You are on page 1of 11

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR:

IMPASSES E POSSIBLIDADES

Prof. Marcos Machado


Universidade Paulista - UNIP
Mestrando em Educação - UNISANTOS
markosmachado@homail.com

RESUMO

O artigo analisa a oferta de cursos na modalidade de educação à distância, no intuito de


traçar um paralelo entre a oferta desses cursos e sua relação com a demanda existente.
Numa perspectiva historiográfica, apresenta a evolução sobre a institucionalização da
educação a distância, bem como, de sua expansão após a normatização desta
modalidade de ensino. Apesar da finalidade da EAD se consistir em uma oportunidade
de socialização da educação, essa modalidade de ensino, muitas vezes se apresenta
como uma oportunidade de ascensão econômica, posto que, em muitos casos, possibilita
a conclusão rápida de cursos. Em contrapartida, representa a possibilidade de lucro por
parte de empresas que não vislumbram a educação como forma de democratização da
sociedade. A relevância desta análise consiste no fato de se demonstrar que a educação
a distância, apesar da legalidade e de sua institucionalização, ainda não se firmou como
uma possibilidade de democratização da oferta do ensino.

Palavras-Chave: educação a distância, ensino superior, oferta, institucionalização.

Abstract

The article analyzes the provision of courses in the form of distance education in order
to draw a parallel between the supply of courses and their relationship with the existing
demand. In a historiographical perspective, presents the progress on the
institutionalization of distance education, as well as its expansion after the
normalization of this type of education. Although the purpose of DE is to consist of an
opportunity to democratize education, this mode of education, often presents as an
opportunity to rise economically, since in many cases, enables the rapid completion of
courses. In contrast, represents the possibility of profit from companies that do not
envision education as a form of democratization of society. The relevance of this
analysis is the fact it is shown that distance education, despite the legality and its
institutionalization, not yet established itself as a possibility of democratization in the
provision of education.

Key words: distance education, higher education, offering, institutionalization

Ano 2, nº 1, p.61-105, nov 2010


Introdução: Aspectos históricos e princípios legais

Segundo Alves (in LITTO E FORMIGA, 2009, p. 8), “a EAD no Brasil é


marcada por uma trajetória de sucessos, não obstante a existência de alguns momentos
de estagnação provocada pela ausência de políticas públicas para o setor”. Para o autor,
excelentes programas foram criados no Brasil, no século XX, colocando o país entre os
principais do mundo em relação ao desenvolvimento dessa modalidade de ensino
durante muitos anos.
A partir da leitura de Alves (in LITTO E FORMIGA, 2009) é possível se
afirmar que as primeiras expressões da Educação a Distância no Brasil, datam de pouco
antes do ano de 1900 e, referem-se à oferta através de anúncios de jornais no Rio de
Janeiro de cursos de datilografia ministrados por professoras particulares.

Não obstante essas ações isoladas, que foram importantes para uma época em
que se consolidava a República, o marco de referência oficial é a instalação
das Escolas Internacionais, em 1904. A unidade de ensino estruturada
formalmente era filial de uma organização norte-americana existente até hoje
e presente em diversos países. Os cursos oferecidos eram todos voltados para
as pessoas que estavam em busca de empregos, especialmente nos setores de
comércio e serviços. (ALVES in LITTO E FORMIGA, 2009, p. 8)

Durante cerca de vinte anos, o ensino por correspondência com o envio dos
materiais didáticos pelos correios se constitui na única forma dessa modalidade de
ensino, não só no Brasil, mas em todos os outros países. Em 1923, com a fundação da
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, cuja principal função “era possibilitar a educação
popular” a Educação a Distância passou a ser oferecida “por meio de um então moderno
sistema de difusão em curso no Brasil e no mundo” (ALVES in LITTO E FORMIGA,
2009, p. 8).
Em virtude da preocupação dos governantes em relação aos programas
considerados revolucionários, inúmeras exigências passaram a ser feitas à Rádio de
forma que, em 1936, “sem alternativas, os instituidores precisaram doar a emissora para
o Ministério da Educação e Saúde” que, em virtude da inexistência de um ministério
específico, tinham como uma de suas funções cuidarem da instrução pública (ALVES in
LITTO E FORMIGA, 2009, p. 8).
Segundo Alves (in LITTO E FORMIGA, 2009, p. 8) o ensino através do rádio
se constitui no “segundo meio de transmissão à distância do saber, sendo precedida

Ano 2, nº 1, p.62-105, nov 2010


apenas pela correspondência.

Inúmeros programas, especialmente os privados, foram sendo implantados a


partir da criação, em 1937, do Serviço de Rádiodifusão Educativa do
Ministério da educação. Destacaram-se entre eles, a Escola Rádio-Postal, a
Voz da Profecia, criada pela Igreja Adventista em 1943, com o objetivo de
oferecer aos ouvintes cursos bíblicos. O Senac iniciou suas atividades em
1946 e, logo a seguir, desenvolveu no Rio de Janeiro e em São Paulo a
Universidade do Ar, que, em 1950, já atingia 318 localidades. A Igreja
Católica, por meio da diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, criou em
1959 algumas escolas radiofônicas, dando origem ao Movimento de
Educação de Base (ALVES in LITTO E FORMIGA, 2009, p. 8)

Paralelamente à radiodifusão, a Educação a Distância no Brasil, a partir dos


anos de 1940 vem atender a algumas demandas relacionadas à necessidade de formação
de mão-de-obra especializada em nível técnico, tendo suas primeiras manifestações
formais através dos cursos oferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro (1941), através
da oferta dos cursos de técnico em eletrônica e corte e costura. No entanto, esses cursos
não eram considerados como pertencentes à educação escolar, devido ao caráter
informal que lhe impresso, por não existir na legislação vigente, nenhuma menção ao
reconhecimento a esse tipo de educação.
“A Televisão para fins educacionais foi usada de maneira positiva em sua fase
inicial e há registro de vários incentivos no Brasil a esse respeito, especialmente nas
décadas de 1960 e 1970” (ALVES in LITTO E FORMIGA, 2009, p. 9).
Com a publicação do Código Brasileiro de Telecomunicações, em 1967,
tornou-se exigência a transmissão de programas educativos, tanto pelas emissoras de
radiodifusão quanto pelas televisões educativas. Na época, foram concedidos privilégios
a alguns grupos de poder para a concessão de televisões com fins específicos de
educação. “As Universidades e fundações, por exemplo, receberam diversos incentivos
para a instalação de canais de difusão educacional” (ALVES in LITTO E FORMIGA,
2009, p. 9).
Em 1969, foi criado o Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais, que
previa a utilização de rádio, televisão e outros meios aplicáveis. Em seguida, foi baixada
uma Portaria do Ministério das Comunicações que definia o tempo obrigatório e
gratuito que deveria ser cedido pelas emissoras comerciais à transmissão de programas
educativos. Na década de 1970, surgiu o Programa Nacional de Teleducação
(PRONTEL) que foi substituído pelo Centro Brasileiro de TV Educativa (FUNTEVÊ).

Ano 2, nº 1, p.63-105, nov 2010


Nos anos 1990, devido à introdução e difusão das novas tecnologias de
informação e comunicação, a Educação a Distância ganhou espaço na mídia através da
parceria entre o Serviço Nacional da Indústria e a Rede Globo, instituições que
organizaram os programas Telecurso Primeiro Grau e o Telecurso Segundo Grau, e, de
sua versão profissionalizante, cuja certificação era validada pelo Ministério da
Educação e Cultura.
“Em 1994, o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa foi completamente
reformulado, cabendo, a partir de então, à Fundação Roquete Pinto à coordenação das
ações” que envolviam a Educação via Rádio e Televisão. No entanto, segundo Alves (in
LITTO E FORMIGA, 2009, p. 9), “os anos se passaram e não ocorreram resultados
concretos nos canais abertos de televisão. Na maioria dos casos, os programas eram
transmitidos em horários incompatíveis com a disponibilidade dos possíveis alunos-
usuários”.
Em termos legais, segundo o inciso II do artigo 206 da Constituição Federal de
1988, no Brasil, o direito de ensinar e de aprender é livre. No entanto, a primeira
legislação que trata da Educação na modalidade a Distância foi a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação de 1961. “Em sua reforma, dez anos depois, foi inserido um capítulo
específico sobre o ensino supletivo, afirmando que ele poderia ser usado em classes ou
mediante a utilização de rádio, televisão, correspondências e outros meios” (ALVES in
LITTO E FORMIGA, 2009, p. 11).
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394, em 20 de dezembro de 1996, a Educação a Distância passou a ser considerada
como uma modalidade de educação e de ensino, contemplada nessa lei, através do
artigo 80.
Nesse sentido, a institucionalização da Educação a Distância e, por
conseguinte, sua oficialização só ocorreu a partir de fins dos anos 1990. Cabe ressaltar
que, a normatização do artigo 80 da Lei 9394/96, só ocorreu através do Decreto
presidencial nº 5622 de 19/12/2005. Assim, a partir desse ano, a Educação a Distância,
passou a diversificar a oferta de curso e níveis de ensino, principalmente através das
instituições privadas de ensino, embora, algumas instituições públicas, tivessem
assumido pequenas parcelas desse novo espaço educacional.

Ano 2, nº 1, p.64-105, nov 2010


Perfil do atendimento: a lei da oferta e da procura

Devido às várias demandas existentes, a Educação a Distância adquire diversas


especificidades e finalidades visando responder às mais diversas concepções e
necessidades distintas, como por exemplo, as relativas “à educação continuada, ao
treinamento em serviço, à formação supletiva, à formação profissional, à qualificação
docente, à especialização acadêmica e, à complementação dos cursos presenciais”
(VIANNEY, 2008).
Ainda segundo esse autor, existem diversos modelos de Educação a Distância
que respondem a concepções pedagógicas e organizacionais distintas.

Temos desde modelos auto- instrucionais a modelos colaborativos; modelos


focados no professor (tele-aula), no conteúdo, a outros centrados em
atividades e projetos. Temos modelos para poucos alunos e modelos de
massa para dezenas de milhares de alunos. Temos cursos com grande
interação com o professor e outros com baixa interação. E não é fácil pensar
em propostas que atendam a todas estas situações tão diferentes (VIANNEY,
2008, p. 36).

Incorporam-se à oferta da Educação a Distância, as questões relativas às


demandas do mundo do trabalho no que tange à formação de profissionais que atendam
às necessidades decorrentes da competitividade no cenário globalizado. É importante
ressaltar que o processo de globalização da economia denota a introdução do indivíduo
no mercado de consumo, o que, guardadas as devidas proporções tem estreita relação
com o acesso a níveis mais elevados de ensino.
A partir dessa perspectiva, segundo Oliveira e Oliveira1 a Educação a Distância
representa para a “população, sobretudo a de menor poder aquisitivo, oportunidades de
ingresso no ensino superior como forma de acesso ao saber, à cultura, à formação e,
conseqüentemente, às condições mais dignas de vida”.
Para esses autores, a Educação a Distância além de apresentar vantagens em
relação ao ensino convencional, “em termos de qualificações e competências, à
socialização do saber e à posse de informações a curto prazo [...] ganha validade não
somente ‘como alternativa tecnológica, mas como alternativa de democratização da

1
In OLIVEIRA, T. Z, e OLIVEIRA, P. C. Perspectivas sociais e políticas da ead no Brasil: uma visão
panorâmica com foco na produção científica para o setor. Disponível em :
<http://twiki.im.ufba.br/pub/Main/PauloCezarOliveira/artigo_ead_pctz.doc >. Acesso em 3 fev. 2009.

Ano 2, nº 1, p.65-105, nov 2010


educação’.
Outro importante fator de expansão da Educação a Distância na sociedade
globalizada, além da dimensão econômica, diz respeito às transformações tecnológicas
que demandam a exigência de ampliação das formas e a melhoria dos processos
educacionais, possibilitadas através dessa modalidade de ensino. Assim, “numa
sociedade, onde a automação, a informação e o tempo correm velozes, não é possível
pensar que os sistemas convencionais de ensino possam responder à formação contínua,
face às necessidades dos momentos presente e futuro” (MATA, 2001, p. 81).
Cabe ressaltar que em razão da velocidade e das transformações impostas pela
sociedade globalizada, tanto em nível nacional quanto em nível internacional, “somente
um modelo de educação que supere os limites de tempo e espaço é capaz de oferecer
condições permanentes de aprendizagem ao longo da vida” (BELLONI, 2001, p. 42).
Nesse sentido, mesmo que o indivíduo tenha tido uma formação inicial sólida, precisará
de uma formação continuada que lhe proporcione constante atualização de modo a
continuar inserido no mercado de trabalho. Através da Educação a Distância muitos
profissionais tem se especializado, ampliando sua mobilidade no mundo do trabalho,
ainda tão injusto.
Apesar de a Educação a Distância representar para muitos, formas de
democratização das oportunidades de acesso ao Ensino Superior, para as instituições de
ensino superior privada ela representa uma nova fonte de ganho, pois, apresenta a
possibilidade de expansão imediata do número de alunos, ao passo que diminui o
número de professores através da contratação de tutores. Nesse sentido, segundo Paroli
(2009), a Educação a Distância para as instituições de ensino superior privadas
representa também, “uma estratégia de crescimento e inserção competitiva no mercado
educacional, permitindo o acesso a tecnologias baratas e ao ensino às pessoas que ainda
não puderam ingressar numa Universidade”.
A apropriação da Educação a Distância pelo setor privado visando à
continuidade de seu processo de expansão tem gerado distorções na compreensão da
verdadeira finalidade dessa modalidade de ensino, posto que, algumas IES privadas
fazem dela um mecanismo de redução de custos e demissão de trabalhadores,
oferecendo seus cursos totalmente à distância, ou parcialmente, através da introdução da
modalidade a distância em parte de suas grades curriculares de seus cursos presenciais,

Ano 2, nº 1, p.66-105, nov 2010


amparadas pela Portaria MEC 4.059/2004, que autoriza a oferta de até 20% da carga
horária do curso em disciplinas a distância.
Evidencia-se que a expansão da Educação a Distância no Brasil representa ao
mesmo tempo, a possibilidade de democratização do acesso ao ensino superior para
parcelas da população menos providas de recursos financeiros e o aumento dos ganhos
das instituições de ensino superior privadas, que se constituem em sua grande maioria
nas instituições responsáveis pela oferta desse tipo de ensino. No entanto, em virtude da
globalização, diversas demandas direcionam essa oferta, o que origina diversos modelos
de organização que atendem especificidades dos vários grupos que se utilizam da
Educação a Distância.
Buscando atender a essas demandas, várias instituições de ensino superior se
uniram e organizaram consórcios e parcerias, a exemplo da Universidade Virtual
Pública do Brasil (UniRede), criada em 2001, que agrupava inicialmente, cerca de
setenta instituições de ensino superior e tinham por objetivo, democratizar o acesso à
educação de qualidade por meio da oferta de cursos a distância.
Segundo Moran (2008, p. 257), a criação de um consórcio como a “UniRede "
possibilita que as melhores instituições públicas unam competências para um trabalho
em rede, baseado no uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação,
evitando iniciativas duplicadoras e a dispersão de recursos.
Apesar dos investimentos, tanto por parte do governo, através do Ministério da
Educação e Cultura, quanto das instituições privadas de ensino, o ponto principal de
análise e discussão sobre a Educação a Distância deve considerar a implementação de
uma política sólida que resulte na definição de um espaço de formação que considere
as inúmeras possibilidades educativas e democratizadoras de acesso ao ensino superior
e, os enfrentamentos políticos e ideológicos que devem levar à construção de uma nova
concepção organizativa, pedagógica e administrativa dessa modalidade de ensino, de
modo que sua oferta resulte em oportunidades reais de uma formação com qualidade.
Cabe ressaltar que, em termos de pós-graduação, lato e stricto sensu, a
Educação a Distância foi normatizada nos termos da Resolução do Conselho Nacional
de Educação (CNE) nº 1, de abril de 2001.

Ano 2, nº 1, p.67-105, nov 2010


A EAD na Atualidade

A Educação a Distância na atualidade se constitui em um paradoxo, pois,


enquanto representa a possibilidade de democratização do acesso aos diversos níveis de
ensino, também se apresenta como meio de atender às demandas neoliberais
promovendo certa adequação do indivíduo à competitividade da sociedade globalizada.
Segundo Martins e Moço (2009)2,

em 2000, 13 cursos superiores reuniam 1.758 alunos. Em 2008, havia 1.752


cursos de graduação e pós-graduação lato sensu com 786.718 matriculados,
segundo a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). A
modalidade de ensino usa ambientes virtuais, chats, fóruns e e-mails para
unir professores e turmas.

Ainda segundo os autores, a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB)


em 2005, ampliou a oferta dessa modalidade de ensino, principalmente em relação à
formação inicial dos professores da Educação Básica no Brasil e, da formação
continuada para graduados. Essa instituição através do sistema de parceria reúne 38
universidades federais e, oferece “92 opções de extensão, graduação e pós-graduação”.
Para a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), essa modalidade
de ensino atende melhor as necessidades da clientela com mais de trinta anos,
principalmente, em razão do grau de maturidade e responsabilidade necessárias a
organização e realização dos estudos.
Segundo Litto3, “em 2007, os gastos com aquisição de tecnologia, laboratórios,
softwares e serviços de internet consumiram 71,8% dos investimentos das instituições”
que oferecem cursos a distância, não investindo na mesma proporção nos conteúdos e
na qualificação dos professores e tutores que atuam nesses cursos.
Outro ponto importante a se considerar em relação à Educação a Distância é a
quantidade de alunos por turma que, chega ao dobro do número de alunos dos cursos
regulares.
A dificuldade para ingressar no mercado de trabalho para os concluintes de
cursos a distância é ampliada em relação aos formandos dos cursos presenciais,

2
Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/vale-pena-entrar-nessa-
educacao-distancia-diploma-prova-emprego-rotina-aluno-teleconferencia-chat-510862.shtml.
3
Idem.

Ano 2, nº 1, p.68-105, nov 2010


principalmente, em relação do pouco tempo da existência dessa modalidade de ensino
na graduação e pelo desconhecimento por parte das empresas e da sociedade em relação
à estrutura e à organização desses cursos.
Com relação à duração dos cursos a distância é possível afirmar que, em
termos legais, esta é a mesma dos cursos regulares sendo que, os conteúdos devem ser
exigidos nas mesmas proporções. O diferencial dessa modalidade de ensino é a
utilização de novos instrumentos e metodologias de ensino, com destaque às tecnologias
de informação e comunicação e à internet.
Nessa perspectiva, a Educação a Distância na atualidade, apesar do pouco
tempo de sua institucionalização, representa um percentual significativo em relação ao
número de alunos de graduação e pós-graduação no Brasil.

Conclusão

Concluindo, é possível apontar como um fator negativo da Educação a


Distância a utilização dessa modalidade de ensino, apenas para reduzir a presença e o
tempo gastos na conclusão dos estudos. Nessa perspectiva, a Educação a Distância não
deve se constituir apenas em um meio de reduzir os custos na oferta de educação por
instituições privadas, nem de baratear os gastos com educação dos alunos.
Nesse sentido, o foco dessa modalidade de ensino deixa de ser, muitas vezes, o
acesso das parcelas abastadas da população aos níveis mais elevados de ensino e, por
conseguinte, a uma educação de qualidade, passando a ser apenas, a economia e a
redução dos gastos com educação, o que resulta na desvalorização dessa modalidade de
ensino.
A Educação tem em si a finalidade socializadora dos saberes historicamente
construídos. Nessa perspectiva, a Educação a Distância representa a possibilidade de
acesso de populações carentes e distantes a níveis cada vez mais elevados de educação.
É imprescindível que se compreenda essa dupla dimensão da Educação a
Distância perpassada pelo viés da adequação da sociedade aos interesses do capital.
Essa modalidade de ensino deve ter como finalidade primeira, os princípios políticos
que demandam novas formas e oportunidades de aprendizagem.

Ano 2, nº 1, p.69-105, nov 2010


Evidencia-se, no entanto, que apesar da regulamentação recente dessa
modalidade de ensino, sua expansão para o ensino superior ocorreu de forma acelerada,
proporcionando a grandes parcelas da população oportunidade de acesso à Educação.
As especificidades demandadas por essa modalidade de ensino originam o
paradoxo em relação à Educação a Distância, cujos pontos principais recaem sobre a
resistência e o preconceito da sociedade em relação a essa modalidade de ensino ao
passo que, ela representa a possibilidade de universalização da educação.
A questão da formação dos profissionais que atuam na Educação a Distância,
assim como dos profissionais que atuam na educação presencial se constitui em um
elemento merecedor de grande atenção, posto que, a aprendizagem dos alunos demanda
em grande parte da forma como os conhecimentos são apresentados aos alunos. Dessa
forma, é essencial o investimento em formação inicial e capacitação desses
profissionais.
É de grande importância o investimento governamental no sentido de construir
um aparato capaz de promover ações eficazes de acompanhamento, supervisão e
fiscalização dos cursos e das instituições responsáveis pela oferta desses.
A atuação dos tutores é essencial no que tange à motivação do aluno visando
ao desenvolvimento da autonomia e de seu comprometimento em relação à sua própria
aprendizagem.
Assim, uma educação de qualidade oferecida através da Educação a Distância,
agrega ações por parte do governo, das instituições responsáveis pela oferta dessa
modalidade de ensino e dos profissionais que atuam nesse tipo de educação aos recursos
e equipamentos disponibilizados através das novas tecnologias de informação e
comunicação e, do compromisso por parte do aluno em relação à sua própria
aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ALVES, José Roberto Moreira. A História da EAD no Brasil. In LITTO, Fredric &
FORMIGA, Marcos (orgs). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.

Ano 2, nº 1, p.70-105, nov 2010


BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. 2. ed. Campinas, SP: Autores
Associados, 2001.

LITTO, Fredric & FORMIGA, Marcos (orgs). Educação a distância: o estado da arte.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

MARTINS, Ana Rita e MOÇO, Anderson. Educação a Distância vale a pena?


Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/vale-pena-
entrar-nessa-educacao-distancia-diploma-prova-emprego-rotina-aluno-teleconferen-
cia-chat-510862.shtml. Acesso em 08/05/2010.

MATA, Maria Lutgarda. Revolução tecnológica e educação: perspectiva da


educação a distância. In: Educação a distância: referências e trajetórias. Francisco José
da Silveira Loboneto (org.) Brasília: Plano Editora, 2001.

MORAN, José Manuel. A educação a distância e os modelos educacionais na


formação dos professores. In: BONIN, Iara et al. Trajetórias e processos de ensinar e
aprender: políticas e tecnologias. Porto Alegre: Edipucrs, 2008. Cap. 4, p. 245-259.
(XIV Endipe).

OLIVEIRA, Teresinha Zélia e OLIVEIRA, Paulo Cezar. Perspectivas sociais e


políticas da ead no brasil: Uma visão panorâmica com foco na produção científica
para o setor. Disponível em:
http://twiki.im.ufba.br/pub/Main/PauloCezarOliveira/artigo_ead_pct.doc. Acesso em
08/05/2010.

PAROLI, Joanna. A EaD no ensino superior público e privado: experiências e


contradições. Disponível em: http://www.e-educador.com/index.php/mundo-high-tech-
mainmenu-99/5552-ead/09/10/2009. Acesso em 08/05/2010.

VIANNEY, João. A ameaça de um modelo único para EaD no Brasil. Colabor@ -


Revista Digital da CVA-RICESU, vol. 5 – nº 17, julho 2008. Disponível em
http://www.ricesu.com.br/colabora/n17/index1.htm. Acesso em 15/05/2010.

Ano 2, nº 1, p.71-105, nov 2010

You might also like