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Primeiro porque a questão ecológica toma lugar nos debates fundamentais da área,
dados os impactos de certas atividades no ambiente (e aí, isso transcende a
natureza, passando a ser assunto de todo o meio). Segundo, pesa a crescente
busca por serviços relacionados às atividades na natureza, o que atinge o âmbito da
recreação (acampamentos, excursões), mas também atravessa a saúde (spas
naturais, terapias na natureza), o turismo (turismo de aventura, turismo rural, entre
outras commodities), a educação (visitas ao meio, educação ambiental), e o
treinamento esportivo (escaladas a grandes montanhas, exercícios personalizados
para aventureiros, competições e ralis em paisagens naturais). Enfim, tanto nos
processos educativos para desenvolver a autonomia do escolar frente a essas
possibilidades quanto no usufruto sustentável desses mercados, se vê a
necessidade da Educação Física (como uma prática eminentemente pedagógica)
possuir conhecimentos acumulados para agir e refletir sobre tais nichos.
Assim, as atividades de lazer na natureza e, mais especificamente os
esportes, apresentam diferencial motriz, volume de pesquisas, quantidade de
praticantes e diversidade de modalidades que incitam a incorporação desse
conteúdo ser tratado na formação inicial em Educação Física.
Porém, é fundamental fugir das ilusões difundidas, entre as quais o impulso
pelo contato com a aventura e/ou a natureza é compartilhado pela maioria da
população. Conforme investigações quantitativas, ainda que exploratórias, é
possível perceber que mulheres, idosos e pessoas com baixa escolaridade e renda
formam grupos propensos a rejeitarem tais atividades, por considerarem-nas
perigosas, extenuantes ou caras para seu perfil (PIMENTEL, SAITO, 2010). Logo,
não é possível falar dessas atividades sem um questionamento sócio-econômico
sobre a concepção de Atividade de lazer na natureza difundida no capitalismo.
Trata-se de um modelo que abrange hedonismo, áreas naturais exclusivas, e
equipamentos e material de ponta (o fetiche tecnológico), estando baseado na
esportivização das práticas. Boa parte do ensino e da produção intelectual nas
universidades acaba sucumbindo a esse padrão, sem questionamentos.
Logo, é necessário pensar em um modelo contra-hegemônico não só em
relação ao capitalismo, mas contrário ao dualismo Homem-Natureza. Em
conseqüência, cabe aos intelectuais da área contribuir com mudanças na estrutura
do conhecimento e, também, nas estratégias adotadas frente ao objeto Atividade de
lazer na natureza. Considerando os limites de
lguns tópicos precedem essa discussão, tais como o estado da arte
brasileiro nessa temática; a realidade do campo profissional e do mercado; e a
evolução do debate ecológico.
Não obstante a carência desse suporte, há de se apontar iniciativas
teóricas e metodológicas que apontam para saídas. De início, é recorrente a
proposta de aprendizagem sequencial difundida internacionalmente por Cornell
(1996) e amplamente adaptada no ensino da Educação Física junto a diferentes
públicos e lugares. Para esse autor, primeiro se desperta ludicamente o entusiasmo,
para depois focar a atenção sobre a atividade, seguido pela transformação da
atividade em experiência dirigida a uma descoberta que, por fim, é compartilhada.
Em termos nacionais vale citar uma experiência ocorrida anexa ao principal
programa governamental de esporte no contra-turno escolar, o Programa Segundo-
Tempo (PST). Por meio do projeto Recreio nas Férias, foi desenvolvida educação
ambiental concomitante à educação para o lazer. Além de trabalhar com as
premissas do lazer como direito e da diversificação dos conteúdos, em 2009 o
projeto atuou com o tema gerador Meio ambiente, concebido como lugar onde se
vive e se estabelecem as relações (OLIVEIRA, PIMENTEL, 2009).
Apesar dos avanços, há carência de um pensamento ecológico na Educação
Física e que amplie o suporte teórico dessas intervenções. Promissor nesse sentido
é a teorização de Rodrigues e Gonçalves Júnior (2009) sobre a Ecomotricidade, cuja
principal premissa é a sinergia entre educação ambiental, pedagogia dialógica e
motricidade humana. Para concluir, se espere que o amadurecimento dessas ideias
possa superar a lógica mecanicista, que ainda teima em separar lazer e natureza,
particularmente visível nos currículos e nas práticas (pedagógicas) da Educação
Física.
REFERÊNCIAS
CASTELLANI FILHO, Lino. Política educacional e Educação Física. Campinas:
Autores Associados, 1998.
CORNELL, Joseph. Brincar e aprender com a natureza. São Paulo: Melhoramentos:
Senac,1996.
OLIVEIRA, Amauri Aparecido; PIMENTEL, Giuliano G. de A. (Orgs.). Recreio nas
férias: reconhecimento do direito ao lazer. Maringá, PR: Eduem, 2009.
PIMENTEL, Giuliano G. de A.; SAITO, Caroline F. Caracterização da demanda
potencial por atividades de aventura. Motriz, Rio Claro, v.16, n.1, p.152-161,
jan./mar. 2010.
RODRIGUES, Cae; GONÇALVES JÚNIOR, Luiz. Motriz, Rio Claro, v.15, n.4, p.987-
995, out./dez. 2009.