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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

220
ACÓRDÃO IlHlllHIHlllllllllllIlIlll IlIlilllW

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Apelação n° 9251837-79.2008.8.26.0000, da Comarca de
Promissão, em que são apelantes JOSÉ CARLOS DA SILVA,
JOSÉ CARLOS DA SILVA ME e BANCO ITAU S A sendo
apelado ROBERTO SPINOSA.

ACORDAM, em 9a Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "RETIFICADO EM 29/03/2011 PARA: "DERAM
PROVIMENTO PARCIAL AOS RECURSOS DOS RÉUS, V.U."", de
conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos


Desembargadores ANTÔNIO VILENILSON (Presidente) e
JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA.

São Paulo, 29 de março de 2 011.

VIVIANI NICOLAÜ
RELATOR
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO
*'-<"

VOTO N° : 4362
APELAÇÃO N°: 994.08.043193-0 (614.766.4/1-00)
COMARCA : PROMISSÃO
APTES. : JOSÉ CARLOS DA SILVA (E OUTRA)
(P/ S/ CURADOR ESPECIAL) (E OUTRO)
APDO. : ROBERTO SPINOSA

"APELAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL -


INDENIZAÇÃO - Danos materiais e morais
reclamados em decorrência de protesto de títulos
emitidos com vistas a efetivação de negócio que não
se concretizou - Procedência, com condenação dos
réus, solidariamente, a pagar para o autor R$
120.000,00 (R$ 80.000,00 por danos materiais e R$
40.000,00 por danos morais), corrigidos a partir do
ajuizamento da ação e acrescidos de juros
moratórios legais de 0,5% a partir da citação, além
das custas, despesas processuais e honorários
advocatícios arbitrados em 20% sobre o valor da
condenação atualizada - Recursos dos demandados
- Preliminares de ilegitimidade passiva e de inépcia
da inicial-Pedido juridicamente possível e
adequação da via eleita pelo autor para a defesa de
seus direitos - Fato de ter sido tirado por iniciativa
do Banco Itaú S/A o protesto dos títulos que lhe
foram entregues pelos demais co-réus é suficiente ao
reconhecimento da legitimidade passiva - Empresa
originalmente credora que comunicou a não
concretização do negócio à instituição financeira, à
qual havia transferido os títulos por endosso-caução
- Protesto tirado- Responsabilização solidária do
banco e da credora original pelos danos causados ao
emitente - Credora que apesar da comunicação feita
ao Banco, nada mais fez para resgatar os títulos -
Instituição financeira que , apesar de avisada da
não efetivação do negócio, levou os títulos a
protesto que nem se fazia necessário - Danos
materiais não impugnados - Protesto indevido que
enseja reparo por danos morais - Valor a título de
danos morais reduzido para dez mil reais,
compatível com o grau de reprovabilidade da
conduta dos demandados, o caráter pedagógico da
condenação, repercussão na vida do autor e a
capacidade econômica dos responsabilizados -
Repartição proporcional da sucumbência e redução
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, P . SÃO PAULO

do percentual de honorários advocaticios de 20%


para 10% do valor corrigido da condenação-
Sentença parcialmente reformada - Recursos dos
réus providos, em parte".

Trata-se de ação de indenização por


danos materiais e morais baseada na responsabilidade civil
extracontratual, ajuizada por ROBERTO SPINOSA em face do
BANCO ITÁU S/A, JOSÉ CARLOS DA SILVA LINS-ME e
JOSÉ CARLOS DA SILVA (Processo n° 393/01) que pela .r
sentença de fls. 253/263, cujo relatório adoto, foi julgada
procedente, com condenação dos réus, solidariamente, a pagar
para o autor R$ 120.000,00 (R$ 80.000,00 por danos materiais e
R$ 40.000,00 por danos morais), corrigidos a partir do
ajuizamento da ação e acrescidos de juros moratórios legais de
0,5% a partir da citação, além das custas, despesas processuais e
honorários advocaticios arbitrados em 20% sobre o valor da
condenação atualizada.
Rejeitados os embargos de declaração
interpostos pelo Banco Itaú S/A por vislumbrar omissão no
julgado (fls. 267/268 e 270), apelaram os réus.
José Carlos da Silva e José Carlos da
Silva Lins-ME em preliminar, reiteraram a tese da ilegitimidade
passiva de parte e de inépcia da inicial. Defenderam a entrega das
cártulas ao banco quando ainda vigente o negócio entabulado
com o autor, rechaçando a alegada existência de acordo verbal,
pelo qual teriam se comprometido a fazê-lo após a entrega do
equipamento. No mérito, insistiram no decreto de improcedência
negando terem agido com culpa, já que os cheques lhes foram
entregues pelo autor como forma de pagamento sem qualquer
restrição quanto ao desconto das cártulas antes do recebimento
dos equipamentos, tanto mais em se considerando serem os
cheques títulos de crédito à vista. Subsidiariamente, sustentaram
absurda a condenação por danos materiais no valor de R$
80.000,00, bem como a condenação por danos morais e R$
40.000,00, dobro do valor dos títulos protestados (fls. 272/275).

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1-00) -PROMISSÃO- VOTO 4362 -MCN 1/ 2


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.,:-A SÃO PAULO

O Banco Itaú S/A, por sua vez, nega ter


tido qualquer relacionamento bancário com o autor, mas tão
somente com os co-réus. Enfatizou que por força de contrato
denominado Empréstimo Carteira Cheque ECC celebrado com
José Carlos da Silva Lins ME, podia a microempresa lhe dar em
caução, com endosso-mandato, cheques nominais de clientes,
emitidos por pessoas não ligadas ao banco, pagáveis nas praças
onde o banco tivesse agência, em montante nunca inferior a
111% sobre o saldo devedor da conta-empréstimo. Enfatizando
que as cártulas constavam de uma "Relação de cheques
Entregues para Depósito", relatou competir-lhe efetuar o
depósito na conta "Empréstimo" e remeter os cheques
caucionados para cobrança através do sistema de compensação e
levá-los a débito da conta empréstimo na hipótese de serem os
títulos recusados pelo banco sacado. Asseverou que no caso de
endosso caução o banco se utiliza de todos os meios para
recebimento do valor dos cheques não pagos pelo banco sacado,
socorrendo-se até do protesto para ressalvar direitos de ação
contra o sacador, endossador e avalista (art. 32 do Decreto 2.044
de 1908) e que o titular do endosso caução poderá, inclusive,
remeter o nome do devedor aos órgãos de proteção ao crédito.
Reportando-se ao art. 19 da Lei Uniforme de Genebra asseverou
que os coobrigados não podem invocar contra o portador
exceções pessoais, a menos que o portador, ao receber o título,
tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Negou, em síntese, a prática de qualquer irregularidade ou ato
contrário ao direito e às legislações pertinentes, argumentando,
no mais, com o decreto de improcedência exarado na ação de
nulidade de título cambial que foi ajuizada em seu desfavor pelo
ora demandante. Questionou ter sido a inicial instruída tão
somente com cópia da "frente" dos cheques, enfatizando a
importância da cópia do verso dos títulos para o desfecho da
demanda e aduziu não provada a compra de mercadoria noticiada
na inicial, aventando a possibilidade de se tratar de negócio
simulado com objetivo de lhe causar prejuízo. Em síntese, aduziu
descabida sua condenação por ter agido dentro dos parâmetros
legais, sem concorrer culposamente para os prejuízos que tão
somente os co-réus causaram ao autor. Subsidiariamente, aduziu

APELAÇÃO 994.08.043193-0(614.766.4-l-00)-PROMISSÃO-VOTO4362 - MCN 1/ 3


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SÃO PAULO

não provados os danos materiais, estando restrita a reparação aos


danos morais, em valor inferior ao arbitrado e a ser imposta aos
litigantes de forma proporcional (fls. 277/297).
Tempestivos, os recursos foram
recebidos (fls. 276 e 299) e respondidos (fls. 304/309).
Apenas o recurso do Banco Itaú S/A foi
preparado (fls. 303).
Remetidos os autos a esta Corte, os
recursos foram distribuídos ao Excelentíssimo Desembargador
r

MARIO DE OLIVEIRA que, por acórdão, deles não conheceu


por dizer respeito a controvérsia à responsabilidade civil
extracontratual (fls. 328/332).
Em cumprimento ao v. acórdão, seguiu-
se a distribuição dos recursos a este Relator (fls. 336).

É O RELATÓRIO.

Cumpre, de inicio, conceder-se a


gratuidade da justiça pleiteada pelos corréus José Carlos da Silva
e José Carlos da Silva Lins-ME (fls. 168, item "5.b"), conforme
estabelece o art. 4o, caput, da Lei n° 1.060/50 para, em
conseqüência, conhecer do recurso por eles interposto que é
próprio e tempestivo.
Cuida, a espécie, de ação ajuizada por
Roberto Spinosa em face do Banco Itaú S/A , José Carlos da
Silva Lins - ME e José Carlos da Silva, visando a reparação de
danos materiais e morais que alegou ter sofrido com a anotação
indevida de seu nome em cadastro de maus pagadores. Noticia a
inicial haver o autor comprado aparelhos musicais de José Carlos
da Silva e dado em pagamento dois cheques sacados contra o
Banco do Estado de São Paulo S/A que, segundo acordado
verbalmente com José Carlos da Silva, não seriam depositados ou
endossados antes de efetivada a entrega das mercadorias.
Acrescenta que não possuindo José Carlos os equipamentos em
estoque, o negócio acabou sendo desfeito sem que, no entanto,

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. . SÃO PAULO

tivesse o autor recebido de volta os cheques, por terem sido


entregues ao Banco Itaú para "desconto". Acrescenta que embora
houvesse José Carlos da Silva assegurado ao autor não ser
problema a retirada dos títulos do Banco Itaú, os cheques
acabaram sendo depositados, devolvidos por falta de provisão e
dado ensejo à emissão de dois boletos de cobrança bancária,
levados à protesto, evidenciando que o Banco Itaú, na qualidade
de cessionário, exigia o recebimento dos respectivos valores à
vista. Relatando recear que seu nome fosse inserido no rol de
consumidores inadimplentes, solicitou o autor de José Carlos
uma declaração de que nada lhe devia, documento levado ao
Banco Itaú S/A numa tentativa infrutífera de ver os títulos
retirados de cartório. Relata, ainda, haver o autor intentado uma
Medida Cautelar de Sustação de protesto, bem como uma ação
objetivando a declaração de nulidade do título que acabou sendo
julgada improcedente. Acenou o demandante para a existência de
conluio entre os requeridos e enfatizou que o Banco usou de
poderes que não lhe foram conferidos pelos co-réus , já que por
força dos contratos firmados com José Carlos da Silva Lins ME e
José Carlos da Silva podia apenas exigir de seu cliente uma nova
caução, caso o título dado em garantia não servisse para abater o
débito existente na conta bancária aberta em nome de José Carlos
da Silva Lins ME segundo previsto no contrato denominado
Empréstimo Carteira Cheque - ECC entre eles firmado. Pugnou,
enfim, fosse o Banco compelido a exibir documentos e
condenado, solidariamente com os co-réus a indenizá-lo por
danos materiais e morais, além de determinado o cancelamento
do protesto dos títulos (fls. 02/13).
Citado na pessoa de seu procurador, o
Banco ofertou contestação (fls. 95/101), sobre a qual se
manifestou o autor (fls. 135/144).
Instados a especificar provas (fls. 145),
somente o autor manifestou interesse em produzi-las (fls. 145v° e
146)
Aos co-réus José Carlos da Silva e José
Carlos da Silva Lins ME, citados por edital (fls. 90/91 e 92) foi

L /
APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1-00)-PROMISSÀO-VOTO 4362 -MCN 5
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1 . * =F-A li
SÃO PAULO

nomeado Curador Especial (fls. 163) que ofertou defesa (fls.


164/168), impugnada pelo autor (fls. 170/171).
Em sede de saneamento, rejeitadas as
preliminares de litispendência, coisa julgada, ilegitimidade
passiva e inépcia da inicial, determinou o Magistrado que o
Banco exibisse documentos solicitados pelo autor na inicial e
designou audiência de conciliação, instrução e julgamento (fls.
177/179).
Contra a determinação de exibição de
documentos se insurgiu o Banco Itaú S/A em sede de agravo de
instrumento que restou desprovido em Segunda Instância,
consoante noticia acórdão relatado pelo eminente Desembargador
SILVEIRA PAULILO, com assento na Décima Primeira Câmara
do extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil (fls. 68 do apenso
ao Io volume).
Na audiência de instrução, debates e
julgamento colheu-se o depoimento pessoal do autor e de três
testemunhas que foram por ele arroladas (fls. 212/213; 214/215;
216/217; 218/219 e 220/221).
Facultada aos litigantes a apresentação
de memoriais (fls. 225) que, na seqüência, foram encartados aos
autos (fls. 227/240 243/248 e 250), o feito foi sentenciado.
Houve por bem a Magistrada de origem condenar os
demandados, solidariamente, a pagarem para o autor indenização
por danos materiais e morais no montante de R$ 120.000,00 (R$
80.000,00 relativamente aos primeiros e R$ 40.000,00
relativamente aos segundos), atualizado monetariamente a partir
do ajuizamento da ação e acrescidos de juros legais de 0,5% a
partir da citação; determinar o cancelamento dos protestos dos
cheques e carrear aos réus os ônus da sucumbência, fixando a
verba honorária em 20% sobre o valor da condenação atualizada
(fls. 253/263).
Pesem as razões dos demandados,
reparo algum comporta o julgado.
Insustentáveis, por primeiro, as teses de
ilegitimidade passiva de parte e de inépcia da inicial.

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1-00) - PROMISSÃO- VOTO 4362 - MCN


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De inépcia não se há cogitar posto


juridicamente possível o pedido, como de resto adequada a via
eleita pelo autor para a defesa de seus direitos.
Tirados por iniciativa do Banco Itaú
S/A os títulos que lhe foram entregues pelos demais co-réus, se
houve ou não culpa ou responsabilidade dos demandados a
questão é de mérito que, data vênia do inconformismo dos
demandados, restou dirimida com acerto em sede monocrática.
Noticiam os autos que José Carlos da
Silva Lins ME mantinha uma conta corrente junto ao Banco Itaú
S/A, vinculada a um contrato denominado "Empréstimo Carteira
Cheque - ECC, pelo qual o banco se obrigava a abrir crédito ao
Autor na conta 0218-38559-9, até o limite de R$ 30.000,0 (trinta
mil reais), recebendo como garantia, através de endosso-caução,
cheques emitidos por pessoas não ligadas ao Cliente, pagáveis
nas praças onde o Itaubanco tivesse agência (fls. 24/v°).
Declaração firmada em 11/04/95 por
José Carlos da Silva, representante legal da firma José Carlos da
Silva Lins ME, faz prova de que no mesmo dia em que recebidos
os cheques emitidos pelo autor, ou seja, em 16/12/94, foram eles
entregues ao Banco Itaú S/A , agência de Lins, numa relação de
relação de cheques para depósito (fls. 21/22).
Se a venda não havia se concretizado
mediante a efetiva entrega das mercadorias, os cheques não
poderiam sequer ter sido entregues em "caução" ou postos em
circulação mediante endosso de qualquer tipo. E de suas
responsabilidades em face do autor não se eximiram José Carlos
da Silva e José Carlos da Lins ME pelo só fato de terem
comunicado ao Banco-réu a falta de entrega da mercadoria
comercializada. Cumpria-lhes, inclusive, diligenciar o retorno
dos títulos em carteira, substituindo-os por outros, se o caso, a
teor do disposto nas cláusulas 6.1.4; 6.1.4.1 e 6.1.5 do Contrato
Empréstimo Carteira Cheque - ECC firmado como o co-réu Itaú
S/A (fls. 24).
Deixando remanescer os títulos
inexigíveis em poder do Banco Itaú S/A, José Carlos da Silva e

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José Carlos da Lins ME contribuíram decisivamente para o


protesto que, indevidamente, foi levado à efeito.
A regularidade da avença firmada pelo
Banco Itaú S/A com José Carlos da Silva e José Carlos da Silva
Lins ME não elide a má-fé da instituição financeira que, ciente da
ausência de suporte comercial para a emissão dos títulos, os
levou a protesto.
E não se pretenda sustentar respaldada a
conduta do banco em mandato conferido pelos co-réus,
conferindo-lhe poderes para tanto. Primeiro, porque como já
assinalado, noticiada a inexigibilidade dos títulos pelos co-réus.
Segundo, porque "O credor da caução (endossatário) pratica, em
nome próprio e no seu interesse, todos os atos necessários ao exercício
dos direitos decorrentes do título de crédito caucionado, não
necessitando, portanto, de autorização especial do devedor da caução
(endossante), inclusive para mover as ações judiciais cabíveis, nem
para o protesto, uma vez que exerce direito que lhe é próprio" (LUIZ
EMYGDIO F. DA ROSA JR - Títulos de Crédito - 3 a ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2004, pág. 271).
O protesto levado a efeito pelo Banco-
réu, outrossim, sequer era necessário para garantia de seus
direitos contra o endossante dos títulos, consoante orientação do
Colendo Superior Tribunal de Justiça:

"COMERCIAL - PROTESTO - DUPLICATA-


MERCANTIL - ENDOSSO-CA UÇÃO.
No endosso-caução, diferentemente do endosso
simples, o protesto do título é desnecessário,
porque o endossatário não tem direito de
regresso contra o emitente - Recurso Especial
não conhecido" (Resp 179.871/SP - Relator
Ministro WALDEMAR ZVEITER - Rei. p/ o
Acórdão Ministro ARI PARGENDLER -j. em
02/05/2000 - DJ 26/06/2000 -p. 157).

"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR INDEVIDO


PROTESTO DE DUPLICATA - DISTINÇÃO
ENTRE O ENDOSSO DECORRENTE DE

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1-00)-PROM1SSÃO-VOTO 4362 - MCN / / g


PODER JUDICIÁRIO
C:X<È>K* SÃO PAULO

DESCONTO BANCÁRIO, O ENDOSSO-


MANDATO SIMPLES E O ENDOSSO PARA
FINS DE CAUÇÃO.
No endosso decorrente de desconto bancário, o
protesto do título poderia ser considerado
necessário ao resguardo da pretensão
regressiva, a teor do artigo 13, § 4o, da Lei
5474/68. No simples endosso-mandato,
responsável e exclusivamente o mandante
pelos atos praticados por sua ordem pelo
banco endossatário. Mas no endosso de títulos
em caução, garantindo financiamento
concedido ao endossante e servindo sua
cobrança para a liquidação total ou parcial da
dívida, em tal caso apresenta-se a
responsabilidade civil do sacador da duplicata
"fria ", e do banco que a recebeu em caução e
que, embora advertido, veio a protestá-la.
Recurso especial não conhecido" (Resp.
12.128/RJ - Relator Ministro ATHOS
CARNEIRO -j. em 01/09/92 - DJ 21/09/92 -
P. 15694).

Convém ser lembrado, a esse respeito,


um precedente deste Tribunal: "Títulos de crédito - Cheques -
Títulos entregues em face de negócio que não vem a ser
concluído - Perda de exigibilidade - Comunicação do fato pela
empresa originalmente credora ao banco que recebeu os títulos
em endosso-caução - Protesto, entretanto, que vem a ser tirado-
Dano moral reconhecido - Responsabilidade solidária da credora
original, porque, apesar da referida comunicação, nada mais fez
para resgatar os títulos, e do banco porque, apesar de avisado,
insistiu no protesto que nem era necessário- Redução do valor da
compensação para o equivalente a vinte salários mínimos -
Recursos do autor e da corre não providos, provido em parte o do
banco."(Apelação Cível n° 991.09.053380-2, 11a Câmara de
Direito Privado deste Tribunal, Relator Desembargador
GILBERTO DOS SANTOS, 26/11/09).

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1 -00) - PROMISSÃO - VOTO 4362 - MCN


i.

PODER JUDICIÁRIO
. , SÃO PAULO

Quanto ao valor da indenização, impõe-


se a distinção entre as indenizações pelo dano material e pelo
dano moral.
Os danos materiais, como tais
considerados os que atingem diretamente o patrimônio das
pessoas físicas ou jurídicas, não se presumem, devendo ser
comprovados por quem os alega.
No caso em análise, o Banco Itaú S/A,
em contestação, não impugnou os valores reclamados a título de
indenização por danos materiais (fls. 95/101), tampouco os
documentos juntados para demonstrar o alegado dano. Mesmo
em razões de apelo cingiu-se a sustentar como não provados os
danos materiais e restrita a reparação aos danos morais cujo valor
arbitrado defendeu ser excessivo.
Os prejuízos materiais que o autor
alegou ter suportado, no entanto, tem-se por impugnados pelos
co-réus, defendidos por Curador Especial, a quem a lei faculta o
direito de apresentar defesa por negativa geral. Nos termos do
parágrafo único do art 302 do CPC, não se aplica ao curador
especial o ônus da impugnação específica dos fatos.
A despeito de os cheques não terem sido
compensados dada a contra-ordem de pagamento registrada pelo
requerente, como bem enfatizaram os co-réus (fls. 168 - item
"d"), impossível simplesmente ignorar as conseqüências
materiais advindas para o autor com o protesto dos títulos e das
quais suficientes são as provas dos autos.
Como conseqüência do protesto
indevido de seus cheques, sustentou o autor haver experimentado
um prejuízo material de aproximadamente R$ 80.000,00 (oitenta
mil reais) (fls. 11 - 4o parágrafo). Relatou ter investido recursos
financeiros recebidos quando aderiu ao programa de demissão
voluntária promovido por sua empregadora na constituição de
uma sociedade com terceira pessoa, visando o comércio de vários
produtos e que, com a efetivação do protesto, levada a efeito seis
meses após a constituição da referida sociedade, sem crédito na
praça, foi obrigado a se desfazer de inúmeros bens, móveis e
imóveis. Acrescentou que a despeito dos esforços empreendidos

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1-00) -PROMISSÃO- VOTO 4362 - MCN / / \ Q


.4

PODER JUDICIÁRIO
, V > SÃO PAULO

se viu obrigado a vender a quotas sociais que lhe cabiam na


sociedade, passando a enfrentar dificuldades sem conseguir novo
emprego, além de ver os poucos móveis que lhe restaram sendo
objeto de penhora em execução movida pelo próprio Banco Itaú
S/A.
Além da documentação encartada aos
autos comprovando as alegações do autor, depoimento prestado
em Juízo por Rubens Ferreira Pimentel foi esclarecedor acerca da
ruína financeira experimentada pelo demandante após o protesto
dos títulos.
Com efeito, relatou o depoente haver
formado uma empresa em sociedade com o autor no início do ano
de 1996 e que, no final do aludido ano, acabou o demandante
por lhe transferir as cotas sociais em razão de difícil situação
financeira que enfrentava, decorrente de protestos de títulos.
Acrescentou que ainda no ano de 1996 o autor vendeu uma casa
também por conta da precariedade de sua situação econômica,
além de haver contraído empréstimos com agiota. Ao protesto
dos títulos, outrossim, imputou a deterioração da situação
econômica do autor que, nos seus dizeres, sempre teve uma vida
controlada. Qualificou de difícil a situação do ex-sócio já que
alguns amigos, dentre os quais se incluiu, chegaram a lhe enviar
cesta básica (fls. 216/218).
Pedro Guilherme dos Santos,
testemunha arrolada pelo autor, confirmou em Juízo ter adquirido
por preço inferior ao de mercado o imóvel posto à venda pelo
demandante que enfrentava dificuldades financeiras. Relatou ter
trabalhado com o autor na CESP, época em que o demandante
tinha uma vida econômica normal, distinta da vivenciada na
atualidade em que passa por dificuldades financeiras estando,
inclusive, a residir com o pai. Em resposta a pergunta feita pelo
patrono do Banco Itaú S/A, embora não sabendo dizer se o valor
da casa do autor se aproximava do valor de sua dívida junto à
referida instituição financeira, confirmou a alegação inicial de
que o bem fora transacionado por R$ 18.000,00 (fls. 220/221).
Certidão do Cartório Distribuidor da
Comarca de Promissão atesta a inexistência de feitos cíveis e

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PODER JUDICIÁRIO
. ,•..;>• t SÃO PAULO

criminais distribuídos contra o demandante no decênio que


antecedeu a data de 30/03/01 (fls. 43).
Certidão do Tabelionato de Protestos de
Letras e Títulos do Município e Comarca de Promissão noticia
que, incluído os protestos tirados pelo Banco Itaú S/A, quatorze
outros se seguiram (fls. 44/45), corroborando a alegação de
declínio financeiro que se seguiu ao fato noticiado na inicial.
Cópia do auto de penhora e depósito
lavrado nos autos da execução que o Banco Itaú S/A moveu em
face do autor confirma, outrossim, a constrição de inúmeros bens
móveis a ele pertencentes (fls. 64).
Provados à saciedade, em síntese, os
prejuízos materiais suportados pelo autor autorizando a ratificado
do julgado que fixou a respectiva indenização no valor de R$
80.000,00 (oitenta mil reais).
Pacífico, outrossim, que o protesto
indevido enseja reparo por danos morais:

"Resta assente no STJo entendimento de que o


protesto indevido de duplicatas enseja a
compensação pelos danos morais causado,
sendo dispensável a prova do efetivo prejuízo "
(AgRg no Resp 767.522/RS - Relatora
Ministra NANCY ANDRIGHI - j . em
18/10:2005-DJ de 07/11/2005-p. 285).

CARLOS ALBERTO BITTAR em


Dano Moral , 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 367-
369, esclarece: "(.) afirmada constitucionalmente a reparabilidade do
dano moral, a jurisprudência está se consolidando no sentido de que o
y
abalo de crédito^ na sua versão atual, independentemente de
eventuais prejuízos econômicos que resultariam do protesto indevido
de título, comporta igualmente ser reparado como ofensa aos valores
extrapatrimoniais que integram a personalidade das pessoas ao seu
patrimônio moral . A fundamentação é repetitiva: sobrevindo, em
razão do ilícito ou indevido protesto de título, perturbação nas
relações psíquicas, na tranqüilidade, nos sentimentos e nos afetos de

APELAÇÃO 994.08.043193-0(614.766.4-1-00)-PROMISSÃO-VOTO 4362 -MCN / / \2


PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

uma pessoa, configura-se o dano moral puro, passível de ser


indenizado; o protesto indevido de título de crédito, quando já quitada
a dívida, causa injusta agressão à honra, consubstanciada em
descrédito na praça, cabendo indenização por dano moral, assegurada
pelo art. 5o, X, da Constituição: o s abalo de crédito\ no caso, se
representa na diminuição ou supressão do conceito de que alguém
goza e que aproveita ao bom resultado de suas atividades
profissionais, especialmente se se desenvolvem no comércio; o
protesto indevido de título macula a honra da pessoa, sujeitando-a
ainda a sérios constrangimentos e contratempos, inclusive para
proceder ao cancelamento dos títulos protestados, o que representaria
uma forma de sofrimento psíquico, causando-lhe ainda uma ansiedade
que lhe retira a tranqüilidade; em síntese, com o protesto indevido ou
ilícito do título de crédito, são molestados direitos inerentes à
personalidade, atributos materiais e ideais, expondo a pessoa à
degradação de sua reputação, de sua credibilidade, de sua confiança,
de seu conceito, de sua idoneidade, de sua pontualidade e de sua
seriedade no trato de seus negócios privados ".

Ainda como escreve JOSÉ DE


AGUIAR DIAS, "o dano moral é conseqüência irrecusável do
fato danoso, e este o prova per se" (Cf. Da Responsabilidade
Civil, Vol. I, Rio de Janeiro, Forense, 1944, p. 226).
A prova do dano moral, portanto, está
no próprio fato. Em outras palavras, não há como se contestar
que a informação equivocada de banco de dados, com
negativação indevida, é causa de sofrimento espiritual da vítima
e abala a sua reputação.
E em relação ao quantum indenizatório,
por danos morais, o valor não foi estimado pelo autor, por
ocasião do ajuizamento da ação. Pleiteou que o valor fosse
arbitrado pelo Magistrado.
Humberto Theodoro Júnior leciona:
"Mais do que em qualquer outro tipo de
indenização, a reparação do dano moral há de
ser imposta a partir do fundamento mesmo da
responsabilidade civil, que não visa criar fonte
injustificada de lucros e vantagens sem causa.

APELAÇÃO 994.08.043193-0(6I4.766.4-l-00)-PROMISSÃO-VOTO4362 - MCN / / y$


PODER JUDICIÁRIO
*p^r* SAO PAULO

Vale, por iodos os melhores estudiosos do


complicado tema, a doutrina atualizada de
CAIO MARIO, em torno do arbitramento da
indenização do dano moral: 'E, se em qualquer
caso se dá à vítima uma reparação de damno
vitando, e não de lucro capiendo, mais do que
nunca há de estar presente a preocupação de
conter a reparação dentro do razoável, para
que jamais se converta em fonte de
enriquecimento'" (Dano Moral, Ed. Juarez de
Oliveira, 2aed, 1.999, pag.36).

Não diverge a jurisprudência:

"INDENIZAÇÃO FIXAÇÃO DO QUANTUM -


APRECIAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO
CASO CONCRETO - ARBITRAMENTO EM
VALOR QUE EXPRESSA A FINALIDADE A
QUE SE DESTINA - DESPROVIMENTO DO
RECURSO PRINCIPAL.
Incumbe ao juiz o arbitramento do valor da
indenização, observando as peculiaridades do
caso concreto, bem como as condições
financeiras do agente e a situação da vítima,
de modo que não se torne fonte de
enriquecimento, tampouco que seja
inexpressivo ao ponto de não atender aos fins
a que se propõe" (TJ/SC- AC n. 00.013683-2,
de Lages, Rei. Des. Sérgio Paladino).

Nessa medida, tem-se que a importância


de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), a esse título, se afigura
excessiva, diante do grau de reprovabilidade da conduta dos
apelantes, o caráter pedagógico da condenação, a consideração
da repercussão do dano na vida do autor e a capacidade
econômica dos responsabilizados.
Nesse aspecto, a r. sentença é reformada
e o valor do dano moral é reduzido para R$ 10.000,00, observado
o mesmo critério de incidência de correção monetária e juros.

APELAÇÃO 994.08.043193-0 (614.766.4-1 -00) - PROMISSÃO - VOTO 4362 - MCN


PODER JUDICIÁRIO
A •.!.•*'•. SÃO PAULO

Conseqüentemente, o valor total da


indenização foi reduzido para R$ 90.000,00. Havendo uma
redução de % do valor da indenização, em relação à r. sentença,
os réus responderão por 75% e o autor por 25% das custas,
despesas e honorários advocatícios.
O recurso interposto pelos réus José
Carlos da Silva e outro é acolhido, em parte, para reduzir o valor
dos honorários advocatícios de 20% para 10% do valor
atualizado da condenação, percentual que se mostra adequado e
suficiente, não obstante reconhecido o empenho do ilustre
Advogado.
Concluindo, os recursos são providos,
em parte, apenas para reduzir o valor do dano moral, repartir
proporcionalmente a sucumbência e reduzir o percentual dos
honorários advocatícios.
Ante o exposto, dá-se provimento
parcial aos recursos dos réus. ^^

VIVJA^KÍCOLAU
^^Kelator

APELAÇÃO 994.08.043l93-0(614.766.4-l-00)-PROMISSÃO-VOTO4362 - MCN }5

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