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UNIrevista - Vol.

1, n° 2: (abril 2006) ISSN 1809-4651

O espaço da arte na escola: a exposição dos


trabalhos artísticos dos alunos.

Sandra Regina Cláudio Bugmann


Mestranda em Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
FURB Universidade Regional de Blumenau, SC
mrsbug@terra.com.br

Resumo
Trata-se do relato de uma experiência de ensino de arte para educação infantil elaborada a partir do projeto
para o estágio do curso de licenciatura em Artes, da Fundação Universidade Regional de Blumenau, em
Blumenau, SC. A proposta consistia em analisar a importância e o espaço que a exposição dos trabalhos dos
alunos tem no contexto escolar, aprofundando a discussão sobre a sua utilização como recurso pedagógico
valioso e propor um projeto para educação infantil onde tal atividade fosse valorizada sendo utilizada com
criatividade e discernimento. A análise dos resultados obtidos demonstrou que a exposição dos trabalhos
artísticos dos alunos além de proporcionar maior visibilidade da disciplina de artes na escola pode ser
utilizada no desenvolvimento de leitura de imagem e no incentivo a um fazer artístico mais empenhado e
motivado e, por conseguinte mais efetivo em sua proposição.

Palavras-chave: Arte // arte na escola // educação infantil // exposição.

Introdução

Ainda é ato costumeiro solicitar ao professor de arte a decoração da escola para datas comemorativas e
festivas e trazer essa provocação à luz da reflexão tornou-se oportuno e pertinente como foco de pesquisa
para o estágio em Educação Infantil. A questão não é apenas pensar qual a atitude do professor se deve ou
não acatar a tais pedidos, ela remete a uma pergunta fundamental que é qual a importância dada à arte na
escola e, portanto na sociedade, entre os indivíduos. A partir dessa perspectiva, analisar a função do
professor e a sua postura torna a discussão mais consistente, porém muito mais complexa, pois já não lhe
cabe só uma atribuição educativa com seus alunos em sala de aula, mas um papel fundamental na
ampliação da visão sobre a importância da arte para a vida no âmbito escolar e na sociedade.

É senso comum que não existe um público apreciador de arte que visita museus, as pessoas não sabem se
comportar em exposições, pois não são incentivadas a isso desde cedo. Assim, muitas e muitas pessoas
ficam às margens de todo um universo de sensações, imaginação, criatividade, sensibilidade, reflexão e
possibilidades cognitivas oferecidas pela arte por meio de suas obras, de sua história e do fazer artístico. A
arte faz parte da herança cultural das sociedades, mas a maioria das pessoas não tem acesso por não saber,
por não ter desenvolvido a capacidade de usufruir daquilo que as manifestações artísticas têm a oferecer e a
disciplina de artes tem por finalidade possibilitar esse acesso.

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O espaço da arte na escola: a exposição dos trabalhos artísticos dos alunos.
Sandra Regina Cláudio Bugmann

O cotidiano está caótico, as pessoas apressadas consomem estímulos visuais, auditivos, enfim, de toda
espécie sem critério ou reflexão. A sensibilização do gosto, a capacidade de leitura de imagem mais
criteriosa levando a escolhas mais sensatas são necessidades que a educação em arte pode atender e para
muitos somente a escola pode oferecer essa oportunidade. “[...] é na escola que oferecemos a oportunidade
para que crianças e jovens possam efetivamente vivenciar e entender o processo artístico e sua história
(...)” (Ferraz, 1999, p.19).

Ferraz (1999, p.18) propõe uma síntese dos componentes em cuja inter-relação acontece o processo
artístico tornando-os aspectos imprescindíveis a serem abordados em projetos voltados para a arte na
escola.

“Componentes que se articulam no Processo Artístico”

Os autores/artistas – São pessoas situadas em um contexto sócio-cultural; são criadores (profissionais ou


não) de produtos ou obras artísticas a partir da história de seus modos e patamares de sensibilidade e
entendimento de artes.

Os produtos artísticos/obras de arte – São trabalhos resultantes de um fazer e “pensar-técnico-emotivo-


representacional do mundo da natureza e da cultura” e que sintetizam modos e conhecimentos artísticos e
estéticos de seus autores; têm uma história e situam-se em um contexto sócio-cultural.

A comunicação/Divulgação – São diferentes práticas (profissionais ou não) de apresentar, de expor, de


veicular e intermediar as obras artísticas, as concepções estéticas e a arte entre as pessoas na sociedade ao
longo da história cultural.

O Público/Ouvintes/Espectadores – São as pessoas também situadas em um tempo-espaço sócio-cultural no


qual constroem a história de suas relações com as produções artísticas e com seus autores (ou artistas) em
diferentes modos e patamares de sensibilidade e entendimento da arte.”

Analisando a síntese proposta, percebe-se que a exposição é um componente fundamental do processo


artístico e como pode ser utilizada para propiciar esse momento importante de comunicação. A exposição
das produções artísticas dos alunos além de valorizar as atividades artísticas desenvolvidas dando-lhes um
propósito evitando o fazer por fazer, ainda possibilita esse momento importante de interação já que “(...)
por sua vez, o público, ou seja, as pessoas espectadoras, as ouvintes, as apreciadoras com as quais essas
obras são postas em comunicação, participam ativamente das mesmas por meio de seus diferentes modos e
níveis de saber admirar, gostar, apreciar e julgar culturalmente aprendidos” (Ferraz, 1999, p.17).

Segundo Richter (2004, p.20) “Articular a arte à educação implica amplificar possibilidades de experiências
distintas na produção de si e de mundos, pois sua condição é a de abertura à pluralidade de experiências
que a convivência pode promover”. Tal consideração demonstra a amplitude de um projeto de educação em
arte e como deve ser elaborado com cuidado para contemplar essa dinâmica e multifacetada vivência que é
uma aula de artes.

O foco da pesquisa foi a importância e o espaço dado à exposição dos trabalhos artísticos dos alunos e o
projeto a ser aplicado foi elaborado buscando valorizar esse momento do processo artístico, utilizando-o
inclusive como recurso pedagógico, não deixando, entretanto de contemplar as outras etapas do processo.

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A intervenção no cotidiano faz a obra ser vista. Assim uma das grandes finalidades da exposição dos
trabalhos artísticos dos alunos consiste em propor às pessoas que parem, observem, analisem e construam
sua concepção sobre a arte. Olhar, analisar, comparar e refletir constitui já um exercício de leitura de
imagem. A familiarização com a exposição, a atitude de observador permite uma naturalização do costume
de visitar exposições facilitando a procura ou aceitação dessa atividade até fora do contexto escolar.

A forma como são expostas as obras pode influenciar o olhar do expectador. Maneiras inteligentes e
criativas de expor provocam atitudes de curiosidade, atraindo a atenção e levando a uma observação mais
atenta e cuidadosa. Materiais e espaços inusitados atraem, provocam, estabelecendo um espaço para
reflexão. Por outro lado, a exposição dos trabalhos artísticos dos alunos contribui para a valorização das
atividades artísticas desenvolvidas durante as aulas elevando a auto-estima das crianças e o momento da
atividade artística não se torna um fazer por fazer, estimulando o aluno a empenhar-se.

A exposição propicia, ainda a análise crítica do próprio fazer e a reflexão sobre as possibilidades artísticas,
encorajando e estimulando a busca da superação das dificuldades e problemas, uma maneira de “(...)
provocar a observação da turma sobre sua própria produção artística de modo a ampliar as hipóteses de
solução gráfica...” (Martins, 1998, p.164). Sendo assim, utilizada no exercício da leitura de imagem e para
estimular o aprender com o outro, pois os alunos podem observar como cada um explorou diferentes
soluções para os problemas surgidos. Envolver as crianças no planejamento e montagem da exposição os
faz sentirem-se participantes de um processo, integrados em um projeto.

Listando essa série de possibilidades proporcionada pela exposição dos trabalhos artísticos dos alunos
percebemos a sua importância para a visibilidade da arte no contexto escolar e como atividade pedagógica
em arte educação.

Observação, reflexão, planejamento e ação.

O foco da pesquisa para o estágio definiu-se a partir da vivência de uma integrante da equipe formada por
cinco acadêmicas do Curso de Artes da FURB, habilitação em artes plásticas. O projeto para educação
infantil foi desenvolvido com as turmas do berçário e maternal do Centro de Educação Infantil Marita Deeke
Sasse, em Blumenau onde trabalha a acadêmica Mônika Miranda, integrante da equipe e consideramos
interessante abordar algum assunto oriundo das demandas de seu dia-a-dia como professora. Mônika
relatou que o CEI havia lhe solicitado a decoração do mesmo para um evento denominado: Festa da Família.
Esta solicitação foi discutida com a equipe levantando o questionamento sobre a confusão feita com relação
ao papel da disciplina de artes nas escolas. Tornou-se evidente a necessidade de abordar essa questão. O
professor de artes como divulgador do conteúdo de artes também no âmbito do espaço escolar e a
exposição dos trabalhos dos alunos não como enfeite, mas como valorização da produção artística do aluno,
desenvolvendo o hábito de espectador de arte, para a criação de um público de artes.

Para a pesquisa do foco, além da observação feita na escola, foram aplicados questionários direcionados às
professoras regentes e à diretora do CEI. A observação da escola campo proporcionou a oportunidade de, a
partir da reflexão sobre a prática pedagógica da professora e das colocações feitas em questionários tanto
pelas professoras como pela diretora da escola, averiguar como a arte é vista na escola, qual a importância
dada às exposições dos trabalhos artísticos dos alunos e, por conseguinte, qual a importância dada à arte.

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Por meio da análise das respostas obtidas nos questionários foi possível observar que a idéia sobre a arte e
sua importância ainda está relacionada com o aspecto decorativo ou como uma possibilidade de expressão
de sentimentos. Apesar de responderem que a arte é importante e afirmarem que o professor de arte tem o
mesmo espaço que as outras disciplinas, percebeu-se em conversas com as professoras regentes que a
realidade não é exatamente esta. A Arte está perdendo espaço no ambiente escolar a começar pela redução
da carga horária que contribui para o enfraquecimento da disciplina, dificultando a realização de projetos
consistentes, a falta de um ambiente adequado para o fazer artístico e para a exposição dos trabalhos
realizados pelos alunos também apontam para uma realidade diferente da que foi colocada nos
questionários.

É comum encontrar nas escolas e CEIs o calendário das datas comemorativas, nele está estabelecido a data
a ser comemorada e o professor responsável pela decoração do espaço, muitas vezes, segundo o relato das
professoras, um biombo, destinado às datas comemorativas. A decoração deste espaço geralmente volta-se
àquilo que os observadores leigos julgam ser bonito, deixando a essência da história que sustenta a data,
para enfatizar o aspecto de enfeitar a data a ser comemorada.

O Centro de Educação Infantil “Marita Deeke Sasse” atende crianças de 0 a 6 anos, divididas em três turmas,
berçário maternal e jardim em período integral. Localizado numa área carente do Município de Blumenau o
CEI encontra-se desprovido de materiais didáticos. A carência não atinge somente o CEI, mas toda
comunidade. As crianças são as mais atingidas, não só pela carência material, mas também afetiva. A
família comprometida com o trabalho isenta-se do compromisso afetivo que a une. São crianças oriundas de
famílias numerosas, onde é comum encontrar mães muito jovens com quatro a cinco filhos, todos
freqüentando a creche, pois a diferença entre os mesmos é aproximadamente de um ano. Isto faz com que
o CEI passe a ser visto pelos pais como lugar de assistencialismo, onde suprir as necessidades básicas da
criança (alimentação, vestimenta e higiene) basta, a educadora é vista como “tia”, e os trabalhos
pedagógicos/didáticos são entendidos pelos pais como passatempo.

Tornou-se, então, um desafio, elaborar um projeto que, além de contemplar o desenvolvimento de um


conteúdo de artes utilizando a apreciação, contextualização e o fazer artístico, ainda buscasse a valorização
das atividades das aulas de artes com uma exposição adequadamente planejada. Procurou-se, também, no
decorrer do projeto propor uma discussão sobre a importância da exposição das produções dos alunos e do
espaço que é dado ao professor de artes para essa atividade.

Considerando que “As crianças têm um prazer muito grande em manusear e transformar materialidades.
Encontram-se sempre em estado de alegre disponibilidade para investigar o que cada material pode oferecer
para seu fazer, procurando o êxito e a satisfação em suas experimentações, constituindo um saber que
também é um sonhar.” (Richter, 2004, p.62) elaborou-se um projeto que permitisse essa disponibilidade
que a criança tem para a experimentação. O projeto “Texturas” para educação infantil foi pensado para
proporcionar às crianças esse momento intenso de contato com as texturas e tintas para ampliação da
percepção tátil, pois “A criança, ao interagir com a matéria, defronta-se com o desafio, único neste
momento, de atribuir significados, extrair sentidos” (Richter, 2004, p.63) e, ainda “Na criança, o espaço
plástico é o espaço do gesto que mobiliza o corpo inteiro na produção da mancha colorida” (Richter, 2004, p.
62).

Apesar de serem crianças pequenas, de 1 a 4 anos não se evitou o desafio de apresentar-lhes obras, de
Aldemir Martins, realizando leitura de imagem, apropriada à faixa etária, pois “(...) é necessário começar a
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educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que além do
fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa compreender o modo como a gramática visual se
estrutura e pensar criticamente sobre as imagens” (Barbosa, 2002. p.81).

Foram realizados cinco encontros com a duração de quatro aulas cada um Por tratarem-se de crianças de 1
a 4 anos, sentiu-se a necessidade de encontros com essa duração para efeito de convivência das crianças
com as estagiárias e o desenvolvimento de atividades preparatórias para a atividade artística em si.. Foram
utilizadas aulas expositivas, dialogadas, contação de história, teatro de fantoches, filmagem e apresentação
de filme, atividades com música e gestos, leitura de imagem, atividades de sensibilização com texturas
variadas, colagem, pintura e texturização, pintura e texturização com o corpo e exposição. As aulas foram
filmadas e fotografadas.

O projeto para a educação infantil partiu do planejamento de atividades que a professora estava realizando.
As crianças tinham desenvolvido várias atividades envolvendo cores e na continuação começariam a
trabalhar texturas. Assim, com o tema: Texturas, a proposta foi apresentar às crianças diversas
possibilidades de perceberem texturas tanto apresentando diversas texturas como propiciando atividades
que envolviam o fazer artístico utilizando texturas e cores. No decorrer das atividades as crianças
participaram da confecção de um painel que ao ser montado teria em uma das faces o resultado de uma
atividade com tinta e textura e na outra, fotos do processo. Juntamente com os outros trabalhos
desenvolvidos, o painel foi utilizado para a montagem de uma exposição que constituiu uma atividade com
as crianças de apreciação tanto de suas interferências com tinta e texturas como de sua participação no
projeto pelas fotos. Além disso, o painel e os outros trabalhos foram expostos em um evento do Centro de
Educação Infantil denominado Festa da Família.

Considerações finais

O desenvolvimento do Projeto Texturas e as observações feitas sobre a questão foco proporcionaram


subsídios para a reflexão sobre a utilização da exposição das produções artísticas dos alunos como recurso
didático, como instrumento para dar visibilidade ao curso de artes e como forma de desenvolver atitude de
público apreciador de arte. A proposta trazia ainda o desafio de estar sendo dirigido à Educação Infantil o
que acarreta uma abordagem diferenciada, adequada a essa faixa etária.

Os resultados obtidos confirmaram a possibilidade de trabalhar conteúdos de arte com crianças pequenas e
da utilização da exposição como espaço para a efetivação do ensino de artes. Sendo assim uma atividade a
ser desenvolvida como mais uma opção para Educação em Artes. Essa experiência aponta para a
necessidade de uma pesquisa mais vasta sobre o assunto, ampliando sua abrangência para todas as etapas
do ensino.

Referências

BARBOSA, A.M. (org.), 2002. Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo, Cortez, 184 p.

FERRAZ, M.H.C. de T. 1999. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo, Cortez, 135 p.

MARTINS, M.C; PICOSQUE, G e GUERRA, M.T.T. 1998. Didática do Ensino de Artes: A língua do mundo.

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Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo, FTD, 197 p.

RICHTER, S. 2004. Criança e pintura: ação e paixão do conhecer. Porto Alegre: Mediação, 142 p.

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