Professional Documents
Culture Documents
FRANCA
2
2010
3
Orientador: ____________________________________________
Nome: Prof. Marcelo Toffano
Instituição: Universidade de Franca
Examinador(a): _________________________________________
Nome:
Instituição: Universidade de Franca
Examinador(a): __________________________________________
Nome:
Instituição: Universidade de Franca
RESUMO
O presente trabalho teve como escopo principal, o estudo dos direitos e garantias
fundamentais do indivíduo no que tange ao direito da vida versus direito à crença,
em virtude de se tratar de um problema polêmico, visto que envolve o direito de
autonomia do ser humano em si, de decidir o que fazer de sua vida como bem lhe
aprouver. Porém o prisma central da polêmica consiste nos cristãos da denominação
evangélica ―Testemunhas de Jeová‖ que colocam como obste ao direito à vida, o
seu direito garantido pela constituição a liberdade de crença. Esta liberdade de
crença nem sempre é motivo de discórdia, porém quando incorre no risco de vida
para o cristão e este se recusa a receber como tratamento a transfusão de sangue,
surge o conflito não somente social, mas coloca de frente duas normas
constitucionais essenciais à vida e a convivência social sustentável. Quando há esse
conflito, os profissionais da saúde vêem-se acuados diante de tal situação por
carregarem consigo do dever de salvaguarda, como consta no código de ética
médica. O objetivo dessa pesquisa foi fazer um estudo sobre a colisão de direitos
fundamentais. Neste trabalho estudamos, aprofundamos sobre qual aplicabilidade
tem sido feita em questão da transfusão de sangue em testemunhas de Jeová, e
quais efeitos acarretam a não observância de um direito fundamental. Os princípios
da legalidade, da privacidade, bioéticos e o princípio da dignidade da pessoa
humana. Explicamos a razão da rejeição por adeptos à Testemunha de Jeová, suas
bases e argumentações. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi feito análise de
textos, leitura e interpretação, fichamento de material bibliográfico, pesquisa de
campo, etc. Dentre eles serão definidos artigos de sites jurídicos da Internet,
bibliográfia com sistematização e discriminação de livros, pareceres do CRM,
entrevistas com juristas, médicos e testemunhas de Jeová e principalmente estudos
das decisões dos tribunais brasileiros sobre os aspectos que giram em torno dessa
questão. Esta pesquisa foi feita por método dedutivo. Foram feitas perguntas e
respostas, por meio de entrevistas, de forma que trouxesse aos leitores uma noção
desta realidade.
ABSTRACT
This work had as its main scope, the study of fundamental rights and guarantees of
the individual in relation to the law of life versus the right belief, because it is a
controversial issue since it involves the right of human autonomy in themselves to
decide what to do with your life as it thinks fit. But the central prism of the controversy
is the Christian evangelical denomination "Witnesses" who pose as obstruct the right
to life, his constitutionally protected right to freedom of belief. This freedom of belief is
not always cause for discord, but when it runs the risk of life for the Christian and he
refuses to receive treatment as blood transfusion, conflict arises not only social, but
puts forward two constitutional requirements needed to life and the social
development. When there is this conflict, health professionals find themselves
trapped by this situation before I can carry the duty to safeguard, as indicated in the
code of medical ethics. The objective of this research was a study on the collision of
fundamental rights. We study, which deepened on applicability has been done in a
matter of blood transfusion in Jehovah's Witnesses, and what effects result in a
failure to respect a fundamental right. The principles of legality, privacy, bioethics and
the principle of human dignity. We explain the reason for rejection by the Jehovah's
Witness adherents, their bases and arguments. To develop this research was done
text analysis, reading and interpretation, filing of publications, field research, etc..
Among them will be defined articles of legal Internet sites, bibliography and
systematic discrimination of books, CRM's opinions, interviews with lawyers, doctors
and Jehovah's Witnesses and mainly studies of Brazilian courts' decisions on the
issues that revolve around this question. This research was conducted by the
deductive method. We asked questions and answers in interviews, in order to bring
to readers a sense of reality.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
1 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................... 9
1.1 DO SURGIMENTO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................... 10
1.1.1 A primeira geração dos direitos fundamentais .......................................... 10
1.1.2 Direitos humanos de segunda geração .................................................... 11
1.1.3 Dos direitos fundamentais da terceira geração ........................................ 12
1.1.4 Das demais gerações aos direitos fundamentais ..................................... 13
1.2 DAS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................ 14
1.2.1 Historicidade ............................................................................................. 14
1.2.2 Universalidade .......................................................................................... 15
1.2.3 Limitabilidade............................................................................................ 15
1.2.4 Concorrência ............................................................................................ 16
1.2.5 Irrenunciabilidade ..................................................................................... 17
1.2.6 Das demais características doutrinárias ................................................... 17
1.3 DIREITOS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS .......................................... 18
1.4 DIREITO À VIDA ...................................................................................... 19
1.5 DIREITO À LIBERDADE RELIGIOSA E SUA LIVRE MANIFESTAÇÃO .. 20
1.6 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE .................................................................. 21
1.7 PRINCÍPIO DA PRIVACIDADE ................................................................ 22
1.8 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .............................. 22
1.9 PRINCÍPIOS BIOÉTICOS ........................................................................ 23
2 COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................ 26
2.1 DO DIREITO À VIDA ................................................................................ 27
2.2 DO DIREITO À LIBERDADE .................................................................... 29
2.3 A HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL ................................................. 31
2.4 PRINCÍPIOS DA INTER PRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ...................... 33
2.4.1 Dos Princípios da unidade da Constituição .............................................. 33
2.4.2 Princípio da Concordância prática ou harmonização ............................... 34
9
INTRODUÇÃO
1
FILHO, Francisco de Salles Almeida Mafra. Direitos e garantias fundamentais: um conceito.
Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/.
php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=798>. Acesso em: 29. maio 2010.
2
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional Positivo. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
p. 161.
12
3
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 3.
13
4
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 670.
5
BELTRÃO, Irapuã Gonçalves de Lima. Conceitos iniciais sobre direitos e garantias
fundamentais na constituição. Disponível em:
<http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_id=1936>. Acesso em 30. mai. 2010.
14
São aqueles que tratam da satisfação das necessidades mínimas para que
haja dignidade e sentido na vida humana. Exigem uma atividade
prestacional do Estado. Ex: os direitos sociais, os econômicos e os
6
culturais .
6
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 5.
7
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 5.
8
BOBBIO, Norberto apud LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 670
15
1.2.1 Historicidade
12
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 672
13
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher Associados,
2005, p. 5.
17
1.2.2 Universalidade
1.2.3 Limitabilidade
14
SILVA, Flávia Martins André da. Direitos fundamentais. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2627/Direitos-Fundamentais>. Acesso em: 04. jun. 2010.
15
Ibidem
16
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 5.
18
Pedro Lenza:
1.2.4 Concorrência
17
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 672
18
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 5.
19
1.2.5 Irrenunciabilidade
19
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 672
20
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 5.
21
SILVA, José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. 17. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.p. 282
20
22
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 671.
23
BARBOSA, Rui apud JUNIOR, Gabriel Denzen. Direito constitucional. Brasília: Vestcon, 2008. p.
17.
24
JUNIOR, Gabriel Denzen. Direito constitucional. Brasília: Vestcon, 2008, p. 17.
21
Disciplinado pelo art. 5º da referida carta magna, trata-se de cláusula pétrea, não
podendo esta ser modificada ou suprimida em virtude de lei complementar ou
decreto.
Neste liame dita o art. 5º constitucional:
o
A palavra vida no texto constitucional (art. 5 , caput) não será considerada
apenas no seu sentido biológico de incessante auto-Atividade funcional,
peculiar à matéria orgânica, mas na sua acepção biográfica mais
compreensiva. Sua riqueza significativa é de difícil apreensão porque é algo
dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua própria
27
identidade .
25
Constituição Federal, Art. 5º Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em 23. Jun. 2010.
26
CLEMENTE, Aleksandro. O Direito à vida e a questão do aborto. Disponível em:
<http://www.portaldafamilia.org.br/artigos/artigo400.shtml>. Acesso em 23 jun. 2010.
27
SILVA, José. Afonso. Da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 1999.
p. 251.
22
O Brasil é um país laico, ou seja, não possui uma religião oficial. Cabe
a cada indivíduo, dentro do seu conceito de vida, cultura, dentre outros aspectos,
escolher a religião que melhor lhe aprouver, não podendo em hipótese alguma o
Estado interferir no direito de crença e na sua livre manifestação. Salvo nas
hipóteses em que a liberdade de crença e religião infrinja direitos fundamentais tidos
pela constituição como pedra fundamental na construção da nação. A exemplificar,
podemos citar como infração dos direitos fundamentais cultos e ritos que resultem
no sacrifício de vida humana. Como visto anteriormente, a vida é um direito
fundamental e universal do indivíduo.
Assim está disposto o texto acerca da liberdade religiosa na
constituição: ―é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias.‖
Ensina o mestre Alexandre de Moraes: ―Constituição Federal assegura
o livre exercício do culto religioso, enquanto não for contrário à ordem, tranqüilidade
e sossego públicos, bem como compatível com os bons costumes‖28
Assim, é garantido ao indivíduo a liberdade de expressão religiosa, de
cultuar seus santos ou deuses, sendo esta garantia destacada pela norma
28
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13 ed. São Paulo. 2003. p. 25.
23
29
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 671
30
CADENAS, Leandro. Princípio da legalidade. Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/direito-
administrativo/princípio-da-legalidade.html>. Acesso em: 25 jun. 2010.
24
31
GOLDIM, José Roberto apud FILHO, José Roberto Moreira. Relação médico paciente. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2745>. Acesso em: 1 Jul. 2010.
32
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. 4 ed. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005, p. 3.
25
33
MORAES, Alexandre apud LIMA, Renata Fernandes. Princípio da dignidade da pessoa humana.
Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/14076/1/princípio-da-dignidade-da-pessoa-
humana-/pagina1.html#ixzz0u9nn9sBw>. Acesso em 09. Jul. 2010.
34
AGNOL, Darlei Dall‘l Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~darlei/biossegu.html>. Acesso em: 11
Jul. 2010.
26
35
AGNOL, Darlei Dall‘l Princípios bioéticos e a lei de biossegurança. Disponível em:
<http://www.cfh.ufsc.br/~darlei/biossegu.html>. Acesso em: 11 Jul. 2010.
36
VIEIRA, Tereza Rodrigues. O que é bioética. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/social-
sciences/1783810-que-%C3%A9-bio%C3%A9tica/>. Acesso em: 13 Jul. 2010.
37
Ibidem
27
38
VIEIRA, Tereza Rodrigues. O que é bioética. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/social-
sciences/1783810-que-%C3%A9-bio%C3%A9tica/>. Acesso em: 13 Jul. 2010.
28
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes [...].
39
LEMES, Ana Carolina Reis Paes. Transfusão de sangue em testemunhas de Jeová. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6545&p=1>. Acesso em: 15 jul. 2010.
29
40
FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de Direitos: a honra, a vida privada e a imagem versus a
liberdade expressão e informação. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1996. p. 155.
30
41
ALLE, Saulo Steffanone. Direito Constitucional: dos direitos e garantias fundamentais. 1 ed.
São Paulo: Proconcurso, 2009. p. 180.
42
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 678.
43
Ibidem, p. 678.
31
Art. 5º [...]
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem.
Art. 5º [...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.
Art. 5º
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa
nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
44
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 685.
33
O direito de que ora tratamos tinha uma redação muito precisa no direito
anterior: ‗é plena a liberdade de consciência e fica assegurado aos crentes
o exercício dos cultos religiosos que não contrariem a ordem pública e os
45
bons costumes
45
CONSTANTINO, Carlos Ernani. Transfusão de sangue e omissão de socorro. Disponível
em:<http://www.acta-diurna.com.br/biblioteca/doutrina/d36.htm>. Acesso em: 22 Jul. 2010.
34
46
LEMES, Ana Carolina Reis Paes. Transfusão de sangue em testemunhas de Jeová. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6545&p=1>. Acesso em: 22 Jul. 2010.
35
47
LEMES, Ana Carolina Reis Paes. Transfusão de sangue em testemunhas de Jeová. Disponível
em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6545&p=1>. Acesso em: 22. Jul. 2010.
36
48
HESSE, Konrad FARIAS apud FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de direitos: a honra, a vida
privada e a imagem versus a liberdade expressão e informação. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1996. p.
98.
49
LEMES, Ana Carolina Reis Paes. Transfusão de sangue em testemunhas de Jeová. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6545&p=1>. Acesso em: 22 jul. 2010.
37
50
LEMES, Ana Carolina Reis Paes. Transfusão de sangue em testemunhas de Jeová. Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6545&p=1>. Acesso em: 3 ago. 2010
38
3 LEGISLAÇÃO
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade.
Art. 5º [...]
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
51
alternativa, fixada em lei
51
Grifo Nosso.
41
52
CASIMIRO, Eric Diniz. Direito do paciente a tratamento médico alternativo, referente à
transfusão de sangue. Disponível em:
<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/26794/Direito_Paciente_Eric%20Diniz.pdf?sequen
ce=1>. Acesso em: 05. Ago. 2010 apud Report of the Presidential Commission on the
HumanIimmunodeficiency Virus Epidemic, op. cit., p. 78-84.
43
53
CASIMIRO, Eric Diniz. Direito do paciente a tratamento médico alternativo, referente à
transfusão de sangue. Disponível em:
<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/26794/Direito_Paciente_Eric%20Diniz.pdf?sequen
ce=1>. Acesso em: 5 ago. 2010 apud Report of the Presidential Commission on the
HumanIimmunodeficiency Virus Epidemic, 1988, p. 78
44
5 A RESPONSABILIDADE DO MÉDICO
54
THIBES, Jandira. Transfusão de sangue em testemunhas de jeová x transfusão de sangue.
Revista de Direito: v. 12, n. 16, 2009. p. 30. Disponível em:
<http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rdire/article/viewFile/900/733>. Acesso em: 9 ago. 2010.
55
MÉDICA, Código de Ética. Resolução CFM nº 1.246/88, DE 08.01.88. Disponível em:
<http://www.abctran.com.br/Conteudo/codigo_etica_medica.pdf>. Acesso em: 9. Ago. 2010
56
ASSAD, José Eberienos. Desafios Éticos: Conselho Federal de Medicina. Brasilia, 1993. p. 198.
45
É vedado ao médico:
[...]
Art. 46 - Efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e
consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo
iminente perigo de vida;
Art. 55 - Usar da profissão para corromper os costumes, cometer ou
favorecer crime.
É vedado ao médico:
[...]
Art. 56 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a
execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de
iminente perigo de vida.
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Face a este dispositivo, o médico deve agir da seguinte forma, nos casos
abaixo elencados, sempre que houver iminente perigo de vida ou de saúde
para o paciente e independentemente de qualquer outra providência (como
pedir autorização judicial, etc.):
Se o paciente se recusar a receber a transfusão de sangue, o médico deve
aplicar-lhe um sedativo e ministrar-lhe o referido tratamento, mesmo contra
sua vontade;
Se o paciente estiver inconsciente ou tratar-se de uma criança e seus
parentes ou representantes legais disserem que não desejam que se faça
transfusão de sangue, o médico deve fazê-la, mesmo contra a vontade
deles;
Se o paciente estiver inconsciente e desacompanhado, encontrando-se com
ele uma carteira de identificação de membro da seita, em que se solicite a
não transfusão de sangue, o médico deve ir contra a presumível vontade do
57
paciente .
57
CONSTANTINO, Carlos Ernani. Transfusão de sangue e omissão de socorro. Disponível em:
<http://www.acta-diurna.com.br/biblioteca/doutrina/d36.htm>. Acesso em: 9 ago.. 2010.
47
58
CONSTANTINO, Carlos Ernani. Transfusão de sangue e omissão de socorro. Disponível em:
<http://www.acta-diurna.com.br/biblioteca/doutrina/d36.htm>. Acesso em: 9 ago. 2010.
48
59
BRANDANINI, Sergio. O protestantismo e as igrejas da reforma. Disponível em:
<http://www.pime.org.br/mundoemissao/religcrentes2.htm>. Acesso em: 12 ago. 2010.
60
SAGRADA, Biblia. Livro de gênesis. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/bible/genesis/documents/bible_genesis_po.html>. Acesso em: 12 ago.
2010.
61
SANTANA, Adão. A mulher cristã não pode mais cortar o cabelo? Disponível em:
<http://adbrasil.ning.com/forum/topics/a-mulher-crista-nao-pode-mais>. Acesso em: 12 ago. 2010.
49
acordo com o discorrer nos Capítulos da Bíblia Sagrada. Esta fundamentação está
no livro de Gênesis, em seu capítulo 9, nos versículos 3 e 4: ―Todo animal movente
que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde,
deveras vos dou tudo. Somente a carne com sua alma - seu sangue - não deveis
comer‖62.
Neste versículo disposto no livro de Gênesis, se verificado ipsis literis,
vislumbra-se que, de acordo com o prelecionado pela BÍblia Sagrada, o ser humano
não pode comer da carne de seus semelhantes e também não beber o seu sangue,
o que derruba por terra qualquer insinuação de religiosos contra a posição
desfavorável à transfusão sanguínea.
Ainda de acordo com o livro sagrado, em Levitico 17:10-14 e também o
livro de Atos dos Apóstolos 15:28,29:
62
SAGRADA, Biblia. Livro de Gênesis. Disponível em:
<http://www.jesusvoltara.com.br/biblia/00Biblia.htm>. Acesso em: 13 ago. 2010.
63
SAGRADA, Biblia. Livro de Levitico e Atos dos Apóstolos. Disponível em:
<http://www.jesusvoltara.com.br/biblia/00Biblia.htm>. Acesso em: 13 ago. 2010.
50
66
CUNHA, Maia. Agravo de Instrumento: 994031132419. Disponível em:
<http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=1944233&vlCaptcha=dkxkt>. Acesso em: 22.
ago. 2010.
53
que é a vida - Conduta dos médicos, por outro lado, que se pautaram dentro
da lei e ética profissional, posto que somente efetuaram as transfusões
sangüíneas após esgotados todos os tratamentos alternativos - Inexistência,
ademais, de recusa expressa a receber transfusão de sangue quando da
internação da autora — Ressarcimento, por outro lado, de despesas
efetuadas com exames médicos, entre outras, que não merece acolhido,
posto não terem sido os valores despendidos pela apelante - Recurso
67
improvido .
67
PINHEIRO, Flávio. Apelação com revisão 994990067748. Disponível em:
<http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=1542703>. Acesso em: 22. ago. 2010.
68
SANTIS, Sandra de. Agravo de Instrumento: 2006 00 2 004500-4 AGI - 0004500-
36.2006.807.0000 (Res.65 - CNJ). Disponível em: <http://tjdf19.tjdft.jus.br/cgi-
bin/tjcgi1?DOCNUM=1&PGATU=1&l=20&ID=61960,61084,23606&MGWLPN=SERVIDOR1&NXTPG
M=jrhtm03&OPT=&ORIGEM=INTER>. Acesso em. 22. ago. 2010.
54
outros direitos. Preleciona ainda que os tribunais têm pacificado em favor dos
médicos que agem no exercício de sua profissão, isentando-os de qualquer
responsabilização civil.
Também para o Dr. Thomas Salerno, Médico -Professor de cirurgia,
chefe da Divisão de Cirurgia Cardiotorácica e vice-presidente da DeWitt Daughtry
Family Department of Surgery, Professor Responsável pelo serviço de Cirurgia
Cardíaca na University of Miami Miller School of Medicine em entrevista, disse já ter
passado por situação envolvendo religiosos da igreja ―Testemunhas de Jeová‖.
Segundo ele, o paciente não o alertou ser pertencente àquela denominação religiosa
e, tendo sido aplicada a transfusão de sangue, após 3 cirurgias o paciente veio a
óbito. Segundo Dr. Thomas, também um colega profissional passou pelo mesmo
transtorno, porém foi alertado e tendo sido autorizado a realizar o procedimento pela
família, livrou-se de ser processado e responsabilizado judicialmente.
Na visão do Dr Salerno, não há necessidade de se criar ou modificar o
sistema legislativo existente. Para ele sempre deverá prevalecer a vontade e
autonomia do paciente de decidir acerca de sua própria vida.
Médico especialista em cirurgia cardiovascular, Renato Antonio
Del Bianco, compartilha da opinião do Dr. Salerno, ressaltando o posicionamento do
CRM de respeito à vontade do paciente e que, diante de pacientes da referida
denominação, sempre os encaminhou a um profissional pertencente à mesma
religião.
Del Bianco disse já ter atendido pacientes desta denominação, porém
sempre em casos eletivos, de não urgência, o que lhe permitiu optar por encaminhar
os pacientes.
Del Bianco acredita que um debate seria benéfico, mas ao seu ver
deveria haver uma emenda constucional específica aos adeptos de Testemunhas
de Jeová para resolver o problema. Apresentou ainda alguns julgados,
demonstrando a tamanha insegurança que a classe médica vive diante desta
polêmica.
O Juiz de Brasília, MM. Lázaro José da Silva, um profissional
experiente, diz que não se resolve a colisão entre dois princípios suprimindo um em
favor do outro. A colisão será solucionada levando-se em conta o peso ou
importância relativa de cada princípio, a fim de escolher qual deles no caso concreto
prevalecerá ou sofrerá menos constrição do que o outro. Entende também que ―A
57
vida é bem supremo‖ e que, entre o direito à liberdade religiosa e o direito à vida,
deve prevalecer o direito à vida.
Explica em entrevista amicus curiae – cuida-se de assistência
qualificada, desponta como auxiliar da Justiça.
Portanto, certamente usaria essa intervenção anômala de terceiros
para formar o convencimento motivado no julgamento de causa onde ocorresse
colisão entre direitos fundamentais, já que sua contribuição seria indispensável para
o acerto e aprimoramento técnico-jurídico da decisão judicial.
Em entrevista com Elisabete Ferreira Viegas, estudiosa da Bíblia
Sagrada há mais de 20 anos, sendo adepta da religião Testemunhas de Jeová,
comenta ela que, desde o início de tudo, desde as primeiras escrituras sagradas, já
se dizia não poder comer o sangue de irmãos, pois o sangue é a alma.
Sra. Viegas afirma que os Testemunhas de Jeová não se posicionam
em desfavor à vida, mas, sim exigem que sejam aplicados meios alternativos à
transfusão sanguínea. Diz que nenhum irmão que optar receber o sangue sofrerá
qualquer discriminação, quer seja perante à família, quer seja ao Salão do Reino.
Diz que as pessoas não podem ferir a escolha do paciente em não
querer algum tratamento e acredita que alguém que for lesado em seu direito de
escolha sofrerá abalos emocionais.
Em questão de mudanças mais claras para assegurar o direito
resguardado pela Constituição, diz que não tem que ser mudado e não vê nenhuma
colisão entre Direitos. Estando tudo bem claro, tanto na Constituição, como no
código de ética médica e na Bíblia, que o paciente tem o direito de escolha.
Percebe-se um consenso entre os profissionais da área médica e
juristas, e não se esperava atitude diferente, em posicionarem-se de conformidade
com a vontade do paciente. Entretanto, há que salientar que a vontade do paciente
deverá prevalecer somente enquanto sua vida não estiver em risco, em caso eletivo.
Quando da urgência no tratamento, existindo risco de morte para o paciente, o
médico deverá proceder a favor da transfusão de sangue, visto que os tribunais têm
jurisprudência pacificada em favor da vida.
58
CONCLUSÃO
que a vida humana prevalecerá sobre quaisquer conceitos, sejam estes oriundos de
quaisquer dicernimentos culturais.
Consente-se assim que o direito à vida é primordial e o direito à crença
deverá ser alijado diante do primeiro, visto que da vida advém a liberdade de
expressão de crença e de liturgia. Fica claro que, ausência de vida, não há motivo
de outros direitos, pois não haverá quem os exerça ou os exija.
60
REFERÊNCIAS
GOLDIM, José Roberto apud FILHO, José Roberto Moreira. Relação médico
paciente. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2745>.
Acesso em: 1 Jul. 2010.
HESSE, Konrad FARIAS apud FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de direitos: a
honra, a vida privada e a imagem versus a liberdade expressão e informação. Porto
Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1996.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
SANTANA, Adão. A mulher cristã não pode mais cortar o cabelo? Disponível em:
<http://adbrasil.ning.com/forum/topics/a-mulher-crista-nao-pode-mais>. Acesso em:
12 ago. 2010.
SILVA, José. Afonso. Da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo:
Malheiros, 1999.
WIEGERINCK, João Antonio. Direito constitucional. São Paulo: Barros & Fisher
Associados, 2005.
64
ANEXOS
65
ANEXO A
1 – Caso tivesse que julgar uma causa com essa colisão entre direitos
fundamentais, o MM usaria o instrumento Amicus curiae para o seu maior
convencimento?
Resposta: amicus curiae – cuida-se de assistência qualificada, desponta como
auxiliar da Justiça.
Portanto, certamente usaria essa intervenção anômala de terceiros para formar o
convencimento motivado no julgamento de causa onde ocorresse colisão entre
direitos fundamentais, já que sua contribuição seria indispensável para o acerto e
aprimoramento técnico-jurídico da decisão judicial.
―Vida, no texto constitucional (art. 5o, caput) não será considerada apenas no seu
sentido biológico de incessante auto-atividade funcional, peculiar à matéria orgânica,
mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Sua riqueza significativa é de
67
Se o direito à vida for considerado como o mais fundamental dos direitos, por dele
derivarem todos os demais direitos, este, então, é regido pelas premissas
constitucionais da inviolabilidade e irrenunciabilidade. Isso significa que o direito à
vida não pode ser desrespeitado por terceiros, tampouco pelo Estado, não podendo
dispor dele o indivíduo almejando sua morte.
O Código Penal também traz a figura da omissão de socorro no art. 135, colocando
a vida sob a responsabilidade de qualquer um que a possa salvar:
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo e
em grave e iminente perigo; ou não pedir nesses casos o socorro da autoridade
pública. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se a omissão resulta em
lesão corporal de natureza grave, e triplicada se resulta a morte.
4 – O Sr. já teve que passar por alguma situação dessas? Já julgou alguma
causa nessa situação?
Resposta: Não, porém já atuei em alguns processos, proferindo despachos e
decisões, bem como realizando audiências.
5 – Em sua opinião, deveria ocorrer uma discussão sobre esta matéria por
parte do Poder Legislativo no sentido de uma tentativa de resolução desta
celeuma tão grave? Dê sua opinião
Resposta: Não, pois tal discussão não está e refoge do âmbito do legislativo, já que
não possui competência para dizer qual direito deve prevalecer sobre outro, matéria
restrita ao Poder Judiciário. Ademais, nosso ordenamento jurídico, Constituição
Federal, Código Civil e demais Legislações Esparsas já conferem ao Juiz
instrumentos legais para dirimir o conflito. Assim já foram devidamente
69
ANEXO B
será como antes, sem discriminação alguma, afinal ele fez sua parte em recusar e a
responsabilidade perante Jeová será totalmente do Médico que não respeitou os
seus princípios. Portanto, o acerto de contas será entre quem não seguiu os
princípios, nesse caso o médico. O irmão que recusa jamais responderá a Jeová,
pois ele cumpriu os princípios.
ANEXO C
religião logo, sua prevalência não deveria ser avaliada como um desrespeito à
liberdade religiosa. A vida não pode se adequar à religião. Esta é que deve priorizar
a vida.
Por estas razões, os tribunais não estão responsabilizando civilmente o médico, nem
o hospital, pacificando, assim, o entendimento de que a tutela à vida é mais que um
direito, é o mandamento fundamental do sistema, é o que confere significado ao
universo jurídico, é a inteligência dos demais direitos, aos quais se inclui o direito à
liberdade religiosa.
Do ponto de vista estritamente jurídico, essa profissão tem sua conduta limitada e
condicionada pelo código de ética médica, estabelecendo que:
A interpretação sistemática deste estatuto revela que a conduta médica deve ser
pautada em critérios científicos comprovados, sem permitir a interferência de
critérios alheios. Em alguns trechos é explicito em repelir a influência religiosa na
atividade desta profissão.
Nestes termos, embora existam mecanismos de defesas suficientes para a ampla
defesa do médico que não realize a transfusão de sangue em respeito à crença
religiosa, ele, primeiramente, poderá ser responsabilizado pelo seu ato – omissão –
mediante a representação de seus colegas,nos termos do seu código:
fundamental, a qual, nessa hipótese, pode ser representada pelo MP, órgão com
legitimidade para processar esse médico.
4 – Em sua opinião, deveria ocorrer uma discussão sobre esta matéria por
parte do Poder Legislativo no sentido de uma tentativa resolução desta
celeuma tão grave? Dê sua opinião
Resposta: O tema é de enfoque casuístico, o que torna difícil sua prescrição em
textos legais, talvez um dos motivos – que acredito ser um dos menos importantes –
da inexistência de lei específica abordando tal assunto.
A medicina poderia ser melhor garantida, o médico poderia trabalhar com mais
segurança e clarividência se este tipo de tema fosse solucionado pelo poder
Legislativo. Acredito que dificilmente veremos este fenômeno. O lobby das igrejas no
Congresso Nacional é extremamente pesado. Além disso, o tema é muito polêmico,
o que acovarda o legislativo de discuti-lo. Assim, mais uma vez a solução fica a
cargo exclusivo do judiciário. Entretanto, como vimos, o médico pode ficar
despreocupado se optar por aplicar o procedimento padrão que lhe for confiado. O
Poder Judiciário possui elementos de sobra para averiguar que a profissão é isenta
de pressões alheias à sua ciência, que o Brasil é um país laico, que o direito à vida é
a razão de ser de nossa sociedade, nação, ordenamento jurídico, religião...
76
ANEXO D
Diante disto posso dizer, segundo a Resolução CFM 1021/80, que o médico deve
observar o seguinte: 1- Se não houver iminente perigo de morte, o médico respeitará
a vontade do paciente ou de seus responsáveis, 2- Se houver iminente perigo de
morte, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de
consentimento do paciente ou de seus responsáveis.
Para terminar, acredito que a ética sempre deve ser preservada.
4 – O Sr. já teve que passar por alguma situação dessas? Já presenciou algum
colega nesta situação?
Resposta: Não, eu ainda não estive diante ou dentro de uma situação deste tipo (ao
extremo), mas, sempre que atendo um paciente Testemunha de Jeová, procuro me
portar como manda a ética e sempre explico a conduta a ser tomada diante de cada
caso e de uma urgência médica. Com isto, acredito que até perco pacientes, pois
hoje já existem médicos que seguem a mesma crença religiosa.
5 – Em sua opinião, deveria ocorrer uma discussão sobre esta matéria por
parte do Poder Legislativo no sentido de uma tentativa de resolução desta
celeuma tão grave? Dê sua opinião
Resposta: Acredito que esta questão transcende a "Lei". É claro que é importante o
Poder Legislativo cumprir o seu papel, regulamentar através de uma lei aquilo que
envolve a sociedade como um todo e, mais do que isto, poderia abrir uma consulta
pública para ter a real avaliação do que a população pensa e deseja que seja
78
ANEXO E
espirituais e psicológicos. O Dr. Dresch citou que, embora não fosse lícito a parte
atentar contra a própria vida, a Constituição, em seu art. 5º, inciso IV, assegura
também a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, garantindo o livre
exercício dos cultos religiosos.
2 Caso; Juiz autoriza transfusão de sangue em testemunha de Jeová
São casos contraditorios, a qual magistrado devemos seguir? Diante de todo esse
imbróglio jurídico o melhor para o medico, em caso de dúvida, é perguntar ao Juiz
de plantão o que fazer!
82
ANEXO F
4 – Você já teve que passar por alguma situação dessas? Já presenciou algum
colega nesta situação?
Resposta: Sim, eu, pessoalmente, operei um testemunha que não me disse, apesar
de eu perguntar, se ele estava tomando antiplaqueta, plavix, ele negou. Depois da
cirurgia, sangrou e eu vi o paciente aos poucos morrer, apesar de ser reoperado 3
vezes. Um dos meus colegas deu sangue por ordem da família e também por um
documento que o paciente tinha assinado (power or attorney), Ele foi disciplinado e
quase foi processado e punido. Se o paciente tivesse morrido, nada teria acontecido
pelo fato de não ter recebido sangue; porém, o médico poderia ser levado à justiça
caso tivesse havido erro técnico durante a cirurgia. Se o paciente assinar um
documento em que não aceita transfusão de sangue por ser ―Testemunha de
Jeová‖, o médico fica protegido por não ter realizado o devido procedimento.
5 – Em sua opinião, deveria ocorrer uma discussão sobre esta matéria por
parte do Poder Legislativo no sentido de uma tentativa resolução desta
celeuma tão grave? Dê sua opinião
Resposta: Nada deve ser mudado. O paciente tem direito de receber o tratamento
que quiser, seja cirurgia, tratamento médico ou outro, se for mentalmente
competente. Se ele assina que não quer sangue, o médico tem o direito de não
querer operá-lo. Não se poderá forçar o médico a fazer o que não quer. Se o médico
concordar em operar, não pode dar sangue. Direito humano. Isso só se aplica a
adultos.