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A maioria de seus alunos nasceu no século 20, mas vão viver a maior parte
de suas vidas no século 21. Esses dois séculos são muito diferentes. Quem
passou a maior parte da vida no século 20, como nós adultos, não teve que
Cidadãos do
século 21 enfrentar mudanças tão radicais na sua forma de ser, amar, conviver,
participar, conhecer, estudar, produzir, trabalhar. No século 21, tudo isso está
mudando... Como vamos preparar essa geração para viver, conviver,
conhecer e produzir no incerto e desigual século 21?
Antes de irmos adiante, vamos esclarecer uma questão didática. Não vamos
nos aprofundar aqui numa proposta específica de ensino de arte.
Acreditamos que, antes disso, é importante expor e debater a concepção de
educação que, a nosso ver, permearia uma proposta de ensino de arte.
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TODAS AS PESSOAS TÊM POTENCIAL E O DIREITO DE DESENVOLVÊ-LO.
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qualidade, voltada a preparar as pessoas, especialmente os mais jovens,
para enfrentar os seguintes desafios: saber quem são e o que querem para
suas vidas; saber conviver com o outro e com a coletividade; conhecer as
estratégias de aprendizagem que lhes permitam ler, escrever, calcular e
resolver problemas; ser capaz de empreender e ingressar no novo mundo do
trabalho.
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POR UMA EDUCAÇÃO RICA
Segundo ele:
“A Educação para o Desenvolvimento Humano é ainda um conceito
inacabado, longe, acreditamos, de sua forma definitiva. Falta ainda a
realização de um esforço capaz de integrar num arcabouço teórico
consistente as diversas contribuições oriundas das várias ciências
sociais, que, ao longo de seu desenvolvimento, foram se agregando
ao seu corpo. Longe de nos desanimar, essa é uma constatação que
nos deve encher do mais vivo entusiasmo, uma vez que o campo de
possibilidades aberto diante de nós é um convite incessante ao
pensamento criativo e à ação transformadora.”
Com certeza, dez anos após esta afirmação, já demos vários passos
consistentes na formulação teórico-prática da Educação para o
Desenvolvimento Humano, mas essa condição de “inacabada” faz parte de
sua constituição: ela se faz e refaz pelas mãos e pelo olhar das pessoas que
a cultivam em seus cotidianos.
Boa leitura!
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sobrevivência da família já se fez praticamente de tudo que se possa imaginar com os filhos
dos pobres.
Eles foram postos a trabalhar, dentro da ideologia sacrossanta de “ajudar o menino para o
menino ajudar a família”. Eles foram fardados e postos a fazer ordem unida, para, depois,
trabalharem no comércio e outras atividades sem direitos de qualquer natureza, ganhando
uma fração do salário mínimo. Eles foram organizados, nucleados e categorizados como
meninos de rua, para, a partir dessa condição, obterem reconhecimento social e
reivindicarem seus direitos. Eles foram postos a trabalhar em fabriquetas de tudo que se
possa imaginar para aprender um ofício e ajudar em casa. Eles foram chamados a estudar
em garagem, debaixo de poste, de ponte e até de viaduto, como estratégia de denúncia do
fracasso da escola pública e do modelo de Estado, de sociedade e de economia que a
mantém. Eles receberam de adultos vassourinhas e panos para limpar vidros de carros nos
semáforos. Sem contar as caixas de engraxates e carrinhos de mão, que entidades sociais
lhes ofereceram como recursos para ganhar a vida. Meninas prostituídas foram organizadas e
passaram a receber preservativos e instruções sobre como não se contaminar e lutar por
seus “direitos”. (...)
É interessante que quase ninguém no Brasil pensou em dar à pergunta – que fazer com os
filhos dos pobres? – a mesma resposta que foi dada em todos os países que deram certo: –
Devemos fazer com os filhos dos pobres o mesmo que fazemos com os nossos próprios
filhos. Trata-se de pô-los na escola e, no horário em que eles não estão lá, ajudá-los a fazer
as tarefas escolares e oferecer-lhes oportunidades educativas capazes de permitir-lhes
desenvolver plenamente o seu potencial.
O grande paradigma que precisamos romper é a velha mania nacional de querer combater –
não seria melhor dizer administrar? – a pobreza através de uma pobre educação pobre para
os pobres mais pobres.
Nossa proposta é uma rica educação rica – em dignidade, beleza, criatividade, técnica, finura
de espírito, esperança, confiança, fé, qualidade, excelência e emoção – para dar a ver a
todos a riqueza que há nos pobres, ou seja, a vida como valor universal, a certeza de que
nenhuma vida vale mais do que a outra, a convicção de que todo ser humano nasce com um
potencial e tem o direito de desenvolvê-lo, a crença em que para desenvolver o seu potencial
as pessoas precisam de oportunidades, a segurança de que aquilo que uma pessoa se torna
ao longo da vida depende das oportunidades que teve, e das escolhas que fez. Por isso a
conclusão de que é preciso construir uma sociedade capaz de oferecer oportunidades às
pessoas e de prepará-las para fazer escolhas certas. No coração de todo educador, mais do
que a denúncia do velho, é preciso fazer pulsar o anúncio do novo. O anúncio de um país
possível, onde cada criança tenha o direito de ser criança e onde cada adolescente possa
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olhar o futuro sem medo, porque está preparado para ele. O possível, sempre é bom lembrar,
faz parte do real.
Atrás dessa condescendência, reside uma crença profunda de que os pobres mais pobres
constitutivamente são diferentes de nós. Por isso, não se adaptam à escola, não se lhes pode
exigir disciplina, nossos valores não se aplicam a eles, vivem no concreto-imediato, fogem
das tarefas de planejar o futuro, são incapazes de persistência, não têm projeto de vida,
aceitam passivamente as leis do mais forte e do mais esperto, são fatalistas, acreditam no
destino e na sorte de cada um, são imediatistas e, por isso, incapazes de adiar qualquer
gratificação.
Quem, em nossa área de atividade, já não visitou escolas ou programas sociais feios, sujos,
pobres, bagunçados, feitos sob medida para os pobres mais pobres, em nome do respeito à
maneira própria de ser desses pobres? Quem já não presenciou programas quase sem
regras, para meninos de rua ou de periferia, reverentes ao pressuposto de que seria uma
violência cultural impormos-lhes os nossos valores de classe média escolarizada? (...)
O caminho estreito é o da exigência. A cada momento, com cada educando, fazer sempre a
maior exigência possível de ser feita naquelas circunstâncias. Muitas vezes é preciso postular
no educando ou na educanda uma qualidade, que está além de todos os seus atos. A regra
principal é nunca colocar a exigência antes da compreensão. Exigir compreendendo.
Compreender exigindo. É assim que o ser humano cresce e se supera. (...)
Proceder de outro modo seria, em nome de um falso humanismo pedagógico, não criar as
condições que permitam a cada educando realizar ao máximo o seu potencial, ou seja, as
promessas que trouxe consigo ao vir a esse mundo.”
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UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO: QUE NOVOS DESAFIOS TRAZ PARA O ENSINO DE ARTE?
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Disponibilizamos na sala de leitura no ambiente coletivo do curso o capítulo 3
do livro Educação para o Desenvolvimento Humano. Sugerimos que leiam,
primeiro, as definições de competência, habilidade e atitude que estamos
trabalhando. Em seguida, leiam, quais são as habilidades do ciclo de desafios
que compõem as competências pessoais. Observem uma curiosidade que os
ajudará a compreender a extensão do que estamos propondo na esfera das
competências pessoais: a autoestima, geralmente mencionada como a
grande contribuição da maioria dos processos educacionais para a vida
pessoal dos educandos, é apenas uma das competências a serem
trabalhadas, e na verdade, essas competências estão assentadas sobre o
autoconhecimento e o projeto de vida (autoproposição).
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Vamos explorar um pouco mais esse desafio a seguir, mas antes disso,
vamos ao capítulo 3 compreender melhor as competências cognitivas. É
nessa esfera que, apostamos, o ensino de arte deverá trazer as mais
inovadoras contribuições à educação brasileira!
A EDUCAÇÃO NECESSÁRIA
INOVADORA E EFICAZ
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Vocês devem ter observado que estamos atribuindo à escola um papel
central na resolução desse desafio. De fato, por ser o espaço universal para
formar as novas gerações, a escola tem esse papel central, mas não vamos
nos esquecer que a educação escolar não pode nem deve dar conta de tudo.
O desafio de alcançar inovação e eficácia é de todos os espaços que se
propõem a educar.
Boa leitura!
“Apresentamos, a seguir, um relato produzido por Fabiana Bezerra, educadora da ONG Memória
Gráfica, de Minas Gerais. Nele, Fabiana descreve a importância das atividades de apreciação e
interpretação de obras de arte, articuladas com atividades de fazer artístico, para o desenvolvimento
simultâneo de diversas competências cognitivas junto a um grupo de 40 educandos.
‘Tendo a mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte como recorte, a
oficina de gravura buscou estabelecer um diálogo a partir dos primeiros anos da nova
capital. Nesta primeira etapa os jovens visitaram o Museu Histórico Abílio Barreto,
onde observaram características e curiosidades arquitetônicas do casarão — uma
das construções remanescentes do Arraial Curral Del’ Rey — e também a exposição
“Os primeiros anos da capital” — um registro dos primeiros 50 anos da cidade. Ainda
no museu, os jovens realizaram desenhos de observação e posteriormente estes
estudos foram trabalhados na técnica de isogravura com duas cores.
A terceira etapa consistiu na preparação para a visita à cidade de Ouro Preto. Para
tal, foram exibidos um longa metragem sobre a vida do artista Aleijadinho e um
documentário sobre a cidade de Ouro Preto. Ao fim das exibições, os jovens foram
incentivados a realizarem textos e desenhos, para registro das informações trazidas
pelo material trabalhado.
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A quarta e última etapa, consistiu na visita a Ouro Preto. Os conhecimentos teóricos
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construídos na “sala verde” sobre o estilo barroco e suas características, como
profusão, movimento, luz, puderam ser aprofundados.
O próximo relato apresenta uma oportunidade educativa coordenada por Daniel Fernandes, educador
da organização Redes de Desenvolvimento da Maré, do Rio de Janeiro. Nele, Daniel apresenta uma
atividade de apreciação vivenciada pelos educandos e reflete sobre a articulação entre o
desenvolvimento de competências cognitivas e relacionais. Interessante notar que o educador aponta
as dificuldades e os desafios vivenciados na atividade, já pensando nas próximas oportunidades de
apreciação que serão oferecidas aos educandos.
‘No dia 1º de setembro foi realizada uma visita dos educandos ao MAM – Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro. Periodicamente realizamos, nos encontros, uma
avaliação do projeto com os educandos, com o objetivo de ressaltar pontos positivos
no andamento dos trabalhos, buscar estratégias para resolver dificuldades, e ouvir os
anseios e as sugestões dos participantes. Passeios são frequentemente
mencionados como atividades de interesse, assim como a necessidade de uma troca
maior de conhecimentos e repertórios, uma vez que a oficina trabalha com o
aprimoramento de um repertório delimitado.
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Sala verde é o espaço na ONG onde os educandos trabalharam a segunda e a terceira etapas.
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Verificamos serem os passeios, atividades de muita importância, principalmente
quando constatamos que o universo cultural e a noção de cidade dos educandos
muitas vezes se restringem aos limites geográficos e culturais da própria
comunidade, ou então, apenas ao que é apresentado nos meios de comunicação,
principalmente através da televisão e do rádio.
Durante o passeio, procuramos estar junto aos educandos para orientá-los e apreciar
com eles a exposição, mas sem nos colocarmos na posição de “guias” ou
“monitores”, sem procurar dar o caráter de uma visita guiada. Preferimos que
ficassem livres para usufruir a arte no tempo e espaço de cada um. Assim, por vezes
o grupo se dispersava, em outro momento voltava a se reunir, todos com autonomia
para escolher se deter no que mais lhes interessasse.
Como expusemos anteriormente, alguns jovens nunca haviam ido a uma exposição,
nem a um museu. Principalmente para estes, o desenvolvimento cognitivo, em vários
aspectos, foi muito intenso. Conheceram o que é e para que serve um museu, quais
as suas normas, de que maneira ele expõe as obras de arte. Algumas obras eram
interativas e podiam ser tocadas, outras não, o que gerou boas perguntas e reflexões
nos educandos. A subjetividade da fruição e interpretação das obras, os diferentes
referenciais estéticos também propiciaram discussões. Através do movimento
tropicalista puderam observar que a arte se manifesta através de outras linguagens
além da música e que uma manifestação artística está ligada ao meio em que é
produzida como um todo indissociável. Eles esperavam encontrar apenas objetos
ligados diretamente a musica, porém viram cartazes de filmes, fotografias,
instalações, vestimentas, maquete de cenário de peça teatral, quadros, enfim, todo
um universo intrínseco à musica tropicalista.
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de conteúdo, trazendo textos, músicas, vídeos, imagens sobre o assunto,
envolvendo-os com mais intensidade e antecedência com o tema a ser visitado, o
que procuraremos fazer no próximo passeio. Atividades posteriores relacionadas
também não foram programadas, e sentimos falta de tê-lo feito, pois ajudariam a fixar
e dar continuidade à vivência.
A experiência é relatada pelo educador Leandro da Silva, da Associação pela Família, ONG de São
Paulo. As oportunidades educativas envolveram 47 crianças com idades entre 6 e 8 anos,
acontecendo diariamente, com duração de 1 hora. O foco das oportunidades educativas, tendo em
vista os conteúdos, é o português e a matemática.
Percebo, através de relatos dos educandos, como esta atividade contribui para a
melhoria do desempenho escolar, auxiliando na compreensão das atividades
escolares.
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EXPEDIENTE
Equipe editorial
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