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Política

Somos aliados, não subservientes ao PT, diz Eduardo Campos


Governador de Pernambuco afirma que essa atitude "fez o PSB crescer" e que
não há por que alterar 'rumo estratégico'

Eleonora de Lucena

Ele diz que não será candidato à Presidência em 2014 e que sigla quer ser
opção para governar Estados e municípios.

Neto do governador Miguel Arraes (1916-2005), o governador pernambucano


Eduardo Campos tem um discurso calculado e conciliador. Aos 45 anos,
preside o Partido Socialista Brasileiro, o que mais cresceu nas últimas eleições.
Reeleito com 83% dos votos, ele agora está nos comerciais do partido em rede
nacional.

Diz que não está em campanha para a Presidência. Promete apoiar Dilma
Rousseff em 2014 e afirma não está se descolando do PT. "Não há como
descolar o que não está colado."

Nesta entrevista ele se declara preocupado com a economia e faz uma


avaliação da cena política.

Folha - O sr. é candidato à Presidência em 2014?

Eduardo Campos - Não. O cenário para 2014 aponta como natural a


candidatura à reeleição da presidente Dilma. Estamos no projeto dela. Fizemos
uma aliança estratégica com o PT, mantendo nossa identidade. Nunca tivemos
uma posição subserviente. Essa posição fez o PSB crescer. Fomos o partido
que mais cresceu nas últimas eleições. Não temos por que alterar esse rumo
estratégico. Na política não tem fila.

Mas há a avaliação de que a sua campanha que está no ar significa um


descolamento da presidente. O sr. fala em novo caminho pra o país.

Não há como descolar o que não está colado. Temos uma aliança política, mas
temos identidades próprias. O Brasil foi caminhando, conquistamos a
democracia, a Constituição, direito a ter regras estáveis, a estabilidade
econômica, agora a causa da sustentabilidade, a responsabilidade fiscal. O
governo do PSDB ajudou com a estabilidade fiscal. O governo Lula ajudou
colocando o dedo na desigualdade. No PSB queremos ser uma opção para
governar cidades, Estados.

E a Presidência?

Um dia será natural. O dia do PSB não é em 2014.

Que avaliação o sr. faz da cena política, com a base governista inchada e a
oposição em crise?

Uma coisa dialoga com a outra. A oposição foi se deslocando da pauta real e
ficou com uma pauta institucional. A campanha foi das mais despolitizadas.
Quando isso ocorre, quem ganha sai fortalecido porque quem perde não deixa
um pensamento.

Isso explica o movimento de Kassab e seu novo partido?

Sim, a falta de perspectiva, após a terceira derrota consecutiva. Leva o governo


a ficar muito forte e a oposição, fragilizada. Isso é constante? Não. O quadro é
dinâmico.

Política
Eduardo Campos nega querer Presidência e reafirma apoio a Dilma
Promete que apoiará Dilma em 2014 e afirma que não está se descolando do
PT

Eleonora de Lucena

Eduardo Knapp/Folhapress
Neto do revolucionário Miguel Arraes (1916-2005), o governador Eduardo
Campos (PSB-PE) tem um discurso calculado e conciliador. Aos 45 anos,
preside o Partido Socialista Brasileiro, o que mais cresceu nas últimas eleições.
Reeleito com 83% dos votos, ele agora está nos comerciais do partido em rede
nacional.

Diz que não está em campanha para a presidência. Promete que apoiará Dilma
em 2014 e afirma que não está se descolando do PT. "Não há como descolar o
que não está colado". Elogia Lula, mas lembra a todo o momento do legado de
Fernando Henrique Cardoso --cujo texto sobre a oposição leu duas vezes.
Nesta entrevista ele se declara preocupado com a economia e faz uma
avaliação da cena política.

Folha - O sr é candidato à presidência em 2014?

Eduardo Campos - Não. O cenário para 2014 aponta como natural a


candidatura à reeleição da presidente Dilma. Nós estamos no projeto dela.
Fizemos uma aliança estratégica com o PT, mantendo nossa identidade.
Nunca tivemos uma posição subserviente. Essa posição fez o PSB crescer.
Fomos o partido que mais cresceu nas ultimas eleições. Não temos porque
alterar esse rumo estratégico. Na política não tem fila.

Mas há a avaliação de que a sua campanha que está no ar significa um


descolamento da presidente. O sr. fala em novo caminho pra o país.

Não há como descolar o que não está colado. Temos uma aliança política, mas
temos identidades próprias. O Brasil foi caminhando, conquistamos a
democracia, a Constituição, direito a ter regras estáveis, a estabilidade
econômica, agora a causa da sustentabilidade, a responsabilidade fiscal. Há
um grande consenso brasileiro sobre esses valores. O governo do PSDB
ajudou com a estabilidade fiscal. O governo Lula ajudou colocando o dedo na
desigualdade. No PSB queremos ser uma opção, um caminho para governar
cidades, Estados.

E a presidência?

E um dia será natural. Acredito que o dia do PSB não é em 2014.

Que avaliação o sr. faz da cena política, com a base governista inchada e a
oposição em crise?

Uma coisa dialoga com a outra. A oposição foi se deslocando da pauta real e
foi ficando com uma pauta muito institucional. A campanha foi das mais
despolitizadas. Quando isso acontece, quem ganha sai muito fortalecido
porque quem perde não deixa um pensamento.

Isso explica o movimento de Kassab e seu novo partido?

Sim, a falta de perspectiva, depois da terceira derrota consecutiva. Leva


naturalmente o governo a ficar muito forte e a oposição muito fragilizada. Isso é
constante? Não. Esse quadro é dinâmico.
Para onde vai isso? A oposição vai se recompor, unificar partidos?

Os grandes movimentos não vieram dos partidos políticos. Vieram da rua. A


campanha das diretas, o impeachment, a vitória de Fernando Henrique
Cardoso. A oposição vai precisar fazer o debate para encontrar a proposta do
futuro.

No que vai resultar o PSD?

Isso se insere no processo desse conjunto em que Kassab sempre esteve.


Como não tinham mais caminho estão tentando se reinserir no quadro político
sem ter uma posição automática contra o governo. Na base do governo
convivem forças políticas que não são diferentes das forças que estão entrando
no PSD.

Uma base tão ampla e com interesses conflitantes não paralisa o governo?

Uma grande coalizão como essa, num determinado momento, corre o risco de
não existir mais e a alternativa é sair da própria base. É um processo cíclico.

Por que não houve a fusão com o PSD? Houve muita resistência interna no
PSB?

Nunca trabalhamos com essa possibilidade. Podemos ter alianças na política


municipal, estadual, federal.

Como avalia as saídas de Paulo Skaf e Gabriel Chalita?

Nos sentimos desafiados a continuar crescendo com quem queira ter vida
partidária e desenvolver projetos coletivos. O tempo dirá quem tem razão.

O PSB é socialista? Que sentido tem esse nome?

Esse nome tem um sentido de justiça, de cuidar mais de quem mais precisa, de
universalizar os serviços públicos, fazer com que o serviço público funcione.

Mas falar de socialismo hoje tem uma conotação mais bem comportada?

Claro, porque o mundo mudou, O que fica é o valor da solidariedade, da


justiça, da inclusão, da dignidade, da transparência.
Seu avô, Miguel Arraes, dizia eu os seus maiores adversários eram os grandes
proprietários. Quem são os seus adversários hoje?

Eu procuro mais aliados do que adversários. Na eleição se expressaram os


nossos adversários. Por um processo histórico, a carga de preconceito é bem
menor do que sobre o dr. Arraes. Eu não vejo nenhum segmento empresarial
com preconceito, seja banco, empreiteira. Eles têm a sua lógica de buscar
lucro.

Qual a possibilidade de uma aliança sua com Aécio Neves?

Sou amigo do Aécio, militamos juntos. Acho que vamos manter as alianças. Em
2012, na eleição municipal, deveremos estar em muitos palanques juntos, onde
já estamos, como em Belo Horizonte.

Qual o futuro de Ciro Gomes?

Ciro é um grande quadro político. Tivemos divergências. Ele pode ser


candidato a qualquer coisa no PSB. Tem talento, história, o nosso respeito.

Como economista, está preocupado com inflação, câmbio, juros?

Sim. O cenário externo é mais restritivo. A inflação precisa voltar para o centro
da meta. Nada indica que o câmbio irá voltar a patamares do passado. Tudo
isso passa por ajustar o juro brasileiro ao patamar do juro internacional. Isso
não se faz por decreto, mas com grande esforço, inclusive fiscal.

Entre desenvolvimentistas e monetaristas com quem o sr. fica?

Acho que a verdade está pelo meio. A inflação não veio por demanda. Veio por
preços administrados, por regras fixadas lá atrás. Energia elétrica, por
exemplo.

Foi um erro do processo de privatização?

É um erro, uma inconsistência de uma regra. É como um procedimento para


tratar um doente. Se existe uma droga melhor, não altera? Os espaços para
corte cada vez são mais limitados porque a expressão do gasto em juro é cada
vez maior no bolo da despesa. O país precisa expandir a capacidade de
investimento.

A desindustrialização é um problema?
Não acredito que o mundo vai se dividir: a china sendo a fábrica do mundo e
nós a fazenda. Precisamos agregar valor à nossa pauta. É preciso discutir
juros, ICMS. Passamos a viver a esbórnia da guerra fiscal, agora até em cima
do importado. O governo federal vai ter que botar a mão no bolso. A situação
fiscal de muitos Estados é muito dura.

Qual a sua visão sobre a privatização?

É um assunto que está para a história. O PSB foi contra naquele tempo. A
discussão hoje é a regulação do serviço hoje, sobretudo das concessionárias
de serviço público, energia e telefone. Precisa ter uma regulação dura. Do
mesmo jeito que eu estou aqui cumprindo um contrato dando reajuste da
inflação, a concessionária não pode deixar de fazer os investimentos na
qualidade dos serviços.

O governo deveria adotar controle de capitais?

O capital volátil de curto prazo não pode ser tratado da mesma forma de quem
vem abrir uma fábrica, gerar emprego. Precisamos ter um padrão de tratar de
forma diferente os diferentes.

Na sua visão, qual é a reforma política necessária?

Reforma política e tributária são importantes e devem ser feitas fatiadas. A


pedra de toque é olhar o longo prazo. 2022, por exemplo. E fazer um pacto
para fazer uma reforma de como se financia o Estado e de como o Estado se
organiza.

O que o sr. achou do texto de FHC?

É a primeira formulação da oposição para tentar construir um caminho. Se ele


conseguiu só o tempo vai dizer Li o texto duas vezes. Para estar na vida
pública é preciso ter uma estratégia, sem pensamento. Se não, vira negócio de
eleição de liga de dominó.

Na sua vida política qual foi o momento mais tenso? O escândalo dos
precatórios?

Foi. Ficou maturidade. Aprendi a não prejulgar os outros e a não ter


ressentimento. Não guardei mágoa. Naquele episódio meus adversários me
fizeram o que eu sou hoje. Eles me preparam para eu vencer.
Há dificuldade para um político baseado no Nordeste conquistar a Presidência?

Na verdade, tem. É claro que é mais difícil um político do interior de PE se


eleger governador do que um político da capital. Isso vale também para alguém
do NE se eleger no Brasil. Pela expressão eleitoral. A tendência é essas
questões regionais sejam superadas no debate político. Ainda pode haver
preconceito por caricaturas que se fazem do que é NE, como se fosse uma
grande fazenda cheia de oligarquias.

Qual o legado de Arraes?

Coerência, coragem, proximidade do povo. É muito forte.

Qual o melhor presidente da história do Brasil?


Lula.

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