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Capítulo 3
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
As bacias de drenagem de Monte Novo e Divor, de muito menores dimensões, têm uma
composição geológica muito menos variada, o que por si só explica a maior homogeneidade
granulométrica, mineralógica e química dos materiais depositados nas albufeiras. Em virtude das
duas bacias serem contíguas, as formações geológicas que afloram são fundamentalmente as
mesmas, com maior variedade litológica para a bacia de maiores dimensões, a de Monte Novo.
Nestas formações estão incluídos: (1) o complexo vulcano-sedimentar de Moura-Santo Aleixo,
constituíd o por xistos sericito-cloríticos por vezes bastante siliciosos e xistos quartzo-
feldspáticos, associados a metavulcanitos básicos e ácidos, (2) rochas granitóides de composição
calco-alcalina, de natureza tonalítica, granodiorítica e granítica e (3) depósitos de cobertura de
fácies continental, de idade miocénica e plio-plistocénica, constítuidos principalmente por
materiais de origem detrítica. Nas duas bacias, embora a litologia enquadrante seja idêntica,
existem diferenças consideráveis na natureza das formações onde se encaixam as albufeiras: Monte
Novo está implantado em xistos sericito-cloríticos e Divor em vulcanitos básicos.
Sob o ponto de vista paleogeográfico e tectónico, as bacias de drenagem das três albufeiras
em estudo inserem-se maioritariamente na Zona de Ossa Morena. A bacia da albufeira do
Maranhão tem como limite Norte a Formação de Quartzito Armoricano pertencente ao bordo
Sudeste da Zona Centro Ibérica e termina a Oeste por uma estreita faixa pertencente aos
depósitos cenozóicos da Bacia do Baixo Tejo (Fig.3.1).
A Zona de Ossa Morena (ZOM) corresponde a uma das zonas internas do soco varisco
peninSular, cavalgando a Norte a Zona Centro Ibérica (ZCI) através dos cavalgamentos de
Portalegre e de Ferreira do Zêzere e a Sul o Terreno Ofiolítico de Pulo do Lobo, através do
cavalgamento de Ferreira Ficalho. Caracteriza-se por grande heterogeneidade paleogeográfica,
tectónica e metamórfica, sendo possível estabelecer, com base nestas características, vários
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
domínios e sub-domínios (Araújo, 1995). A fig. 3.2 mostra a versão mais actual da divisão em
sectores proposta para a parte portuguesa da ZOM por Oliveira et al. (1991). Estes sectores
representam o prolongamento dos correspondentes domínios mais recentemente estabelecidos
por autores espanhóis (Apalategui et al., 1990 in Oliveira et al., 1992).
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
Legenda
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
20 - Formações Ordovícicas e Silúricas indiferenciadas (xistos negros, liditos, xistos cinzentos, psamitos e
vulcanitos básicos)
21 - Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Estremoz (mármores, vulcanitos ácidos e básicos e rochas
peralcalinas)
22 - Formação Dolomítica (calcários dolomíticos, mármores, conglomerados e vulcanitos ácidos)
23 - Formação de Mares (xistos, grauvaques, chertes negros e vulcanitos ácidos)
iv) ZONA CENTRO-IBÉRICA (ZCI)
24 - Formação do Quartzito Armoricano (quartzitos, conglomerados e xistos)
Fig.3.4 - Enquadramento Geológico das bacias de drenagem das albufeiras de Monte Novo e Divor
(mapa simplificado a partir da Carta Geológica de Portugal na escala 1/500000 dos Serviços
Geológicos de Portugal, 1992.). A incorporação da área estudada no Sector (IV) Montemor-Ficalho
baseou-se nos domínios da ZOM propostos por Oliveira et al. (1991).
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
A Fig. 3.4 representa as formações que afloram nas bacias de drenagem de Monte Novo e
Divor. À semelhança da figura anterior respeitante à albufeira do Maranhão, as duas bacias de
drenagem foram sub-divididas nas bacias hidrográficas das suas principais linhas de água, por
forma a conhecer a proveniência dos materiais sedimentados nos referidos sistemas, face à sua
composição textural, mineralógica e química.- i) Albufeira de Monte Novo: (1) Ribeira de
Bencafete, (2) Ribeira de Machede e (3) Rio Degebe; ii) Albufeira do Divor: (4) Rio Divor, (5)
Ribeira do Penedo e (6) Ribeira da Cruz),
Dada a importância para o estudo da génese dos sedimentos depositados no fundo das três
albufeiras, a composição mineralógica das formações enquadrantes, sempre que disponível na
bibliografia consultada, é apresentada nas tabelas 3.1 e 3.2.
3.1.1.2 Litoestratigrafia
I - Albufeira do Maranhão
Dentro da região estudada, as formações pertencentes a este sector afloram nas bacias
hidrográficas das ribeiras da Seda e de Avis (respectivamente (1) e (3) da figura 3.2).
Este domínio, de idade proterozóica, engloba as formações mais antigas aflorantes na
bacia de drenagem do Maranhão. É sobretudo caracterizado por rochas metamórficas que
aparecem sob condições de médio a alto grau de metamorfismo, constituídas principalmente
por rochas gnáissicas derivadas de rochas vulcânicas e anfibolitos (Quesada et al., 1990).
Estas formações, extremamente deformadas (Quesada et al., 1990), são por vezes
acompanhadas de rochas hiperalcalinas e de maciços granitóides (Oliveira et al., 1991).
Tabela 3.1 - Composição mineralógica das formações enquadrantes da bacia de drenagem da albufeira do
Maranhão. As formações foram agrupadas segundo os domínios propostos por Oliveira et al. (1991):
F.B.M. - Faixa Blastomilonítica, D.A.C-E. - Domínio de Alter do Chão-Elvas, D.E-B. - Domínio de
Estremoz-Barrancos e A.E. - Anticlinal de Estremoz. ZCI - Zona Centro Ibérica, F.C. - Formações de
cobertura, R.I.A. - Rochas intrusivas ácidas, R.I.B.U. - Rochas intrusivas básicas e ultrabásicas. Bacias de
drenagem: 1- Bacia de drenagem da ribeira da Seda, 2- Bacia de drenagem da ribeira de Sarrazola, 3- Bacia
de drenagem da ribeira de Avis e 4- Bacia de drenagem da ribeira de Alcôrrego. Referências bibliográficas:
a- Carvalho (1962), b- Carvalho (1968), c- Gonçalves (1971), d- Gonçalves (1973), e- Gonçalves &
Fernandes (1973), f- Gonçalves & Coelho (1974), g- Gonçalves et al. (1975), h- Gonçalves & Coelho
(1976), i- Carvalho et al. (1980), j- Carvalho & Carvalhosa (1982), k- Carretero et al. (1990), l- Oliveira
et al. (1991), m- Oliveira et al. (1992).
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micáceas muito metamorfizadas, Gonçalves & Fernandes, 1973), arenitos e micaxistos com
algumas intercalações de anfibolitos, níveis carbonatados parcialmente transformados em rochas
calcossilicatadas e micaxistos granatíferos , através dos quais se faz a transição para a Formação
de Mosteiros.
Este domínio, de idade câmbrica inferior - câmbrica média (Gonçalves, 1981, 1982;
Oliveira et al., 1991), engloba formações que afloram nas bacias hidrográficas das ribeiras da
Seda (em pequena proporção relativamente às formações da Faixa Blastomilonítica), de Sarra-
zola (compreendem todo o sector Este desta bacia) e de Avis (ocupam cerca de metade da área
desta bacia, a montante, sendo a restante, a jusante, ocupada por formações pertencentes ao
Domínio de Estremoz - Barrancos) - ver Fig.3.4.
No território português, o limite com o Domínio da Faixa Blastomilonítica faz-se através
do cavalgamento de Alter do Chão, enquanto que o seu limite Sul corresponde ao carreamento da
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(1) Formação Carbonatada (Câmbrico Inferior; bacias hidrográficas das ribeiras da Seda,
Sarrazola e Avis)
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Esta formação, assim designada na Carta Geológica de Portugal na escala 1/500000 (em
publicação), é cartografada segundo Carvalho & Carvalhosa (1982) como um complexo
vulcano-sedimentar, dado incluir formações de diferentes naturezas.
Inicia-se por um nível conglomerático poligénico (com calhaus do soco proterozóico) e
arcoses, que lateralmente passam a vulcanitos ácidos - pórfiros, tufos e brechas vulcânicas
(Carvalho & Carvalhosa, 1982; Oliveira et al., 1991). Associados a estes últimos, distribuem-se
micaxistos normalmente bandados, devido à alternância de faixas quártzicas com outras
essencialmente filíticas (Carvalho & Carvalhosa, 1982). Segue-se espessa série carbonatada,
predominantemente dolomítica (Oliveira et al., 1991, 1992), que forma bancadas em íntima
associação com anfibolitos bandados (bandas ricas em calcite alternantes com bandas ricas em
minerais ferro-magnesianos; Carvalho & Carvalhosa, 1982).
A área onde afloram as rochas carbonatadas foi parcialmente ocupada pelo extenso
complexo plutónico de Alter do Chão (existente apenas nas bacias das ribeiras de Sarrazola e
Avis) estando, por isso, as rochas em grande parte transformadas em corneanas cálcicas
(Gonçalves & Fernandes, 1973).
(2) Formação de Vila Boim (Câmbrico Inferior; bacias hidrográficas das ribeiras de
Sarrazola e Avis)
Esta série está invertida e assenta sobre a Formação Carbonatada, sendo constituída por
uma alternância de arenitos, xistos e grauvaques (do tipo "flysch", Gonçalves, 1971; Oliveira et
al., 1991), nos quais aparecem intercalados basaltos toleíticos continentais e vulcanitos ácidos, do
tipo riolítico e fortemente siliciosos (Mata, 1986; Oliveira et al., 1992; Ribeiro et al., 1992 ).
Esta sequência termina no topo por um horizonte arenitico-conglomerático de composição
essencialmente quartzítica-micácea (Barra Quartzítica), o qual faz a transição para o Complexo
vulcano-sedimentar de Terrugem.
No sector Este da bacia de drenagem da ribeira de Avis, os xistos e grauvaques
apresentam-se mais ou menos metamorfizados pelo maciço granítico de S. Eulália, formando
corneanas e xistos mosqueados (Gonçalves & Coelho, 1974; Gonçalves et al., 1975).
A série vulcano-sedimentar de Terrugem (Gonçalves et al., 1975; Gonçalves, 1978) foi
dividida por J.T. Oliveira et al. (1991) em Formação de Terrugem (3) e Formação de Fatuquedo
(4).
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Constituído por uma sequência terrígena de xistos e psamitos, grauvaques, siltitos e raros
carbonatos, tem intercalados basaltos alcalinos, rochas peralcalinas extrusivas e vulcanitos
ácidos traquíticos e micro-graníticos (Gonçalves, 1978; J.T. Oliveira et al., 1992; Ribeiro et
al., 1992).
(4) Formação de Fatuquedo (Câmbrico Médio; bacias hidrográficas das ribeiras da Seda
(pequena proporção), Sarrazola e Avis)
Tem uma litologia muito idêntica à formação anterior. As únicas diferenças residem na
presença de magnetite nos leitos de psamitos e na ocorrência de conglomerados na parte
superior da sequência.
(1) Formação de Ossa (Câmbrico Médio? - Câmbrico Superior? (Piçarra et al., 1992a;
bacia hidrográfica da ribeira de Alcôrrego)
Na área estudada, esta formação apenas aflora sob a forma de uma pequena mancha no
sector Oeste da bacia hidrográfica da ribeira de Alcôrrego (sub-bacia de menores dimensões dentro
da bacia de drenagem da albufeira do Maranhão).
Através da coluna estratigráfica da figura 3.7 é visível que a Formação de Ossa é
considerada a mais antiga deste sector. É constituída por uma série de xistos e psamitos,
tornando-se em direcção a NW, mais rica em grauvaques (Oliveira et al., 1991). A base
encontra-se marcada por uma extensa faixa de vulcanitos básicos (basaltos alcalinos; Oliveira
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
et al., 1991; Ribeiro et al., 1992) assim como tufos finos a grosseiros e rochas espilíticas
(Piçarra et al., 1992a). Estas intercalações não atingem, no entanto, a área em estudo.
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
laminados (Oliveira et al., 1991; Araújo, 1995). No sector Este, os xistos verdes, que
assinalam o topo desta série xistenta, são atingidos por metamorfismo de contacto pelo maciço
granítico de Santa Eulália que aflora nas proximidades derivando, em alguns locais, em
corneanas e xistos mosqueados (Gonçalves & Coelho, 1974).
(3) Formação da Colorada (Ordovícico Médio-Silúrico Inferior, Perdigão et al., 1982; Oliveira
et al., 1991, 1992; Piçarra et al., 1992 ; bacia hidrográfica da ribeira de Avis)
Sobre os sedimentos da Formação de Barrancos dispõem-se, aparentemente em
passagem gradual, os arenitos, psamitos micáceos, quartzitos, siltitos e pelitos da Formação da
Colorada (Oliveira et al., 1991, 1992) que afloram sob a forma de estreitos e escassos
afloramentos. Na zona de transição entre a Formação da Colorada e o Anticlinal de Estremoz,
os arenitos e os quartzitos vêm associados a conglomerados poligénicos.
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
(1) Formação de Mares (Proterozóico Superior; bacias hidrográficas das ribeiras de Avis
e Alcôrrego)
A sequência litoestratigráfica do Anticlinal de Estremoz inicia-se com a Formação de
Mares, situada na zona axial, atribuída ao Proterozóico Superior e constituída por xistos de
várias naturezas, quartzitos negros, chertes e grauvaques, rochas porfíricas félsicas, etc.
(Carvalhosa, 1987; Oliveira et al., 1991). Esta formação tem intercalações de vulcanitos ácidos
(Ribeiro et al., 1992) e está separada da Formação Dolomítica através de conglomerado de base
(Gonçalves & Coelho, 1974).
(2) Formação Dolomítica (Câmbrico Inferior; bacias hidrográficas das ribeiras de Avis e
Alcôrrego)
Sobre a Formação de Mares assenta em discordância a Formação Dolomítica com mais de
300 m de espessura (Oliveira et al., 1991) constituída por calcários dolomíticos com teores de
óxidos de cálcio e magnésio de cerca de 20 e 35%, respectivamente (Gonçalves & Coelho,
1974). Atribuída ao Câmbrico Inferior, esta formação apresenta na base níveis de metapsamitos,
vulcanitos ácidos e conglomerados lenticulares (Araújo, 1995). Os calcários dolomíticos são
limitados no topo por um horizonte silico-ferruginoso, descontínuo que localmente está
mineralizado com óxidos e Sulfuretos metálicos. Este horizonte tem sido interpretado como
testemunho de uma lacuna estratigráfica (Oliveira et al., 1991, 1992).
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
superior do Proterozóico Superior (Formação da Urra) e apenas aflora sob a forma de uma
estreita faixa que se estende ao longo da margem Norte da bacia hidrográfica da ribeira da Seda.
Esta formação representa uma sucessão transgressiva no início do Ordovícico e tem
várias designações formais de âmbito local (Oliveira et al., 1992). No bordo Sudoeste da ZCI,
único troço representado na bacia de drenagem do Maranhão, a Formação do Quartzito
Armoricano, conhecida por Formação da Serra do Brejo (Oliveira et al., 1992), representa uma
estrutura sinclinal (Gonçalves & Fernandes, 1973) e é constituída por quartzitos e siltitos
com intercalações arcósicas e conglomeráticas na base.
1- Miocénico
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
2- Pliocénico
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
3- Plistocénico
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
As rochas graníticas, as mais comuns, constituem maciços de forma geral orientados, com
alongamento paralelo às estruturas hercínicas, segundo NW-SE (Gonçalves, 1971; Carretero et
al., 1990). Na área em estudo são raras as rochas que apresentam uma orientação não relacionada
com a tectónica regional, pertencendo a este grupo as rochas que constituem o Maciço da Aldeia da
Mata (Gonçalves, 1971), batólito de granitos calcoalcalinos predominantemente biotíticos,
aflorante na ribeira da Seda e contemporâneo da orogenia hercínica.
Os granitos pré-hercínicas envolvem um conjunto de rochas com diferenças de composição,
de génese e de período de instalação (Carretero et al., 1990). Dentro da área estudada, o Maciço
de Portalegre localizado na Faixa Blastomilonítica e aflorante unicamente na bacia de drenagem
da ribeira da Seda, é o único afloramento anterior à orogenia. Este maciço granítico forma uma
mancha de grandes dimensões que, provavelmente ainda se continuará sob os depósitos terciários
situados no bordo NE do granito de Nisa que o intruiu (Ribeiro et al., 1992). É constituído por um
conjunto de rochas alcalinas mais ou menos gnaissificadas do tipo granito alcalino biotítico
(Gonçalves, 1971; Gonçalves & Fernandes, 1973; Gonçalves et al., 1975). Duas das
características mais importantes residem na presença de anfíbola alcalina do tipo riebequite
(Gonçalves et al., 1975, Carretero et al., 1990), a qual, associada à restante composição
mineralógica (tabela 3.1) sugere um plutonismo alcalino ácido (Carretero et al., 1990) e a presença
de um fabric plano-linear bem desenvolvido, em que a textura milonítica é considerada estar
relacionada com a deformação hercínica (Chacon, 1974 in Carretero et al., 1990).
De idade pré-hercínica, para além do Maciço de Portalegre, há a considerar afloramentos
hiperalcalinos com características petrográficas semelhantes, que aparecem associados a algumas
formações proterozóicas (Formações de Campo Maior e de Mosteiros pertencentes à Faixa
Blastomilonítica), câmbricas (calcários dolomíticos e mármores do Sector de Alter do Chão -
Elvas) e silúricas (Formação de xistos negros e liditos nos flancos do anticlinal calcário de
Estremoz), segundo um alinhamento estrutural NW-SE.
Segundo Carretero et al. (1990) a distribuição dos maciços graníticos contemporâneos da
orogenia hercínica está aproximadamente relacionada com a posição das bacias carbónicas, segundo
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
um alinhamento NW-SE. Com excepção do Maciço de Santa Eulália que pertence já a uma fase
pós-hercínica, as restantes intrusões graníticas aflorantes na região em estudo (maciços de Fronteira,
Ervedal, Crato, Aldeia da Mata e Carrascal) são consideradas desta idade. Em quase todos os
maciços, os granitos têm uma composição semelhante, sendo essencialmente biotíticos. Excepção
para o Maciço de Carrascal e para um afloramento de dimensões consideráveis situado junto à
ribeira da Seda, em que o granito é constituído, para além de biotite, por moscovite.
(1) Os maciços de granito biotítico de Santa Eulália, Fronteira e Ervedal (aflorantes na bacia de
drenagem da ribeira de Avis) são, segundo Gonçalves & Fernandes (1973) estruturas de
carácter sub-vulcânico, de aspecto anelar e simetria bilateral. São maciços ácidos de
composição alcalina e calco-alcalina, em que as rochas graníticas que os constituem dispõem-
se em afloramentos circulares, concêntricos, separados por anéis descontínuos de rochas
dioríticas (associadas a gabros no maciço de Santa Eulália), sieníticas e monzoníticas e com
encraves de ortognaisses e brechas eruptivas. O Maciço de S. Eulália, o maciço de maiores
dimensões dentro da área estudada, faz parte de dois dos domínios da ZOM, Faixa
Blastomilonítica e Sector de Alter do Chão - Elvas. Embora sem carácter sub-vulcânico como
os maciços anteriores, o Maciço do Crato tem uma natureza petrográfica idêntica.
(2) No Maciço do Carrascal e num afloramento atravessado pela ribeira da Seda (ambos
aflorantes na bacia de drenagem desta ribeira), o granito é do tipo gnaissico com forte carácter
potássico (Gonçalves & Fernandes, 1973; Carvalho & Carvalhosa, 1982), uma vez que a
moscovite, a par da biotite, entra com teores consideráveis na sua composição. Associados a
estas rochas ocorrem (a) ortognaisses graníticos (semelhantes aos do Maciço de Portalegre) e
rochas dioríticas intrusivas no afloramento da ribeira da Seda (Carvalho & Carvalhosa,
1982) e (b) dioritos, microdioritos, raros sienitos e brechas eruptivas no Maciço do Carrascal
(Gonçalves & Fernandes, 1973).
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
As formações pertencentes a este Sector afloram em cerca de 1/3 da área total das bacias
de drenagem das albufeiras do Monte Novo e Divor. No Monte Novo ocupam uma extensa faixa
central de direcção aproximadamente NNW-SSE a qual, pela sua grande extensão, ocorre nas sub-
bacias das três principais linha de água, (1) Ribeira de Bencafete, (2) Ribeira de Machede e (3) Rio
Degebe. São portanto as formações com mais forte influência na alimentação detrítica da referida
albufeira. Na bacia do Divor correspondem a toda a área de implantação da albufeira, tendo
portanto igualmente uma influência importante na sua sedimentação.
Este Sector, segundo Oliveira et al. (1991), muito semelhante ao que se observa na Faixa
Blastomilonítica e no Anticlinal de Estremoz (com formações aflorantes na bacia de drenagem do
Maranhão), tem uma sequência litoestratigráfica complicada, condicionada por uma evolução
metamórfica complexa e onde se evidenciam 3 fases orogénicas, o que muitas vezes torna difícil,
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
ou mesmo impossível, reconhecer os litótipos originais (Araújo, 1995). Extensas zonas deste
Sector têm evidências de metamorfismo de alta pressão, que atingiu a fácies dos xistos azuis e
eclogítica, seguido de uma retrogradação geral na fácies dos xistos verdes. Este domínio apresenta
abundância de maciços intrusivos hercínicos, predominantemente ácidos no Maciço de Évora e
básicos no Complexo de Beja, considerados globalmente de idade carbónica por Sanchez-
Carretero et al. (1990). Na zona enquadrante das albufeiras de Monte Novo e Divor, apenas há a
considerar as intrusões do Maciço de Évora.
Na figura 3.9 apresenta-se a coluna estratigráfiga geral proposta para este domínio por
Oliveira et al. (1991).
A única formação deste Sector representada nas bacias de drenagem das 2 albufeiras em
estudo é a unidade do topo da sequência,ou seja, a Formação dos Xistos de Moura.
Formação dos Xistos de Moura (Ordovícico (?) - Silúrico; Albufeira de Monte Novo: formação
onde está implantada a albufeira e bacias hidrográficas das ribeiras de Bencafete (1), de Machede (2)
e rio Degebe (3); Albufeira do Divor: formação onde está implantada a albufeira e troço juzante das
ribeiras do Penedo (4) e Divor (5).
Esta designação, muito comum na bibliografia (por ex. Oliveira & Piçarra, 1986;
Carvalhosa et al., 1987; Carvalhosa & Zbyszewski, 1991; Oliveira et al., 1991; Oliveira et al.,
1992 in Araújo, 1995, Carvalhosa, 1999), é também conhecida por Complexo Vulcano-
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
Sedimentar de Moura-Santo Aleixo (Piçarra et al., 1992) ou, mais recentemente, por Complexo
Filonítico de Moura (Araújo et al., 1993a).
A idade deste complexo, muito polémica dada a ausência de informação bioestratigráfica,
foi atribuída sobretudo ao Câmbrico (Carvalhosa, 1983), Ordovícico-Silúrico (?) (Carvalhosa &
Zbyszewski, 1991) e ao Silúrico (Carvalho et al., 1971; Oliveira & Piçarra, 1986).
Esta formação é constituída maioritariamente por xistos luzentes, siliciosos a sericito-
cloríticos, com abundante quartzo de exsudação e por xistos quartzo-feldspáticos, bandados,
associados a metagrauvaques ( Carvalhosa & Zbyszewski, 1991; Araújo, 1995, Carvalhosa,
1999). Todo o complexo corresponde a uma megaestrutura em sinclinal na qual os xistos quartzo-
feldspáticos constituem uma faixa muito extensa que ocupa o núcleo da estrutura. Nestas rochas
o bandado é muito pronunciado e acompanhado de intenso dobramento (Carvalhosa &
Zbyszewski, 1991, Carvalhosa, 1999). Em níveis geometricamente mais baixos, ocorre um nível
de liditos e xistos negros com poucos metros de espessura e em posições geometricamente mais
elevadas, intercalados nos xistos, para além de níveis de liditos e xistos negros, ocorrem
metavulcanitos ácidos e básicos e mesmo calcoxistos e mármores correspondentes a repetições
tectónicas de litologias do Complexo Vulcano-Sedimentar subjacente: Complexo-Vulcano-
Sedimentar de Moura-Ficalho (Araújo, 1995).
Na bacia de drenagem da albufeira de Monte Novo, os xistos sericito-cloríticos constituem
uma importante faixa de direcção aproximada NNW-SSE, limitada das rochas intrusivas por
estreitas bandas de metavulcanitos básicos. É nas rochas filíticas que está implantada toda a
albufeira constituindo, por este motivo, a litologia com maior contribuição para a composição
química, mineralógica e textural dos sedimentos depositados.
Toda a albufeira do Divor está implantada em metavulcanitos básicos, sendo pois de
esperar uma composição mais férrica dos sedimentos depositados. Os xistos apenas afloram
segundo uma pequena mancha, na sub-bacia da Ribeira do Penedo (5), que pela sua pequena
extensão deverá ter uma fraca contribuição mineralógica e geoquímica na sedimentação dos
materiais neste sistema.
Metavulcanitos Básicos
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Metavulcanitos Ácidos
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
(1965) designou por "grês de Moura", formam diversas manchas recortadas e separadas, uma das
quais existente no vale da ribeira de Bencafete.
Nas bacias de drenagem das albufeiras em estudo, as rochas intrusivas estão largamente
representadas, correspondendo a todo o sector Sul, central e Nordeste na albufeira do Divor e
sectores Norte, Este e Oeste na albufeira de Monte Novo.
Os corpos ígneos estão distribuídos segundo alinhamentos magmáticos de direcção NW-
SE, paralelos às estruturas hercínicas, como aliás é comum em toda a ZOM (Carretero et al.,
1990). Segundo os mesmos autores, estes maciços ácidos, globalmente designados por granitóides,
de idade paleozóica, poderão ser contemporâneos da orogenia hercínica.
As rochas aflorantes na área em estudo, de composição calco-alcalina, são
maioritariamente constituídos por tonalitos, seguidos de granodioritos e de pequenas manchas de
granitos.
Os tonalitos, com larga expressão na área estudada, ocupam uma vasta área dos sectores
Norte e Oeste das bacias hidrográficas de Monte Novo e Divor, instalados entre as Formação de
"Xistos de Moura" e os gnaisses migmatíticos, situados fora da referida área. Fazem parte do
Maciço do Divor, maciço muito extenso e alongado, homogéneo, quase exclusivamente de
composição tonalítica (Carvalhosa, 1999). São rochas intermédias, não porfiróides e
habitualmente deformadas, denotando gnaissosidade mais ou menos pronunciada.
As rochas granodioríticas, que ocupam uma importante mancha no sector leste da bacia de
Monte Novo, fazem parte do Maciço eruptivo de S. Miguel de Machede. Este maciço intrusivo,
alongado e concordante com as estruturas regionais, implantou-se ao nível da Formação da Ossa,
em terrenos de grau metamórfico elevado (Carvalhosa et al., 1987). As rochas que constituem este
maciço são predominantemente granodioríticas, intimamente associadas a quartzodioritos e
incluem afloramentos de metassedimentos onde é frequente a fácies corneânica. Em resultado da
intensa deformação, os minerais constituintes destas rochas estão reorientados e recristalizados,
conferindo a estes granitóides uma textura gnáissica, mais ou menos acentuada.
De entre as rochas intrusivas, as rochas graníticas são as que têm menor representação nas
bacias de drenagem das albufeiras em estudo, aflorando apenas segundo pequenas manchas a NE
da albufeira do Divor, na bacia da Ribeira da Cruz (6) e a Norte da bacia do Rio Degebe (3), na
albufeira de Monte Novo. Na área estudada, constituem pequenos afloramentos em associação
com rochas quartzo-dioríticas e granodioríticas e que representam normalmente intrusões sub-
75
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
concordantes com as estruturas tardi-hercínicas. São geralmente granitos de grão médio, biotíticos,
com composição calco-alcalina e que denotam ter sofrido cataclase (Carvalhosa, 1999).
3.1.1.3 Conclusões
I- Albufeira do Maranhão
76
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
77
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
litologias onde estão implantados os referidos sistemas: a albufeira de Monte Novo está
implantada na unidade de xistos sericito-cloríticos da Formação dos "Xistos de Moura",
enquanto que a albufeira do Divor está assente em metavulcanitos básicos de composição
essencialmente anfibolítica. Será pois de esperar uma composição mais Fe-Mg nos
sedimentos depositados nesta última albufeira.
• Os depósitos de cobertura são muito escassos e os que afloram, apenas na bacia da ribeira
de Bencafete na albufeira de Monte Novo, são principalmente depósitos de cascalheira do
tipo "ranha" constituídos por calhaus de quartzo com matriz argilosa rica em elementos
ferruginosos. Face à pequena extensão e à baixa susceptibilidade de erosão e transporte de
materiais desta natureza, não será de esperar um significativo transporte de materiais
grosseiros para o interior de ambos os sistemas, pelo que os sedimentos deverão ter uma
componente granulométrica essencialmente silto-argilosa (e rica em ferro).
• Dada a extensa mancha de formações granitóides em ambas as bacias, deverá existir uma
importante contribuição de elementos alcalinos, com distribuição idêntica nas duas
albufeiras. O cálcio de origem geológica será contudo baixo, pela inexistência de rochas
carbonatadas em toda a zona enquadrante, apenas existindo eventualmente impregnações
calcárias na parte superior dos depósitos do tipo "ranha", referidos no parágrafo anterior.
• Embora exista uma grande homogeneidade na distribuição dos litótipos encaixantes, a
bacia da ribeira de Bencafete na albufeira de Monte Novo, é a que apresenta maior
diversidade geológica, ao englobar formações xistentas, metavulcanitos ácidos e básicos,
rochas ígneas de natureza granodiorítica e depósitos detríticos.
78
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
cobertura são muito escassos, sendo portanto estas últimas unidades, as maiores fontes dos
materiais depositados nas albufeiras. Por todos estes factores, os sedimentos das albufeiras de
Passo Real e Capingüi deverão apresentar grandes variações na composição textural, mineralógica
e química, relativamente aos das albufeiras portuguesas.
As bacias de drenagem das duas albufeiras são maioritariamente constituídas por rochas
basálticas toleíticas de idade jurássica-cretácica (Formação de Serra Geral), sobrepostas por
pequenos afloramentos de rochas detríticas de idade terciária, constituídos por conglomerados e
arenitos conglomeráticos sobre os quais se depositaram formações pouco consolidadas de arenitos
finos a médios, argilosos (Formação de Tupanciretã). As rochas basálticas (basaltos, andesitos
basálticos), provenientes de sucessivos derrames magmáticos do tipo fissural, têm intercalações de
rochas diabásicas e arenitos, com associações de vulcanitos ácidos e intermédios.
Toda a zona em estudo pertence ao sector SE da plataforma Sul-Americana e de entre as
duas unidades elementares que a constituem, Escudo Atlântico, a Este, e Bacia do Paraná, no
sector central e Oeste, inclui-se nesta última (Fig. 3.10).
79
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
Dentro desta grande unidade, as bacias hidrográficas das albufeiras de Passo Real e Capingüi
ocupam um sector limitado por dois arcos, também eles a marcarem o estádio de estabilização e
com lenta movimentação ascendente desde o Silúrico (Schobbenhaus & Almeida Campos,
1984), a Sul, o Arco do Rio Grande do Sul e a Norte, o Arco de Ponta Grossa, ambos com eixo
dirigido para Noroeste, para o interior da bacia (Fig. 3.11).
80
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
Almeida Campos, 1984; Favilla et al., 1998). Na zona estudada, porém, as ocorrências vulcânicas
ácidas são descontínuas e recortadas por processos erosivos. Todo este conjunto constitui a
designada Formação de Serra Geral, datada do Jurássico-Cretácico, a qual pertence ao Grupo de S.
Bento (que engloba todas as formações triásicas-cretácicas da Bacia do Paraná) e que constitui a
quase totalidade das litologias aflorantes nas bacias de drenagem das 2 albufeiras. Esta formação
representa a maior manifestação de vulcanismo conhecida no globo e sob esta designação são
incorporadas todas as lavas de idade mesozóica. Este magmatismo recobre mais de 1200000 Km2
nos Estados do Sul e centro do Brasil, atingindo igualmente o Nordeste do Uruguai e Argentina e o
Sudeste do Paraguai. No entanto, Roisenberg et al. (1980) consideram que durante o período
mesozóico houve manifestações magmáticas de distintos ambientes geotectónicos, os quais
originaram diferentes estilos de evolução. Trabalhos levados a cabo por Moraes et al. (1992)
revelaram o aparecimento de rochas ácidas e intermédias tanto no topo como na base da coluna da
Formação de Serra Geral. Tais ocorrências sugerem que a efusão do magma ácido e intermédio não
representa um evento limitado no tempo e posterior ao magmatismo básico, mas que se manifestou
durante toda a época do magmatismo de Serra Geral. Anteriormente designada pelo termo genérico
de "Basaltos" da Bacia do Paraná, a Formação de Serra Geral tem sido recentemente alvo de estudos
geoquímicos detalhados (Mantovani, 1992; Peate et al., 1992) que permitiram estabelecer
diferenciações várias nas litologias basálticas. Também a grande variedade de tipos de rochas ácidas
e intermédias observadas em pequenas distâncias, aliada à forma dos derrames e topografia da área
de ocorrência, sugerem origem a partir de repetidas efusões de lavas em áreas de vulcanismo do tipo
central (Moraes et al., 1992).
Em áreas da plataforma Sul-Americana que (1) não formaram grandes depressões por
falhamento da região costeira actual, durante a fase de intensa reactivação da plataforma ocorrida
no Meso-Cenozóico e que (2) não foram cobertas por acção de transgressões marinhas, processou-
se uma lenta sedimentação continental, que iniciando-se no final do Cretácico, prosseguiu por todo
o Cenozóico (Schobbenhaus & Almeida Campos, 1984). Em algumas zonas das bacias de
drenagem em estudo, sobre os basaltos toleíticos da Formação de Serra Geral depositaram-se
conglomerados e arenitos conglomeráticos com clastos de natureza basáltica. Sobre estas formações
clásticas depositaram-se arenitos finos a médios, argilosos, que constituem actualmente formações
pouco consolidadas, cobertas por material areno-argiloso não consolidado. Este conjunto
sedimentar constitui a Formação de Tupanciretã, datada do Terciário Inferior e relacionada com
um evento evolutivo da Orogenia Andina (Favilla et al., 1998). Esta formação de sedimentos
clásticos terrígenos predominantemente avermelhados, forma uma faixa de direcção SW-NE que
assenta discordantemente sobre os basaltos (Favilla et., 1998). Na região em estudo, localiza-se
81
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
preferencialmente no sector Oeste da bacia de drenagem da albufeira de Passo Real e forma uma
pequena mancha na zona mais a montante da bacia da albufeira de Capingüi.
Passo Real
Na figura 3.12 (A) e (B) estão representadas as principais formações aflorantes nas bacias
de drenagem das albufeiras de Passo Real e Capingüi. Embora a litologia seja pouco variada e de
distribuição mais ou menos uniforme nos dois sistemas, existem algumas variações nas sub-bacias
das principais linhas de água responsáveis pelo escoamento em cada albufeira.
As bacias de drenagem das duas albufeiras, embora sem grande proximidade geográfica
(aproximadamente 170 km) e com dimensões muito distintas, têm uma geologia enquadrante
idêntica. Em ambas afloram apenas duas formações, Formação de Serra Real, de composição
maioritariamente basáltica e Formação de Tupanciretã, de natureza detrítica. A natureza dos
litótipos onde estão implantadas as albufeiras é, porém, distinta, o que poderá justificar quaisquer
variações químicas e mineralógicas nos sedimentos de fundo; ambos os sistemas estão encaixados
82
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
na Formação de Serra Real, constituída por basaltos toleíticos em Passo Real e vulcanitos ácidos
em Capingüi. Considerando cada bacia hidrográfica, existe uma certa uniformidade litológica nas
sub-bacias responsáveis pelo escoamento, o que terá como consequência uma homogeneidade
granulométrica, mineralógica e química dos materiais depositados ao longo de cada albufeira. Com
base nos mapas anteriores são, contudo, evidentes algumas variações na distribuição dos litótipos,
sendo possível definir zonas de influência distintas:
1. Albufeira de Passo Real: Cada um dos tipos de rochas vulcânicas (básicas e
ácidas/intermédias)apresenta área de ocorrência bem delimitada. O rio Jacui, onde está
implantada a albufeira é uma fronteira natural que demarca aproximadamente o limite entre os
2 tipos (Moraes et al., 1992): as básicas aparecem à direita do rio e as ácidas à esquerda. Os
basaltos do tipo Pitanga-Paranapanema apenas afloram, em pequena extensão, cobertos em
parte pelos arenitos e conglomerados areníticos da Formação de Tupanciretã, nas zonas mais a
montante das sub-bacias situadas a Norte: 2, 3, 4 e 5. A presença desta formação detrítica é
mais evidente no sector Oeste, na sub-bacia 1, onde forma vastos depósitos de cobertura
sobre as formações basálticas do tipo Gramado, chegando muito próximo da margem SW da
albufeira. As rochas vulcânicas ácidas têm a sua zona de alimentação na parte Leste: bacias 6
e 7. A formação com maior influência na alimentação detrítica desta albufeira é a formação
basáltica de Gramado, a qual, para além de constituir o litótipo onde está implantada a
albufeira, é a formação com maior expressão em toda a rede de drenagem.
A génese dos sedimentos depositados no fundo das albufeiras só poderá ser compreendida
se considerarmos (1) a sua composição química e mineralógica, (2) a natureza das formações que
lhes estão na origem e (3) os principais processos de meteorização actuantes face às condições
climáticas prevalecentes. Por forma a facilitar este estudo, a composição mineralógica das
formações que fazem parte das redes de drenagem dos sistemas em estudo, sempre que disponível
na bibliografia consultada, é apresentada na tabela 3.3.
83
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
3.1.2.2 Litoestratigrafia
(a) A zona amigdalóide corresponde à parte superior do derrame, tendo os seus minerais
um papel muito importante na formação do solo, em especial os da família da sílica, que
84
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
85
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
86
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
Embora com algumas variações químicas, as rochas basálticas têm uma composição
mineralógica bastante homogénea, dominada por plagioclases cálcicas e piroxenas (augite,
pigeonite), seguidas em menor quantidade por magnetite, horneblenda, apatite e vidro (Lucas dos
Santos et al., 1984; Menegotto & Gasparetto, 1987, Schenato et al., 1995; Scopel et al., 1995;
Gomes, com. pess., 1999).
Os vulcanitos de filiação ácida variam a sua composição entre os dacitos e riolitos, com
ampla dominância de riodacitos (Menegotto & Gasparetto, 1987; Moraes et al., 1992). É
frequente a presença de vidro vulcânico. Com base nos teores de elementos traço incompatíveis, foi
possível, à semelhança das rochas vulcânicas básicas, distinguir grupos (Chapecó, Palmas) e sub-
grupos (Peate et al., 1992). As vulcânicas ácidas do grupo Palmas, com largo domínio, são as
únicas representadas na área das bacias de drenagem em estudo.
Os riólitos têm uma textura em que os cristais de plagioclase, piroxena, anfíbola e magnetite
estão envolvidos numa matriz micrográfica composta por intercrescimentos de quartzo e feldspato
alcalino (que constituem a maior parte da rocha), segundo Menegotto & Gasparetto (1987) e
Peate et al. (1992). A ocorrência de quartzo restrita apenas à matriz, aponta para uma origem
destas rochas por processos de fusão superficial da crosta (Lucas dos Santos et al., 1982).
O vidro vulcânico, para além de uma composição dominada por vidro, tem diminutos e
dispersos cristais de plagioclase e de piroxena. Também podem ocorrer, em proporções variáveis,
magnetite e quartzo (Menegotto & Gasparetto, 1987, Moraes et al., 1992).
Este conjunto compreende rochas de natureza e composição que varia entre os quartzo-
andesitos e quartzo-traquitos, com ampla dominância de latitos. A diferença mais acentuada
relativamente ao grupo anterior é a menor presença de intercrescimentos de quartzo e feldspato na
matriz.
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
§ A interestratificação entre a ilite e a esmectite poderá ter origem na alteração da ilite, por
diminuição da sua cristalinidade, fenómeno comum em clima favorável à meteorização e
relevo pouco acentuado, condições existentes na região em estudo. Estas condições,
associadas a um ambiente fluvial, atribuído por diversos autores à deposição destes
depósitos de cobertura (Lucas dos Santos et al., 1984), deverão igualmente ser os
responsáveis pela formação de caulinite. O facto deste mineral não predominar sobre os
restantes, porém, atesta uma drenagem mais moderada do que a comum em climas deste
tipo. A montmorilonite, embora com teores mais baixos relativamente aos minerais argilosos
de origem detrítica, deverá estar sempre presente, tal como foi observado por Ramos &
Formoso (1975) nas formações sedimentares paleozóicas e mesozóicas acima referidas, na
região Oeste do Rio Grande do Sul.
3.1.2.3 Conclusões
89
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
90
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
sua contribuição relativamente à das rochas encaixantes depende, porém, da sua espessura.
Segundo Margalef (1976), em zonas de solos delgados, independentemente das suas características
químicas e físicas, a composição dos materiais depositados nas albufeiras é mais fortemente
influenciada pelas rochas encaixantes do que em zonas de solos desenvolvidos.
Face à importância dos solos das bacias de drenagem na alimentação detrítica destes
sistemas, a partir da carta de solos à escala 1:1000000 do Atlas do Ambiente e de um estudo
efectuado por Barbosa (1987) baseado em cartas de solos à escala 1:50000 (Classificação
Portuguesa), apenas para as bacias de Monte Novo e Divor, fez-se uma análise sumária dos
principais tipos de solos aflorantes. Consideraram-se algumas das características químicas e físicas
com papel mais determinante na avaliação da susceptibilidade dos solos à erosão e na entrada de
materiais detríticos ou solúveis na albufeiras. A caracterização pedológica da zona enquadrante dos
sistemas de mais pequena dimensão (Monte Novo e Divor) foi efectuada de forma mais detalhada,
dada a existência de trabalhos de pormenor realizados na zona. Tendo em conta que a cartografia
de base utilizada (Carta de Solos do Atlas do Ambiente à escala 1:1000000) é baseada na
Classificação da FAO (1988), fez-se a correpondência das diversas unidades identificadas para a
Classificação Portuguesa, por forma a uniformizar todos os dados consultados.
Nas três albufeiras portuguesas, ao longo dos cursos de água principais, existe deposição de
materiais, sob a forma de aluviossolos, coluviossolos e solos hidromórficos de aluviões e coluviões.
Este facto sugere significativa erosão das encostas e/ou fraca eficiência de arrastamento dos
materiais ao longo dos cursos de água, associado, em algumas zonas, a elevada dimensão dos
materiais erodidos. Este tipo de solos, com textura média a grosseira e acumulados em zonas de
declives nulos ou baixos, têm nulos ou ligeiros riscos de erosão.
Para além dos solos resultantes da acumulação de sedimentos, sobre cada litologia
desenvolveu-se um ou mais tipos de solos com características químicas e físicas específicas, os
quais, existentes em declives variáveis, apresentam riscos de erosão que vão desde o nulo a ligeiro
até ao elevado.
Através de uma análise sumária conjunta dos principais tipos de solos aflorantes nas 3
bacias de drenagem (Figs. 3.16 e 3.17), verifica-se o domínio da Ordem dos solos Argiluviados
91
As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
pouco Insaturados, Subordens dos solos Mediterrâneos Pardos e Vermelhos ou Amarelos (segundo
Classificação Portuguesa de Solos, 1974). A estes solos e com idêntica importância, associam-se
solos Litólicos não húmicos, na bacia do Maranhão.
Os referentes à primeira Ordem, de perfil evoluído e características diversas (por terem
origem em litologias variadas), traduzem o clima com estação marcadamente seca existente em
toda a região e o relevo pouco ondulado a plano. Segundo Cardoso (1974) e Gomes (1988), o
processo pedogenético responsável pela sua formação é a lavagem ou argiluviação, que se traduz
por uma migração descendente da argila transportada pela água percolante de um horizonte eluvial
para um horizonte iluvial, formando um horizonte B árgico. Nos solos Mediterrâneos Vermelhos
ou Amarelos está ainda associada a ferruginação (envolvendo ainda uma rubefacção), apenas
existente sob condições de estação seca bem marcada. Segundo a Classificação da FAO (1988)
estes solos equivalem aos luvissolos.
Os solos Litólicos, presentes em todas as bacias e desenvolvidos a partir de diversos
materiais originários, ocorrem apenas em manchas dispersas nas albufeiras do Monte Novo e
Divor e em zonas consideravelmente mais extensas, na albufeira do Maranhão. Em qualquer dos
casos, surgem associadas a zonas de declive mais acentuado. Por esta razão e de acordo com os
autores acima referidos, são solos pouco evoluídos e relativamente delgados, resultantes apenas de
uma alteração in situ da rocha mãe. Os equivalentes a esta Ordem, de acordo com a Classificação
da FAO (1988) são os Cambissolos.
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
Litossolos de climas de regime xérico com grau de saturação em bases superior a 50% -
Leptossolos êutricos (Classificação da FAO, 1988).
§ Os depósitos detríticos afloram ao longo de todo o sector Oeste da bacia e, pela sua variada
natureza litológica, deram origem, por alteração, a solos desenvolvidos através de processos
pedogénicos distintos:
1. Sobre as formações pliocénicas, constituídas por arenitos argilosos, argilas e
conglomerados, formaram-se solos Podzolizados (Podzóis, Classificação da FAO, 1988)
associados a solos Litólicos não húmicos pouco insaturados e com grau de saturação em
bases superior a 50%.
2. Sobre as formações miocénicas, constituídas por arenitos argilosos, argilas margosas,
margas, calcários detríticos, argilas e brechas, desenvolveram-se solos Mediterrâneos
Pardos de materiais não calcários. Estes solos possuem horizonte B álbico (constituído
fundamentalmente por silício) com forte gleização (redução do ferro, devido a saturação
por ascenção da toalha freática). Na nomenclatura da FAO (1988) são classificados
como Luvissolos gleizados álbicos.
3. Sobre os depósitos areníticos e conglomeráticos de idade quaternária que afloram no
extremo Sul da bacia de drenagem, assentam solos Mediterrâneos Vermelhos ou
Amarelos de materiais calcários (Luvissolos rodocrómicos cálcicos, FAO, 1988). A
formação de um horizonte B cálcico e/ou a presença de concreções de calcário
pulverulento, estão certamente relacionadas com a carsificação que ocorre no limite com
o maciço calcário de Estremoz (Gonçalves & Coelho, 1974).
96
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
provenientes deste litótipo bem como dos solos resultantes da sua meteorização, através da ribeira
de Machede.
Sobre os depósitos de cobertura de fácies continental desenvolveram-se dois tipos de solos,
função da natureza dos materiais sedimentados:
(1) nos depósitos situados entre os 2 braços da albufeira correspondentes às ribeiras de
Bencafete e Machede, existem solos calcários (Cambissolos calcários, FAO, 1988) o que
leva a supôr a existência, neste local, de elevados teores de impregnações calcárias
associadas aos depósitos de calhaus de quartzo, descritos por Carvalhosa & Zbyszewski
(1991) e referidos no ponto 3.1.1. Com condições de risco moderado, segundo Barbosa
(1987), estes solos, pouco evoluídos e formados através do processo pedogenético de
calcificação, são certamente a maior fonte de cálcio entrado na albufeira.
(2) no limite Sudeste da bacia, os depósitos detríticos deram origem a solos Mediterrâneos
pardos de materiais não calcários (Luvissolos ócricos, FAO, 1988) associados a relevo
ondulado, o que significa moderada ou reduzida probabilidade de escoamento superficial.
Os solos Mediterrâneos Pardos de material não calcário (Luvissolos ócricos, FAO, 1988)
são os solos predominantes em toda a bacia hidrográfica, associados a manchas dispersas de solos
Litólicos não húmicos (Cambissolos êutricos, FAO, 1988). Estas unidades são originárias de 2
diferentes tipos de litologias:
(1) formações de metavulcanitos básicos, no sector Norte da bacia. Resultantes também da
alteração destes litótipos, nas margens da albufeira e com forte influência na sua
alimentação detrítica, ocorrem pequenas manchas de solos Mediterrâneos Vermelhos ou
Amarelos, de materiais não calcários (Luvissolos rodocrómicos, FAO, 1988). Qualquer um
destes tipos de solos encontram-se em zonas de declive medianamente acentuado, com
moderada a elevada probabilidade de escoamento superficial, responsável por riscos de
erosão moderados a elevados. Por esta razão são solos com reduzida espessura;
(2) formações ígneas de natureza tonalítica e granítica, que ocupam cerca de 2/3 da bacia
hidrográfica. Em função do reduzido ou nulo declive do terreno a Sul da albufeira e,
consequentemente, das reduzidas a moderadas probabilidades de escoamento superficial,
nesta zona os solos têm espessuras elevadas. A espessura diminui nos solos derivados das
pequenas intrusões graníticas a Norte do sistema, em resposta ao aumento significativo da
ondulação do terreno.
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
Tal como se fez nos solos referentes ao estudo das albufeiras portuguesas, por forma a
uniformizar as classificações adoptadas nos dois conjuntos de sistemas, apresenta-se a correlação
com os termos correspondentes da classificação da FAO-Unesco (1988).
Atendendo aos solos identificados nas bacias de drenagem das albufeiras (Fig. 3.18) e de
acordo com o texto explicativo da Carta de Solos do Rio Grande do Sul à escala 1/1800000
(Porto & Cortazzi, 1982) e com Righi & Meunier (1995), poder-se-à traçar em linhas gerais as
características físicas, químicas e mineralógicas dos principais grupos:
(1) Os Latossolos incluem-se na classe dos solos com "B" latossólico. São solos em que o
horizonte B teve um processo de meteorização muito intenso pela acção de grandes
quantidades de água, actuando em condições de temperatura elevada e facilidade de
drenagem. Ocorre uma lavagem da sílica e das bases, restando o ferro e o alumínio
(horizonte B residual). Em consequência, este horizonte tem uma textura média a argilosa,
baixo valor de pH (à volta de 5) e de bases de troca e quantidades variáveis de sesquióxidos
de ferro e alumínio (goetite, hematite e gibsite), caulinite, quartzo e outros minerais
primários resistentes à meteorização. O teor em matéria orgânica é de uma forma geral
100
As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
Latossolo vermelho escuro e uma classe apenas aqui representada, solo Laterítico castanho
avermelhado distrófico.
3.2.3 Conclusões
A grande diferença entre as condições climáticas patentes nos 2 conjuntos de albufeiras,
associada a uma grande variação da litologia enquadrante, conduziu à formação de diferentes
produtos de meteorização e, consequentemente, ao desenvolvimento de distintos grupos de solos:
1. Nos sistemas brasileiros o clima subtropical caracterizado por humidade constante e a
litologia enquadrante, de natureza essencialmente basáltica, propiciaram a formação de solos
com espessas camadas superficiais, essencialmente argilosos e onde são favorecidos os
processos de neoformação e transformação mineralógicas. A percolação das água, muito
elevada, tem como consequência intensos mecanismos de lixiviação, que se traduzem em
solos pouco desenvolvidos, quimicamente pobres e de reacção ácida.
§ O tipo de solos dominantes em toda a área de alimentação das duas albufeiras brasileiras
(Latossolos e solos Litólicos), explica a larga utilização de fertilizantes e correctivos neste
região de agricultura intensiva. Situados em zonas de topografia suave, são muito utilizados
na agricultura, pela boa drenagem interna, boa permeabilidade e facilidade de
manuseamento (Bertoldo de Oliveira et al., 1990). Contudo, como são solos na sua
maioria distróficos, pobres em bases de troca, com baixos teores de matéria orgânica e altos
teores de óxidos de Fe e Al, apenas darão boa resposta mediante a aplicação de fertilizantes
e correctivos. Os Latossolos roxos, com textura mais fina e teores mais elevados de Fe e Al,
favorecem a adsorção de fósforo, requerendo doses maiores deste elemento, do que outros
solos de textura e mineralogia semelhante. Desta forma, largas quantidades de azoto,
fósforo e potássio são aplicados anualmente, alterando a própria composição química do
solo. As fracções destes elementos que não são imediatamente retidas pelas partículas
minerais e orgânicas, são lixiviadas e transportadas pelas linhas de água, acabando por se
depositar ou manter-se em solução nas albufeiras.
§ De entre os grupos de solos aqui representados, apenas os solos Litólicos, desenvolvidos
sobre as rochas vulcânicas ácidas da bacia de Passo Real, têm teores relativamente elevados
em bases de troca, razão pela qual são classificados como eutróficos. As suas características
químicas, associadas ao facto de serem os solos com maior susceptibilidade à erosão (pela
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As Albufeiras como Estações de Trânsito na Sedimentação
sua pequena espessura), fazem deles, eventualmente, as maiores fontes de entradas de Ca,
Mg, Na, K no interior deste sistema.
§ Os Latossolos roxos, de textura argilosa e elevado teor em ferro e outros micronutrientes,
como Zn, Cu, Mn e Mo, são os solos com maior influência na sedimentação da albufeira de
Passo Real, pela sua proximidade às margens deste sistema. Por este motivo, é de esperar
elevados teores destes elementos nos materiais depositados, em particular junto à margem
Este, onde a sua representação é maior.
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As Albufeiras no Quadro Geológico Regional
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