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Para Menezes de Cordeiro: “inadimplemento é a não realização da prestação devida enquanto devida,
na medida em que essa falta de cumprimento corresponde a violação da norma legal ou convencional
imposta pelos usos que era especificamente dirigida ao devedor como dever de prestar ou ao credor
como dever de receber”.
Em regra, as obrigações são cumpridas voluntariamente, seja pelo devedor ou por terceiro. Quando a
prestação devida não é efetuada, diz-se que houve o inadimplemento da obrigação.
Quando a inexecução da obrigação advém de culpa latu sensu do devedor, diz-se que o inadimplemento
é culposo, cabendo ao credor o direito de acionar os mecanismos para pleitear o cumprimento forçado.
Quando a inexecução decorre de evento impossível de evitar ou impedir, o inadimplemento é fortuito.
Assim dispõe o art. 389 do CC/2002: "Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado".
Porém, se a obrigação assumida no contrato for de meio, a culpa deve ser provada pelo lesado
mediante ato negligente, imprudente ou imperito, mesmo a responsabilidade sendo contratual. Na
responsabilidade contratual, não precisa o contratante provar a culpa do inadimplente, para obter
reparação das perdas e danos, basta provar o inadimplemento. O ônus da prova, na responsabilidade
contratual, competirá ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a inexistência de sua
culpa ou presença de qualquer excludente do dever de indenizar.
Os absolutamente capazes são os únicos que podem ser partes de um contrato. Por isso, a
responsabilidade contratual só atinge essa figura. Já o dever genérico de não lesar a outrem pode ser
inobservado tanto por capazes quanto por incapazes. Sendo assim, a responsabilidade extracontratual
também atinge tais figuras.
A graduação da responsabilidade delitual é muito maior que a contratual, indo a dimensões muito mais
amplas. O direito civil, ao identificar um dano causado a outrem em decorrência de um ato ilícito,
procura analisar prioritariamente esses aspectos:
a. Dano existente;
b. Nexo causal;
c. Responsabilidade do agente causou;
Responsabilidade Subjetiva surge com um dano causado em razão de ato próprio imputado de pessoa,
por quem ele responde, ou fato de coisa ou animal sob sua guarda. A responsabilidade civil surge em
face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato,
ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. Segundo
Maria Helena Diniz, a responsabilidade civil está relacionada com “a aplicação de medidas que obriguem
alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato próprio imputado, de
pessoas por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade
subjetiva) ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva)”
O inadimplemento mínimo é uma das formas de controle da boa-fé sobre a atuação de direitos
subjetivos.
Responsabilidade objetiva é a responsabilidade sem culpa. O agente é responsabilizado por ser previsto
legalmente que será responsável, estão inseridos nesta categoria os que praticam atividade de “risco”. A
teoria do risco, originária do Direito Francês, determina que certas atividades estejam sujeitas a causar
danos, portanto, estão inseridas nas atividades de risco para efeito de indenização. Atinge essa teoria
principalmente os que fomentam atividades coletivas, o Estado que se responsabiliza pelos atos dos
seus agentes e principalmente as atividades que correm o risco de danificar o meio ambiente, o
ambiente social.
A violação positiva do contrato, que com a culpa in contraendo tem sido considerada como uma das
grandes descobertas doutrinárias após a publicação do Código Civil alemão deve a sua paternidade ao
berlinense H. Staub, em 1902,O BGB, no § 280, regula a obrigação do devedor de indenizar o credor
quando a prestação se torne impossível, e no § 286, a de indenizar o credor pelos danos causados pela
sua mora, ou seja, no Código civil alemão, o devedor responde pela não realização da prestação, em que
o devedor viola a obrigação através de uma atuação positiva: fazendo o que deveria omitir ou efetuando
a conduta, mas em termos imperfeitos. É essa conduta que Staub passou a chamar de violação positiva
do contrato, afirmando que a lacuna derivada desse silêncio deveria ser integrada pela aplicação
analógica do regime da mora. Qualquer violação positiva pode ser sempre equiparada a um não
cumprimento de normas. A solução estaria em, por aplicação analógica da mora, reconhecer à parte
que atuou de forma leal ao contrato a possibilidade de escolher entre três caminhos:
Podemos destacar três categorias de deveres laterais que podem ensejar a violação positiva do
contrato: deveres de proteção, informação e cooperação. Então, estes deveres alcançam todos os
interesses conexos à execução do contrato. Excluem-se de seu âmbito todos aqueles deveres que não
possam ser relacionados como necessários à realização da prestação.
"Nas obrigações negativas, o devedor é havido por inadimplemento desde o dia em que executou o ato
de que se devia abster" (art. 390 do CC/2002). Nas obrigações constituídas por uma série de abstenções,
o credor pode mover ação de cunho cominatório para impedir o reiteramento do devedor de uma
dessas abstenções. Se a obrigação for de prestação única, pode o credor, além das perdas e danos,
exigir o desfazimento do que foi realizado (art. 251 do CC/2002).
Responsabilidade patrimonial
"Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor" (art. 391). Quando as
perdas e danos são decretados e o pagamento não é feito, a execução será forçada, sendo que todos os
bens do devedor respondem pelo inadimplemento, ou seja, uma eventual penhora pode recair sobre
qualquer bem do devedor.
Modernamente, tem-se adotado a teoria do exercício da atividade perigosa, no qual o caso fortuito
ligado à coisa ou à pessoa, como a quebra de uma peça do caminhão que bate, é de responsabilidade do
devedor. Somente o "fortuito externo", advindo de fenômeno natural, como a chuva, seria escusável
nesse caso.
Mora
"Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer" (art. 394 do CC/2002). Embora a mora
também se constitua quando o devedor tenta pagar de forma diferente do estipulado, o seu
retardamento é o modo mais comum no qual ela se dá. Não é só pelo descumprimento da convenção
que a mora acontece. O cometimento de infração à lei também a caracteriza.
A súmula nº. 54 do STJ dispõe que "os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual. Na contratual, entretanto "contam-se os juros de mora desde a
citação inicial" (art. 405 do CC/2002). Nas obrigações de não fazer, não há o instituto da mora, pois "o
devedor é havido por inadimplemento desde o dia em que executou o ato de que se devia abster" (art.
390 do CC/2002).
A prestação que não interessa mais ao credor é tida como impossível. Não basta que o credor alegue
que a prestação não lhe é mais útil, as circunstâncias devem demonstrar isto.
Tanto no inadimplemento absoluto quanto na mora, surge a obrigação de restituir as perdas e danos
quando tais são provocadas pela culpa do devedor. Contudo, "não havendo fato ou omissão imputável
ao devedor, não incorre este em mora" (art. 396 do CC/2002). Se a mora deu-se por caso fortuito ou
força maior, isto é, não havendo culpa do devedor, este não será responsabilizado pelas perdas e danos.
Se a obrigação tornar-se impossível sem a culpa do devedor, também não haverá responsabilização
deste. Todo inadimplemento e mora do devedor presumem-se culposos. Porém, pode o devedor afastá-
la, provando que o infortuito não se originou por culpa sua. Já para o credor, o mesmo não vale. A mora
deste em receber o pagamento, mesmo sem sua culpa, é sempre de sua responsabilidade. A mora
accipiendi não requer a noção de culpa porque se o credor pudesse afastar sua responsabilidade, o
devedor seria obrigado a correr com os riscos de reter o pagamento por fato que não foi ocasionado por
ele.
Quando o devedor está em mora, ele é notificado pelo credor, para que esteja ciente da sua situação e
possa purgá-la. No inadimplemento absoluto a notificação não é necessária, já que o cumprimento da
obrigação é inviável.
a. "O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor" (art. 397, caput do CC/2002). Todavia, "Não havendo termo, a mora se
constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial" (art. 297, § único do CC/2002). É caso
que se refere o parágrafo único do art. 297 é de mora ex persona, pois depende de providência
do credor.
b. "Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o
praticou" (art. 398 do CC/2002). É desnecessária a notificação, pois a indenização é evidente. A
mora é, pois, presumida.
c. Quando o devedor declarar por escrito não pretender cumprir a prestação.
O decreto lei nº. 58/37, art. 14, protegendo as pessoas que adquirem imóveis loteados em prestações,
dispõe que só incorrerão em mora tais pessoas depois de serem notificadas com o prazo de trinta dias,
mesmo que a parcela seja positiva e líquida, com termo certo.
É o legislador transformando uma mora ex re em mora ex persona.
O decreto lei nº. 745/69 impede a rescisão do compromisso de compra e venda de imóvel não loteado,
mesmo que haja cláusula resolutiva expressa, sem a notificação no prazo de 15 dias.
Tanto no caso do decreto nº. 58 quanto no nº. 745, a notificação deve ser feita judicialmente ou pelo
cartório de registros de imóveis. Nessas hipóteses, a simples citação não é suficiente para constituir a
mora, é necessária a interpelação judicial.
A jurisprudência, no entanto, tem entendido que a citação feita na própria causa principal produz
mesmo efeito.
Mora do devedor
São requisitos da mora solvendi:
a. Exigibilidade da prestação: A dívida deve ser líquida e certa. Além disso, a realização tardia deve
ainda ser proveitosa ao credor Caso a condição que sujeitava a obrigação não se verificou, ou
não houve a escolha a qual o pagamento da obrigação dependesse, não haverá mora, pois não
se pode afirmar se o devedor efetivamente devia ou o que devia.
b. Inexecução culposa por fato imputável ao devedor.
c. Constituição em mora: Este requisito é somente para os casos de mora ex persona, que
dependem da ação do credor, pois nos casos ex re, a mora já é constituída desde o fato.
d. Existência de dívida líquida e certa: se a obrigação venceu tornou-se exigível, seu retardamento
culposo caracteriza a mora.
Efeitos
"A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa,
obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e o sujeita a recebê-la pela
estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e
o da sua efetivação" (art. 400 do CC/2002). A lei exige que o devedor tenha o mínimo de cuidado com a
coisa que forçadamente deve reter. Se o devedor agir com dolo, abandonando a coisa, por exemplo,
responderá pela deterioração desta. Esta solução é tomada porque o direito que o devedor tem de
abandonar a coisa colide com o interesse da comunidade, sendo preferível exigir que este cuide da
coisa, mesmo que por motivo alheio à sua vontade. As despesas que o credor deve ressarcir são
somente as necessárias, previstas no art. 96, § 3° do CC/2002.
a. "Por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos
decorrentes do dia da oferta".
b. "Por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da
mora até a mesma data".
As partes podem aceitar a oferta sem a incidência dos juros da mora, renunciando-os. Porém, este ato
não significa propriamente a purgação da mora.
Entende-se, hoje, que a purgação pode dar-se a qualquer momento da mora, desde que não tenha
causado dano à outra parte. O devedor em mora pode até consignar o pagamento, caso o credor não
tenha extraído os efeitos jurídicos de tal atraso.
A cessação da mora é diferente da purgação. Nela, o efeito não depende daquele que agiu em mora,
mais sim da outra parte. Ela decorre da extinção da obrigação. A cessação produz efeitos pretéritos, pois
afasta os já produzidos.
Perdas e danos
Exprimindo o seu exato conceito, nada mais significa do que os prejuízos, os danos causados ante ao
descumprimento obrigacional. É toda a lesão de qualquer bem jurídico, seja o dano material ou moral. O
dano é material quando atinge e diminui o patrimônio do lesado. O dano é moral quando atinge bem
jurídico, mas que não tenha repercussão na órbita financeira. A indenização de dano material mede-se
pelo prejuízo ao patrimônio da parte. Já a de dano moral é arbitrada judicialmente. A apuração do dano,
ou prejuízo, é feita por meio da liquidação determinada na lei processual (art. 946). A finalidade da
liquidação é tornar prático e possível a efetiva reparação do prejuízo.
Numa pequena comparação, a doutrina brasileira entende que o dano é subespécie de lucro cessante,
que é a perda de uma oportunidade que tende ser provar por dado histórico e a doutrina Italiana já
entende que a oportunidade já faz parte do patrimônio.
"Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos
e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual" (art.
403 do CC/2002). A teoria dos danos diretos e imediatos afasta a possibilidade de se indenizar os
chamados "danos remotos". Aquilo que dependia do bem lesado, mas também dependia de uma série
de outros fatores não pode ter sua inexecução atribuída unicamente à lesão do bem em questão. A
dificuldade jurídica existe na definição precisa do que foi afetado direta e imediatamente.
Juros legais
Juros são os rendimentos do capital. São os frutos civis da coisa. Representam o pagamento pela
utilização do capital alheio, preço devido pelo uso do capital é expressão econômica para locação de
recursos.
Washington de Barros Monteiro define que “juro é rendimento do capital ou frutos produzido pelo
dinheiro”
Espécies
Os juros são considerados convencionais quando são ajustados pelas partes, de comum acordo.
Quando os juros são previstos ou impostos pela lei, são chamados de legais.
Os juros são chamados de compensatórios, remuneratórios ou juros-frutos, quando
representam a compensação pela utilização de capital alheio. Devem estar previstos no
contrato, não podendo ultrapassar os limites impostos pela Fazenda Nacional (art. 591 do
CC/2002).
O STJ decidiu que os juros remuneratórios praticados nos contratos de mútuo dos
agentes financeiros do Sistema Financeiro Nacional não estão sujeitos à limitação do
art. 591 do CC/2002. Os juros compensatórios são, geralmente, convencionais. Nada
impede, contudo, que possam derivar da lei ou da jurisprudência.
"Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora, que se contarão assim as
dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor
pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes" (art. 407 do CC/2002). Os
juros moratórios são incluídos também na liquidação.
Juros simples são os que são sempre calculados sobre o capital inicial. Já os juros compostos são
capitalizados anualmente, integrando o capital. É o chamado juros sobre juros.
Regulamentação legal
Segundo o art. 405 do CC/2002, nos casos de responsabilidade contratual, "contam-se os juros de mora
desde a citação inicial".
"Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual"
(Súmula nº. 54 do STJ).
A Lei de Usura (Decreto-lei nº. 22.626/33) limita os juros a 1% ao mês. Essa lei também proíbe a
cobrança dos juros compostos. Porém, o art. 591 do CC/2002 permite os juros compostos. O art. 406 do
CC/2002 estipula que a taxa máxima não mais fixa, mas sim variável, conforme o estabelecido pela
Fazenda Nacional.
A Fazenda vem adotando a taxa SELIC (taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia
para títulos federais) como meio de aferição dos juros legais. Contudo, o STJ não aceita a utilização da
taxa SELIC não para esse fim, pois ela não é juridicamente segura, já que além de determinar os juros
trás embutida a correção monetária. Já outra corrente, diz que a aplicação do art. 161, § 1 do CTN que
estabelece os juros a 1% ao mês. O entendimento dominante da jurisprudência é de que deve ser
imposto o determinado na Lei da Usura, juntamente com o estabelecido no Código Tributário Nacional,
ou seja, 12% ao ano. Entende-se que o novo Código Civil, por ser lei geral posterior, não revoga a lei
especial anterior (Lei da Usura).
Cláusula Penal
É uma obrigação acessória, na qual se estipula uma pena ou multa com o objetivo de evitar o
inadimplemento da obrigação principal. Representa reforço ao pacto obrigacional através da ameaça de
uma sanção civil, caso a obrigação não seja cumprida. Chama-se também de pena convencional ou
multa contratual. "Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe
de cumprir a obrigação ou se constitua em mora" (art. 408 do CC/2002). Tendo uma prefixação dos
danos, pois esta não precisa provar os danos emergentes e lucros cessantes, pois o credor não precisa
prova, já que estas estão pré-fixadas no contrato, uma indenização prévia para forçar o devedor cumprir
sua obrigação ”não se presume, é expressa”.
Para Serpa Lopes “Apenas supõe sempre uma prestação em valor acima da indenização normal dos
danos” sendo incompatível com a indenização verificando às vezes maior que a própria indenização, ou
seja, a prova multa independe do prejuízo.
Natureza jurídica
É um pacto secundário e acessório, pois a sua existência depende da de uma obrigação jurídica. Aplica-
se, logo, o princípio de que o acessório segue a sorte do principal. Isto quer dizer que se a obrigação
principal é inválida ou nula, também será a cláusula penal.
Contudo, a recíproca não é verdadeira.
A invalidez da cláusula penal não implica na da obrigação principal.
"Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo" (art. 416, caput do
CC/2002). O caput do artigo 416 mostra porque a cláusula penal é utilizada. Sem ter o ônus de provar o
prejuízo sofrido, o credor apenas demonstra que houve o inadimplemento da obrigação. O devedor não
pode eximir-se da pena alegando ser ela excessiva, ou desproporcional com o dano causado, pois assim
foi fixado o acordo.
"Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização
suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver feito, a pena vale como mínimo da indenização,
competindo ao credor provar o prejuízo excedente" (art. 416, § único do CC/2002). O parágrafo único
do art. 416 fala dos casos em que a cláusula não é suficiente para cobrir todos os prejuízos. Nessas
hipóteses, cabe ao credor provar o valor das perdas para ser indenizado. Contudo, essa indenização não
é imposta em conjunto com a cláusula penal. O valor dessa segunda é descontado no da primeira, pois
se busca apenas o ressarcimento dos danos, e não um enriquecimento ilícito do credor.
"A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida
em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza
e a finalidade do negócio" (art. 413 do CC/2002). Quando a prestação foi cumprida em parte, usa-se o
princípio da equidade, reduzindo-se proporcionalmente o valor. A redução do excesso não possui uma
medição fixa. O juízo é de ponderação, observando-se fatores subjetivos como a natureza e a finalidade
do negócio, para se chegue ao valor final. Tal disposição é de ordem pública, podendo a redução ser
determinada de ofício pelo juiz.
Há diversas leis que estipulam o valor máximo da cláusula penal em situações específicas. Nesses casos,
o juiz observa os limites especiais fixados.
Espécies
"A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à
inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora" (art. 409 do
CC/2002).
A cláusula penal compensatória geralmente possui valor elevado, pois representa a recompensa do
grande prejuízo que é o não cumprimento da prestação.
"Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta se
converterá em alternativa a benefício do credor" (art. 410 do CC/2002). O dispositivo da à oportunidade
para o credor escolher entre pleitear a pena compensatória, exigir o ressarcimento das perdas e danos
ou exigir o cumprimento da prestação. Tanto a cláusula penal quanto o ressarcimento das perdas e
danos tem como objetivo impedir que o credor saia prejudicado com o inadimplemento. Em qualquer
uma das hipóteses, o credor tem seu patrimônio preservado. Por isso só é permitido ao credor escolher
uma das soluções. A escolha de mais de uma representaria um enriquecimento ilícito do credor.
Em se tratando de cláusula moratória, "quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em
segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena
cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal” (art. 411 do CC/2002). A mora pode
ser tanto o atraso da prestação, como o cumprimento de forma diversa da estipulada.
Nos casos de cláusulas penais moratórias, o valor da multa é geralmente pequeno, pois os prejuízos são
referentes a um pequeno atraso, não ao total inadimplemento. Por isso a aplicação da multa
conjuntamente com a exigência da prestação da obrigação não caracteriza enriquecimento ilícito do
credor. É, na verdade, o modo para ele não sair prejudicado dessa relação obrigacional.
Sendo assim, uma mesma obrigação pode ter até 03 cláusulas penais diferentes (01 compensatória e 2
moratórias, uma para o caso de atraso e outra para o caso de cumprimento de forma diversa).
Quando não há certeza sobre qual é a hipótese estipulada no contrato, costuma-se observar o valor da
cláusula para relacioná-la à hipótese provavelmente correspondente.
A cláusula penal também se aproxima do instituto de perdas e danos, porém, na cláusula penal, o valor
a ser pago é estipulado anteriormente e, por isso, às vezes não representa o exato ressarcimento dos
prejuízos do credor; enquanto que as perdas e danos são decretados pelo juiz, baseado nos prejuízos
alegados e provados. Por isso, representa a exata restituição dos prejuízos.
A diferença entre a cláusula penal e a multa simples é que a cláusula penal é uma importância a ser paga
caso haja uma infração, com o objetivo de ressarcir o prejuízo do credor, objetivo este que não é o da
multa simples.
A multa penitencial se aproxima da cláusula penal. Entretanto, a cláusula penal é atribuída em favor do
credor. Este escolhe se quer acioná-la ou prefere o adimplemento da obrigação, acrescido as perdas e
danos (somente no caso da multa por mora). Já a multa penitencial é estipulada em favor do devedor. É
quando se permite que ele, ao invés de cumprir a obrigação, irá pagar tal multa.
Se a obrigação for divisível, "só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringiu, e
proporcionalmente à sua parte na obrigação" (art. 415 do CC/2002).
Arras ou sinal
A palavra arra, que nos veio do latim arrha, pode ser pesquisada retrospectivamente do grego arrâbon,
no hebraico arravom, no persa rabab, no egípcio aerb, com sentido de penhor garantia.
É a quantia ou coisa entregue por uma parte a outra simbolizando a confirmação do acordo entre as
partes e, em certos casos, assegurando o não prejuízo de uma das partes pelo direito de se arrepender
que a outra tem. Cabe apenas nos contratos bilaterais. É o pacto acessório, dependendo da existência
de um principal. É impossível imaginar a existência das arras isoladas. Têm caráter real, pois o simples
acordo entre as partes não é suficiente para caracterizá-lo. É necessária a entrega de quantia de
dinheiro ou objeto.
Espécies
As arras são confirmatórias quando sua função é apenas confirmar o contrato pactuado. Nesses
casos, "se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito,
retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o
contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado" (art. 418
do CC/2002).
o Caso a parte prejudicada não se contentar com o valor recebido, achando que não foi
totalmente ressarcido, pode "pedir indenização suplementar, se provar maior
prejuízo, valendo as arras como taxa mínima", ou pode ainda "exigir a execução do
contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo de indenização"
(art. 419 do CC/2002). Poderá exigir a execução do contrato, acrescido das perdas e
danos cujo valor mínimo deve corresponder ao das arras.
o O valor da indenização pode superar o equivalente à devolução em dobro das arras
previstas para a hipótese de arrependimento (art. 420 do CC/2002).
o Havendo cumulação do pedido de execução do contrato com as perdas e danos, deve
as arras ser abatidas do valor da indenização.
Percebe-se que as arras não têm nenhuma função específica quando confirmatória. É apenas uma
quantia estipulada inicialmente que ajudará no ressarcimento de eventual prejuízo.
As arras são chamadas de penitenciais quando têm por função resguardar o direito de
arrependimento das partes. Pode a parte infratora decidir por liberar esse valor à outra ao
invés do cumprimento da obrigação. O objetivo não é ressarcir os prejuízos da parte afetada,
mas sim representar uma pequena punição pelo descumprimento da outra.
"Se nos contratos for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal
terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á" em benefício da outra
parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. “Em ambos os casos não haverá direito a
indenização complementar” (art. 420 do CC/2002). A devolução em dobro é imposta porque se a
devolução fosse simples, estar-se-ia apenas restabelecendo o statu quo ante, sem nenhuma punição à
parte que descumpriu com a obrigação. Como a função das arras penitencial não é de ressarcir os
prejuízos, não é necessário a prova do prejuízo real para que possam ser exigidos.
A jurisprudência estabeleceu certas hipóteses nas quais a devolução das arras é apenas simples, e não
dupla, são elas:
a. Quando há acordo nesse sentido;
b. Quando a não efetivação do contrato decorre de caso fortuito ou força maior.
A cláusula penal tem finalidade de coerção para que se evite uma inadimplência futura; ela
prevê as consequências de um ato que não satisfaça a obrigação.
As arras penitenciais, no entanto, admitem o arrependimento, perdendo esse caráter
coercitivo.
A cláusula penal pode ser sofrer redução quando há cumprimento parcial da obrigação por
parte do juiz – o mesmo não ocorre com as arras penitenciais.