You are on page 1of 3

Democracia de verdade só a mãe natureza!

As recentes catástrofes naturais que acometeram algumas nações do


mundo fazem pensar...
Pensar que está evidente que a natureza não fez diferença entre países
ricos ou pobres. E acho mesmo que somente ela (a natureza) é que não vê essa
diferença.
A mídia inclusive foi taxativa em afirmar que não havia nenhuma outra
nação mais preparada para enfrentar catástrofes naturais como o Japão. Todos viram
o tamanho do estrago.
Pensar que quando Rosseau falou que a democracia era praticável
somente numa cidade de deuses, talvez tivesse razão.
No caso do Haiti, um país dos mais pobres do planeta, a ONU foi obrigada
até a suspender o envio de recursos para sua reconstrução, por causa da corrupção.
Parece até coisa de filme ou de jogo. Quem é que pode acreditar nisso?
Fico a imaginar como é que pessoas que são chamadas de “autoridades”
conseguem desviar dinheiro numa situação tão miserável como a que se encontram
aqueles coitados.
Pensar que a noção do que seja humano e do que seja direito se perdeu
completamente na história.
Chega a ser estúpido versar sobre outra coisa que não a busca por uma
identidade humana para os seres humanos. Por mais estúpido que isso possa
parecer.
Li numa monografia, um dia desses, que se costuma referir à Idade Média
como “a noite dos tempos” ou como o “tempo da barbárie”. Mas, será que evoluímos?
Nossa sociedade é realmente melhor do que a de nossos ancestrais? A escravidão foi
realmente abolida?
Pensar ainda que o socialismo ou o comunismo ruíram e com ele milhares
de boas intenções. Mesmo assim, aparentemente o que estragou tudo foram, de novo,
os homens.
Alguém já dissera que a norma nada mais é do que um conjunto de regras
morais que impõem sua existência pela possibilidade de sua infração.
Assim, estupidez por estupidez, parecia ter razão o filósofo, pois quando
olhamos para nossos políticos e para o quadro de “desenvolvimento” que se desenha
para o país, não dá para dizer que somos de fato um Estado Democrático de Direito, a
não ser no papel, que aceita tudo mesmo.
Tem gente que ainda acredita que somos uma das democracias mais
desenvolvidas do mundo. Acho que estes têm que assistir menos Rede Globo.
Talvez estejamos precisando mesmo é passar pelo julgamento da
natureza.
Se no Japão os reatores nucleares andaram explodindo, o que aconteceria
com Agra I e Angra II?
A mídia já andou “investigando” e, conforme disseram, podemos viver em
paz. Acredite quem quiser! Incluindo aí quem acredita em Papai Noel.
Mas fico a me perguntar qual seria a reação das nossas autoridades? Será
que o dinheiro ia chegar mesmo?
Tivemos aqui casos recentes também de inundações e desabamentos.
Ouvi dizer que tem um monte de coisa estragada em alguns depósitos públicos por aí.
A justificativa seria a falta de meios para enviar a ajuda.
Enquanto isso, nossas autoridades dispõem de verbas significativas para
visitarem suas “bases eleitorais”. O custo anual de um Deputado Federal ou de um
Senador daria para comprar caminhões e aviões na casa das dezenas. E ainda dava
para pensar em construir ou melhorar estradas e aeroportos. Acho até que sobrava
um pouquinho para quem quisesse “levar algum por fora”.
Especulações a parte, talvez precisemos entender que “ter direitos” e “ser
humano” não são condições naturais de todos aqueles que habitam o planeta.
Provavelmente isso poderia nos levar inventar novas práticas e novos mundos.

Se não entendemos os direitos e o humano como objetos naturais,


obedecendo a determinados modelos que lhes seriam inerentes,
podemos produzir outros direitos humanos: não mais universais,
absolutos, contínuos e em constante evolução, mas a afirmação de
direitos locais, descontínuos, fragmentários, processuais, em
constante movimento e devir, múltiplos como as forças que os
atravessam e os constituem.

(COIMBRA e outras autoras, no texto “Por uma invenção ética para


os Direitos Humanos” - http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
56652008000200007&script=sci_arttext)

Gostei muito desse trecho, pois no impulsiona a pensar por um outro lado.
Quem já viu o vídeo “Ilha das Flores” tem que concordar que os protagonistas não se
assemelham em nada à “imagem e semelhança” de Deus.
Ser humano não consiste apenas em aceitar a equação jusnaturalista e
ficar bradando aos quatro ventos que todos têm direito a isso ou aquilo.
Homossexualismo, prostituição, crimes, divergências de gênero, e tudo quanto é
bandeira de grupos de minorias são temas que configuram a própria existência da
humanidade. Nunca vai deixar de existir e é exatamente o que faz sermos humanos.
Ser humano é, antes de tudo, compreender que somos sujeitos de nossa
autonomia e de nossa própria história. O genial Paulo Freire já tentou alertar para isso
há muito tempo. Engraçado que ainda tem intelectual por aí que tem coragem de dizer
que ele não era tanta coisa assim.
Sou “freireano”! Principalmente pelo fato de que suas contribuições de fato
mudaram a vida das pessoas, oferecendo uma possibilidade de tornarem-se humanas
de verdade. Negar o mínimo acesso ao letramento e à alfabetização é o mesmo que
negar comida.
Se é verdade que a norma é uma previsão daquilo que não deveria existir,
porque nunca foi aprovada, ou mesmo proposta, alguma lei que proíba não ser
humano?
Certamente seja porque ter direito também é algo que precisa ser
conquistado. Não temos direitos simplesmente porque nos deram ou porque
nascemos. Temos direitos porque os conquistamos. Lutamos e adquirimos o direito de
manifestar nossas individualidades e diferenças no contexto coletivo.
Se aceitarmos que já nos foi dado o direito e pronto, iremos esquecer que
todas as nossas ações possuem por delimitação os outros seres humanos. Logo não
seremos humanos, tampouco teria sentido falar em direitos.
Viver é fazer e não poder fazer!
Ninguém vive só de idéias e de documentos. Se a permissão, ou
objetivação, de uma conduta fosse suficiente para ela se materializar em direito, não
teríamos mais nenhuma desgraça no mundo desde a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Ou mesmo de antes dela. Talvez desde as duas tábuas entregues
a Moisés, no monte Sinai. Ou dos grandes pensadores dos tempos anteriores ao
nascimento de Jesus Cristo.
A história mostra que não podemos cristalizar determinadas condutas e
acreditar que está tudo resolvido. No Brasil mesmo isso é muito latente, afinal não
descriminalizamos o adultério?
Acredito que o direito canônico, assim como todas as outras manifestações
daquilo que pode interessar aos estudiosos e observadores do Direito e da sociedade,
parte exatamente dessa necessidade de valorizar, respeitar e incentivar a diferença, o
novo, o desafio.
Segundo a bíblia, até Deus espera de nós uma ação antes de nos
abençoar, mesmo sendo o detentor de todo o poder.
Considerar tais aspectos conduz à conclusão de que para ser humano e
para ter direito, parece estarmos intimados a reinventar diversas práticas e repensar
alguns dos valores que estão no centro daquilo que configura todo o arcabouço
cultural e jurídico da atualidade.
Ou, podemos deixar a natureza fazer isso por nós, já que ela parece ser a
única capaz de realmente não fazer nenhuma distinção entre as pessoas.

You might also like