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Aprender com bons exemplos é uma estratégia que costuma dar resultado, por isso publicamos redações que
receberam notas altas no concurso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no Exame Nacional do
Ensino Médio. Confira abaixo os textos e as análises da professora de redação Hilaine Gregis e da
coordenadora de Redação do Grupo Unificado, Luisa Canella.
Análise: É objetivo, segue todos os passos com pertinência e apresenta uma abordagem com um vocabulário
simples. O título é criativo, intrigante e merece destaque. Isso demonstra um planejamento, pois desde o
início ele já sabia aonde chegar.A inserção da palavra “desanimador”no primeiro parágrafo demonstra a
defesa de um ponto de vista. Há interpretação de dados: a banca fala 1.048 e densidade 13,44 e ele interpreta
72% e 62%. Soube interpretar a tabela e jogar esse dado no desenvolvimento dele. Outra coisa que chama a
atenção é a organização de parágrafo. Quando ele cita Durkheim, mostra que é leitor e que tem domínio da
obra ao fazer uma comparação com o comportamento da sociedade. Ele faz pequenas conclusões a cada
parágrafo, o que ajuda a encadear os pensamentos até chegar a uma conclusão geral. Quando diz que a
profissão de professor tem de ter algum atrativo para que os jovens queiram exercê-la, mostra que é uma
argumentação inteligente e não tem nada de ingênua.
Análise: Apesar de haver algumas repetições de palavras, a redação está simples, correta e comportada,
obedecendo aos critérios da banca. Ela se sai bem em expressão, pois não tem qualquer erro gramatical. Faz
boa relação entre os parágrafos e tem coesão textual. Há apenas um parágrafo de desenvolvimento, onde
aprofunda o que ela se propôs no início. Ou seja, é pertinente e tem clareza na exposição das ideias. Faz uma
conclusão sugerindo uma proposta de intervenção social adequada, dizendo que, em casa, a família tem a
incumbência de mostrar à criança que o trabalho é o caminho.
“A sociedade vive a era das transformações, inclusive no que diz respeito às profissões almejadas pelos
jovens. Enquanto, há décadas, o sonho de ser professor povoava o imaginário de muitos, atualmente, essa
idéia nem sequer é cogitada pela maioria dos jovens. Posto que muitos fatores entrem no cômputo dessa
nova realidade, a falta de valorização financeira e a ausência de “status” social figuram entre os empecilhos
apontados por quem não se vê exercendo a docência.
O ato de ensinar, transmitindo conhecimento, é uma das ações mais antigas desde o surgimento da vida em
sociedade. Contudo, esse ofício tem sido cada vez menos almejado pelos jovens. Essa é a conclusão à que
chegou a Fundação Carlos Chagas após uma pesquisa realizada com cerca de 1500 jovens concluintes do
Ensino Médio em 2009. O que outrora era um desejo de grande parte dos brasileiros _ ser professor – hoje
não é mais nem levado em consideração no momento da escolha profissional por 67% dos entrevistados.
Essa mudança de rumos já era notada pelas escolas nas quais há a falta desses profissionais nos mercados de
trabalho; porém, a existência de números concretos parece mais aterradora. Para que possamos entender um
dos porquês dessa nova realidade, é importante olharmos para a política econômica que está mundialmente
instituída: o capitalismo da sociedade de consumo. Vivemos tempos em que a pessoa tem sua importância
mensurada por aquilo que ela consegue adquirir de bens materiais. Nesse contexto, o sonho profissional de
muitos jovens se volta a atividades bem-remuneradas, que gerem retorno financeiro e que permitam esse
consumismo que o capitalismo introjeta nos indivíduos por meio da associação de felicidade a consumo.
Haja vista a remuneração precária que a docência recebe, fica claro que a barreira financeira tem grande
influência para os que rechaçam essa opção profissional.
Reforçando a veracidade da pesquisa apontada acima, temos ainda as estatísticas do número de inscritos nos
vestibulares da UFRGS em cursos de licenciatura: houve diminuição no número de candidatos quando
comparados os anos de 2005 a 2011. No entanto, quando o assunto é o topo da lista de carreiras mais
procuradas, o curso campeão segue inalterado – medicina. Esse fato demonstra a importância atribuída à
questão do “status” social na escolha profissional. A nossa sociedade deixou de valorizar o trabalho do
professor em detrimento de outras profissões consideradas mais nobres e, conseqüentemente, mais
admiradas. Todavia, o que muitos jovens buscam é justamente a admiração dessas comunidades que o
cercam, como se fosse uma espécie de aceitação nesse grande grupo. Uma vez que o magistério não desperte
essa admiração, ele é deixado de lado e suplantado por outras profissões que despertem esse sentimento.
Dessa forma, o desprestígio no qual se encontra a docência é resultado de uma sociedade que está em rápida
modificação e que exige cada vez mais poder de consumo, dando em troca sua admiração e apreço.
Entretanto, é preciso que essa mesma sociedade entenda que o professor é o alicerce que permite que todas
as outras profissões se desenvolvam. Assim, para que a docência volte a ser atraente, é necessário um plano
de carreira para o magistério, que inclua uma remuneração digna e, de fato, uma valorização profissional.”
Cátia Scherer Hoppen, 31 anos, nota 23,64 no concurso da UFRGS. Ela passou para Medicina e ficou em
86° lugar
Análise: Fala que o trabalho sofreu essa evolução da escravidão até uma visão de dignidade que se tem, mas
mesmo assim não é perfeita. Mostra uma visão clara do tema e da sociedade e obediência à valorização dos
direitos humanos. Vocabulário excelente para um aluno que está saindo do Ensino Médio. É comum o
aluno falar em “desde os primórdios” para se referir a algo que ocorre há séculos. Ele fez diferente. O fato
de ter citado a história, contextualizando o Egito e a Idade Média, contou pontos a favor dele. Seria um bom
texto para a UFRGS também.