You are on page 1of 9

DEPARTAMENTO DE ENSINO E CREDENCIAMENTO TÉCNICO

TEMA 2: Conceitos Didáticos Aplicados ao Ensino do Judô


PROFESSORES: Anderson Dias de Lima, Reinaldo Naia Cavazani 1999

GENERALIDADES DIDÁTICAS APLICADAS AO ENSINO DO JUDÔ

PLANEJAMENTO

Planejar implica em uma reflexão consciente sobre um assunto para orientar e agir com
o fim de alcançar determinados objetivos.

Planejar é prever como alcançar certos objetivos, a partir de cartas realidades e seguir
determinados caminhos traçados por antecipação. No processo de ensino do Judô, o
planejamento vai auxiliar na estrutura dos conteúdos a serem aprendidos e nos objetivos
e fins a serem alcançados no final de cada etapa. A elaboração do planejamento, não
cria porém, a obrigatoriedade de cumpri-lo fielmente. A sensibilidade pedagógica do
professor deve indicar quando ele deve aproveitar motivações espontâneas dos alunos
para obter melhores resultados. Tendo esta concepção de planejamento e, para um
melhor racionalização do trabalho, os alunos deverão ser divididos, na medida do
possível, em turmas por nível de evolução (pré-iniciação, iniciação, aperfeiçoamento,
etc.) e por níveis de faixa etária.

A - DIVISÕES DO PLANEJAMENTO

De maneira simplificada, podemos dividir o planejamento em duas partes :

1- PLANO DE CURSO

Previsão global de todas atividades do professor e dos alunos durante todo tempo que
durar o curso (semestral, anual, etc.).

2- PLANO DE AULA

É a menor unidade didática que se organiza com propósito de ensinar; é a sessão de aula
propriamente dita.

B- ESTRUTURA DO PLANEJAMENTO

De maneira geral, o planejamento deve conter a seguinte estrutura:

1- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do clube ou Associação, faixa etária, período de duração, n.º de aulas no período
de duração do curso, etc.

2- OBJETIVOS

São as metas estabelecidas pelo professor, que espera alcançar com seus alunos ao
longo do plano de curso bem como dos planos de aulas, compatível com cada realidade.
3- ESTRATÉGIA DE ENSINO

É a forma como os conteúdos serão ministrados, sempre no sentido de tornar as aulas


mais motivadoras e o processo de ensino o mais eficiente e racional possível.

4- CONTEÚDOS

Conjunto das atividades a serem desenvolvidas, em função dos objetivos estabelecidos.

5- RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS

É todo conjunto de pessoas, prédios, veículos, verbas e materiais necessários para a


execução do programa estabelecido. Considerando a realidade brasileira na maioria das
vezes, precisamos estabelecer o nosso planejamento de acordo com os recursos
existentes.

6- AVALIAÇÃO

É a forma com pretendemos verificar se, ao final do plano de curso e, ou de aula,


conseguimos atingir com nosso alunos os objetivos propostos.

C - AS DIVISÕES DE UMA AULA (iniciação)

Com vista à um melhor desempenho orgânico geral e consequentemente um melhor


aproveitamento com relação aos objetivos propostos, devemos dividir a aula de Judô em
três partes :

1- PARTE INICIAL (duração de 5 à 10 minutos)

a – Saudação (Rei, tradicional no início de cada aula)

b – Aquecimento: destina-se à preparação orgânica e psicológica do aluno, permitindo-


lhe melhor adaptação a aula. Esse é momento em que o professor deve usar sua
criatividade para conseguir, num clima de descontração , dar uma preparação para
melhor aproveitamento da aula.

2 – PARTE PRINCIPAL (duração 45 a 50 minutos)

Na parte principal da aula, sempre que possível, deve haver atividades que mantenham a
objetividade, mas que proporcionem também momentos de descontração e estimulem o
desempenho.

A relação entre o volume de conteúdo das habilidades motoras básicas e o volume das
habilidades específicos do Judô durante a sessão de aula deverão estar vinculados à
faixa etária enfocada, e estabelecida com base nas pesquisas que determinaram as
diversas fases do desenvolvimento psicomotor. O tempo de duração da parte principal
da aula deve ser organizado em dois momentos, como segue :

a) ASPECTOS FORMATIVOS: É recomendado nesta parte da aula os exercícios que


contribuam com uma melhor formação corporal do organismo em fase de
desenvolvimento, através de atividades adequadas as diversas faixas etárias. Os
exercícios com movimentos intencionais deverão ser combinados com os naturais e
espontâneos. Para as faixas etárias menores, até os 11-12 anos, nesse momento da aula,
devemos enfocar o aprendizado e o desenvolvimento das habilidades motoras básicas,
que são pré-requisitos para o desenvolvimento desportivo propriamente dito.

b) ASPECTOS DESPORTIVOS: É a parte da aula que utilizamos para o ensino do Judô


propriamente dito. Este é o momento da aula reservado para o ensino e aprimoramento
de todos os fundamentos do Judô (Ukemi, Shintai, Kumi Kata, Uchikomi Handori, etc.).
O ensino do Judô deve se estabelecer numa progressão pedagógica, partindo dos
fundamentos básicos da modalidade até chegarmos às situações globais de combate. O
nível de especialização das técnicas deverá ser diretamente proporcional à faixa etária
enfocada (quanto menor for a faixa etária, menor deverá ser a especialização técnica). O
Judô deve ser ensinado primeiramente de forma genérica, para posteriormente
procedermos e especialização do futuro atleta, conforme o seu perfil específico.

3 – PARTE FINAL (duração de 10 à 15 minutos)

a) Exercícios para volta calma: o professor dedicará geralmente 10 à 15 minutos,


procurando incutir no aluno a consciência do trabalho realizado, em ambiente alegre,
mas com ordem e disciplina. O professor deverá preocupar-se em restabelecer o
equilíbrio funcional, de modo que os alunos saiam da aula sentindo-se bem, sem
qualquer tipo de tensão emocional ou física. Para isso, deverão ser aplicados exercícios
de relaxamento, brincadeiras de descontração e " bate papos" sobre a aula e demais
assuntos pertinentes.

b) Saudação Final (Rei, tradicional ao final da aula de Judô)

D - SEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Para uma maior racionalização da aprendizagem, é comum no ensino da Educação


Física e do Desporto, a utilização do método das Sequências Pedagógicas. De acordo
com este método, para ensinarmos uma técnica complexa, primeiramente separamos o
movimento global em partes sucessivas, ensinamos um segmento de movimento por vez
e vamos juntando sucessivamente as partes até que o aluno obtenha o domínio completo
do movimento global da técnica.

Ex: Ipon Seoi Nague

1. Em duplas frente a frente, Uke com braços estendidos a frente na horizontal. O


Tori executa um movimento de giro de 180º, posicionando-se entre os braços do
Uke. Executar o movimento de giro intercalando uma vez para cada lado.
2. Ídem ao anterior, executando a pegada da manga.
3. Ídem ao anterior, posicionando-se o braço livre sob a axila do companheiro.
4. Ídem ao anterior, flexionando os joelhos e executando o Kuzushi.
5. Ídem ao anterior , elevando o Uke do solo.
6. Ídem ao anterior , projetando o Uke ao solo.
7. Ídem ao anterior, com deslocamento para frente.
8. Ídem ao anterior, com deslocamento para trás.
9. Ídem ao anterior, com deslocamento para o lado direito.
10. Ídem ao anterior, com deslocamento para o lado esquerdo.

E - SUGESTÃO DE UM PLANO DE AULA

1- DADOS GERAIS:

Faixa etária : Dos 07 aos 10 anos


Sexo : Misto
Tempo de duração : De 60 à 75 minutos
Nível : Iniciação

2- OBJETIVO:

Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de executar, com movimentos coordenados e
equilibrados, sem deslocamentos, cinco projeções de Koshi Guruma e cinco quedas de
Zempo Kaiten Ukemi

3 - ESTRATÉGIA DE ENSINO :

Jogos, brincadeiras, trabalhos em pequenos e grandes grupos e sequências pedagógicas.

4 - CONTEÚDO :

a. Parte Inicial (tempo de 5 a 10 minutos) :

Aquecimento:

o Corridas em várias direções pelo espaço


o Pega-pega Americano
o Pega–Ajuda

b. Parte Principal (tempo de 45 a 50 minutos )

Aspectos Formativos:

o Distribuídos pelo espaço, abaixar, sentar, deitar e voltar a posição inicial.


o Exercícios de pular sela.
o Em duplas, pulando sela, em seguida passar sob entre as pernas do companheiro.
o Exercícios de manipulação em duplas, puxando pelas mãos, empurrando pelos
ombros, coordenação Mão – Braço – Tronco.

Aspectos Desportivos

o Sequência pedagógica para o ensino do Zempô-Kaitem-Ukemi

1. Deitado na posição final de queda, batendo o braço


( intercalando esquerdo e direito)

2. Ídem ao anterior, batendo as pernas,


3. Idem ao anterior, girando o corpo sobre o eixo
longitudinal,

4. Posicionar-se em seis apoios, com a mão direita


espalmada no solo, com os dedos voltados e próximo ao joelho
esquerdo. Rolar sobre o braço e ombro direito até a posição final
de queda,

5. Idem ao anterior para o lado esquerdo,

6. Idem ao anterior, em cinco apoios, o pé apoia-se no


mesmo local onde estava o joelho. Executar o rolamento com leve
apoio do joelho, cotovelo e ombro,

7. Idem ao anterior, para o lado esquerdo,

8. Idem ao anterior, em quatro apoios,

9. Partindo da posição em pé, Executar o movimento


completo do ukemi

10. Idem ao anterior, em progressão para a frente.

o Seqüência pedagógica para o ensino do Koshi – Guruma

1. Em duplas, frente a frente, o Uke com os braços


estendidos na horizontal no plano frontal, paralelos ao solo. O torí
executa movimentos de giro de 180º, posicionando-se entre os
braços do Uke. Executar este giro uma vez para cada lado.
2. Idem ao anterior, executando a pegada na manga
correspondente ao giro.
3. Idem ao anterior, abraçando o pescoço do Uke.
4. Idem ao anterior, flexionando os joelhos.
5. Idem ao anterior, elevando o Uke do solo.
6. Idem ao anterior, projetando o Uke ao solo.
7. Idem ao anterior, com deslocamento para frente.

Handori no solo

Handori em pé

c. Parte Final (tempo de 10 a 15 minutos)

Volta a calma:

Brincadeira: O Homem Elétrico.

Alunos sentados em círculos. Escolhido um deles, explica-se ao mesmo que ele irá se
afastar do grupo por alguns instantes enquanto estaremos instalando uma bateria em um
colega seu, que estará no círculo e que ele deverá descobrir qual deles estará dando
choque, através de leves toques na cabeça, assim que o chamarmos de volta. Enquanto
ele permanece longe do grupo, explica-se aos demais que o objetivo da brincadeira é
apenas dar um susto no companheiro. Escolhe-se um dos colegas, e explica-se à todos
que assim que ele tocar na cabeça do escolhido, todos deverão dar um grito bem forte
para assustar o companheiro.

Comentário Final do Professor:

Neste momento o professor fará um "bate papo" com os alunos sobre a aula em si e
demais assuntos que julgar importante para o momento. É um bom momento para
falarmos sobre Ética e Disciplina do Judô.

Saudação Final

5 – AVALIAÇÃO

Observação do desempenho do aluno durante o transcorrer da aula.

F – SUGESTÃO DE UM PLANO DE CURSO

1 - DADOS GERAIS:

Escola : Secretaria de Esportes de Americana


Modalidade : Judô
Período : Fevereiro à Julho de 1999
Sexo : Misto
Faixa etária : Dos 07 ao 10 anos
Aulas semanais : 02

2 - OBJETIVO GERAL:

Proporcionar, através da prática sistemática do Judô, o crescimento e desenvolvimento


harmônico, desenvolvimento das potencialidades psicomotoras e cognitivas,
desenvolvimento da efetividade e a integração social, bem como a introdução aos
fundamentos básicos da modalidade.

3 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Ao final do semestre, os alunos deverão apresentar os seguintes comportamentos:

a. Desenvolvimento, em relação ao estágio inicial, das Qualidades Físicas Básicas,


com enfoque para a coordenação motora.
b. Dominância lateral e distinção enter esquerda e direita.
c. Movimentar, "trotando" pelo espaço da academia, juntamente com os demais
alunos, nos diversos sentidos e direções, sem trombar com os companheiros.
d. Responder, sem errar, as questões referente as noções de:

Em cima, em baixo, dentro, fora, perto, longe, grande, pequeno, etc.


e. Acompanhar, com movimento solicitado, um ritmo apresentado pelo professor,
bem como responder as questões referentes as noções de:

Antes, depois, rápido, lento, etc.

f. Equilibrar-se sobre uma das pernas, sem cair e sem tocar com a outra perna no
solo, por um tempo de trinta segundos.

g. Deslocar-se com equilíbrio, sobre uma superfície de dez centímetros de largura,


por uma distância de cinco metros, à uma altura de um metro do solo.

h. Identificar as diversas partes do corpo solicitadas pelo professor.

i. Conhecer e demonstrar os seguintes fundamentos básicos do Judô:

Ushiro ukemi e yoko ukemi, shizen-tai e jigo-tai, Kumikata, shintai e kuzushi.

j. Demonstrar corretamente as seguintes técnicas básicas:

Osoto gari, de ashi harai, koshi guruma e hon keza gatame,

k. Apresentar as normas de etiqueta e relacionamento social:

Disciplina, saudação, uniforme, higiene e bom relacionamento social.

4 - ESTRATÉGIA DE ENSINO:

Exercícios individuais, em pequenos grupos e coletivos, em forma de jogos,


brincadeiras e seqüências, pedagógicas, e atividades pré desportivas.

5 - CONTEÚDO:

a. Corridas, saltos, pegador, quadrupedia, exercícios com bastões, com as faixas,


transportar, escalar, rastejar, rolar, alongamentos, etc.

b. Exercícios que utilizem um lado do corpo e depois o outro.

c. Movimentar-se entre obstáculos, em diversos sentidos e direções, diminuir e


aumentar o espaço, etc.

d. Coelhinho na toca, morto e vivo, salto em distância, mímica, etc.

e. Corridas acompanhando um ritmo apresentado pelo professor, corridas com


obstáculos intermitentes, exercícios com música, etc.

f. Saltar em uma perna só, equilibrar o bastão, andar nas divisões do tatame,
parada em três apoios, parada de mãos, etc.

g. Mímica, sombra, pegador especificando a parte do corpo que deve ser tocada,
etc.
h. Exercícios com olhos vendados.

i. Dois a dois, tentar desequilibrar o companheiro em diversas situações.

j. Educativos e seqüências pedagógicas para o aprendizado dos fundamentos e das


técnicas propostas.

k. Exposições, demonstrações práticas e dinâmicas de grupo sobre filosofia,


disciplina, etiqueta, higiene, saúde e relacionamento social.

6 - RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS:

Uma sala aparelhada para a prática do Judô.


Materiais pedagógicos para as atividades de habilidades motoras e formação corporal.
Materiais para atendimento de primeiros socorros.
Materiais pedagógicos para registro e acompanhamento dos alunos.
Passes de ônibus para os alunos carentes.
Um professor de Judô - 4º- grau - formado em Educação Física
Pessoal para limpeza e manutenção.
Pessoal administrativo.

7 - AVALIAÇÃO:

Durante o período de execução do curso, serão aplicados os seguintes instrumentos de


avaliação:

a. Inicio do período: Avaliação diagnostica, com exames médico e biométrico, e


testes específicos para avaliar o domínio psicomotor.
b. Durante o período: Observação do rendimento do aluno no seu dia a dia de aula
e testes práticos e teóricos aplicados bimestralmente.
c. Final do período: Testes práticos e teóricos, aplicados ao final do período,
quando os alunos aprovados receberão novas faixas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Capon, Jack J, Atividades com Movimentos Básicos. São Paulo: Ed Manole,


1997.
2. Diem, Liselott. Esportes para Crianças: uma abordagem pedagógica. Tradução
de Walter Mass. Rio de Janeiro: Ed Beta, 1977.

3. Fritzen, José Silvino. Jogos Dirigidos. Petrópolis – RJ: Ed Vozes, 1981.

4. Go Tani "etalli". Educação Física Escolar: Fundamentos de uma abordagem


desenvolvimentista . São Paulo: Ed Da USP, 1988.

5. Kudo, Kazuzo. O Judô Em Ação. Nage-waza. São Paulo: Sol S.A, 1972.
6. Le Boulch, Jean. Educação Psimotora: a pscicocinética na idade escolar.
Tradução de Jeni Wolff. Porto Alegre: Ed Artes Médicas, 1987.

7. Lima, Anderson Dias de. Implicações da Prática e do Treinamento do Judô no


Crescimento e Desenvolvimento da Criança. Rio de Janeiro: Universidade
Castelo Branco, 1989.

8. Negrine, Airton. O Ensino da Educação Física. Rio de Janeiro: Editora Globo,


1993.

9. Proença, José Elias de. O Movimento: objeto da Educação Física como ação
educativa nos diferentes níveis da escolaridade. São Paulo: Secretaria do Estado
da Educação, 1985.

10. São Paulo ( Estado) Secretaria da Educação – Coordenadoria de Estudos e


Normas Pedagógicas. Educação Física no Ciclo Básico. São Paulo, 1989.

Proposta Curricular Para o Ensino da Educação Física – 1º-Grau. 3ª Ed. São


Paulo, 1983.

Subsídios Para a Implementação da Proposta Curricular de Educação Física Para


a Pré Escola. São Paulo, 1983.

11. Tubino, M.G. Gomes. Homo sportiens. Volume I. Rio de Janeiro: Palestra
Edições Desportivas, 1984.

12. Turra, C.M. Godoy e outros. Planejamento de Ensino e Avaliação. Porto Alegre:
EMMA, 1995.

COLUNISTA

É 4º grau de judô, formado em Educação Física pela PUC de


Campinas com especilização em treinamento desportivo.
Atualmente é o Diretor de Ensino e Credenciamento da FPJ.

ANDERSON DIAS LIMA

You might also like