a alegria e a leveza (próprias
do nosso lado criança) como se isto fosse demonstração de leviandade ou
irresponsabilidade.
Complexo do 'bom marido' (ou esposa).
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comportamento dela, tudo isso impede que esta criança aja espontaneamente. Ela
apenas reage aos estímulos externos, se submete aos padrões que lhe foram ensinados,
faz tudo para ser uma pessoa aceitável e responsável, e impede a pessoa adulta de ser
ela mesma. Normalmente este dispositor impõe um modelo externo de comportamento e
torna este cidadão um exemplo de "boa pessoa", mesmo que seja um rebelde, ele
sempre esta reagindo ao padrão social, nem sempre de uma forma consciente. A
sociedade na qual vive é sempre mais importante que ele mesmo! O "status" é muitas
vezes mais importante que a felicidade e a liberdade.
Quem não obedecer as regras não irá progredir, não ocupara um lugar no mundo, não
terá importancia, etc.
Complexo de autoimportancia.
REGENTE DA LUA NA CASA XII - Esta é uma posição complexa, pois pode ocorrer
uma grande dificuldade em reconhecer e aceitar que existe uma criança que pode estar
sofrendo, reprimida e limitada dentro de si mesmo, e que existem mecanismos formativos
que levaram esta criança a se submeter a este tipo de amarras.
A informação que a Lua recebe, a partir de seu dispositor na casa XII, evidentemente
envolve questões muito subjetivas, próprias desta casa, daí a dificuldade de
reconhecimento deste tipo de informação. Ela é mais sutil, talvez mais insidiosa, e a
palavra "culpa" tem um peso muito grande na formação do caráter lunar contido da
pessoa. Castigos divinos são invocados pelos formadores da personalidade. A ameaça
do isolamento cruel, o rompimento com a vida social, através da doença ou de outro fator
isolante qualquer, também aparece com algum peso. A necessidade de sacrificar-se
sempre pelo outro, como uma premissa básica para não ser punido pelo divino, é outro
elemento importante a ser considerado. E o sacrifício principal envolve quase sempre a
obediência a regras e dogmas mal explicados, a submissão às necessidades do outro,
como se fossem as próprias, para não ser renegado e isolado da realidade, enfim, é uma
situação que exige delicadeza para ser abordada, pois dificilmente é reconhecida como
um mecanismo opressor, pela sua subjetividade esta obrigação é vista como um fato
natural da existência. Como se fosse a única alternativa possível.
Complexo de desentendido.
Valdenir Benedetti
Maio/2002
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