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Gostei muito desse trecho, pois no impulsiona a pensar por um outro lado.
Quem já viu o vídeo “Ilha das Flores” tem que concordar que os protagonistas não se
assemelham em nada à “imagem e semelhança” de Deus.
Ser humano não consiste apenas em aceitar a equação jusnaturalista e
ficar bradando aos quatro ventos que todos têm direito a isso ou aquilo.
Homossexualismo, prostituição, crimes, divergências de gênero, e tudo quanto é
bandeira de grupos de minorias são temas que configuram a própria existência da
humanidade. Nunca vai deixar de existir e é exatamente o que faz sermos humanos.
Ser humano é, antes de tudo, compreender que somos sujeitos de nossa
autonomia e de nossa própria história. O genial Paulo Freire já tentou alertar para isso
há muito tempo. Engraçado que ainda tem intelectual por aí que tem coragem de dizer
que ele não era tanta coisa assim.
Sou “freireano”! Principalmente pelo fato de que suas contribuições de fato
mudaram a vida das pessoas, oferecendo uma possibilidade de tornarem-se humanas
de verdade. Negar o mínimo acesso ao letramento e à alfabetização é o mesmo que
negar comida.
Se é verdade que a norma é uma previsão daquilo que não deveria existir,
porque nunca foi aprovada, ou mesmo proposta, alguma lei que proíba não ser
humano?
Certamente seja porque ter direito também é algo que precisa ser
conquistado. Não temos direitos simplesmente porque nos deram ou porque
nascemos. Temos direitos porque os conquistamos. Lutamos e adquirimos o direito de
manifestar nossas individualidades e diferenças no contexto coletivo.
Se aceitarmos que já nos foi dado o direito e pronto, iremos esquecer que
todas as nossas ações possuem por delimitação os outros seres humanos. Logo não
seremos humanos, tampouco teria sentido falar em direitos.
Viver é fazer e não poder fazer!
Ninguém vive só de idéias e de documentos. Se a permissão, ou
objetivação, de uma conduta fosse suficiente para ela se materializar em direito, não
teríamos mais nenhuma desgraça no mundo desde a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Ou mesmo de antes dela. Talvez desde as duas tábuas entregues
a Moisés, no monte Sinai. Ou dos grandes pensadores dos tempos anteriores ao
nascimento de Jesus Cristo.
A história mostra que não podemos cristalizar determinadas condutas e
acreditar que está tudo resolvido. No Brasil mesmo isso é muito latente, afinal não
descriminalizamos o adultério?
Acredito que o direito canônico, assim como todas as outras manifestações
daquilo que pode interessar aos estudiosos e observadores do Direito e da sociedade,
parte exatamente dessa necessidade de valorizar, respeitar e incentivar a diferença, o
novo, o desafio.
Segundo a bíblia, até Deus espera de nós uma ação antes de nos
abençoar, mesmo sendo o detentor de todo o poder.
Considerar tais aspectos conduz à conclusão de que para ser humano e
para ter direito, parece estarmos intimados a reinventar diversas práticas e repensar
alguns dos valores que estão no centro daquilo que configura todo o arcabouço
cultural e jurídico da atualidade.
Ou, podemos deixar a natureza fazer isso por nós, já que ela parece ser a
única capaz de realmente não fazer nenhuma distinção entre as pessoas.