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Do latim Levir, cunhado. O cunhado deve tomar por esposa a mulher do seu irmão, caso venha a falecer sem deixar
herdeiro, no intuito de propagar a descendência e o nome do falecido. Caso o cunhado não queira desposar sua cunhada,
ela lhe tiraria a sandália, um rito de privação de posse, demonstrando neste caso que a mulher permanecesse com a
posse dos bens de seu marido. (Cf. Dt 25,5-10; Gn 38; Rt 4).
D) A videira e os ramos (15,1-8): Esta é tipicamente joanina. O evangelista
provalmente se apoia numa tradição veterotestamentária, na qual Israel é contemplado sob a
imagem da ‘vinha’ (Cf. Os 10,1; Jr 2,21; 5,10; Ez 15,1-6). Segundo Is 5,1-7, a casa de Israel é a
vinha do Senhor dos exércitos. Pois bem, quando João adota esta imagem para referir-se à
comunidade de Jesus, ele realiza uma mudança fundamental: a videira não é a representação de
Israel, mas é símbolo do próprio Cristo, Filho e revelador do Pai. A figura dos ‘ramos’designa a
comunidade salvífica, que é fundada pela ‘videira verdadeira’, Jesus, em íntima comunhão de vida
com Ele e Nele. Assim está descrito no v.5: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que
permanece em mime eu nele produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Trata-se,
portanto, de um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Ele e os seus. A
Igreja não pode constituir uma entidade distinta de Cristo. Uma comunidade que não permaneça
unida a Jesus está condenada à esterelidade absoluta. Enquanto João apela para a imagem da
‘videira e ramos’, Paulo realça o caráter ‘corpo de Cristo’. Ainda que ambos autores busquem uma
união orgânica entre a comunidade de Cristo, o primeiro insiste na união vital, necessária e
duradoura a Cristo; já o segundo apela para a relação que os membros têm entre si, mediante os
vários carismas que distinguem os cristãos (Cf. 1Cor 12).
E) A túnica inconsútil (19, 23-24): os soldados repartem entre si as vestes e sorteiam
a túnica de Cristo, que está crucificado. João fornece uma descrição pormenorizada da túnica, isto
se deve ao fato de ela simbolizar a unidade da Igreja. O verbo (schízein – cindir) empregado para
designar divisão,repartição das vestes, tem sua raíz no substantivo (schísma – cisma). Na literatura
bíblica, a veste rasgada era símbolo corrente de cisão ou separação do povo de Deus. Por exemplo,
com a morte do rei Salomão, em 932 a.C. aconteceu um cisma entre as tribos do norte com as do
sul. O profeta Aías rasgou o manto em doze pedaços (1Rs 11-2931). Num primeiro momento o que
é posto em destaque a ideia de ‘parte’ e ‘divisão’. Já num segundo momento, João insiste na túnica
inconsútil e que não foi dividida. Tal tensão dialética entre a partilha das vestes e integridade da
túnica levam a crer que o povo está dividido, especialmente diante de Jesus; na hora messiânica,
porém, a unidade será realizada pelo congregamento de todos no meonte Sião. Os ‘filhos dispersos’
serão reconduzidos em torno da cruz de Jesus, pois a Igreja nasce do Calvário2. A unidade do povo
messiânico se realiza na mãe de Jesus e no Discípulo amado junto à cruz (vv. 25-27)
F) A rede ‘indivisa’ de Pedro (21, 1-14): É certo que a ideia de universalidade está
subjacente na perspectiva ‘eclesiástica’ de todo o capítulo. Jesus ressuscitado faz de Pedro o
‘pastor’ de ‘seu’ rebanho, o chefe da comunidade dos seus discípulos. Nota-se a presença de uma só
rede, mas também o detalhe de que ela (rede) não de divide, não se rompe. A rede se converte num
símbolo do Igreja universal que nasceu como fruto da obra salvífica de Cristo (Morte e
Ressurreição – Cf. 12,24.32); a Igreja de Cristo será sempre una, ainda que seja composta por
homens de todas as nacionalidades do mundo (unidade na diversidade). Nos vv. 6 e 11 é mais
explícito quando Jesus diz: “‘lançai a rede à direita do barco e achareis’. Lançaram, então, e não
tinham mais força para puxá-la, por causa da quantidade de peixes.(...)Simão Pedro subiu à barca e
arrastou a rede para a praia. Ela estava cheia de, com cento e cinquenta e três peixes grandes,
apesar de serem tantos, a rede não se rompeu (não se dividiu)”. Ao contrário dos outros discípulos
(juntos), Pedro (sozinho) consegue arrastar (helkein) a rede. O verbo designa atração cristológica
(12,32;6,44)3. Ora, neste capítulo é Pedro quem assume a tarefa da atração cristológica, significando
o seu primado em relação à comunidade, depois de retornar à fé que havia perdido precedentemente
(vv.15-19).
2
“A Igreja que nasce do Mistério da Redenção na Cruz de Cristo tem o dever de procurar o encontro com o ser humano
de modo particular no caminho do seu sofrimento” (João Paulo II, Carta Encíclica Salvifici Doloris, nº 3).
3
É Cristo quem atrai todo homem e todas as coisas para si. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o
atrair.
Na literatura joanina a contraposição entre Igreja (grupo de discípulos) e Mundo
(concepção ético-religiosa) é uma constante. Isto posto uma questão faz-se necessária: que relação
existe entre a Igreja e o mundo? Porém, antes de mais nada precisamos entender o termo kosmos em
João.
a) Numa primeira leitura encontramos o ‘mundo’ como a obra da criação, céus e terra;
b) O segundo significado é o ‘mundo’ enquanto morada dos homens e o cenário da
história humana;
c) No terceiro significado, o ‘mundo’ indica o conjuto dos homens incrédulos que não
reconhecem Jesus como Filho de Deus e Salvador universal dos homens – Sinédrio.
Enquanto potência maléfica o ‘mundo’ se identifica com o diabolos;