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LUIZ PAULA LEITE

Recreando
Recriando

E-BOOK
Recreando
Recriando

Para uso nas escolas

Os originais desta obra foram averbados na Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura,
Escritório de Direitos Autorais. Rio de Janeiro. Brasil.
O autor é graduado em Psicologia, Direito e Filosofia. Como mantenedor, dirigiu, em São Paulo,
durante 16 anos, uma escola de Primeiro Grau e de Educação Infantil.
São Paulo (Br)
01/03/2002
1.ª edição
Veja outros trabalhos do mesmo autor no
http://sites.uol.com.br/luizlei

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ÍNDICE

Apresentação 4
Orientações gerais 6
A Alimentação 8
B Eliminação 17
C Autoconceito 22
D A mãe - A mulher 32
E O pai - O homem 37
F O casal - pais - família 40
G Agressividade – violência 45
H Fuga – timidez 50
I Sexualidade 55
J Socialidade 63

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APRESENTAÇÃO

Com o advento dos computadores e de sistemas como a Internet, estaria a escola destin ada a
desaparecer? Com freqüência ouvimos essa pergunta e nossa resposta tem sido sempre negativa.
Nós julgamos que, muito ao contrário, a escola não só continuará a desempenhar seu papel nos
campos das ciê ncias e da cultura, como assumirá uma nova e extraordinária função, a de
acompanhar e complementar o trabalho dos pais na formação psicológica dos filhos.
Cada vez mais torna-se evidente em nossos dias que a educação de uma criança no lar não é
tarefa simples, que possa ser desenvolvida apenas seguindo-se os “instintos”. O ser humano é mais
complexo do que se pensava até há pouco, e o tratamento a ser dado a ele na infância exige
elaborados cuidados. Infelizmente, a experiência tem demonstrado que nem sempre os pais estão
suficientemente preparados para cumprir com seus deveres. Quase sempre, por falta de preparo, de
informações. Muitas vezes, em razão de problemas emocionais que interferem no relacionamento
deles com os filhos. Nestas ocasiões, raramente é procurada a colaboração de um profissional.
Outras vezes, em função da profunda mudança social que se observa hoje em dia e que traz também
transformações para a família, tradicionalmente conhecida como a célula da sociedade. A união
estável do casal, obrigatória para toda a vida, está se tornando algo cada vez menos real.
As conseqüências geradas por essas situações inadequadas podem ser graves. As falhas na
educação irão produzir pr oblemas psicológicos que, se não forem corrigidos, tenderão não só a se
manter, como a se aprofundar. Com isso, todo o desempenho da criança, em relação a si própria e
em relação aos outros, estará prejudicado. Sofr erão a criança, a família, a escola e a sociedade. O
indivíduo terá seriamente limitadas suas possibilidades de auto-realização. A escola enfrentará
problemas redobrados para repassar a esse aluno o conteúdo de seus programas. E uma vivência
infeliz da infância poderá resultar num grau de satisfação tão baixo que o leve, num futuro não muito
distante, à procura de compensações em atos anti-sociais ou nas drogas.
Esse quadro aponta para a necessidade de que a escola assuma a educação psicológica como
uma responsabilidade também sua. O aluno passa, durante muitos anos, boa parte dos seus dias
dentro do estabelecimento educacional. Suas atividades aí são variadas, envolvendo intenso
relacionamento afetivo com professores, colegas e com a direção da escola. Deste modo, a escola
tem excelentes possibilidades de proporcionar a ele uma educação que não se limite aos aspectos
científico-culturais, mas que vise ao indivíduo em sua totalidade. Ganharia o próprio ensino que,
removidos ou minorados eventuais entraves emocionais dos alunos, teria seu trabalho de transmitir
as matérias tradicionais facilitado. A sociedade seria benefic iada com a formação de um maior
número de cidadãos cooperativos. E, de modo particular, o próprio aluno iria contar com a
oportunidade de descobrir um mundo mais amigável e de ser feliz nas experiências de sua vida.
A coleção "Recreando Recriando" oferece uma série de sugestões para esse trabalho
psicológico junto aos alunos, na forma de variados exercícios a serem ministrados às classes do
maternal à oitava série. Não se trata de uma lista de aconselhamentos sobre o que o aluno e a aluna
devem seguir, ou sermões sobre o que não fazer. As lições têm como finalidade transmitir e
aprofundar nas cria nças e nos jovens uma visão adequada da realidade. O pressuposto é que o
comportamento de um indivíduo depende basicamente da “visão” que ele formar do mundo. Se esta
visão for boa, ele terá uma atitude positiva em relação ao mundo. E desta atitude fluirá, de modo
inteiramente espontâneo, um comportamento apto, vantajoso, normal, cooperativo, tanto em relação

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a si próprio, como em relação às demais pessoas. Ele será feliz e os outros, quanto dependam dele,
também o serão. Se a sua visão for negativa, seu comportamento será negativo. E com isso sofrerão
ele e todas as pessoas com as quais se relacionar.
Os princípios que orientaram o desenvolvimento dessas aulas de formação psicológica
encontram-se expostos no livro Psicologias e Psicoterapias, um Ponto de Encontro , publicado
pela editora Marco Markovitch. Os capítulos mais importantes para a compreensão do sistema
exposto no livro encontram-se disponibilizados na Internet sob o título Psicoterapia dos Conceitos
Fundamentais que pode ser acessado voltando para a página principal.
Como dissemos, o comportamento normal, apto, eficaz depende de uma visão adequada da
realidade, ou seja, de uma visão positiva do mundo. E como se forma essa visão do mundo?
Através das experiências em relação ao que denominamos de nove entidades fundamentais. Essas
entidades são, em primeiro lugar, o próprio indivíduo, o homem, a mulher. O relacionamento do
indivíduo com essas entidades se faz através de seis formas de atitudes e de ação: a alime ntação, a
sexualidade, a socialidade; a agressividade, a fuga e a eliminação. Quando o indivíduo forma através
de suas experiências, particularmente na infância, conceitos bons, positivos, dessas entidades, ele
poderá relacionar-se bem com elas, poderá utilizar-se delas e com isso realizar suas potencialidades.
Se, no entanto, formar dessas entidades conceitos negativos – de que são frustradores, perigosos,
sem valor, proibidos, ocasião de sofrimento – ele terá dificuldade em utilizar-se desses meios para a
auto-realização. E com isso, todo o seu comportamento estará prejudicado.
Os exercícios aqui apresentados visam, nos alunos que já tenham formado esses conceitos de
modo positivo, a reforçá-los. E nos alunos que tenham formado esses conceitos de modo negativo,
a corrigir esses conceitos, a transformá-los, na medida do possível, em positivos.
É importante acrescentar que o material apresentado é apenas uma minuta, um rascunho. Ele
não foi testado na prática. São sugestões que deverão ser avaliadas, experimentadas, desenvolvidas
e adaptadas para as várias séries, de acordo com as circunstâncias sociais e culturais dos alunos.
Nesse sentido, elas poderão ser adotadas integralmente, parcialmente, ou servirem apenas como
indicadores a seguir no sentido de uma atuação mais direta da escola no plano psicológico do aluno.
Nossa idéia inicial era desenvolver esse programa em um formato semelhante ao utilizado pela
publicação Crescendo (copyright – Sttima – Editora e Distribuidora). Como nos convencemos de
que esse trabalho iria nos tomar um tempo do qual não iríamos provavelmente dispor, resolvemos
disponibilizar as “sementes” do projeto para que possam crescer, adaptar-se e desenvolver em
outras searas. Nesse desenvolvimento, é importante que fiquem sempre mantidos os princípios
psicológicos que norteiam as nossas sugestões, o primeiro dos quais é que o comportamento do
indivíduo se desenvolve a partir da Visão que ele tiver da realidade. O que interessa de modo
particular, no plano psicológico, é transmitir à criança uma visão positiva da realidade, das entidades
fundamentais.
x
Esses exercícios podem ser utilizados também na Psicoterapia, particularmente na Psicoterapia
de cr ianças.

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ORIENTAÇÕES GERAIS

1. As lições a seguir foram desenvolvidas, na sua maioria, voltadas para as crianças da Escola
Infantil ou Pré-Escola. Sua utilização para alunos de outras séries exigirá uma adaptação de
linguagem. Mesmo temas que parecem muito infantis, como "a comida não vai faltar, conscientização
do ato de comer, do sabor da comida, de que a comida não é má" etc. devem ser adaptados para
os alunos mais adiantados.
2. De acordo com o que expusemos na Apresentação, entendemos que os sentimentos são
efeitos do modo pelo qual a criança vê cada entidade. Por isso, só uma vez ou outra o orientador
deve apelar para os sentimentos. Deve-se evitar, então, dizer frases como: “Você não pode ter
inveja, raiva, ciúmes, medo etc.” Essas expressões serão usadas apenas como reforço do trabalho
de mudar uma visão: “Você não precisa ter medo, ele não é perigoso. Ele gosta de você, foi sem
querer que ele o machucou, assim você não precisa ter raiva dele.” Com esse trabalho de mudar a
visão da realidade você irá obter o efeito desejado. Os sentimentos nocivos se extinguirão quando a
visão negativa mudar.
3. Durante os exercícios, o ambiente deve estar tranqüilo, para possibilitar o máximo de
concentração. Retirar dele os objetos que possam ocasionar distração.
4. A atenção deve estar sempre voltada para o tema. Deixar a conversa correr solta, mas, se o
assunto se desviar, trazê -lo com jeito de volta. Só impedir comportamentos que importem risco de
dano ao próprio aluno, a colegas, ao orientador, a móveis e objetos. Também, com jeito,
comportamentos que distraiam devem ser desestimulados. Em caso de atos agressivos, não censurar
o aluno. Pergunte calmamente, de modo compreensivo, sem tom de crítica, se ele está com raiva.
Procure saber o motivo:
— Você está com medo de que eu dê mais atenção aos outros? Às vezes a gente sente isso. A
gente sente medo de ficar esquecido. — Você acha que os outros estão querendo que eu dê
atenção só a eles? — Você gostaria que eu desse atenção só para você? — Em sua casa, acontece
o mesmo em relação ao papai, à mamãe, aos seus irmãos?
Em suma, evitar críticas a comportamentos. Analisar o porquê da ação. Sempre com o cuidado
de não gerar culpa. Mostrar o motivo: insegurança, medo de abandono, de ser deixado para trás,
em segundo lugar. Ter sempre presente que a criança não está se comportando por maldade, mas
porque está reagindo de acordo com seus conceitos inadequados. São estes que precisam ser
modificados.
5. Em algumas lições aparecerão referências a temas sexuais. O mais indicado é não só tolerar,
mas apoiar toda a expressão verbal que os alunos possam apresentar sobre o tema. O orientador
não pode se mostrar atingido, ofendido por essas expressões. Nunca deve revidar com
provocações às provocações dos alunos. Deve recebê-las naturalmente, de modo adulto,
percebendo que aí está um problema a ser analisado. Não fugir do assunto, mas aproveitar a
ocasião para trabalhá-lo. Nada melhor para acabar com uma obsessão por um tema sexual do que
falar ou deixar o aluno falar abertamente sobre ele. Permitir que sejam empregados me smo termos
chulos.
6. Tomar o cuidado para não sugestionar a criança de que ocorreram fatos negativos em sua
vida. Apenas pergunte de modo geral. Ou diga que às vezes esses acontecimentos ocorrem.

6
Receber os seus relatos de modo afetuoso, demonstrando compaixão, sem esquecer, no entanto,
que essas histórias por vezes refletem apenas fantasias.
7. Estas lições devem ser dadas por psicólogos ou por psicopedagogos. Se possível, os temas
mais ligados à mãe, à mulher (alimentação, eliminação, figura materna, autoconceito da menina,
sexualidade da menina) devem ser tratados por uma orientadora e os temas mais ligados ao pai
(figura paterna, autoconceito e sexualidade do menino), por um orientador. (Aproveitamos a ocasião
para assinalar que também seria recomendável que houvesse nas escolas infantis e de primeiro grau
um maior equilíbrio no número de professoras e de professores.)
8. Todas as lições devem sempre ter o objetivo de extinguir um hábito de ver as entidades
fundamentais como negativas e criar ou reforçar o hábito de vê-las como positivas. Enfatizar, então,
sempre, os aspectos positivos, tranqüilizadores.
9. Seria de todo recomendável que um trabalho paralelo fosse desenvolvido pelo orientador
junto aos pais. Estes deveriam receber uma circular falando sobre o assunto que iria ser tratado.
Melhor, ainda, se pudessem comparecer a uma reunião para conversar sobre cada tema e receber
orientações de como proceder em relação a seus filhos naquela área trabalhada.
10. Nestas reuniões, jamais acusar os pais pelos problemas dos filhos. Tomar cuidado para não
fazê-los sentir-se culpados. Enfatizar que eles certamente procuraram agir do melhor modo possível.
Mas que a educação de uma criança é uma tarefa bastante difícil. É provável que tenha havido
falhas involuntárias. Pequenos erros podem provocar com o tempo problemas para a criança. Às
vezes, esses erros vêm da falta de orientação, de dificuldades emocionais da pessoa, do casal, de
problemas de saúde ou econômicos. Orientá-los em relação às atitudes que devem mudar e às que
devem tomar. Em alguns casos, sugerir consulta a um psicólogo.
11. Também os professores das outras matérias devem participar deste trabalho, mantendo uma
atitude coerente com os princípios aqui expostos, fornecendo ao orientador informações sobre seus
alunos e recebendo dele instruções de como agir em casos especiais.
12. É possível que alguns exercícios exijam a divisão de uma classe em grupos menores, para
que seus temas possam ser melhor trabalhados.

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Lição A-1

Medo da agressividade oral

Pressuposto. Algumas crianças são frustradas na amamentação. Como


reação sentem raiva da mãe, da comida, o que as impede de comer com
tranqüilidade.
Objetivo. Diminuir a ansiedade nos momentos da refeição.

Falar com as crianças sobre um cachorrinho qualquer. Deixar a conversa correr em torno do
tema. Não permitir que se fuja dele. É importante que o assunto seja desenvolvido em tom leve, de
brincadeira.
— Quem tem um cachorrinho?
Deixar que todos falem. Num determinado momento, lançar a pergunta:
— O cachorrinho já mordeu você?
Agora, em tom de brincadeira:
— E vocês já morderam o cachorrinho? (Ri.)
— Vamos brincar de cachorrinho. Todos engatinhando como cachorrinho. Todos fazendo au-
au-au.
— Cada um faz de conta que vai morder o outro. Mas sem morder!
Se julgar mais prudente, substituir esta brincadeira pelo desenho de um cachorrinho. Este tema
pode ser repetido em outras ocasiões, falando de outros bichos. Clima de descontração.
Enfatizar a todo o momento os aspectos positivos, tranqüilizadores.

Aviso aos pais: Vamos trata r do tema da comida. Reforce com estas frases: "Tem bastante
comida em casa. A comida não falta. Pode comer quanto quiser." Se a criança apresentar
comportamento de morder os outros, avise-nos. Não insista para que ela coma mais. Apenas
diga que, se ela quiser, tem bastante comida.

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Lição A-2

Medo de devorar

Pressupostos e objetivos como da lição A-1.

Relembrar o tema da Lição anterior.


— Vamos fazer um desenho sobre o que nós conversamos.
Estes desenhos podem ser analisados depois, com as crianças:
— Este bicho está bonito ou feio? Você se parece com ele? Você tem medo dele?
(Tranqüilizar.) Ele morde? Você morde ele? (Ri).

9
Lição A-3

Seios - mamadeira - comida

Pressupostos: Mesmo pequenas frustrações podem levar o bebê a formar


da alimentação, dos seios, do leite, o conceito de que são maus, ocasião
de sentimentos de agressividade, de medo, de angústia.
Objetivo: Mudar esse conceito mau da alimentação para um conceito
bom.
Material: Figura de uma mãe com um bebê. Leite.

Na parede pode estar a estampa de uma mãe com seios meio à mostra. Se na gravura aparecer
um bebezinho mamando, observe se o aluno o vê como concorrente. Procure levar a criança a se
identificar com ele.
— Falar dos cachorrinhos mamando na cachorra.
— Dos gatinhos mamando na gata.
— Quando você era pequenininho, você também mamava na mamãe, ou na mamadeira.
— A mamãe tem leite.
— O leite é o alimento do bebê. Sua comida.
— O leite vai para a barriguinha do nenê para fazer o nenê ficar forte.
— Você tinha fome, chorava, a mamãe dava o leite. Aí você ficava contente.
— Vamos todos chorar. Quero leite, quero leite.
Distribuir um copo de leite para cada um.
— Falar para eles beberem o leite. Falar para eles prestarem atenção ao leite.
— Dizer que eles podem beber o quanto quiserem.
Observação. Verificar antes se algum aluno tem alergia por leite. Ver também se o leite tem boa
procedência, se não está com a data de uso vencida.

Aviso aos pais. Vamos falar sobre a época em que ele(a) era bem pequeno e mamava. Se ele
fizer perguntas sobre esse assunto, responda com tranqüilidade e amor. Se não deu de mamar
no peito e ele perguntar, conte que ele mamava na mamadeira.

10
Lição A-4

Agressividade oral

Pressuposto: A agressividade que a criança sente ao ser frustrada na


alimentação pode levá-la a formar o conceito de que ela é uma pessoa
má, de que ela tem coisas ruins dentro de si.
Objetivo. Mudar esse conceito para um conceito bom.

Recordar a lição n.º 1. Desenhos. Bichos que mordem. Procurar tranqüilizar.


Cada criança põe a mão na boca e diz: — Minha boca é boazinha. Tudo o que ela faz é bom.
Nos dentes: — Meus dentes são bonzinhos.
Coloca a mão na barriga e diz: — Minha barriguinha é boa. Tudo o que está lá dentro é bom.
Passando a mão no corpo inteiro: — Meu corpo é bom. Minha mão é boa, meu braço é bom,
meu pé é bom. Eu sou bom. Eu sou boa.

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Lição A-5

A comida é boa

Pressuposto: As frustrações na hora da amamentação, levam a criança a


ver a alimentação como algo mau.
Objetivo: Refazer esse conceito, reparar que a comida é boa, é gostosa, é
fonte de prazer, de vida.

No dia anterior, avisar: Ninguém se esqueça do lanche amanhã. Todos devem trazê-lo.
Alternativa: a escola prepararia para as crianças um lanche especial.
Na hora do lanche, apagar quase todas as luzes da sala. Deixar um ambiente de concentração.
— Cada um vai comer o lanche prestando atenção no que está fazendo.
— Para que serve o lanche, a comida?
— Associar o lanche a outras comidas, almoço, janta, café da manhã.
— Cada um deve prestar atenção no sabor.
— Agora a comida está na sua barriguinha e vai ajudar você.
— Vai ajudar você a ser inteligente. Bonito. Forte. Bonzinho. Vai ajudar você a crescer. (Fazer
alongamento com as crianças.)
— Passar a mão na barriguinha de cada um dizendo: Comida gostosa. Comida boa.
— Fantasiar que a barriguinha é um salão, que a comida está dançando lá dentro. Um alimento
dizendo: Eu vou fazer que ele fique forte! Que ele fique inteligente! Que ele fique alegre! Que ele
fique bonzinho!

Aviso aos pais. Vamos dizer que a comida é boa. Reforce pedindo à criança que
experimente várias espécies de comida de olhos fechados, e descubra o que cada uma é:
açúcar, sal, danone, suco.

12
Lição A-6

A comida é boa

Pressupostos e objetivo como na Lição A-5.

Fechar os olhos e colocar um ingrediente na boca e dizer se é doce, salgado, se é bolacha,


danone... chocolate. Falar que quando eles estiverem comendo eles devem prestar atenção no sabor
da comida: — O que eu estou comendo mesmo? E acrescentar: — A comida é boa.

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Lição A-7

A comida não vai faltar

Pressupostos: Atrasos na amamentação ou aleitamento insuficiente


podem levar o bebê a gravar a impressão de que a comida é um elemento
que sempre pode vir a faltar.
Objetivo: Extinguir na criança essa impressão, mostrando que ela pode ter
toda a comida que precisar.

— Vocês eram bebês.


— A mamãe às vezes atrasava a amamentação.
— O que ela estava fazendo? Estava falando ao telefone? Estava na cidade?
— Aí vocês começavam a chorar, a berrar. Vamos chorar e berrar? Todo o mundo!
— Todo o mundo dizendo: a mamãe esqueceu de mim. A mamãe esqueceu da minha comida.
Eu quero mamar.
— Aí a mamãe diz: Meu Deus! Eu esqueci de dar o leite para o meu bebezinho querido.
— Aí ela vinha correndo dar de mamar. Às vezes era no peito. Às vezes era na mamadeira.
— Como a mamãe atrasava, você pode ficar pensando que agora sempre a comida vai atrasar.
(Repetir esta frase várias vezes.) E você fica com raiva. Você fica com medo. Aí começa a fazer
birra. Não gosto disto, não gosto daquilo. Tenho medo de comer carne. Tenho medo de beber leite.
— Você fica com medo de que a comida vai faltar.
— Mas a comida não vai faltar. (Repetir várias vezes esta frase, nesta sessão e em outras.)
— Tem bastante comida. Você pode comer quanto quiser.
— Mesmo que atrase um pouquinho, a comida sempre vem. Comida gostosa. Comida é
energia. É força. É vida.

Aviso aos pais. O tema é “a comida não vai faltar”. Repita essa frase para o seu filho
várias vezes. Diga também que, se a comida demora, ele não precisa ficar com medo, porque a
comida não vai faltar. Ele pode comer à vontade.

14
Lição A-8

A comida não vai faltar

Pressupostos e objetivo como na Lição A-7.

— Quando você era nenê, às vezes a mamãe atrasava para dar sua comida. O que ela estava
fazendo?
— Pode ser que às vezes, quando você mamava, o leite não era suficiente.
— Aí você ficou pensando que sempre a comida vai faltar.
— Agora, na hora do almoço ou do jantar, você vê a comida na mesa. E vê que tem o papai
que vai comer aquela comida. A mamãe que vai comer aquela comida. Quem mais? O irmãozinho?
A irmãzinha? O cachorrinho também? O gatinho?
— E aí você começa a pensar : A comida não vai dar para todo mundo. Se todo esse pessoal
comer, vai faltar comida. Vai faltar comida para mim. E você fica com medo de ficar sem comida. E
fica com raiva.
— Você não precisa ficar com medo. Não precisa ficar com raiva. Tem comida para todos.
Tem comida para você também. E bastante. Quanto você quiser. E você pode comer de tudo (não
fale deve) . É gostoso também comer carne, leite, salada, arroz, macarrão. O que mais ? Frutas,
batata, lanche.
— A comida não vai faltar. Repetir em coro. Cantando.
— Convidar as crianças a se imaginar nadando em uma banhe ira de leite.

15
Lição A-9

A comida não vai faltar

Pressupostos e objetivo como na Lição A-7.

Relembrar Lição anterior. Desenho sobre o tema. Come ntar.

16
Lição B -1

A eliminação

Pressuposto. A eliminação de resíduos corporais é uma atividade


fundamental para a manutenção da vida.
Objetivo. Formar ou reforçar um conceito bom dessa ativid ade.

— Para viver, o nenê precisa comer. No começo, a comida dele é só leite. Depois a mãe dá
papinha, caldinho, sopinha. Mais tarde, arroz, feijão, carne, verduras, macarrão... refrigerante.
— Para onde vai toda essa alimentação? Vai para a barriguinha. Para o estômago. Lá, o
estômago tira da comida a parte melhor que vai ser distribuída pelo corpo. E a parte que não tem
utilidade o corpo coloca para fora. É o cocô. É o xixi. O xixi é a água que sobra. O cocô é a parte
da comida que não serve mais.
— É importante que esse resto de comida seja colocada para fora porque, se ficasse dentro do
corpo, ele ocuparia espaço na barriga e a gente não ia poder comer mais.
— Quando você era bebê, você não sabia falar. E por isso não sabia avisar sua mãe que estava
com dor de barriga e queria fazer cocô e xixi. E você fazia cocô e xixi na fralda.
— Como a mamãe é boazinha, depois que você fazia cocô e xixi na fralda, ela tirava a fralda e
dava banho em você e colocava em você uma fralda limpinha.

Nesta lição existe a possibilidade de alguma criança voltar a urinar de noite na cama. Isto
indicaria necessidade de atenção. Talvez seja o caso de prevenir esse resultado com
observações de que, agora, elas, as crianças, já sabem se controlar, não são mais bebezinhos.
Acrescentar as vantagens de serem maiores.

17
Lição B -2

A eliminação

Pressupostos: Se a criança se sente de algum modo frustrada pelos pais,


e percebe que a eliminação desagrada a eles, ela pode ver nessa atividade
uma forma de manifestar seu protesto. A eliminação passa a ser usada
por ela com um componente agressivo. Mais tarde, talvez pelas reações
dos pais a esse tipo de comportamento, ela pode sentir-se culpada.
Objetivos: Conscientizar a criança de uma possível ocorrência desses
sentimentos e fazer com que ela os veja de modo menos perigoso.

— Às vezes a mamãe tinha que trocar muitas fraldas em você. E ela acabava perdendo a
paciência. E ela dizia: "Mas que cocô fedido! Meu nenê já fez cocô de novo! Já fez xixi de novo!”
— Você ouvia aquilo e às vezes ficava chateado. E pensava: minha mamãe é chata. Não vê que
eu não sei falar? E você ficava com raiva da mamãe. Pode ser até que acabasse pensando: Então eu
não posso fazer cocô e xixi? Pois agora eu vou fazer cocô e xixi de propósito, só para ela ficar
chateada também.
— Fazer cocô e xixi é importante porque o cocô e o xixi são um material que não presta mais.
— A gente precisa esvaziar a barriga para dar espaço para colocar lá dentro outras comidas
gostosas que a mamãe faz. A mamãe sabe disso. Não precisa mais brigar com ela por causa disso.

Aviso aos pais.Vamos dizer ao filho que quando a gente vai ao banheiro, a gente está
fazendo uma coisa boa, porque está aliviando o corpo de um material que se tornou inútil. Se
ele falar sobre o assunto, responda com naturalidade.

18
Lição B -3

Prisão de ventre

Pressupostos. Em alguns casos, a idéia de que a comida vai faltar pode


levar a criança a defender-se retendo ao máximo a comida ingerida, daí
surgindo casos de crianças com problemas muito freqüentes ou
contínuos de prisão de ventre.
Objetivo. Extinguir a idéia de que a comida vai faltar.

— Como eu já falei, pode ter acontecido que, às vezes, a mamãe se atrasava ao dar o leite para
vocês. Aí, o que acontecia?
— Vocês começavam a achar que a comida sempre ia faltar.
— Pensando que a comida vai faltar, algumas crianças começam a segurar a comida na barriga.
Quando vão ao banheiro, não fazem cocô. Ficam com aquilo que a mamãe chama de prisão de
ventre.
— Agora nós já sabemos que a comida não vai faltar, não é verdade? Então a gente pode ir ao
banheiro, fazer cocô e assim a barriga fica vazia para receber nova comida.

19
Lição B -4

Prisão de ventre

Pressuposto. A eliminação do bebê é um fato desagradável para os


adultos. Pode acontecer que esses adultos, particularmente a mãe,
demonstrem nessas ocasiões esse desagrado de um modo bastante claro,
tratando o bebê com certa irritação. Como reação, este aprenderá que
essa sua atividade é ruim. E procurará evitá-la, dando lugar a um caso de
prisão de ventre continuada
Objetivo. Extinguir o hábito de ver essa atividade como má, e formar o
hábito de considerá-la boa.

— Quando vocês eram bebês, vocês faziam cocô e xixi na fralda.


— Aí a mamãe dizia. Oi que coisa feia. Mais uma vez ele fez cocô. Mais uma vez ele fez xixi.
Acabei de dar banho nele e de trocar sua roupinha e ele sujou tudo de novo.
— Aí o nenê começa a pensar que não pode mais fa zer cocô. Começa a pensar que fazer cocô
é feio, é proib ido. E não quer mais ir ao banheiro.
— Mas nós sabemos que o nenê pode fazer cocô, sim. Se o nenê não fizer cocô, a comida fica
na barriga e ele não pode comer mais comida.
— Fazer cocô é bom. Não faz mal a ninguém. É claro que precisa ser no banheiro, para não se
sujar.

20
Lição B -5

Enurese

Pressupostos. Alguns casos de enurese são produzidos por um medo de


crescer, de deixar de ser bebê, por um desejo de retorno a essa fase, em
geral devido à insegurança gerada pelo nascimento de um irmão, sobrinho
ou vizinho. O fato de molhar a roupa ou a cama importa no ganho de
uma série de manifestações de atenção e, com a enurese, a criança pode
estar querendo manter esses privilégios ou recuperá-los. Se não estiver
associada ao nascimento de alguém, pode estar ligada a uma insegurança
e conseqüente rivalidade em relação a algum dos genitores, tendo, então,
certa conotação sexual.
Objetivo. Restituir a segurança à criança através da conscientização do
que se passa com ela e da melhora do autoconceito.

— Quando vocês nasceram, a mamãe e o papai davam bastante atenção para vocês.
Carregavam vocês no colo, davam comida, banho, trocavam suas roupinhas. Aí vocês cresceram.
Aprenderam a andar, a falar, a ir ao banheiro sozinhos.
— Com alguns de vocês aconteceu, então, que nasceu um irmãozinho.
— Quem daqui tem um irmãozinho ou irmãzinha?
— E quem vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha?
— Quem tem um irmãozinho gosta dele? E quem tem uma irmãzinha, gosta dela?
— Muito bem. Vocês gostam de seus irmãozinhos.
— Às vezes, no entanto, quando a criança ganha um irmãozinho, ela não gosta muito. Ela fica
com medo de que a mamãe e o papai pensem só no irmãozinho e irmãzinha e se esqueçam dela.
— Aí pode ser que vocês começaram a pensar uma coisa. Para que minha mãe e o meu pai
não se esqueçam de mim, eu vou fazer tudo o que meu irmãozinho ou irmãzinha fazem. Vocês
começam a chorar como o irmãozinho chora. Vocês percebem, também, que seu irmãozinho faz xixi
nas fraldas. E vocês começam a fazer xixi na cama. Como quando vocês eram bebês. Fazem xixi na
cama para chamar a atenção da mamãe e do papai. Vocês querem dizer para eles: Olha, eu também
sou nenê. Eu preciso que vocês cuidem de mim como cuidam do meu irmãozinho.
— Será que precisa fazer isso? Não, não precisa. A mamãe e o papai continuam gostando de
vocês. E vocês não precisam ficar sempre bebês. Vocês vão crescer para poder brincar, correr,
andar de bicicleta, nadar, conversar com a mamãe e o papai, ir ao shopping, vir para a escola,
estudar com os coleguinhas. Isso é melhor do que ficar o dia inteiro no berço, não é?

21
Lição C-1

Quem sou eu? O nascimento

Pressupostos. Vários autores supõem que o nascimento possa significar


para alguma criança um choque. Falam em “trauma do nascimento”.
Objetivo. Este exercício visa uma revivência dessa experiência,
procurando associá-la a sentimentos positivos, à idéia de que ela é aceita,
é desejada.

Para esta Lição a monitora deve contar com um espaço de tempo mais longo. Especialmente
para as crianças pequenas seria bastante recomendável que pudesse dispor de um desses túneis de
pano à venda nos fornecedores de material para a pré-escola.
— Como vocês começaram? Apareceram numa árvore? Mamãe comprou vocês no
supermercado?
— Cada um de vocês começou a existir na barriga da mamãe.
— Foi crescendo. Até ficar um bebezinho bonitinho.
— Como era lá dentro da barriga da mamãe?
Era um lugar quentinho, silencioso. Não precisava nem comer.
— Mas chega um dia em que o bebê já está bem grandinho. Ele já não cabe lá dentro. Ele não
quer mais ficar lá sozinho. Ele quer ver uma porção de coisas. Ganhar brinquedos. Brincar com
outras crianças. Vestir roupas bonitas. Ter amiguinhos. Jogar futebol. Quer ir para a escola.
— Então ele avisa a mamãe que quer sair. Começa a se mexer bastante lá dentro.
— E o pessoal aqui fora prepara o nascimento dele. Compra roupinhas azuis para o bebê
menino, cor-de-rosa para o bebê menina. Avisa o tio médico. O papai telefona para a maternidade
e leva a mamãe para lá. A mamãe vai para uma sala, deita numa cama para esperar você na scer. O
papai fica perto da mamãe.
— E aí chega uma hora em que você começa a descer da barriga da mamãe e aparecer fora da
barriga dela. Você estranha a luz da sala porque lá dentro da barriga era tudo escuro. Agora é tudo
claro. O médico pega você com bastante cuidado e mostra você para a mamãe e para o papai que
estão rindo de alegria. Aí levam você para tomar um banho quentinho e deixam você dormindo para
descansar do esforço que você fez.
— Vamos agora fazer uma brincadeira. Aqui está este túnel de pano. Faz de conta que é a
barriga da mamãe. Vocês vão entrar por aquela abertura e vão nascer por este lado.
A criança entra pela extremidade mais distante e vai caminhando para sair na extremidade perto
da monitora. As outras crianças começam a “incentivar” o “nascimento” do coleguinha chamando
pelo nome dele. Quando ele sai do túnel a monitora o abraça carinhosamente e todos batem palma
e dão viva.

22
Aviso aos pais. Vamos falar do nascimento do seu filho. Contem a ele como foi. Suas
expectativas. Seus desejos de que ele fosse uma criança feliz. Como prepararam a chegada
dele. A festa de todos com o nascimento dele.

23
Lição C-2

Quem sou eu?

Pressupostos. A criança pode formar de si um conceito negativo: de que


é má, agressiva, preguiçosa, invejosa, medrosa, sem valor, abandonada,
que não é amada, que tem coisas ruins dentro de si.
Objetivo. Extinguir esse conceito negativo e colocar em seu lugar um
conceito positivo.

Fazer um grande círculo. Cada criança vai falar de si. Nome. Idade. Família. Onde mora. Do
que gosta.
Usar um espelho grande. Pedir para cada uma sorrir na frente dele. Fazer cara de choro. De
raiva. De medo. Beicinho. Gritar, berrar. Falar baixinho.
Observar se a criança se vê de modo positivo ou negativo. Procurar notar alguma coisa de bom
nela. Evitar, porém, elogios mecânicos, estereotipados, padronizados. Mostrar convicção. Levar as
crianças a concentrarem a atenção em quem estiver realizando o desempenho. Impedir que as
outras atrapalhem, que tentem desviar a atenção dela.

Seria indicado contar com uma auxiliar que tomaria conta da classe enquanto a monitora
trabalharia com cada criança em particular.

24
Lição C-3

Quem sou eu?

Pressupostos e objetivo como na lição C-2

Relembrar a conversa anterior sobre o tema.


Pedir para cada criança desenhar-se.
Depois, cada uma vai falar sobre o desenho.

25
Lição C-4

Quem sou eu?

Pressupostos e objetivo como na lição C-2.

Relembrar conversas anteriores sobre o tema.


Fazer um círculo. As crianças deitam-se em forma radial com os pés para o centro do círculo.
Dividir meninos e meninas. Todos fecham os olhos. Cada um deve tocar uma parte do próprio
corpo, senti-la e falar sobre ela. Pés. Mãos. Rosto... Se os órgãos genitais forem nomeados, não
censurar, reagir com naturalidade. Se houver um pouco de brincadeira por parte dos participantes, o
orientador deve tolerá-las, pode até acompanhá-los, em certa medida. Não mostrar in ibição.
Terminar medindo a altura de cada um. Após alguns meses, repetir a medição. Se a cria nça não
mostrar crescimento, sondá-la com perguntas como: — Você tem irmãozinho? Você acha que a
mamãe e o papai gostam mais dele? Por isso você gostaria de ser pequeno como ele? Você tem
medo de crescer? Você não quer ser como a mamãe? Como o papai? Você gosta deles? Tem
medo deles? Tem raiva?

26
Lição C-5

Quem sou eu?

Pressupostos e objetivo como na Lição C-2.

Relembrar as conversas anteriores sobre o tema.


Pedir para cada criança redesenhar-se. Comentar com os alunos os desenhos que fizeram. Se
alguém desenhar-se sem roupa, tolerar. Receber essa manifestação com naturalidade. Não se
mostrar ofendido por ela.

27
Lição C-6

Quem sou eu

Pressupostos e objetivos como na lição C-2.

Conversar sobre o que cada um faz. De que é capaz. Do que gosta. Do que brinca. Pedir para
demonstrar: subir uma escada; carregar uma cadeira, um pequeno peso; correr; chutar uma bola;
encestá-la; assobiar; cantar; fazer caretas engraçadas. Centrar as atenções em quem estiver fazendo
uma demonstração.
Note, essas demonstrações não têm a finalidade de mostrar habilidades especiais, de rivalidade,
de disputa. Destinam-se apenas a ajudar na tomada de consciência de si, de seu corpo, de sua
força, de seu desenvolvimento. Fazer o aluno sentir-se notado, sentir que existe para os outros.

28
Lição C-7

Quem sou eu

Pressupostos e objetivo como na lição C-2.

— Algumas pessoas acostumam-se a se ver de maneira negativa. Às vezes esse hábito resulta
do fato de os pais só terem apontado os defeitos delas. Outras vezes isso acontece porque, quando
se viam frustradas na infância, elas reagiam com raiva, com agressividade, e os outros diziam para
elas que isso era mau.
Deixar que os alunos comentem esse problema livremente, oferecendo apoio, quando
necessário.
— Para esses indivíduos, tudo o que fazem é errado e só os outros são bons. Se falham em
alguma tarefa, é porque falham. Se obtêm algum sucesso, acham sempre que poderiam ter feito
melhor. Os outros são mais fortes, mais bonitos, mais inteligentes do que eles. Nunca reparam no
aspecto positivo do que eles fazem, de como eles são.
— Esse hábito de se ver negativamente estraga a vida inteira de uma pessoa. Ela vive
deprimida, insegura, insatisfeita consigo mesma, com raiva dos outros que sempre parecem melhores
que ela.
— É muito importante, então, mudar esse hábito. Se você se comportava mal, era porque você
estava achando que não o estavam tratando bem. Era uma defesa sua. Era o seu modo de reagir.
Você não era mau. E se você continuar a se ver negativamente, você continuará a se comportar
negativamente.
— Então, de hoje em diante, você vai fazer um esforço especial para reparar sempre nas suas
qualidades positivas. No que você faz de bom. No que vo cê acerta, no progresso que você
consegue fazer, por mínimo que seja.
— Como todo o mundo, às vezes você irá errar. Reconheça o erro, veja se nesse erro tem
algum aspecto positivo, e planeje como na próxima vez você poderá melhorar.
— É possível que você tenha o hábito também de ver os outros só pelo lado negativo. As
coisas ficarão mais fáceis se você mudar e aprender a ver no outros, de preferência, os aspectos
positivos, por mínimos que sejam: nos jogos, em casa etc.
Esta aula é da maior importância e deve ser repetida várias vezes ou, pelo menos,
continuamente relembrada.

29
Lição C-8

Quem sou eu

Pressupostos e objetivos como na lição C-2

Contar a história de sua vida. Convidar a criança a representar determinados episódios que
foram importantes para ela, incentivando-a a experimentar de novo os mesmos sentime ntos da
época passada: tristeza, dor, medo, raiva, inveja. Se chorar, deixar que chore o quanto quiser, não
impedi-la, não tentar fazer que pare de chorar. Procurar consolá-la. Promover o apoio da turma. O
orientador deve ressaltar o crescimento, o aumento da força, o progresso, a superação das fases
difíceis. Será importante que a criança receba ao menos um pouco daquela compreensão, presença,
carinho, solidariedade que possivelmente lhe faltaram um dia.
Comentar ao final: Isso deve ter sido muito triste para você. Veja, no entanto, que tudo já
passou. Você já cresceu, tem uma professora que gosta de você, tem coleguinhas com quem você
brinca... Você pode pensar no seu passado, lamentá-lo, mas não deixe que ele estrague seu
presente. Pensar mais no dia de hoje e no futuro.

30
Lição C-9

Quem sou eu

Pressupostos e objetivo como na lição C-2.

A criança e o seu projeto. O que ela gostaria de fazer. O que ela pretende ser. Crescer é bom,
não é? Também dá um pouco de medo às vezes.

31
Lição D-1

Compreender os aspectos negativos da mãe

Pressupostos: A partir de pequenos erros da mãe, o bebê pode formar


dela e, por extensão, da mulher em geral, um conceito negativo. A
criança passa, então, a ver de maneira negativa tudo o que a mãe, a
mulher faz.
Objetivo: Levar a criança a conscientizar-se da possível existência nela de
um conceito negativo da mãe. E ajudá-la a observar também as ações
boas que dela recebeu. Com isto promove-se a troca do conceito
negativo por um conceito positivo, seja da mãe, seja da mulher em geral.

Ao apresentar este tema, nunca atribuir os aspectos negativos da mãe ao comportamento da


criança. Não dizer, por exemplo, que a mãe batia nela porque ela era desobediente, agressiva,
preguiçosa. É pressuposto deste sistema que um comportamento errado da criança é uma resposta
a alguma deficiência de compreensão da criança, ou a alguma falha cometida pelos pais no
tratamento dispensado a ela. Isto não significa de modo algum supor que os pais erram de
propósito, sejam maus, sejam culpados, pois, em geral, essas deficiê ncias são resultado de falta de
informação, de limitações ou de problemas emocionais deles.
— Você se lembra do trabalho que a mamãe teve para criar você?
— Na gestação. Você dentro da barriga. Quando você nasceu. Para dar de mamar. Para
manter você limpinho, limpinha. Quando você estava doentinho, doentinha. Quanto ela ficava
preocupada?
— Vocês vêem o quanto a mamãe é boa?
— Acontece que também às vezes a mamãe é chata. Não é verdade?
— Vocês gostam quando ela dá remédio amargo?
— E quando ela obriga a comer coisa que você não gosta? E quando ela deixava você sozinho
no berço? E quando ela deixa você sozinho na escola?
— E quando ela briga com você? E quando ela sai e não leva você?
— E quando ela vai dormir com o papai?
— Você fica com medo de que ela goste mais do papai do que de você. Você quer ir dormir
com ela, no quarto dela, na cama dela, e ela não deixa.
— Quando você era nenê, às vezes a mamãe precisava trabalhar. Em casa: fazendo comida,
lavando a roupa. Fora de casa: no escritório, na empresa. E deixava você sozinho. Você ficava com
medo. Ficava com raiva, Você chorava.
— Vamos todo o mundo chorar? Buá! Estou com medo!!! Uuuuu! Estou com raiva!!! Batam
com a mão na carteira. Manhê!!!

32
— Vejam vocês. Todas as mamães fazem coisas que a gente gosta. E fazem coisas que a
gente não gosta. Às vezes elas fazem coisas que a gente não gosta porque precisa. A ge nte não
gosta de tomar injeção, mas precisa. Outras vezes a mãe faz coisas que a gente não gosta por erro
dela. Porque ela não sabe fazer as coisas certas. Porque não ensinaram a ela como tratar os bebês,
como tratar as crianças. Mas elas não erram por querer. Elas querem fazer só o que é bom para o
bebê, para o filhinho ou a filhinha.

Aviso aos pais. Vamos falar dos aspectos negativos da mãe. Às vezes, ela faz coisas que o
bebê não gosta (dar um remédio amargo, uma injeção). Às vezes, a mamãe está cansada,
irritada e perde a paciência. Mas não é porque a mamãe não goste dele. A mamãe gosta mu ito
dele.

33
Lição D-2

Mostrar a face boa da mãe

Pressupostos e objetivo como na Lição D-1.

— De onde vocês vieram? De uma árvore? Mamãe comprou vocês num supermercado?
— Vocês vieram da mamãe. No começo vocês eram uma coisinha pequenininha, menor que um
grão de arroz. Aí vocês foram crescendo. (Mostrar figuras de nenês na barriga da mãe.) Crescendo.
E um dia vocês nasceram. Saíram da mamãe.
— Que trabalho que a mamãe teve durante a gestação, enquanto vocês estavam lá dentro. Ir ao
médico para ver se estava tudo bem com vocês. Comer bastante para vocês crescerem fortes.
Fazer roupinhas. Comprar cobertores, fraldas, bercinho, brinquedos.
— Aí a mamãe foi para o hospital para o médico bonzinho ajudar você a sair.
— Depois a mamãe e você foram para a casa. Lá uma porção de gente foi ver você. E eles
diziam: que nenezinho bonitinho. Que nenezinha bonitinha. Todo o mundo queria pegar você,
carregar no colo.
—Aí a mamãe dava de mamar... uma porção de vezes por dia, para você. De noite ela
acordava porque você estava com fome e ela não queria que você ficasse com fome. Acordava
para dar de mamar para você.
— E você durante o dia sujava uma porção de vezes a fralda. E ela trocava você, para você
ficar limpinho. Pra você ficar limpinha.
— Às vezes você ficava doente. E ela dizia: coitadinho de meu bebezinho. Vamos levar o meu
fofinho, a minha fofinha para o tio médico fazer que ele ou ela fique bonzinho, boazinha.
— Quantas vezes você ficava chorando a noite inteira e ela não podia dormir. Ficava tomando
conta de você, carregando você no colo e dando remedinho. Então, a mamãe não é boazinha?
Observação. Um problema que pode se apresentar em relação a este tema é de alguma criança
ter uma mãe cujo comportamento apresente falhas graves, seja devido a ignorância, ou a problemas
psicológicos. Neste caso, a orientadora tentará fornecer explicações para as possíveis falhas da mãe
(jamais lançando a culpa na criança) e oferecer palavras de conforto até onde for possível: agora
isso já passou, você já cresceu, tem amiguinhos que gostam de você... Se possível, com muito jeito,
conversar com a mãe e indicar que consulte um psicólogo.

Aviso aos pais. Tema dado: a mãe é boa. Conte quantas coisas boas você fez e faz para ele.
Não diga que ele deu muito trabalho. Diga que tudo o que você fez foi por amor, com alegria,
porque queria que ele fosse feliz. Demonstre carinho, afeto para com ele. Pegue-o no colo.
Beije-o. Converse com ele. Talvez, se for o caso, reconheça possíveis falhas suas.

34
Lição D-3

Mostrar a face boa da mãe

Pressupostos e objetivo como na Lição D-1.

Cada aluno deve trazer uma foto de sua mãe.


— Vamos fazer um desenho da mamãe? Pode ser carregando você no colo.
— Vamos escrever “Obrigado Mamãe”?
— Vamos cantar...
Ver observação final na Lição anterior.

35
Lição D-4

Face boa da mulher

Pressupostos e objetivo como na Lição D-1.

— Às vezes um indivíduo se acostuma a ver a mulher de maneira negativa. Não falamos de uma
mulher ou outra. São todas as mulheres. Para esse indivíduo, nenhuma mulher é legal. Tudo o que
elas fazem é errado, é mau.
— Isto acontece porque quando ele era criança ou nenê, sua mãe não soube ou não pôde dar a
ele um cuidado adequado, cheio de carinho. Talvez sua mãe naquela época esta va com algum
problema especial. Pode ter sido uma dificuldade econômica na família, ou uma doença.
— Essa pessoa formou, então, o conceito de que a mãe não era boa para ele. Como as
mulheres são parecidas com a mãe, ele começa a pensar que todas as mulher es não serão boas. E
passa a só observar os aspectos negativos delas. Isso vai acontecer em relação às colegas de classe,
às irmãs, tias, avós, colegas de trabalho, às namoradas, companheiras ou esposas.
— As coisas pioram um pouco porque, ao julgar que as mulheres são ruins, esse indivíduo vai
também tratá-las de modo agressivo. E, como contrapartida, receberá por parte delas também um
tratamento agressivo. Para ele isso confirma sua impressão inicial. Não percebe que elas estão
apenas reagindo a um comportamento negativo dele. Não entende que, se elas fossem bem tratadas,
iriam responder de uma forma positiva.
— Como se pode ver, esse conceito ruim da mulher irá estragar toda a vida do sujeito. Irá
colocá-lo em contínuo conflito com elas.
— É importante, então, que a pessoa que formou esse conceito se convença de que está
errado. E comece logo a observar que a mulher é, de modo geral, boa. Será preciso que ele passe
reparar muito nos aspectos positivos dela. E não dê tanta importância aos aspectos negativos, como
vinha fazendo continuamente. Isto vai melhorar seu relacionamento com elas. E logo, logo ele vai se
convencer de que realmente estava errado.
Note-se que nós não estamos afirmando que as mulheres são perfeitas. Elas têm seus defeitos,
como também os homens têm. Elas erram com freqüência. Mas, de modo geral, seu
comportamento, suas intenções são positivas.
Este tema deve ser repetido várias vezes durante todo o ano, de formas diversas. Observe-se,
ainda, que o problema acima analisado pode encont rar-se tanto em um menino como em uma
menina. Estas também podem formar conceitos maus da mulher, o que irá dificultar seu
relacionamento com as colegas e, particularmente, dificultará a formação de seu autoconceito.

36
Lição E-1

O pai. Visão negativa

Pressupostos. Na nossa sociedade, ainda são muitos os pais que não


perceberam a importância de desenvolver um relacionamento bastante
afetivo com os filhos. Disto resulta a formação pela criança de um
conceito do homem como um ser sem afeto, distante, ausente, talvez
agressivo.
Objetivos. Conscientizar a criança da possível existência de um conceito
negativo do pai. Substituir esse conceito por um outro positivo. Mostrar
as qualidades possivelmente existentes nos pais de cada um e nos
homens em geral.

— Toda a criança, além de uma mãe, tem também um pai. A mãe cria o nenê na barriga e trata
dele dando de mamar, fazendo-lhe a higiene etc. Em geral ela cuida da casa e, às vezes, também
trabalha fora.
— O pai providencia o dinheiro para pagar os gastos da família. Em relação ao bebê, ele é uma
pessoa também muito importante. Ele é o seu amigo e protetor. O bebê precisa de seu amor, de sua
atenção, de seu apoio.
— Os bebês, em geral, recebem essa atenção, esse amor do pai. Mas não é sempre. Muitas
vezes esse amor, essa atenção não são suficientes. Existem mesmo pais que nem sabem que
precisam demonstrar para o bebê o quanto eles o amam. Eles pensam que basta gostar, não precisa
demonstrar.
— Sem receber as demonstrações de afeto, os bebês ficam tristes. E passam mesmo a sentir
raiva do pai. Eles têm toda a razão. Hoje os psicólogos já insistem com os pais para que eles
carreguem os bebês no colo, levem os filhinhos passear, brinquem, conversem com eles. E muitos já
estão fazendo isso.
— Se o seu pai não demonstrou muito afeto para você, você tem toda a razão para ficar
chateado e para bronquear com ele. Não se sinta culpado por isso. Se achar que vale a pena, fale
com ele, explique a ele o que você está sentindo. Ou peça que uma outra pessoa fale com ele por
você.
— Se isso não der resultado, procure se convencer de que não vai adiantar ficar cobrando essa
dívida passada. Se ele não cumpriu com todo o seu papel, certamente foi porque não conseguiu.
Não estava ao alcance dele. É provável que ele próprio tenha recebido menos afeto do que deu a
você. Não fez mais porque não pôde ou não sabia.
— Procure olhar para a frente. Não pense agora que todos os homens são maus. Não fique
observando só os aspectos negativos deles. Insista em ver o que eles fazem de bom e responda com
atitudes positivas.
Este tema deve ser relembrado várias vezes durante o ano

37
Problemas que podem ocorrer: separação dos pais ou o pai ter falecido. Adiante será tratada a
separação dos pais.

38
Lição E-2

Pai. Visão positiva

Pressupostos e objetivo como na Lição E-1

— Logo que você nasceu, você só conhecia uma pessoa. Quem? A mamãe. Toda a hora ela
dava de mamar para você, trocava suas fraldas. Pegava você no colo.
— Depois você foi crescendo e aí você certamente conheceu uma outra pessoa. Que m era?
— O papai. O papai já vivia com a mamãe. Ele ajudava a mamãe a cuidar de você. Às vezes
ele levava você para o médico dar remédio para você sarar.
— O que mais faz o papai? Ele trabalha para ganhar dinheiro. Ele levanta cedo, e vai para o
serviço. No serviço tem vários tipos de trabalho para fazer. (Exemplificar.)
— Que trabalho faz seu pai ?
— O papai é bom porque se ele não trabalhasse ele não teria dinheiro para comprar comida
para você. Não teria dinheiro para pagar o aluguel ou para comprar a casa em que você mora.
— É o papai também que protege você. Não deixa que os moleques batam em você.
— O papai deve ser seu amigo. Alguns são muito bons. Conversam com os filhos. Ensinam o
que eles podem fazer e o que não podem. Dão bons conselhos.
— O papai é homem. Quando o menino crescer, vai ser homem como o papai.
— Quando o papai é bom, a menina gosta dele também. Quando ela crescer ela vai poder
namorar um outro homem como ela gosta agora do papai.
— Às vezes o papai não é muito bom. Ele gosta dos filhos, mas não sabe mostrar para os filhos
que gosta deles. Procure sempre ver o que o pai faz de bom para você. Se ele faz alguma coisa que
você não gosta, fale com ele. Se não der certo, procure esquecer e se lembrar só do que ele faz de
bom.

Aviso aos pais. Vamos falar do pai. O pai é muito importante para a criança. Deve estar
continuamente presente na vida dela. Deve ser um grande amigo dela. Conversar com ela.
Passear com ela. Brincar com ela. Pegá-la no colo. Nos casos de separação, seria importante
que algum homem (avô, tio, amigo) tomasse as vezes dele, ao menos em parte.

39
Lição E-3

O pai - os homens

Pressupostos. Vendo o pai como uma entidade negativa (ausente, sem


afeto ou agressiva), a criança generaliza esse conceito para os outros
homens. E passa a reagir com hostilidade ou com medo em relação a
eles.
Objetivo. Mudar esse conceito negativo dos homens para um conceito
positivo.

— O pai deve ser um amigo da criança. Deve tratá-la com afeto, com carinho. Às vezes, no
entanto, o pai não faz isso. Ele está sempre de mau humor, é agressivo, autoritário, não gosta de
ouvir as razões dos outros. Ou pelo menos ele é uma pessoa sem afeto, frio, distante. É como se ele
não existisse.
— Nesses casos, a criança pode fazer do pai uma m i agem ruim. Vai guardar que ele é uma
pessoa sem afeto, difícil de tratar. Ou que ele é agressivo, perigoso.
— O que pode ocorrer, então, é que essa criança passe a ver todos os outros homens como se
eles fossem iguais ao seu pai. Começa a achar que os colegas da rua, da escola ou do trabalho são
todos indivíduos chatos, agressivos, perigosos. E aí não vai gostar deles, vai sentir raiva deles, ou
medo.
— A partir desses sentimentos de raiva e de medo, o suje ito começa a ser também uma pessoa
agressiva. Passa a provocar todo o mundo, a querer brigar. Ou então torna -se tímido, sempre à
espera de que vai receber uma agressão, uma bronca a qualquer hora.
— Esse sujeito precisa se convencer de que ele está tendo uma visão errada da realidade. Os
homens não são todos chatos, nem agressivos. Quase sempre, cada um está cuidando de sua vida.
Não está provocando ninguém. E muitos deles são amigos, cooperam, seja no esporte, no estudo,
no trabalho. Todos precisam ter amigos. Não é só você. Os outros também. Então, é só começar a
reparar mais nos aspectos positivos deles. E não dar a importância que você vem dando aos
aspectos negativos que eles possam apresentar.
— Antes de pensar que uma pessoa é má, chata, procure ver se você a tratou bem. Talvez seu
modo de comportar-se em relação a ela não foi muito bom. Mostre-se amigo e certamente as coisas
vão ficar mais fáceis.

40
Lição F-1

Mãe - pai

Pressupostos: A criança quer o amor, quer a atenção da mãe para si e


pode sentir o pai como concorrente, desenvolvendo algum grau de
oposição, de agressividade contra ele.
Objetivo: Conscientizar a criança dessa impressão negativa do pai e tentar
neutralizá-la.

— A mamãe faz uma porção de coisas para o bebê. Pega -o no colo. Dá-lhe de mamar. Dá
banho. Troca as fraldas.
— E o nenê gosta disso. Fica alegre, fica feliz com o carinho da mamãe.
— O nenê aprende que a mãe gosta dele. Mas ele começa a perceber que ela gosta também de
outras pessoas. Gosta do papai do nenê. Conversa com ele. Ela beija o papai. Dorme com ele na
mesma cama.
— Aí o bebê fica chateado. Fica com raiva cada vez que a mamãe conversa com o papai. Não
gosta que a mãe beije o papai. Quando ela dá atenção para o papai, o nenê começa a chorar. E
começa a fazer manha, a brigar com o pai ou com a mãe. Ele está com medo de que a mãe deixe de
gostar dele. Quando chega a noite, começa a dizer que está com medo de dormir sozinho só para ir
para a cama da mamãe.
— O nenê quer a mamãe só para ele. Quer que ela só preste atenção nele. Só olhe para ele. Só
converse com ele.
— Agora vocês já não são bebês. Vocês já cresceram. São menininhos e menininhas. E já
podem compreender que a mãe deve gostar de todo o mundo. Deve gostar de vocês. Mas deve
gostar dos outros também, especialmente do papai que é bom para ela e para vocês também. Não é
porque a mamãe gosta dos outros que ela não gosta de vocês.
— Vocês podem ficar tranqüilos. A mamãe gosta muito de vocês (mesmo que às vezes não
saiba ou não possa mostrar isso). Assim, vocês podem deixar que elas gostam também do papai.

41
Lição F-2

Irmãos - Pais

Pressupostos: Por algum erro de tratamento dos pais, uma criança pode
começar a sentir que está recebendo uma quantidade de afeto
insuficiente. Com o tempo, ela termina por não reparar mais em qualquer
demonstração de afeto que os pais façam em relação a ela. Mas ela repara
muito bem em todas as ocasiões em que os pais dão atenção ou afeto
para os outros. Ela começa a interpretar, então, que os outros estão
roubando o afeto que deveria ser dado a ela. E passa a culpar a eles pela
sua infelicidade. Como conseqüência, desenvolve uma carga de
agressividade, de inveja, de ciúmes em relação às pessoas que recebam
atenção, que recebam afeto. Estas reações agressivas podem ser sentidas
mais tarde como más e provocar sentimentos de culpa.
Objetivos: 1. Devolver à criança a capacidade de perceber as
demonstrações de afeto dos outros em relação a ela. 2. Demonstrar que
as pessoas que recebem afeto não são culpadas, não são a causa de seu
sofrimento. 3. Esvaziar os sentimentos de culpa.

— Quem daqui tem irmãos?


— Você gosta de seu irmão?
— Às vezes a gente tem raiva do irmão. Ele pega seu brinquedo. Não deixe você assistir um
programa de televisão. Não quer brincar com você. Pode até bater em você.
— Outras vezes você não gosta de seu irmão porque a mamãe gosta dele também. Ela dá
comida para ele, conversa com ele.
— E você gostaria de ter a mamãe só para você. Você queria que ela gostasse só de você. Só
desse comida para você, só conversasse com você. E você começa a ter raiva dele. Tem ciúmes.
Tem inveja. Quer bater nele. Tomar o brinquedo dele. Quer que ele vá embora de casa. Que ele
morra. Por quê? É porque você está com medo de perder o amor da mamãe.
— Agora você já não é mais nenê e pode compreender que a mamãe precisa gostar dele
também. Precisa dar comida para ele também.
— E seu irmão não faz alguma coisa para você que você goste? Alguém se lembra de alguma
coisa boa que o irmão fez? É preciso que a gente repare sempre nos aspectos bons dos outros. E
não só nos aspectos maus.
— Você pode ter certeza de que, mesmo gostando dele, a mamãe gosta muito de você. Você
se lembra de alguma coisa boa que ela fez hoje para você ? Fale.
— Todos em casa devem ser amigos uns dos outros. Gostar uns dos outros. Devem ajudar uns
aos outros.

42
Lição F-3

Irmãos - Pais

Pressuposto. Se a criança sentir que seu irmão está recebendo mais af eto
que ela, pode tentar copiá-lo, procura ser igual a ele.
Objetivo. Levar a criança a conscientizar-se dessa possível ocorrência e a
reparar no afeto que está sendo dado a ela.

— Às vezes a criança pensa que a mãe e o pai gostam mais do irmão dela. Então a criança
pensa: vou ser igual ao meu irmão. Assim a mamãe e o papai vão gostar de mim.
— Tem o caso da criança que ganha um irmãozinho ou irmãzinha. Se ela vê a mãe dar de
mamar para o irmãozinho ou irmãzinha, ela também quer voltar a mamar. Quer voltar a tomar
mamadeira. Se ela vê que a mãe troca fralda toda a vez que o irmãozinho faz xixi, ela também
começa a fazer xixi na cama, para a mãe dar atenção a ela, para trocar a roupa dela, para todo o
mundo falar dela.
— Às vezes o menininho tem uma irmãzinha. E ele pensa que a mãe gosta mais da irmãzinha.
Então ele pensa: eu vou ser igual à minha irmãzinha para a mamãe também gostar mais de mim. E faz
tudo como a irmãzinha faz. Não está certo. Ele precisa começar a reparar que a mãe gosta dele
também. Vamos lembrar uma coisa boa que a mamãe faz para você?
Às vezes é a menininha que tem um irmãozinho. E ela pensa que a mãe gosta mais do
irmãozinho. Então ela procura fazer tudo o que o irmãozinho faz. Não está certo. Ela precisa reparar
que a mãe gosta dela também. Não precisa ser igual ao irmãozinho para a mamãe gostar dela.

Aviso aos pais. Vamos falar do ciúmes. Ter ciúmes não é mau. A criança que demonstra
ciú mes está revelando que não está certa do amor da mãe ou do pai. Ela está insegura. É
preciso tranqüilizá-la. Assegure a ela que você gosta muito dela. Que você gosta de todos. Que
não pode amar só a ela. Mas que ela é muito importante para você.

43
Lição F-4

Brigas - Separação dos pais

Pressuposto. As brigas entre os pais, a separação do casal provocam


sérios abalos no processo de amadurecimento psicológico da criança. Ela
deve formar de cada um deles o conceito de que são bons e nessas
altercações são realçados os seus defeitos.
Objetivo. Ajudar a criança a compreender as limitações dos pais.
Possivelmente, oferecer algum conforto para o seu sofrimento. Mostrar
que o caso dela não é único.

— Há alguns anos atrás o papai era bem jovem, era um rapaz e vivia com os pais dele. A
mamãe também era uma garota e vivia com os pais dela. Esse rapaz e essa garota um dia se
encontraram. Gostaram um do outro, namoraram e se uniram para formar uma nova família.
— Em geral eles continuam gostando um do outro. Às vezes, no entanto, algum tempo depois
do casamento, começam a aparecer problemas no relacionamento entre o pai e a mãe. São
pequenas discussões, brigas, ofensas. Com o passar dos anos, o clima em casa pode ficar tenso e
eles resolvem se separar.
— Nessas ocasiões, a criança sofre bastante. Ela precisa de um ambiente de tranqüilid ade, de
amor para se desenvolver. Ela precisa tanto da mãe quanto do pai. Ela quer que tanto um como o
outro sejam bons para ela. E não suporta ver os dois brigando. A criança sofre por ver um deles
ofendido pelo outro. E as coisas pioram quando um dos pais força a criança a tomar partido nas
brigas entre eles.
— Quando há separação, a criança sente falta daquele que foi embora, que deixou o lar.
— Essas situações são muito difíceis e não há muito o que fazer para melhorá-las.
— Em geral, a criança que tem esse problema em casa, pensa que isso só acontece com ela.
Não é verdade. Discussões, brigas dentro da família, separações dos pais infelizmente são
freqüentes.
— Se os pais brigam é porque apareceram problemas entre eles que eles não sabem resolver.
Isso pode acontecer com qualquer um. É preciso, então, tentar compreendê-los.
— Se em casa a situação não está boa, uma forma de compensar é voltar sua atenção para fora
de casa. Dedique-se mais aos estudos, aos esportes. Ligue-se mais nos seus professores, nos seus
colegas de escola. Procure apoio fora de casa. Tenha confiança em si. Você vai desenvolver bem
suas potencialidades e vai construir uma vida feliz para você.

44
Lição F-5

Brigas - Separação dos pais

Pressupostos e objetivo como na Lição F-4.

— Às vezes a gente não gosta do que o outro faz e briga com ele. Já aconteceu isso com
vocês? Isso acontece com os nossos pais. Eles também brigam, discutem um com o outro de vez
em quando. Pode ocorrer até que essas brigas sejam tão freqüentes que eles acabem separando-se
um do outro. Nesses casos vamos chamar a atenção para um detalhe.
— Em geral a criança que vê seus pais discutindo, brigando, sofre. Não gosta disso. Se
pudesse, faria que eles parassem com as agressões mútuas.
— Às vezes, no entanto, acontece uma outra coisa. Vocês vão ficar surpresos do que eu vou
dizer.
— A criança quer receber afeto tanto da mãe quanto do pai. Em alguns casos, a criança
gostaria mesmo é que a mãe gostasse só dela. E que o pai também gostasse só dela. Por isso,
quando ela vê a mãe e o pai gostando um do outro, ela fica um pouco chateada.
— Se ela vê, então, os pais discutindo entre si, ela pensa: Isso é porque eles não estão
gostando um do outro. E ela fica, lá no fundo, até um pouco contente. Agora, a mamãe não está
gostando do papai. Está gostando só de mim. E o papai não está gostando da mamãe. Está
gostando só de mim. Era isso que eu queria. Pode até pensar que eles estão discutindo entre si, só
porque ela está gostando disso.
— Depois, ela começa a pensar: Mas o que eu estou sentindo, pensando e desejando é feio.
Como é que eu vou querer que minha mãe e meu pai briguem um com o outro? Como é que eu vou
querer ficar com a minha mãe só para mim? Como é que eu vou querer ficar com o meu pai só para
mim?
— E aí a criança começa a achar que, se ela tem esses pensamentos, ela é ruim. Merece
castigo. E fica com medo, angustiada.
— O que a gente quer dizer para vocês é que a criança que tem esses pensamentos não é ruim
não. Muitas crianças pensam da mesma maneira. É natural. Esses pensamentos vêm à cabeça
porque a criança está vivendo uma situação difícil. É uma situação irregular que está provocando
uma desorientação nela. É claro que esse é um pensamento só do momento. O que ela quer mesmo
é que os pais façam as pazes e vivam felizes, dando muito amor, muito carinho para ela.

45
Lição G-1

A agressividade

Pressupostos. A agressividade, entendida como um ato de defesa de


algum valor mediante a provocação do afastamento, da anulação do
agente perigoso é, em princípio, uma atividade imprescindível para a
auto-realização. Por vezes, no entanto, no esforço de discipliná-la, os
pais acabam por dar à criança a impressão de que essa atividade é má,
proibida. Outras vezes, tentando evitar que seus filhos cresçam tímidos,
incentivam-nos a serem agressivos, do que resulta uma supervalorização
danosa desse meio de atuação. Observe-se, no entanto, como vem
largamente exposto em “Psicoterapia dos Conceitos Fundamentais”, que
a maior parte dos distúrbios da agressividade provém da formação de
conceitos inadequados das outras entidades fundamentais, como da
mulher e do homem, vistos como frustradores ou agressivos.
Objetivo. Transmitir o conceito correto, adequado, da agressividade e, de
passagem, a influência dos outros conceitos.

— Por agressividade entendemos uma forma de defesa pela qual procuramos provocar o
afastamento de um elemento que esteja ameaçando causar um prejuízo a nós ou a uma outra
pessoa. Essa forma de defesa pode ser feita de modo adequado, dentro de certos limites, ou de
modo inadequado, se for feita com violência.
— A agressividade realizada de modo adequado é uma forma legítima, boa, necessária de
defesa, que qualquer pessoa pode e deve usar, se for necessário. A agressividade realizada de
modo inadequado é má, condenável. Assim, se alguém pisa no nosso pé, é legítimo que gritemos
com ela ou que a empurremos, para nos livrarmos da dor, mas seria condenável se lhe déssemos um
soco na cara.
— Nós dissemos que a agressividade é uma forma de defesa necessária na vida, desde que seja
usada de forma adequada. Isso significa que o indivíduo que, mesmo podendo, nunca reage às
provocações, que permite sempre que os outros lhe causem prejuízo, não está agindo certo. Ele tem
deveres para consigo mesmo. E entre esses deveres está o de defender os próprios valores: sua
integridade, sua vida, seus bens. Se ele não se defende, ele pode estar mal orientado. Talvez ele
pense que sempre tem que parecer bonzinho para os outros. Talvez nunca deram valor a ele e ele se
convenceu de que não tem valor, não tem direito de se defender. Pode acontecer também que os
seus pais foram muito severos, para com ele. Aí ele cresceu tendo medo dos seus pais e tendo
medo de todo o mundo. Nestes casos é importante que ele comece a reparar, o quanto antes
possível, que ele tem coisas boas também. Ele tem valor. E que os outros também não são tão
perigosos como ele vem pensando.

46
Lição G-2

A agressividade - Riscos

Pressupostos e objetivo como na Lição G-1.

— Nós definimos a agressividade como uma forma de defesa pela qual procuramos provocar o
afastamento de um elemento que esteja ameaçando causar um prejuízo a nós ou a uma outra
pessoa. Dissemos que existe uma agressividade boa, se realizada de maneira adequada, e uma ruim,
se realizada de maneira inadequada.
— Dissemos, também, que a agressividade é uma forma necessária de defesa. No entanto,
devemos observar aqui que, ao nos utilizarmos da agressividade, podemos estar provocando na
outra pessoa uma contra-reação. Se criticamos um erro de uma pessoa, esta pode responder,
defender-se ou nos criticar. Se empurramos um colega, ele pode nos empurrar também. Se dermos
um soco, podemos receber outro.
— Aqui nós queremos alertar para o fato de que, antes de usarmos da agressividade, devemos
considerar os possíveis riscos desse ato. Isto é verdade especialmente quando não conhecemos a
pessoa que nos está prejudicando. É muito comum, por exemplo, numa discussão, numa briga, que
um dos envolvidos perca a cabeça, descontrole -se e parta para a violência.
— Então, cada vez que for usar da agressividade, calcule até onde você pode ir. Conforme as
circunstâncias, pode ser melhor fazer de conta que não ligou para uma ofensa, ou mesmo sofrer
algum prejuízo, do que se arriscar a sofrer um dano maior. Às vezes, é melhor ter medo (que
também é uma forma importante de defesa) e sair de fininho. Você certamente já ouviu a frase: Mais
vale um covarde vivo do que um herói morto. Não precisa ser covarde, mas não se exponha a um
grande risco só para não parecer medroso.
— Essas observações são particularmente importantes no trânsito ou com pessoas alcoolizadas.
No caso de um assalto, a polícia sempre insiste que, em geral, o assaltado leva a pior se reagir. O
assaltante quase sempre está drogado, tem mais experiência no uso de armas e não pensa duas
vezes para puxar o gatilho.

47
Lição G-3

Agressividade - Violência

Pressupostos e objetivo como na Lição G-1.

— Às vezes a gente pensa que a violência é coisa de marginal, de bandido. Não é. A violência
pode estar também em nós mesmos, nos nossos familiares, nos nossos colegas de escola ou de rua.
— É violência quando os pais aproveitam-se da força física para bater nos filhos. Ou quando
não lhes permitem defender-se das imposições que eles, pais, lhes aplicam. Quando não dialogam
com eles.
— Somos violentos quando aproveitamos da fraqueza dos outros para impor nossa vontade.
Para tirar vantagem. É violência quando um aluno persegue o outro. Quando coloca a classe contra
um colega. Quando inventa coisas dele, quando o difama. Quando não respeita o modo part icular
de ser dele (cor, nacionalidade, classe social, nível econômico, preferência sexual).
— Também é violência quando o professor persegue um aluno. Quando deixa de dar sua
matéria de modo responsável. Quando não dialoga com a classe, mas prefere sempre impor sua
vontade.
— Na sociedade, são atos de violência, os assaltos, as brigas, os assassinatos. Também, não
pagar os impostos devidos, dirigir veículo sem estar em condições, colocando a vida dos outros em
perigo.

48
Lição G-4

Agressividade - Violência

Pressupostos. Um indivíduo é violento porque seus pais lhe ensinaram a


responder sempre com a força a qualquer contrariedade. Ou porque,
devido a frustrações da infância, formou do homem e da mulher o
conceito de que são seres maus, perigosos.
Objetivo. Conscientizar o aluno dessas possibilidades e propor as
correções de visão.

— Por que um indivíduo é viole nto?


— Em primeiro lugar, uma pessoa pode ser violenta porque aprendeu em criança que devia
reagir sempre com violência toda a vez que se sentisse de algum modo ameaçada. Alguns pais têm
medo de que seus filhos cresçam tímidos, fracos, medrosos. Então, ensinam que eles devem
responder com violência a toda e qualquer provocação, por mínima que ela seja. Dizem a eles que
não se deve levar desaforo para a casa.
— Como vimos, a agressividade é uma forma boa de defesa. Mas ela deve ser exercida com
critério. Se a pessoa percebe que está sendo prejudicada, existem formas civilizadas de se defender.
Se for permitido o uso da força, irá vencer uma contenda quem tiver mais força e não quem tiver
razão. Uma sociedade não pode se manter pelo uso da força. Numa situação de conflito, é
necessário identificar quem está com a razão e quem não tiver razão deve ceder. Já observamos que
as ações viole ntas provocam de modo geral reações violentas. Com isso, a pessoa que costuma
usar da violência expõe a si mesma continuamente a grandes riscos. É mais um argumento para
desaconselhar o uso da força.
— Uma pessoa pode ser violenta, em segundo lugar, porque se viu frustrada com muita
freqüência quando criança. Nesse caso, ela formou o conceito de que o pai e a mãe são seres maus,
autoritários, sem afeto, talvez mesmo violentos. Ela passa, então, a ver também os outros homens e
mulheres como seres maus, violentos. E reage a essas impressões do mesmo modo, com violência.
Ela não repara mais quando as pessoas a tratam bem. Mas sente profundamente qualquer sinal de
desatenção, de frustração ou de agressão que venha da parte dos outros. Ele vive com medo e com
raiva. Como se estivesse vivendo no meio de animais perigosos. Notem que essa impressão pode
ocorrer mesmo conosco. Talvez lá no fundo a gente se sinta o tempo todo frustrado, só reparando
nos aspectos negativos dos comportame ntos de nossos colegas, de nossos professores, de nossos
chefes no serviço.
— Nestes casos, o que esta pessoa precisa fazer é começar a se questionar se de fato está
sendo perseguida como pensa. Será que ela foi ofendida mesmo? Será que a ofensa é tão grave
assim? Vale a pena responder? Será que não dá para esquecer? Será que todos estão sempre
contra ela?
— De outro lado, deve começar a reparar nos aspectos positivos das pessoas. No que elas
fazem de bom para ele. Talvez os outros não a tratam melhor porque ela não coopera. No momento

49
em que começar a ver que as outras pessoas são capazes de muitas boas ações, ela sentirá menos
agressividade e passará mesmo a gostar delas.

50
Lição G-5

Agressividade

Pressupostos e objetivo como na Lição G-1.

Intercalar as Lições acima apresentadas com outras em que sejam realizadas mesas-redondas e
trabalhos diversos (comp osições, recortes de jornais e revistas, murais, entrevistas) sobre a
Agressividade e a Violência. Distinções. Exemplos. Ligação com o álcool e os tóxicos.

51
Lição H -1

A fuga - O medo

Pressupostos. Da mesma forma que a agressividade, a fuga é também


uma forma fundamental de defesa. Se a pessoa não se afastar, não fugir
de alguns tipos de perigo, ela pode sofrer prejuízos na sua integridade,
em algum dos seus valores. Na sua infância, a criança às vezes aprende
dos pais que as reações de fuga e de medo são condenáveis.
Objetivo. Substituir esse conceito inadequado. Mostrar que a fuga é
também necessária para a sobrevivência.

.
— Em geral se critica quem tem medo, quem foge. Se a pessoa está sempre com medo, se está
sempre fugindo, de fato, existe alguma coisa de errado nela que precisa ser consertado. Muitas
vezes, no entanto, é importante que o indivíduo, se estiver frente a um perigo, sinta medo e fuja,
como meio de defesa. Não há nada de vergonhoso nisso. Como vocês já ouviram falar: Vale mais
um covarde vivo do que um herói morto. Não é o caso de ser covarde, mas de saber que muitas
vezes fugir de um perigo é o comportamento indicado.
— Há muitas formas de fuga: correr de um animal perigoso; esconder-se embaixo de uma mesa
durante um assalto a um banco; não responder a uma provocação, se achar que não vale a pena;
evitar a companhia de uma pessoa desagradável ou uma situação perigosa, quando isso é possível.
— A pessoa que não foge de alguns tipos de perigo, que não os evita, pode expor-se a graves
danos. É o caso do jovem que não evita a companhia de colegas que usam drogas. Que
experimenta drogas porque pensa que nunca vai se viciar. Que não toma cuidado numa relação
sexual, expondo-se a contrair doenças graves ou a provocar uma gravidez indesejada. Que participa
de brincadeiras arriscadas, como rachas.

52
Lição H -2

A timidez

Pressupostos. A timidez é um medo habitual e desproporcionado. Ela


não é boa, não ajuda o indivíduo. Ela pode ser resultado de um conceito
formado na infância de que os homens ou as mulheres são seres
agressivos.
Objetivo. Levar o indivíduo a se conscientizar da causa e ajudá-lo a
modificar o conceito gerador.

— Nós vimos que ter medo e fugir, em determinadas ocasiões, é uma reação boa, necessária.
Já, a timidez é um medo habitual e excessivo. O tímido sente um medo grande a toda a hora. Diante
do professor, dos colegas, do pai, da mãe, de estranhos, de uma situação um pouco difícil, como,
por exemplo, uma prova.
— Esse aluno tímido nasceu assim? Ele é menos gente do que os outros? Não, ele é igual aos
outros. Apenas ele aprendeu que as pessoas são seres muito perigosos.
— É possível, por exemplo, que o pai dele fosse meio bruto. Estava sempre de mau humor,
gritava por qualquer coisa, batia. Não sabia dar afeto para os filhos, não sabia ser amigo deles. Esse
aluno aprendeu que o homem é um bicho perigoso. Agora, cada vez que está diante de um outro
homem, ele pensa que está em presença de alguma coisa perigosa. Fica esperando que já vai ouvir
uma repreensão, um grito, que já vai apanhar. Começa a achar que já está fazendo alguma coisa de
errado. E então ele sente medo e vontade de fugir.
— O que ele deve fazer, então, para acabar com essa timidez? Ele deve ir se convencendo,
todos os dias, toda a hora em que ele sentir medo exagerado, de que ele está errado. Ele deve
demonstrar para si que os homens não são perigosos como ele pensa. Eles não vão mo rdê-lo, não
vão gritar com ele, não vão bater nele. Ele é exatamente igual à pessoa que está na sua frente. Assim
como ele não é perigoso, as pessoas com quem ele se relaciona também não são.
— Também ele deve se lembrar que muitas vezes ele sentiu medo e nessas ocasiões nada de
mau aconteceu. E se alguma coisa de ruim aconteceu, foi exatamente porque ele ficou com um medo
exagerado e não soube se defender. Ele deve, em cada situação, deixar de se concentrar nos
aspectos negativos, e procurar ver melhor os aspectos positivos, tranqüilizadores.

53
Lição H -3

A timidez

Pressupostos e objetivos. Como na Lição H-2.

— Falamos na última Lição da timidez. A timidez é um medo habitual e excessivo. Citamos o


caso da pessoa que é tímida diante dos homens porque formou deles o conceito de que são uns
bichos perigosos.
— A timidez pode ocorrer também diante das mulheres. Pode ser a professora, a colega de
classe, a mãe, a avó, as tias, as colegas de trabalho.
— Essa timidez, provavelmente, tem como causa o fato de o sujeito ter tido uma mãe que o
tratava de uma maneira rude, gritando, reclamando ou batendo nele. Ele aprendeu, então, que a
mulher também é um bicho perigoso. É só chegar perto dela que já acontece alguma coisa de ruim.
É natural, então, que, com esse conceito, com essa expectativa, esse indivíduo sinta medo e queira
afastar-se todas as vezes que estiver em presença de alguma mulher.
— Para superar essa timidez, aqui também é preciso mudar o modo de ver as mulheres. O
indivíduo tímido deve, então, tentar observar que a mulher não é um ser perigoso como ele pensa.
De modo geral, as mulheres com quem ele trata não oferecem perigo nenhum. Não vão morder nem
bater nele. Ao contrário, podem até ser muito boas para ele. Podem ser agradáveis, podem ajudá-
lo.
— Esse indivíduo deve se lembrar também de quantas vezes ele tratou com mulheres e nada de
ruim lhe aconteceu. E se aconteceu alguma coisa de ruim, foi precisamente porque ele ficou com
medo excessivo e com isso não pôde agir naturalmente, mostrar o seu valor, a sua capacidade de
desempenhar suas tarefas.
— Esses tipos de raciocínio devem se repetir a toda a hora, até chegar o momento em que o
sujeito termine por se convencer de que estava errado e forme das mulheres um conceito bom, uma
imagem amiga. Aí, já não sentirá necessidade de ter medo e de fugir delas. E poderá sentir-se bem
com sua presença.

54
Lição H -4

Drogas - Fumo, Álcool, Tóxicos

Pressupostos. Uma visão negativa do mundo (de si, do homem, da


mulher etc.) produz sofrimentos constantes, não permite que o indivíduo
seja feliz. Ele pode, então, procurar uma fuga dessa situação, uma
compensação nas drogas.
Objetivo. Alertar para esse perigo, mostrar as causas e os meios de
solução.

— O fumo, o cigarro causa um prazer, uma certa excitação em quem o usa. Mas, produz
também dois efeitos muito negativos. Em primeiro lugar, produz dependência. O indivíduo
acostuma-se com o cigarro e, depois, o organismo passa a exigir que ele continue fumando para
sempre.
— Em segundo lugar, com o passar do tempo, o cigarro produz uma série grande de
enfermidades muito graves. Entre essas enfermidades citam-se particularmente as moléstias
pulmonares e as cardiovasculares. Também o esôfago, o fígado e o estômago podem ser afetados.
— Parece que esses argumentos são suficientes para que qualquer pessoa procure evitar
totalmente o cigarro. Para muitos jovens, no entanto, fumar é uma forma de mostrar aos outros que
já são adultos, que são independentes, um modo de chamar a atenção. Um dia, talvez depois de um
enfarte, eles vão querer libertar-se desse vício, e aí vão descobrir que isso não é nada fácil. Exige
uma capacidade de autocontrole muito grande. Nessa hora, estarão arrependidos de ter começado
com esse hábito.
— Tomar bebida alcoólica com moderação traz prazer e, de si, não é condenável. Passa a ser
um comportamento ruim se transformar-se numa dependência. E ele se torna uma dependência
quando é usado para compensar problemas psicológicos. É o caso do indivíduo tímido que se
liberta de seu medo depois de algumas doses. Já, para alguns, parece que a garrafa de bebida faz o
papel da mamadeira que foi insuficiente quando eles eram bebês. Esses problemas são resultado de
uma visão negativa de si mesmo, do homem, da mulher, da alimentação, da sexualidade, da
agressividade. Com essa visão o indivíduo tem dificuldades para atuar na realidade, fica confuso,
fracassa, e então procura compensação no prazer da bebida.
— Em relação às drogas pode-se afirmar quase tudo o que falamos do álcool. (Repetir.) Deve-
se acrescentar, porém, que tomar uma droga é sempre um ato de imenso perigo. As possibilidades
de desenvolver uma dependência são muito maiores e essa dependência se faz sentir com tanta
força que é extremamente difícil libertar-se dela. Mesmo a maconha que parece não causar
dependência, deve ser absolutamente evitada, porque muitas vezes é o caminho para experime ntar
drogas mais fortes. O garoto e a garota devem evitar totalmente a companhia de jovens drogados,
pois um dia poderão não resistir a uma provocação desses colegas e iniciar um caminho sem volta,
que o levará para a destruição. Se, dentro de uma escola, souberem da existência de colegas
viciados ou que estejam passando drogas para os outros, é obrigação participar para a direção,
para que esta possa prestar ajuda a esses indivíduos que se encontram em tais dificuldades.

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— O caminho de um sujeito para as drogas pode ser um ato de imprudência, uma curiosidade,
a ilusão de que com ele não vai acontecer o mesmo que ocorre com os outros. Com muito mais
freqüência a pessoa entra para o mundo das drogas, no entanto, por problemas emocionais. Por
uma visão negativa do mundo, por uma sensação contínua de abandono, de tristeza, pela
impossibilidade de sentir prazer na vida. O meio de evitar esse caminho será, então, a mudança da
visão do mundo, seja por um esforço próprio, seja pela procura do apoio de um psicólogo.

56
Lição I-1

Sexualidade

Pressuposto. A sexualidade é um aspecto fundamental do ser humano.


Na vivência com o pai e a mãe pode se formar um conceito positivo ou
negativo dessa atividade.
Objetivo. Levar o aluno a formar ou reforçar um conceito positivo da
sexualidade.

— Aqui temos uma porção de meninos e uma porção de meninas. Os meninos são homens. As
meninas são mulheres.
— Os meninos são homens como o papai, como o titio, como o vovô. E as meninas são
mulheres como a mamãe, a titia, a vovó.
— Quando o menininho cresce, ele fica um rapaz, um moço. E quando a menininha cresce, ela
fica uma moça. Aí um rapaz e uma moça começam a gostar um do outro e começam a namorar.
Depois de um tempo de namoro, eles se casam. E têm filhos.
— Quando o menininho ainda é muito pequeno, ele gosta muito da mãe. Às vezes ele gosta
tanto da mãe que ele até fica com ciúmes e raiva do pai, cada vez que o pai fala com a mãe, beija a
mãe ou vai dormir com a mãe. Ele gostaria de ficar com a mãe só para ele. De noite, quando a mãe
vai dormir com o pai, ele fica triste, com raiva ou com medo. Mas não é preciso ficar triste, não. A
mamãe gosta dele também. E ele tem outras coleguinhas na escola. Pode gostar delas. E quando
crescer, vai poder namorar e casar com uma menina de quem ele goste.
— A menininha, quando ainda é bem pequena, gosta muito do pai. Às vezes ela gosta tanto do
pai que até fica com ciúmes, com raiva da mãe cada vez que ela fala com o pai, beija o pai, ou vai
dormir com o pai. Ela gostaria de ficar com o pai só para ela. De noite, quando o pai vai dormir
com a mãe, ela fica triste, com raiva e com medo. Mas não é preciso ficar triste. A mãe gosta dela
também. E ela tem os coleguinhas na escola. Pode gostar deles. E, quando crescer, vai poder
namorar e casar com um garoto de quem ela goste.

Aviso aos pais. Vamos passar aos alunos algumas noções sobre sexualidade. Se seu filho se
referir a esse assunto, procure responder com naturalidade. Não o proíba de falar sobre esse
tema.

57
Lição I-2

Sexualidade

Pressupostos e objetivo como na Lição I-1.

— A sexualidade tem um aspecto orgânico e um aspecto psicológico. Em relação ao aspecto


orgânico, certamente vocês já o estudaram nas Aulas de Ciências. Vamos tratar aqui mais dos
aspectos psicológicos.
— Entre dez e quinze anos, o garoto e a garota começam a perceber uma série de mudanças no
seu corpo. Eles crescem mais rapidamente. Nos meninos, a tonalidade da voz se modifica,
aparecem algumas espinhas, pêlos, os primeiros fios de barba, o órgão sexual aumenta de tamanho.
Nas meninas, o corpo toma um contorno um pouco mais arredondado, em algumas regiões
aparecem pêlos e começam a se formar os seios. Também come çam a ocorrer as menstruações.
— Às vezes, em alguns meninos e meninas, essa fase que se chama da puberdade pode
demorar um pouco para começar. Isso não deve preocupar. Se, depois dos quinze anos, esses
sinais de puberdade ainda não tiverem aparecido, então é bom consultar um médico que irá
provavelmente receitar algum hormônio para estimular o organismo que está um pouco preguiçoso.
E o problema estará resolvido.
— Um problema que preocupa de modo particular alguns garotos e rapazes é o do tamanho do
pênis. Eles vivem superpreocupados achando que o pênis deles é muito pequeno. Às vezes eles
chegam a consultar o médico, o médico diz que está tudo normal, e eles continuam preocupados.
— Nesses casos, talvez o que esteja ocorrendo seja o seguinte. Nós falamos que o primeiro
grande amor do menininho é a mãe. A mãe é como se fosse a primeira namorada dele. Mas ele
percebe que tem o pai. E percebe que a mãe gosta do pai. Dorme com ele, conversa com ele, dá
atenção a ele. O garotinho então começa a pensar: Eu acho que a mamãe gosta mais do papai do
que de mim. Por que será? Ah, já sei. É porque o papai é do mesmo tamanho da mamãe. Porque
ele é maior do que eu. Ele tem braços maiores, pernas maiores, pés maiores. Agora entendi. Ele
deve ter um pênis maior do que o meu. Ela não gosta mais de mim do que do papai, porque meu
pênis é pequeno.
— Essa idéia de que ele tem um pênis pequeno grava-se na memória dele. E aí ele fica para o
resto da vida encucado, achando sempre que seu pênis é pequeno.
— De qualquer modo, é importante lembrar que a garota em geral não está preocupada com o
tamanho do órgão sexual do garoto, mas com o jeito com que ele a trata, com a conversa que ele
tem, com o carinho que ele demonstra por ela.

58
Lição I-3

Sexualidade

Pressupostos e objetivo como na Lição I-1.

— A sexualidade tem dois aspectos. Um físico e um psicológico. Esses dois aspectos estão
intimamente interligados. Um não será completo sem o outro.
— A parte física envolve a união íntima entre dois corpos. Ela está ligada à experiência de um
grande prazer.
— Essa união, no entanto, para ser completa, precisa estar acompanhada de uma ligação
afetiva entre as duas partes. Quando há um grande entendimento, uma grande ligação, um grande
amor entre as duas partes, aí a experiência sexual produzirá o maior prazer possível, tanto para uma
parte como para a outra.
— Isso significa que, na vivência do dia-a-dia, tanto o homem como a mulher devem respeitar
um ao outro. Procurar saber o que agrada e o que desagrada ao outro. Por exemplo, é preciso
saber que não só o toque físico, mas também as palavras são elementos importantes, tanto na
atividade diária como na própria atividade sexual.
— Lembramos aqui um detalhe da psicologia feminina na atividade sexual. Em geral, para o
homem, com o orgasmo, ele termina sua atividade sexual. Vira-se para o outro lado e dorme. Já a
mulher gostaria que, após o orgasmo, as carícias prosseguissem por um certo tempo. A falta deste
prolongamento traz frustrações a ela, é como se o ato sexual tivesse sido interrompido antes de
terminar.
— Pode acontecer também que o rapaz às vezes não esteja disposto a praticar o ato sexual. Ele
pode, então, não ter a ereção. Nesses casos, ele não precisa preocupar-se. Não precisa forçar-se.
Ele pode provocar o prazer na mulher com as mãos, e usando de palavras excitantes. Às vezes,
nessa atividade, ele mesmo acaba se interessando pelo assunto e participando mais diretamente. É
importante lembrar que o problema de um não deve levar o outro a uma frustração. Pelo menos,
que isso não seja freqüente. Essas observações valem também para a mulher, em relação ao
homem. Ela também pode fazer que ele atinja o prazer, sem que haja o ato sexual completo.

59
Lição I-4

Sexualidade - Alguns aspectos

Pressupostos. A sexualidade é um aspecto muito complexo do ser


humano. Sua vivência envolve uma série de aspectos que precisam ser
levados em conta.
Objetivo. Analisar esses aspectos para que o aluno saiba resolvê-los
quando aparec erem.

— A atividade sexual significa a experiência de um grande prazer. No plano mais amplo de


relacionamento de dois seres humanos, significa também uma complementação da personalidade,
um somando a si as qualidades, a sensibilidade, as experiências, o modo de ver de uma outra
pessoa.
— Essa relação é, no entanto, complexa. Como envolve grandes valores, é preciso tomar uma
série de cuidados para que ela não se transforme num problema, às vezes, num grande, num imenso
problema.
— Em primeiro lugar, todos sabem que de uma relação sexual pode resultar uma gravidez. E
uma gravidez significa a geração de um bebê. Se o casal, então, não quiser ter um bebê, não estiver
preparado para cuidar de um bebê, ele deve tomar todo o cuidado para que isso não aconteça. Isso
porque, se houver a gravidez, as conseqüências serão muito pesadas. Uma gravidez indesejada
pode significar um casamento forçado, a necessidade de assumir gastos não pequenos, a interrupção
de um projeto (estudar, por exemplo), a difícil opção entre abortar ou não. Estes pontos devem ser
muito bem considerados, pois tem sido freqüente que garotos e garotas com pouca idade se tornem
pais, sem as mínimas condições de se sustentarem e menos ainda de cuidarem de um bebê. Vêem o
bebê como se ele fosse um brinquedo, uma parte sem importância de uma brincadeira. A falta de
cuidado nesse campo pode significar para alguns jovens uma profunda alteração na vida que irão
lamentar por muito tempo.
— Sobre esse mesmo assunto lembremos que acontece por vezes de uma garota, apaixonada
perdidamente por um garoto, planejar segurá-lo por meio de um filho, expondo-se a uma gravidez,
por exemplo, deixando de tomar, sem o conhecimento dele, o anticoncepcional. A experiência tem
demonstrado que essa estratégia não funciona. O rapaz sente-se traído, forçado a assumir uma
responsabilidade. Talvez até aceite um casamento de conveniência, mas essa união não irá durar
muito. Isso vai trazer sérios prejuízos para o casal e, particula rmente, para o bebê, que dificilmente
irá contar com o afeto desse pai. Lembremos que a presença de um pai, e de um pai afetivo é de
fundamental importância para a formação de um indivíduo, para o desenvolvimento completo,
harmônico, feliz de sua personalidade.
— O ato sexual significa, infelizmente com bastante freqüência, a possibilidade de transmissão
de uma doença. Até pouco tempo, as doenças transmitidas mais importantes foram a gonorréia e a
sífilis. Hoje o grande problema é a possibilidade de contrair a Aids num relacionamento sexual.
Vocês devem já ter sido alertados para essas possibilidades nas aulas de Ciência. Nunca é demais,
no entanto, insistir na gravidade do problema. O uso de preservativos tem sido uma necessidade nas

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relações sexuais, particularmente fora do casamento ou de uma união estável. Usar ou não usar o
preservativo pode significar a vida ou a morte ou, pelo menos, um sofrimento muito grande.

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Lição I-5

Sexualidade - Alguns aspectos

Pressupostos e objetivo como na Lição I-4.

— Continuando a lição anterior, vamos falar hoje de mais alguns aspectos que dizem respeito
ao tema da sexualidade.
— Masturbação. Até há alguns anos atrás havia a crença entre garotos e garotas de que a
masturbação causava problemas de saúde. Hoje ninguém mais acredita nisso. É uma lenda. A
masturbação não traz fraqueza nem doença alguma. Produz um prazer que qualquer pessoa pode
procurar. O que acontece é que algumas religiões não são muito favoráveis à prática da
masturbação, ensinando que toda a atividade sexual deve ser praticada dentro do casamento. Em
relação a esse aspecto, a decisão cabe ao indivíduo que segue essas religiões.
— Impotência Um problema que pode afetar um garoto é o de não ter ereção do pênis na hora
do relacionamento sexual. Em geral se trata apenas de falta de experiência, de uma insegurança que
são superados com o tempo, se ele não se deixar impressionar com esses primeiros insucessos.
Uma estratégia boa para resolver esse problema é ir para o ato sexual, sem intenção de realizar a
penetração. Ficar apenas em brincadeiras, em troca de carinho. Com o tempo irá perceber que o
seu problema vai deixar de existir.
— Ejaculação precoce significa a emissão do sêmen antes da introdução do pênis na vagina ou
logo depois da introdução. As causas podem ser as mesmas apontadas na impotência — falta de
experiência, insegurança — e desaparece após as primeiras experiências sexuais. Sempre é
importante procurar não se preocupar. É preciso se lembrar que para fazer alguma coisa nova na
vida, a gente precisa treinar. Isso aconteceu para você aprender a andar, a comer e a falar. E isso se
repete no relacionamento sexual.
— Às vezes, tanto na impotência, como na ejaculação precoce pode estar envolvido algum
conceito fundamental inadequado. O garoto pode ter aprendido na infância que a mulher é um ser
frustrador e agora não quer dar prazer a ela. Ou aprendeu que a mulher é mandona, autoritária,
exigente. E está com um pouquinho de medo dela. Ainda, pode achar que ele não tem muito valor
para os outros, pode não ter muita confiança em si. Nesses casos, é preciso um trabalho de mudar
esses conceitos. Começar a observar que a mulher é diferente do que ele pensa. E ele também tem
valor. Com esses exercícios o medo dele irá diminuindo, seu afeto pela mulher irá aumentando, ele
irá ganhando cada vez mais confiança em si. Também pode aparecer na idéia a lembrança de um pai
autoritário, como se ele tivesse ali presente censurando o relacionamento sexual. Aqui é preciso ver
que tudo isso é bobagem. Se ele estivesse presente, estaria até dando apoio ao que o filho está
fazendo.
— A frigidez ocorre quando a mulher não sente prazer no relacionamento sexual. As causas são
semelhantes as acima analisadas. Falta de experiência, tensão, inibição, que desaparecem com o
tempo. Ou são conceitos fundamentais inadequados. A imagem do homem como um ser frustrador.
Ou como um ser perigoso, autoritário. Nesses casos, a raiva, o medo inibem a sensação do prazer.
Também a garota pode estar se vendo como um ser sem valor e a insegurança que esse conceito

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produz atrapalha o seu desempenho. Em todos esses casos, a solução está em modificar esses
conceitos. A pessoa que está com ela não é frustradora, não é perigosa, e ela deve ter valor, caso
contrário, não estaria ali. A lembrança inconsciente de uma mãe autoritária, que estaria censurando o
seu ato pode ser combatida com a conscientização de que hoje a situação não é a mesma de sua
infância. O ato sexual não é condenado socialmente, ao contrário, é valorizado.

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Lição I-6

Namoro, Casamento

Pressupostos e objetivo como na Lição I-5.

— O namoro é uma forma de se preparar para o casamento ou para uma união mais
duradoura. Desse casamento ou união em geral nascem os filhos. A constituição da família envolve
vários fatores que é preciso analisar para que os resultados sejam felizes.
— O casamento significa uma expectativa de viver junto com uma outra pessoa por toda a vida.
Essa expectativa terá tanto maior probabilidade de se realizar, quanto maior for a afeição, o amor, o
carinho, a compreensão que o homem e a mulher tiverem um pelo outro. Precisa ser dos dois. Só o
afeto, a paixão de um não basta. Pior ainda se o amor dos dois um pelo outro, for fraco, se não
houver compatibilidade de gênio, se houver mesmo, junto com a afeição, uma certa hostilidade de
um para com o outro. Nesses casos, os problemas que normalmente aparecem numa família se
encarregarão de promover a separação dos dois. Se agora o amor não existe, não se pense que ele
vai aparecer com o tempo. Que um vai corrigir determinados comportamentos desajustados do
outro (falta de gosto pelo trabalho, dependência do álcool ou das drogas, infidelidade habitual). Os
casamentos em que um se une ao outro para "ajudá-lo" a superar um problema, por "dó" dele ou
dela, de modo geral não dão certo.
— A geração e a educação dos filhos são algumas das finalidades do casamento. Em vista
disso, é preciso assegurar uma razoável expectativa de que união do casal vai ser durável. E de que
haverá possibilidade para arcar com os gastos que o nascimento e os cuidados com um bebê
envolvem.
— No relacionamento entre os dois, será importante que eles se esforcem a cada dia, a cada
hora e minuto, para serem cordiais, para serem criativos, para se preocuparem a todo o momento
com o bem-estar um do outro. Se fora de casa, na rua, no trabalho, nós procuramos nos controlar,
mostrar boa educação, é importante que em casa também nos comportemos da mesma fo rma. Não
é porque estamos em nossa casa que podemos soltar nosso mau humor para cima dos nossos
familiares. Ao contrário, são eles que merecem nosso maior esforço para controlar nossos defeitos e
para mostrar nossas virtudes.

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Lição I-7

Homossexualismo

Pressupostos. É um tema que preocupa as crianças, especialmente os


jovens.
Objetivo. Oferecer explicações prováveis acerca de sua causa e insistir
no respeito ao modo de ser do homossexual.

— O homossexual é aquele que tem atração sexual pelas pessoas de seu sexo. Pode ser
masculino ou feminino.
— É importante notar, logo de início, que essa atração não é resultado de uma opção do
homossexual. Não resulta de uma escolha dele. Ele não é homossexual só porque quer. Se não
quisesse, não seria.
— As pesquisas até hoje realizadas têm demonstrado que o homossexual é, do ponto de vista
orgânico, igual aos heterossexuais (os que têm atração sexual pelas pessoas do outro sexo). Eles
têm as mesmas características orgânicas básicas dos heterossexuais.
— Certos autores dizem que alguns indivíduos são homossexuais devido a uma tendência, a
uma orientação genética especial. Eles possuiriam uma composição de genes diferente das pessoas
heterossexuais e, então, seus impulsos sexuais seriam orientados de modo diferente.
— De acordo com o nosso ponto de vista, parece mais provável que o homossexualismo
resulte de um bloqueio emocional. Em certos indivíduos, os sentimentos que eles deveriam dirigir
para as pessoas de outro sexo, por algum motivo, foram bloqueados. E, em razão desse bloqueio,
esses sentimentos se voltam para as pessoas do mesmo sexo.
— Por que esses sentimentos seriam bloqueados?
— Antes de apresentarmos nossa explicação, vamos avisar a vocês que não devem começar a
encucar com o que vamos dizer. Não precisa ficar se perguntando: Será que eu tenho esse
bloqueio? Será que o que ele está falando é para mim? Nós vamos falar de vários fatores que
podem bloquear o impulso heterossexual. No entanto, alguém pode ter todos esses bloqueios que
vamos citar e, no entanto, não ser homossexual. Certamente, cada um desses bloqueios vai causar
algum tipo de problema para o indivíduo. Mas esse problema pode ser um outro, bem diferente do
homossexualismo.
— Um primeiro caso em que o indivíduo pode ter seus impulsos heterossexuais bloqueados é
quando ele forma das pessoas de outro sexo o conceito de que são más, perigosas, violentas. Ou
que as pessoas de outro sexo são sem afeto, sem valor, que não merecem amor. Esses casos
aparecem quando a mãe foi muito agressiva com o filho ou o pai foi muito agressivo com a filha. Ou,
então, quando a mãe não conseguiu mostrar afeto para o filho. Ou o pai não conseguiu mostrar afeto
para a filha. Se o indivíduo acha que as pessoas de outro sexo não são boas, ele terá dificuldade de
amá-las, ele vai ter medo ou ter raiva delas. Nesses casos, seu impulso sexual pode ficar bloqueado
e desviar-se para as pessoas do mesmo sexo.

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— O segundo caso pode acontecer quando o pai foi sempre agressivo com o filho. Aí o filho
começa a pensar que o pai e os homens em geral são contra a sexualidade dele. Que o pai quer a
mãe só para ele. Que os outros homens querem as mulheres só para eles e proíbem a ele de ter a
sua.
— Quando a mãe foi agressiva com a filha, da mesma forma, esta poderá sentir que a mãe quer
o pai só para ela e não permite que a menina também goste do pai. Pode pensar que as outras
mulheres querem os homens só para elas e não vão permitir à menina ter o seu namorado. Aí, com
medo, ela deixa de gostar dos rapazes e passa a gostar das meninas.
— Voltamos aqui a advertir que meninos e meninas puderam ter pais que falharam desses
modos ao educar seus filhos e, no entanto, estes não serem homossexuais.
— Qualquer que seja sua causa, um ponto importante a se guardar é que o homossexualismo é
o modo possível de vida de um bom número de pessoas. Eles não se comportam de forma diferente
dos outros por quererem, por livre escolha, da mesma forma que os heterossexuais não preferem as
pessoas de outro sexo por livre escolha. Mesmo que queiram, elas não podem mudar seu modo de
ser. Os homossexuais devem, então, ser tratados com todo o respeito, sem nenhuma discriminação.
A preferência homossexual de um indivíduo é assunto dele e não pode nunca ser objeto de crítica,
de provocação, de discriminação, de zombaria, de ofensa. Tanto os heterossexuais como os
homossexuais têm direito a viver suas tendências, a procurarem ser felizes do modo como cada um
deles é. Devemos lembrar que grandes figuras da história foram homossexuais e deram valiosíssimas
contribuições à humanidade.

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Lição I-8

Abuso sexual

Objetivo. Alertar o aluno para o perigo dos abusos sexuais.

— Quando um adulto ou um jovem força uma criança, um garoto ou uma garota a praticar sexo
com ele, é um abuso sexual. Ele pode usar da força física, de ameaças ou tentar cons eguir o que
quer por meio de doces e presentes.
— Esse comportamento do adulto ou do jovem constitui um crime. Ninguém pode ser forçado
a praticar sexo. A criança não está ainda preparada para a vida sexual. Ela não tem conhecimentos
suficientes para viver essas experiências. Ela pode aceitar essa prática por ingenuidade. E essas
experiências podem marcá-la por toda a vida.
— Em matéria de sexualidade, vocês devem estar alertas. Não é o caso de ficar desconfiando
de todo o mundo. Mas se perceberem de parte de um colega mais velho, de um conhecido, de um
parente alguma atitude estranha, é bom tomar cuidado. Sentindo-se ameaçados ou se houver
violência da parte de alguém, procurem alguma pessoa de confiança e peçam ajuda. Pode ser
alguém da família, da direção da escola, um médico. Existe também este telefone ( ) que vocês
podem usar em qualquer ocasião em que se sentirem em perigo.
— De modo particular, tomem cuidado com pessoas estranhas. Nunca aceitem convites de
desconhecidos para se distanciar de casa, para entrar no carro de um desconhecido.

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Lição J-1

Socialidade - Em casa

Pressupostos. O homem só pode desenvolver suas potencialidades dentro


da sociedade.
Objetivo. Orientar o aluno para que ele mantenha um bom relacionamento
social, em casa, na escola, na sociedade.

— O homem é um ser social. Ele precisa viver junto com outros seres humanos para manter sua
vida, sua integridade, sua saúde, e para desenvolver suas potencialidades.
— Seus primeiros anos ele passa dentro de uma micro-sociedade, que é sua família. Aí ele vai
relacionar-se com seus pais, tios, avós, e com seus irmãos e sobrinhos.
— Dos mais velhos, a criança deve receber afeto, apoio, proteção, conhecimentos sobre a
realidade. Os irmãos mais velhos devem ter consciência da importância que eles representam para
os irmãos mais novos. Eles podem servir de companhia para eles, podem protegê-los, ensinar-lhes,
esclarecer dúvidas, participar em brincadeiras e jogos. Devem tomar cuidado para não se aproveitar
da maior força e experiência para impor sua vontade, para chantagear os irmãos mais novos.
Também, os irmãos mais velhos não devem mandar nos mais novos. Neste aspecto, pode haver
exceção nos casos de grande diferenç a de idade e na ausência ou falta dos pais.
— Os irmãos mais novos devem mostrar seu reconhecimento pelo comportamento cooperativo
dos irmãos mais velhos e retribuir com sua colaboração.
— Todos devem colaborar na manutenção da ordem, da limpeza da casa, e também na
economia, evitando estragar coisas.
— Esse tipo saudável de relacionamento se produzirá de maneira natural se os pais tiverem
dado aos filhos um tratamento adequado, acompanhado de muito afeto. No caso em que esse
tratamento não tenha sido bom, conceitos negativos podem ter se formado nos filhos, e o
relacionamento entre os membros da família se tornará problemático.
— Se esse conceito negativo for acerca dos pais, desenvo lver-se-á um relacionamento tenso
dos filhos para com os pais. Se o afeto dos pais para com o filho foi insuficiente, formar-se-á neste a
impressão de que os outros estão recebendo mais do que ele, e ele se sentirá inseguro, reagindo
continuamente com ciúmes, inveja e agressividade em relação aos irmãos. Os pais devem estar
atentos para a possibilidade de ocorrência desse quadro e os próprios filhos devem ter presente que
a impressão de que eles estão recebendo menos afeto do que os outros, e de que estes são
culpados pelo seu problema pode ser falsa.

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Lição J-2

Na sala de aula

Pressupostos e objetivo como na Lição J-1.

— Quando o nenê começa a crescer, a mamãe e o papai pensam: está na hora de meu filhinho
ou minha filhinha ir para a escola. Na escola ele vai ter mais amiguinhos para brincar. Lá ele vai ter a
professora para cuidar dele. A professora vai ensinar a ele a escrever, a ler, e uma porção de outras
coisas.
— Foi isso que aconteceu com vocês? E vocês gostaram de vir para a escola? É, a escola tem
uma porção de coisas boas.
— Mas tem também umas coisas de que vocês não gostam muito. Por exemplo, vocês aqui na
escola ficam longe da mamãe. Vocês gostam disso? É, no começo é chato. Mas, depois, vocês
tornam-se cada vez mais fortes e não precisam mais ficar sempre perto da mamãe, grudados nela.
— Algum de vocês tem irmão? Onde ele está? Em casa? Junto com a mamãe? Você fica triste
porque gostaria de estar lá também junto com a mamãe? Tem medo de que a mamãe goste mais
dele? Não é verdade. A mamãe gosta muito de você. E foi por isso que ela colocou você na escola
para você crescer inteligente e ficar igual a ela e o papai. Quando terminar a aula você já vai estar de
novo perto dela. Aí você vai poder contar uma porção de coisas que você fez na escola.
— Aqui na escola, você gosta dos coleguinhas da classe? Você conversa com eles? Brinca com
eles? Mas, me diga uma coisa. Quando a professora fala com um seu amiguinho, você não fica com
um pouco de ciúmes? Com um pouco de raiva deles? Você não fica chateado de que a professora
dê atenção aos outros coleguinhas? Com um pouco de raiva dela? Você não tem medo de que a
professora goste mais dos outros alunos do que de você? Isso acontece com muitos alunos.
— Mas você não precisa ter medo. A professora gosta de todos os alunos. Ela gosta muito de
você. Eu estou aqui para ensinar você. Para ajudar você a crescer e ficar forte e inteligente.

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Lição J-3

Na sociedade

Pressupostos e objetivo como na Lição J-1.

— À medida que cresce, a criança, o jovem vai-se integrando na grande sociedade. Nessa
sociedade ele vai ganhar novos conhecimentos, ampliar seu círculo de relacionamentos, encontrar
trabalho para prover seu sustento, constituir família. Enfim, nessa sociedade ele vai ter renovadas
possibilidades de desenvolver suas potencialidades.
— A sociedade em que ele vai viver é resultado de um longo processo de evolução. É produto
do trabalho de milhões de seres humanos que trabalharam para construí-la, para aperfeiçoá-la, para
descobrir formas de viver cada vez melhores. Os conhecimentos que temos hoje, o conforto, a arte,
o nível de vida, tudo isso é resultado do trabalho de uma porção de homens e mulheres que nem
sempre foram recompensados pelo esforço que desenvolveram. Você vai participar dessa
sociedade para usufruir dessas vantagens. Mas você pode perceber que também tem uma tarefa a
realizar. Essa tarefa é colaborar para que essa sociedade mantenha o grau de evolução que alcançou
e ajudá-la a dar mais alguns passos à frente.
— Não é possível construir uma sociedade se cada um puder fazer o que bem entender. Para
existir uma sociedade é preciso que haja organização dos participantes. Uma sociedade é
organizada por meio de leis. Essas leis foram estabelecidas por um acordo, por um consenso entre
os diversos grupos sociais. Essas leis podem ser discutidas, mas, enquanto estiverem vigentes, elas
deverão ser obedecidas. Só assim se mantém a ordem numa sociedade, só assim ela pode
funcionar. Lembremos três dos maiores princípios do direito:
• Deve-se respeitar o que é de cada um.
• O direito de um vai até onde começa o direito do outro.
• Ninguém pode alegar que não conhece uma lei.

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Lição J-4

Trabalho

Pressupostos e objetivo como na Lição J-1.

— Até uma certa idade, a criança, o jovem é sustentado pelos pais. À medida que ele vai
crescendo, é preciso que comece a pensar numa fo rma de ganhar o sustento próprio e da família
que pretende constituir. Talvez, nesse momento, apareça algum receio de se lançar na vida. De
enfrentar a concorrência e problemas desconhecidos. É possível que comece, lá no fundo, a surgir
um desejo de continuar criança, desfrutando as vantagens da segurança no lar e de ter tudo à mão
sem necessidade de nenhum esforço. Essas reações podem se manter por algum tempo, mas logo
serão superadas no momento em que você tomar plena consciência de que a procura do ganho do
próprio sustento significa também alcançar uma série de vantagens, como a liberdade de gerir a
própria vida, a aquisição da condição de adulto, o orgulho de realizar coisas, de mostrar as próprias
qualidades.
— Na procura de uma profissão, o ideal é encontrá-la numa área da qual você goste. Aí, cada
um precisa conferir se tem realmente jeito para o tipo de trabalho desejado, condições de chegar até
ele e se esse trabalho proporciona o ganho pretendido. Isto se torna nos nossos dias mais fácil,
porque novos campos de trabalho estão surgindo continuamente, oferecendo oportunidades antes
inexistentes de auto-realização.
— Hoje, o sucesso no trabalho está dependendo cada vez mais de estudo. Dificilmente alguém
encontra um emprego ou estabelece um negócio que proporcione uma remuneração razoável sem
uma boa base escolar. A concorrência está maior e o exercício da mais simples profissão exige cada
vez mais conhecimentos.
— Lembre-se de que cada ramo de atividade depende de conhecimentos e cuidados
específicos. Em todos, no entanto, é preciso mostrar criatividade, cooperação e também precaução.
Em relação a este último item, por exemplo, no caso de estabelecer uma firma, é importante estar
continuamente bem a par da contabilidade, para não se expor a ter um dia uma desagradável
surpresa.
— Se você conseguir manter dentro da sociedade um comportamento honesto, cooperativo, ao
final de sua vida você terá a satisfação de poder afirmar que realizou sua tarefa, que cumpriu o seu
papel, e que o mundo é, agora, pelo menos um pouco mais feliz, por sua causa.

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Outros temas

Solidariedade: os alunos que se negam a revelar os nomes de colegas que prejudicaram outros
colegas ou a classe em geral. Por um falso coleguismo, eles não estariam se prejudicando e
prejudicando ao próprio colega? Colocar em discussão o tema.
Noções de patriotismo. Política. Sobre este segundo tema, o monitor precisa ter cuidado para não
transmitir suas preferências pessoais.
Democracia.
Participação em movimentos sociais.

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