Professional Documents
Culture Documents
RESUMO:
Programas voluntários de gestão ambiental têm se tornado uma ferramenta importante para a
diminuição dos impactos nocivos ao meio ambiente. Tanto indústrias quanto empresas de outros
segmentos têm implementado programas de Gestão Ambiental com propósitos de preservação e
melhoria de sua imagem corporativa perante a sociedade, órgãos reguladores, imprensa e
investidores internacionais. Este artigo examina as posições sobre economia e meio ambiente e
sua interface com as organizações empresariais. Mostra alguns tipos de gerenciamento
ambiental dando ênfase à ISO 14000, suas vantagens e os aspectos problemáticos de
implementação. Enfatiza a importância do envolvimento da variável ambiental nos processos
organizacionais.
PALAVRAS-CHAVE:
Programas voluntários; meio ambiente; gerenciamento; ISO 14000.
ABSTRACT:
Enviromental management self-regulation programs have become an important tool for the
reduce of bad impacts to the environment. Industries, division companies and the like, have
introduced codes of environmental management with preservation purposes and improvement of
their corporate image with the society, regulation agencies, press and international invest. This
paper examines the positions about economy and environment and also their interface with the
companies; it shows some kinds of environmental management with emphasis to ISO 14000, the
gains and the problematic aspects of the implementation. It emphasises the importance of the
environmental variable in the company organizational process.
KEY WORDS
Self-regulation; environmental; management; ISO 14000.
MAIO/2002
2
INTRODUÇÃO:
A tendência atual nos mostra caminhos que levam à melhoria no desempenho ambiental
das operações realizadas por empresas em todos os segmentos. Não só as indústrias estão
preocupadas em manter os padrões ambientais, o envolvimento passa a ser geral e influencia
desde empresas prestadoras de serviços até grandes parques industriais (Nash & Ehrenfeld; 1997:
487). Com isso, o presente artigo foi desenvolvido com o objetivo de estudar os programas de
Gestão Ambiental 1 que foram ou estão sendo utilizados pelas organizações em caráter preventivo
e voluntário com vistas promover a diminuição dos impactos ambientais.
Apesar de alguns programas envolverem o estabelecimento de políticas de Meio
Ambiente 2 , estaremos analisando aqueles que são implementados sem o envolvimento de
organismos ou instituições do Estado. Iremos focalizar os elementos básicos dos sistemas de
responsabilidade ambiental, principalmente a implementação de programas com base nas normas
ISO 14000, como estas podem ajudar uma empresa a gerenciar, medir e melhorar os aspectos
ambientais de suas operações e quais são os pontos de estrangulamento de tal implementação.
É necessário portanto, apresentar uma noção conceitual preliminar afim de estabelecer o
contexto para a Gestão Ambiental e posteriormente oferecer elementos que favoreçam a
construção de um sistema para ajudar a compreensão dos modelos propostos focalizando a
implementação da ISO 14000.
A premissa básica é que uma mudança de paradigmas nas empresas, adotando normas de
Gestão Ambiental, levará indiretamente à melhoria no desempenho ambiental, bem como
melhoria nos negócios da empresa gerada por maior confiança por parte do público, empregados,
acionistas, mercado, instituições financeiras e grupos ecológicos.
1
Gestão Ambiental: Um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam
reduzir e controlar impactos causados pela ação do homem sobre o meio ambiente.
2
Instrumentos regulatórios de Comando e Controle: referem-se a instrumentos de políticas públicas que são
estabelecidos e inspecionados pelo Governo.
3
No final dos anos 60 e início dos anos 70, começaram a ocorrer mudanças significativas
nos ambientes empresariais: organizações que eram consideradas somente como instituições
econômicas com preocupações voltadas para a produção e distribuição dos produtos por ela
produzidos, vivenciaram o surgimento de novos paradigmas como: combinação de ciência e
tecnologia em busca de padrões aceitáveis de degradação ambiental e aspectos sociais e políticos
influenciando o ambiente dos negócios (Donaire; 1999:13).
Na “antiga” abordagem tradicional a organização com enfoque estritamente econômico
buscava somente a maximização dos lucros e minimização de custos, sem se ater a aspectos
relativos ao contexto ambiental no qual estavam inseridas. Acarretando com isso alguns efeitos
indesejáveis à comunidade, representando um alto custo social para todos.
É necessário considerar que o desenvolvimento gera impactos tanto na atividade
econômica como no meio ambiente, pois, “o funcionamento do sistema econômico requer a
extração do meio ambiente de recursos naturais essenciais, que são transformados em bens e
serviços, que, em última instância são consumidos. E tanto a produção como o consumo geram
resíduos, dejetos, boa parte dos quais acaba sendo devolvido ao meio ambiente” (Mueller;2000:
28). Hoje, não podemos mais descartar as influências do ambiente externo nos processos
empresariais. A emergente relação entre sociedade e ecologia, requer a incorporação de novos
valores nos procedimentos industriais e administrativos das organizações. Além disso, os
veículos de comunicação e o público em geral têm estado mais atentos ao posicionamento das
empresas no tocante ao cumprimento de leis e regulamentos que tentam melhorar o padrão
ambiental.
Esta pressão tem levado as empresas a implementarem programas de Gestão Ambiental
em busca de maior comprometimento ético e responsabilidade social em sua atuação, buscando
se adequar às mudanças e diminuir os impactos causados ao meio ambiente sem com isso
comprometer sua competitividade.
A onda que leva a maioria das empresas a adotar práticas ambientalmente corretas, não
decorre somente do modismo ambiental atual, nem das pressões dos órgãos reguladores ou
consumidores.
4
Decorre sim, da análise de que a adoção destas medidas são rentáveis à empresa, proporcionando
acesso a mercados intermediários, empréstimos e melhorando a cotação de suas ações devido a
demanda por produtos ambientalmente corretos. Ainda, o somatório dos benefícios gerados pelos
programas ambientais são maiores em relação a seus custos.
Devido a estes aspectos, a integração das questões ambientais na empresa e sua aceitação
pela comunidade dos negócios tornam-se cada vez mais prioridade de ação nas organizações.
3
É um sistema que não intercambia nem matéria nem energia com seu meio externo.
4
Conforme Mueller, 2000 pg. 48: Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que garante o atendimento das
necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender suas necessidades.
5
O relatório da Brundtland Comission, de 1.987, intitulado Nosso Futuro Comum trata justamente
do equilíbrio do crescimento econômico com a proteção ambiental. Envolvendo a implementação
da prevenção à poluição, redução do uso de substâncias tóxicas e do desperdício e a
desaceleração do uso de recursos não renováveis. Na verdade o equilíbrio entre economia e meio
ambiente é o maior desafio para as próximas décadas, e necessitará da cooperação de governos,
sociedade e organizações para que possamos vislumbrar melhorias na conservação ambiental.
A moldura conceitual para a avaliação da economia ambiental, se baseia nas principais
correntes econômicas da atualidade que tem diferentes ênfases entre si e abordam as três
dimensões essenciais do desenvolvimento sustentável, porém existem diferenças entre as
hipóteses ambientais que adotam. (Donaire; 1999:40-49)
Enfim, as teorias têm suas limitações e contribuições, e, é evidente que o celeuma em
torno dos estudos sobre economia e meio ambiente continuará, motivado por questões técnicas e
interesses políticos e econômicos. No entanto, nossa posição como pesquisadores se coaduna
com as tendências do conhecimento científico atual.
5
Exemplos: fornecimento de informações; tradição comunitária e comunal; comportamento pró-ativo (empresas que
procuram ter uma relação harmoniosa com o meio ambiente); educação ambiental e publicidade.
6
Zoneamento; licenciamento; legislação; avaliação de impactos ambientais e outros.
7
Taxas; impostos; subsídios; depósitos reembolsáveis etc.
6
Apesar das divergências entre os instrumentos, todos estarão em busca de um mesmo objetivo
que é alcançar a sustentabilidade ambiental, pressionados por interesses diversos: padrões
ambientais cada vez mais exigentes; pressões de grupos ecológicos; órgãos legais e
regulamentadores; clientes; concorrentes; empregados e também pela exigência de alguns
investidores e financiadores. (Nash & Ehrenfeld; 1997:488)
Estaremos neste artigo, tratando especificamente do instrumento de persuasão –
Comportamento pró ativo – com enfoque empresarial, que se baseia na criação de uma política
ambiental interna, com o estabelecimento de objetivos e alvos para a implementação de
programas com o intuito de atingir estes objetivos e monitorar ou medir sua eficácia através dos
resultados, para posteriormente corrigir os problemas detectados com o intuito de melhorar cada
vez mais o desempenho ambiental geral da organização. (Tibor & Feldman; 1996:20)
Empresas de todo o mundo, desde multinacionais às pequenas e médias empresas de todos
os setores de indústria e serviços, públicas ou privadas, estão preocupadas em avaliar
sistematicamente os impactos ambientais de suas atividades, devido às drásticas transformações
nos processos industriais nos últimos anos. Tanto no que tange às formas de organização de
trabalho, quanto aos processos de produção propriamente ditos. O impacto ambiental destas
organizações, industriais ou não, e o estilo de vida modernos se tornaram uma questão
importante para a sociedade como um todo, e aquelas que não se enquadrarem poderão se tornar
menos competitivas num mercado de concorrência cada vez mais acirrada.
A forma e a intensidade da responsabilidade ambiental são diferentes entre países e
empresas, que resulta da pressão exercida pelo movimento ambientalista e da política ambiental
adotada pelos diferentes governos. O grau de interface com a variável ecológica dependerá do
ramo de atividade da empresa, seu tamanho, tipo de capital e localização. (Maimon; 1998:400).
Contudo, pode-se dizer que a responsabilidade ambiental nas empresas é desigual, independente
de ser aplicada nos países desenvolvidos ou terceiro mundistas.
“Até a década de 70, as empresas dos países desenvolvidos limitavam-se a evitar
acidentes locais e seguir as normas impostas pelos órgãos governamentais”. (Cavalcanti; 1999).
Nesta época ocorreram os dois choques do petróleo, 1973 e 1979, e as indústrias passaram a
reavaliar seus processos de produção, pois, estavam sendo pressionadas a incorporar
equipamentos de despoluição. Somente a partir da década de 80 a postura ambiental reativa
começa a fazer parte dos planos empresariais, passando por mudanças significativas.
7
8
Postura totalmente capitalista, onde a firma não dá importância às relações com o meio ambiente e a sociedade em
que está inserida, almejando obter benefícios, independente dos estragos que possa vir a causar.
8
9
BRITSH STANDARD INSTITUTE, que emitiu a norma BS 7750, que foi preparada pelo Comitê de Política de
Normalização Ambiental e da Poluição da Inglaterra, tomada como referencial por outros países.
10
ISO 9000: conjunto de 05 normas que possuem relação com a gestão da qualidade nas empresas.
11
Maiores informações sobre as normas da série ISO 14000 ver TIBOR E FELDMAN (1996) pg. 62 e 63.
11
12
Maiores informações sobre as conseqüências econômicas da aplicação da ISO 14000 em países desenvolvidos e
no caso Brasileiro ver trabalho de NOGUEIRA e VIANA.
12
Podemos destacar, neste caso, a questão dos custos que envolvem a implementação da
ISO 14000, pois, este programa pode ser oneroso e seus custos se tornam mais críticos quando
tratam-se de empresas de pequeno e médio porte. O tempo e o custo de uma certificação podem
representar um preço muito alto, impondo uma barreira comercial a essas empresas. A solução
seria implementar programas de forma gradual até atingir os níveis mais sofisticados.
Outro problema das normas internacionais é que estas podem criar possíveis barreiras
comerciais não-tarifárias, vindo a prejudicar o desempenho dos países em desenvolvimento.
Entretanto, isto é uma possibilidade que acontecerá se o programa for utilizado de forma
inadequada, pois seu objetivo é o oposto: “facilitar o comércio e minimizar as barreiras
comerciais através da alavancagem da participação”. (Tibor & Feldman; 1996:34).
Apesar das preocupações acima descritas, as organizações estão se conscientizando cada
vez mais das oportunidades competitivas da implementação dos programas de Gestão Ambiental,
devido a melhora na eficiência operacional e a obtenção de um Meio Ambiente mais preservado.
CONCLUSÃO:
Este artigo sugere que programas de gestão ambiental, como instrumentos voluntários,
incluem elementos que podem estabelecer uma conexão entre pessoas interessadas em obter
atividades favoráveis ao meio ambiente e organizações empresariais. Estes programas aumentam
o senso de gerenciamento e responsabilidade ambiental das empresas que os implementam,
através da combinação de fatores que proporcionam melhor prática ambiental.
Programas de gestão tem ajudado a institucionalização de novas práticas empresariais
voltadas a mudança de atitude e consciência ambiental. Entretanto, velhas atitudes sobre
responsabilidade ambiental e a relação com a comunidade ainda persistem, porém novos
paradigmas estão se tornando tão fortes que as empresas que não se adaptarem, poderão se ver
em situações difíceis para se manter no mercado.
Os modelos de gestão aqui apresentados, resumidamente, representam instrumentos e
técnicas que, de forma integrada, podem constituir um suporte ao gerenciamento ambiental em
qualquer organização, porém os detalhes, a forma e a interação entre os instrumentos e técnicas
devem ser aplicados atentando para as particularidades de cada organização.
14
BIBLIOGRAFIA:
DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2º ed. São Paulo: Atlas, 1999
FOLMER, Henk e Tom TIETENBERG (Eds). The International Yearbook of Environmental and
Resource Economics. 1999/2000. Reino Unido e Estados Unidos: Edward Elgar, 1999. Cap. 07,
pp. 273-306
MUELLER, Charles C. Manual de Economia do Meio Ambiente. Versão preliminar. Brasília DF:
NEPAMA, 2000
16
NOGUEIRA, Jorge M. e Ana Carolina VIANA. ISO 14000, Comércio Internacional e Meio
Ambiente. Brasília: NEPAMA, 1999.
SEGERSON, Kathleen and LI, Na. Yearbook of environmental and resource economics.
1999/2000.
VALLE, Cyro Eyer do, Qualidade ambiental: como ser competitivo protegendo o meio ambiente.
São Paulo: Pioneira, 1997.
TIBOR, Tom & Ira FELDMAN. ISO 14000: Um guia para as novas normas de gestão
ambiental. Tradução: Bazan Tecnologia e Lingüística. São Paulo: Futura, 1996.