Professional Documents
Culture Documents
1
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina
OBJETIVOS:
Avaliar as conseqüências do consumo do álcool nas funções motoras e psi-
cológicas utilizadas na condução de veículo automotor, e definir uma orien-
tação sobre seu consumo consciente e seguro, visando à redução de mortes
e de ferimentos decorrentes do dirigir alcoolizado.
CONFLITO DE INTERESSE:
Nenhum conflito de interesse declarado.
INTRODUÇÃO
A diminuição da capacidade de desempe- Apesar das leis acerca de níveis máximos per-
nhar funções cruciais para a condução de veí- mitidos para condução desencorajarem mais for-
culos, como processamento de informações, se temente os “bebedores sociais” de dirigirem após
inicia com alcoolemias baixas, e a maioria dos consumirem uma pequena quantidade de álcool,
indivíduos se encontra significantemente de- há certo efeito sobre os “bebedores pesados”, vis-
bilitada com alcoolemia de 0,5 g/l. O risco re- to que há diminuição também de acidentes com
lativo de se envolver em um acidente fatal como condutores com alcoolemias mais altas19(A).
condutor é de 4 a 10 vezes maior para moto-
ristas com alcoolemia entre 0,5 e 0,7g/l, se As leis não devem ser somente promulga-
comparados com motoristas sóbrios24(A)8(B). das, mas divulgadas e aplicadas (fiscalização)
de forma constante. Mesmo quando há um
INTERVENÇÕES efeito considerável na redução de acidentes de-
vido à entrada em vigor de uma lei, esse efeito
Estratégias como suspensão da carteira, pode ser anulado após certo período de tempo,
ações coercitivas realizadas pela polícia como se houver percepção pública de impunidade e/
blitz de checagem de alcoolemia, diminuição ou desconhecimento da lei vigente. Campanhas
do limite máximo permitido e proibição da con- de publicidade e educação pública e fiscaliza-
dução com qualquer concentração alcoólica ção severa são capazes de manter o sentimen-
têm efeito de reduzir até 62% o número de to de risco de punição e resultam em um cum-
vítimas fatais em acidentes relacionados ao primento maior da lei28(D).
álcool25,26(D).
Pessoas que morreram em acidentes relaci-
Há pesquisas que demonstram que nos pa- onados ao álcool (concentração no sangue do
íses desenvolvidos tem havido uma apreciável condutor de 0,2 g/l ou maior) tinham maior
diminuição no número de vítimas fatais nas probabilidade de terem sido condenadas por
ocorrências de trânsito26,27(D). A melhoria na uma infração de direção sob efeito de álcool
conservação das estradas, equipes de APH nos cinco anos anteriores29(B).
(Atendimento Pré-Hospitalar) melhor treina-
das, leis mais severas e a nova tecnologia Do exposto acima, refletindo sobre a quanti-
embarcada nos veículos (cintos multipontos, dade de informações existentes e sabendo que há
air-bags, carrocerias que absorvem impacto, uma grande variabilidade dos efeitos devido à
etc.) foram fatores determinantes nesta dimi- susceptibilidade individual dos condutores (sexo,
nuição. Uma supervisão rigorosa do cumpri- peso, etnia, hábito ou não de consumir bebidas)
mento das leis sobre o consumo e a venda do nos leva a afirmar que não existe concentração
álcool também contribui para diminuir as ta- segura, sendo, portanto, a alcoolemia zero o úni-
xas de óbitos por acidentes de trânsito27(D). co padrão proposto de dirigibilidade sem riscos.
mas fatais por acidente de trânsito e a rela- 22. NHTSA (2005) Alcohol involvement in
ção com o uso do álcool. Saúde, Ética & fatal motor vehicle traffic crashes, 2003.
Justiça 2005;10:12-8. DOT HS 809 822. Disponível em: http:/
/ w w w - n r d . n h t s a . d o t . g o v / Pu b s /
16. Ponce JC, Leyton V, Andreuccetti G, Car- 809822.PDF
valho DG, Muñoz DR. Traffic and alcohol:
a study on alcohol-related traffic accident 23. Mann RE. Choosing a rational threshold
deaths in São Paulo. In:T2007- Joint for the definition of drunk driving: what
Meeting of the International Association of research recommends. Addiction
Forensic Toxicologists (TIAFT) and the 2002;97:1237-8.
International Council on Alcohol Drugs and
Traffic Safety (ICADTS). Seattle:2007. 24. Fell JC, Voas RB. The effectiveness of
T2007- Conference Abstracts, 2007. p.98. reducing illegal blood alcohol concentration
(BAC) limits for driving: evidence for
17. Liberatti CLB, Andrade SM, Soares DA. lowering the limit to .05 BAC. J Safety
The new Brazilian traffic code and some Res 2006;37:233-43.
characteristics of victims in southern Brazil.
Inj Prev 2001;7:190-3.
25. DeJong W, Hingson R. Strategies to reduce
driving under the influence of alcohol.
18. Blincoe L, Seay A, Zaloshnja E, Miller T,
Annu Rev Public Health 1998;19:359-78.
Romano E, Luchter S, et al. The economic
impact of motor vehicle crashes, 2000.
26. Noland RB. Medical treatment and traffic
Washington:US Department of
fatality reductions in industrialized countries.
Transportation;2002. Report No. DOT
HS 809446. Accid Anal Prev 2003;35:877-83.
19. Shults RA, Elder RW, Sleet DA, Nichols 27. Williams AF. Alcohol-impaired driving and its
JL, Alao MO, Carande-Kulis VG, et al. consequences in the United States: the past
Reviews of evidence regarding interventions 25 years. J Safety Res 2006;37:123-38.
to reduce alcohol-impaired driving. Am J
Prev Med 2001;21:66-88. 28. Mann RE, Macdonald S, Stoduto G,
Bondy S, Jonah B, Shaikh A. The effects
20. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada of introducing or lowering legal per se blood
(IPEA), Associação Nacional de Transpor- alcohol limits for driving: an international
tes Públicos (ANTP). Impactos sociais e review. Accid Anal Prev 2001;33:569-83.
econômicos dos acidentes de trânsito nas
aglomerações urbanas: relatório executivo. 29.Brewer RD, Morris PD, Cole TB, Watkins
Brasília:IPEA, ANTP;2003. S, Patetta MJ, Popkin C. The risk of dying
in alcohol-related automobile crashes
21. Miller TR. Estimating the costs of injuries to among habitual drunk drivers. N Engl J
US employers. J Safety Res 1997;28:1-13. Med 1994;331:513-7.