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Sequência narrativa
Os textos (ou as sequências textuais) que actualizam o protótipo textual narrativo
caracterizam-se por representar eventos, temporalmente correlacionados, que
configuram o desenvolvimento de uma acção global. Os eventos representados
encadeiam-se de forma lógica e orientam-se para um desenlace, preenchendo as três
categorias da lógica triádica das acções: situação inicial, complicação e resolução. É
também característica dos textos narrativos a unidade de personagens (pelo menos
uma).
Existem múltiplas e diversificadas formas de actualização do protótipo textual narrativo,
por exemplo: contos, fábulas, histórias, parábolas, reportagens, notícias e relatos de
experiências pessoais (protagonizadas ou não pelo locutor).
Sequência descritiva
As sequências textuais que actualizam o protótipo textual descritivo são construídas em
torno de um dado objecto, acerca do qual se predicam diversos atributos. Os textos
descritivos são uma exposição de diversos aspectos que configuram o objecto sobre o
qual incide a descrição. Podem constituir objecto de descrição, por exemplo: pessoas e
personagens (quer traços físicos, quer atributos psicológicos), espaços (físicos,
psicológicos ou sociais), fenómenos atmosféricos e todo o tipo de objectos.
As sequências textuais descritivas surgem frequentemente articuladas com sequências
textuais de outros tipos. Por exemplo, em textos narrativos, é frequente surgirem
sequências descritivas que permitem caracterizar uma personagem ou um espaço social,
por forma a motivar o desenrolar da acção.
Como exemplo do protótipo textual descritivo, poderemos referir textos ou sequências
textuais em que se faz a enumeração dos atributos de uma determinada pessoa ou das
propriedades de um determinado objecto (casa, móvel, rua, etc.).
Rui Abel Pereira, FLUC, 2009 1
Sequência argumentativa
O objectivo central dos textos/discursos que actualizam o protótipo textual argumentativo
consiste em justificar e/ou refutar opiniões. Quem produz um texto argumentativo visa
convencer o(s) seu(s) interlocutor(es), obter a sua aprovação relativamente a uma
determinada tese, ou refutar uma opinião alheia. Assim, poder-se-á dizer que um texto
argumentativo se caracteriza, por um lado, pela expressão de uma opinião que, sendo
controversa, suscita uma defesa e abre um espaço de contestação e, por outro lado, pela
expressão de argumentos a favor ou contra uma determinada tese.
As sequências textuais e os textos de tipo argumentativo são muito frequentes nas
interacções verbais do nosso dia-a-dia: na propaganda política, publicidade, nos debates
televisivos sobre questões polémicas e mesmo em situações informais de interacção
sobre aspectos práticos como optar por usar o transporte público ou o automóvel privado.
Sequência instrucional
Os textos que actualizam o protótipo textual injuntivo-instrucional têm subjacente o
objectivo de controlar o comportamento do(s) seu(s) destinatário(s). Trata-se de textos
que incitam à acção, impõem regras comportamentais ou que, simplesmente, fornecem
instruções sobre as etapas e os procedimentos que deverão ser seguidos de modo a
alcançar um determinado objectivo. Estes textos estão sempre orientados para um
comportamento futuro do destinatário.
Este protótipo textual é actualizado numa grande diversidade de textos, desde
enunciados simples como "Proibido fumar" até às regras de utilização de um software
extremamente complexo, incluindo, por exemplo: receitas de culinária, instruções de
montagem.
Sequência dialogal
O protótipo dialogal-conversacional, também designado apenas "dialogal", é actualizado
em textos produzidos por, pelo menos, dois interlocutores que tomam a palavra à vez.
Estes textos são constituídos por um número variável de trocas verbais. Os enunciados
dos diversos interlocutores presentes numa interacção dialogal são mutuamente
determinados - ou seja, os intervenientes cooperam na produção do texto, de tal modo
que esta se configura como uma realização interactiva.
O protótipo textual dialogal manifesta-se, por exemplo, numa conversa telefónica, nas
interacções quotidianas orais, nos debates e nas entrevistas.
As reflexões recentes sobre tipos ou tipologias de texto têm por base fundamentalmente
as propostas de Jean-Michel Adam (1992), segundo as quais, a partir da
heterogeneidade composicional dos discursos reais, são definidos padrões de
textualização. Trata-se de passar da complexidade das formas discursivas reais para o
apuramento de formas mais elementares ou tipos relativamente estáveis de sequências,
disponíveis para entrarem num número infinito de combinações.
Aquilo que Adam descreve são protótipos textuais (narrativo, descritivo,
argumentativo, expositivo, injuntivo, dialogal), ou seja, agregados de regularidades do
processo de textualização.
Se dermos como equivalentes os termos protótipos textuais e tipos de texto, então
temos de reconhecer que raramente um discurso real — efe(c)tivamente produzido num
contexto situacional efe(c)tivo — corresponde integralmente a uma tipologia. Talvez
alguns textos técnicos (a circular, o aviso, a convocatória, etc.) sejam
composicionalmente homogéneos. A regra é a heterogeneidade: o sermão tem
sequências argumentativas e sequências narrativas; o discurso publicitário tem
descrição e argumentação; o romance tem narração e descrição, etc.
1
ADAM, Jean-Michel 1992 – Les Textes: Types et Prototypes, Paris, Nathan.
3. Compare-se:
a) Boticário: perfume que vem das flores.
b) UDACA: vinho que vem das uvas.
c) «Bazar»: palavra que vem do persa.
Em a) temos uma sequência descritiva com função argumentativa; esta função resulta
de se contrariar uma base pressuposicional forte – a de que os perfumes são feitos,
para além da destilação de flores, de substâncias sintéticas, álcool, fixador, etc; desta
maneira é focada a pureza do perfume que conduzirá à conclusão: «comprar o produto
é bom para si».
Em b) temos também um texto descritivo, mas a função argumentativa não funciona,
porque, à partida, não há a pressuposição de que o vinho pode ser feito de algo que
não seja de uvas.
Em c) temos um texto descritivo num discurso com função descritiva.
4. O exemplo a) – Boticário: o perfume que vem das flores – não é uma sequência
injuntiva/instrucional, dado que não tem características formais típicas dessa sequência
(os imperativos, os circunstanciais de fim, a enumeração de procedimentos não estão
lá) e também não tem função discursiva injuntiva ou instrucional dado que lhe falta o
cará(c)ter impositivo/obrigatório afe(c)to aos procedimentos visados (neste caso, a
compra do produto).
in Ciberdúvidas