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S E Ç Ã O D E T E X TO S G E OT E M Á T I C O S E M P D F
O Brasil e a África
Ao olhar para um mapa-mundi nos haveria, há cerca de 600 milhões de deriva continental, e assim foi posta de explicar o mecanismo-motor que faz
chama a atenção a semelhança entre as anos, um único supercontinente, ao lado pela ciência. A partir dos anos movimentar os continentes e os
linhas de costa do Brasil e da África, qual deu-se o nome de PANGEA. A 60 foram fundos oceânicos. A velha Deriva
que parecem encaixarem-se per- partir de 200 milhões de anos esse intro- Continental de Wegener começa en-
feitamente. Surge então a inevitável supercontinente se fragmenta em tão, fazer parte de uma teoria maior e
pergunta: teriam sido estas terras duas partes: LAURÁSIA ao muito mais elegante, a TECTÔNICA
unidas no passado e depois sepa- norte e GONDWANA ao sul. DE PLACAS.
radas? Certamente sim! Mas este foi Laurásia e Gondwana con- O termo vem do grego tekton,
um processo que levou milhões e tinuam se dividindo em “construtor”, denominando assim os
milhões de anos, e que continua ainda partes menores que se processos pelos quais são construídas
hoje, mas numa velocidade lenta deslocam gradativamente as placas continentais e oceânicas.
demais para a nossa precepção huma- até a configuração da Pode-se afirmar sem exagero, que esta
na. Este deslocamento de continentes geografia conhecida hoje. foi uma das maiores conquistas na
é por demais evidente aqui no Wegener argumentou sua história da ciência, que possibilitou
Atlântico Sul, mas também ocorreu e teoria não apenas na uma compreensão mais abrangente da
ocorre em todos os cantos do mundo, similaridade de contornos dinâmica terrestre, e abriu os ca-
modelando continuamente a geografia que observamos nos mapas minhos para pensar a geologia em
do planeta Terra. Quando se formou, a de todas as regiões do globo, escala mundial. Vamos examinar nas
Terra era um agregado de material mas principalmente nas evi- ilustrações seguintes o que é
fundido, cuja superfície começou dências fósseis e na correlação duzidas exatamente a Tectônica de Placas e
lentamente a esfriar, originando uma entre as estruturas geológicas técnicas como ela explica a deriva dos
crosta rochosa primitiva. Em 1915, o encontradas nos diversos continentes inovadoras para continentes, através de princípios
cientista alemão Alfred Wegener (Página 2). A teoria de Wegener prospecção e rastreamento dos oce- simples e coerentes com as obser-
apresentou a teoria da DERIVA contudo, não explicava satisfatória- anos, possibilitando aos cientistas vações efetuadas pelas geociências.
CONTINENTAL, segundo a qual mente as causas e os movimentos da
1 2
3
A bola de bilhar (figura 1) é um bom Uma bola de futebol (figura 2) é um Os gomos da bola estão firmemente guarde bem esses nomes. Por estarem
exemplo de tudo aquilo que a Terra exemplo mais interessante, mas ainda costurados. As placas tectônicas, ao relacionadas aos eventos geotectô-
não é, ou seja, uma esfera sólida assim muito longe da realidade. Os contrário, “flutuam “ sobre a camada nicos que ocorrem em nosso
contínua, lisa, e constituída por um gomos pentagonais que formam a do manto superior, ou Astenosfera, e continente, voltaremos a falar sobre
único material. Já vimos na página bola, poderiam ser comparados se deslocam sobre ela, ora afastando- elas mais adiante.
anterior que a estrutura da Terra grosseiramente aos grandes gomos se umas das outras (e alargando os O retângulo tracejado na ilustração,
apresenta camadas aproximadamente (pedaços) irregulares que formam a espaços oceânicos que as separam), mostra uma área que será vista em
concêntricas e de constituição química crosta terrestre, os quais foram ora colidindo entre si (elevando corte com mais detalhes, na página 6.
diversa. Cada um de nós sabe tam- chamados mais apropriadamente de grandes cadeias montanhosas, em Antes disso, na sequência, vamos
bém, por experiência própria, que sua PLACAS TECTÔNICAS. A figura 3 função dessa colisão, como os examinar como as placas tectônicas se
superfície é bastande acidentada, com ilustra o globo terrestre com os con- Himalaias e os Andes). distribuem por todo o globo.
montanhas, vales, planícies, rios, tornos destas placas, a partir de um Observe na figura 3 a Placa Sul
mares etc. ponto de vista do Hemisfério Sul. Americana e a Placa de Nazca, e
O mapa mostra a distribuição geográfica das placas placas colidem entre si) ao oeste, com a Placa de terremotos que ameaçam as cidades de São
tectônicas na Terra. As linhas vermelhas contínuas Nazca. No Hemisfério Norte, a Placa Norte Francisco e Los Angeles. Observe no mapa que o
marcam os limites das placas. As setas indicam o Americana mantem um limite divergente em Japão encontra-se numa área de confluência de
deslocamento da placa nos seus limites,em relação relação `a Placa Eurasiana, e um limite de placa quatro placas tectônicas: Placas Eurasiana, Norte
`a placa vizinha. Assim por exemplo, a Placa Sul transformante com a Placa Pacífica, ou em outras Americana, Pacífica e Filipina. A área conhecida
Americana mantem um limite de tipo divergente palavras, as duas placas se deslocam paralela- como Círculo de Fogo (em lilás), está associada `a
(as placas se afastam uma da outra) ao leste, com a mente mas em sentidos opostos, sendo esta a causa maior concentração de atividade sísmica e
Placa Africana, e um limite de tipo convergente (as da conhecida Falha de San Andreas e dos vulcanismo no planeta.
A teoria da Tectônica de
Placas nos apresenta um
modelo bem consistente pa-
ra explicar a dinâmica da 5
Terra, como representado
neste corte tranversal desde 4
a África até América do Sul.
As placas da litosfera se des-
locam sobre a Astenosfera
(manto superior), camada 2
parcialmente fundida e dúc- 3
til. Acompanhe abaixo as
descriçoes numeradas para 1
entender este mecanismo.
Supõe-se que ocorrem lentos movi- de todo o contorno ocidental do por fraturas e fendas na zona de vermelho, na região centro-norte do
mentos de convecção (1) no interior continente sul americano. Porções rompimento entre as placas, derra- diagrama), que divide ao meio o
do manto, que no decurso do tempo inferiores da Placa de Nazca (3) mando-se na superfície na forma de Oceano Atlântico desde o sul até o
geológico vão empurrando as placas mergulham por debaixo da Placa Sul lava basáltica (5). Esse derrame de norte, separando simetricamente as
da litosfera (crosta) e deslocando-as Americana e são destruídas no lava se dá em ambos os lados da placas Sul Americana e Africana, e no
vagarosamente de suas posições. A manto. O retângulo tracejado em linha divisória entre as placas, Hemisfério Norte as placas Norte
Placa de Nazca (porção do Oceano branco refere-se ao diagrama da formando ilhas e um novo assoalho Americana e Eurasiana .
Pacífico a oeste da América do Sul) e página oito, onde veremos mais de- oceânico na medida em que as placas Na próxima página vamos ver como
a Placa Sul Americana, se deslocam talhes desse encontro de placas. vão se afastando, e gerando essa dorsal mesoceânica se distribui
em sentido convergente (2), coli- No extremo oposto quando as placas estruturas em relevo, ao longo dessa pelo Oceano Atlântico.
dindo uma com a outra. O resultado tem deslocamento divergente (4), linha, chamadas de dorsais meso-
dessa colisão gigantesca é a elevação afastando-se uma da outra, o ceânicas, como a extensa Dorsal
da Cordilheira dos Andes ao longo material fundido da Astenosfera sobe Mesoatlântica (linha tracejada em ver
A Placa de Nazca é formada pela magma, onde ela é destruída. É nessa mineralógicas, que a crosta conti- ano, em média. Fazendo a conta, para
crosta oceânica na porção oriental do zona que ocorrem os focos dos nental tem menor densidade que a a taxa mais lenta, teríamos uma deri-
Oceano Pacífico desde a América grandes e frequentes terremotos que oceânica, e sendo portanto mais leve va de 500 quilômetras a cada inter-
Central até quase o extremo sul do abalam o Chile, Peru e Equador. A tende a ficar mais elevada em relação valo de tempo de 10 milhões de anos.
continente. A Placa Sul Americana interseção entre o plano de mergulho `a outra. Considerando que a evolução das
abrange toda a América do Sul mais a da Placa de Nazca com o plano da Não custa lembrar que estes pro- formas de vida também exige um
parte ocidental da crosta oceânica do Placa Sul Americana forma uma cessos geotectônicos se realizam nu- longo período de tempo da mesma
Atlântico Sul. O choque destas duas extensa fossa submarina ao largo da ma escala de tempo que se conta em proporção, fica fácil entender que a
placas desenha o contorno oeste do costa do Pacífico, conhecida como milhões de anos, e que não assim transformação dos ambientes geo-
continente sul-americano. Fossa Peruano-Chilena. percebidos pela breve história do ser gráficos tem um interferência deter-
Observe que a crosta oceânica da Observe também que a crosta oce- humano. Através de técnicas mo- minante na evolução e distribuição
Placa de Nazca (em verde) mergulha ânica é menos espessa que a crosta dernas de GPS, tem se calculado a da diversidade biológica no planeta
sob a crosta continental da Placa Sul continental. Também podemos dizer velocidade de deslocamento de Terra.
Americana em direção ao manto de por suas composições químicas e placas. Variam de 5 cm a 15 cm por
Equador
CR
O
ST
MANTO
A
NÚCLEO
IA
RÁS
LAU
FRAGMENTAÇÃO
GONDWANA
ESTRUTURA DA TERRA
P A N G E A