Vistos. CARLOS MELRO JUNIOR, qualificado nos autos, impetrou
mandado de segurança contra ato da DIRIGENTE REGIONAL DE ENSINO BAURU, alegando, em resumo, que, embora afastado da sala de aula, em licença saúde, desde 1982 por motivo de enfermidades mentais, se inscreveu para participar no processo de atribuição de aulas no ano de 2011, tendo-lhe sido atribuídas 30 horas/aulas. Todavia, houve redução para 12 horas/aulas sob a alegação de não ter sido aprovado no concurso instituído no Estado de São Paulo, para lecionar no ano de 2010 e seguintes. Pediu a concessão de liminar garantindo-lhe carga horária de 30 horas/aulas atribuídas, tornando-a definitiva a final. (fls. 02/10). Mandato fls. 11. Juntou documentos (fls.12/29). A autoridade impetrada manifestou sobre o pedido de liminar (fls. 40/46). A liminar foi deferida (fls. 47). A impetrada prestou informações (fls. 56/61), sustentando que o indeferimento se deu em observância ao previsto na legislação vigente. Pediu a revogação da liminar e denegação da segurança. Em seu parecer, o representante do Ministério Público deixou de se manifestar quanto ao mérito, alegando ausência de interesse público (fls. 63/64). É a síntese necessária. FUNDAMENTO E DECIDO. Assiste razão ao impetrante, porque ele teve um direito líquido e certo obstruído e, portanto, suscetível de mandado de segurança. O impetrante deduz em Juízo pretensão com fundamento na Carta Magna em seu artigo 227. Amplamente conhecido por “remédio heróico”, o mandado de segurança se presta para tutela de direito liquido e certo não amparado por hábeas corpus, sempre que, ilegalmente ou com abuso do poder, alguém sofrer violação ou houver justo receio de sofrê- la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça (art. 1º, da Lei 12.016/09). Mister, para concessão da ordem, a presença de todos esses requisitos; a ausência de apenas um é o suficiente para a sua denegação. No caso “sub judice”, verifica-se que o impetrante é professor de educação básica II, estável (fls. 23), e teve reduzida sua carga horária atribuída para 12 horas/aulas sob a alegação de não ter sido aprovado no Processo de Avaliação Anual, nos termos da Lei Complementar 1.093/2009. A Constituição Federal de 1988, nos Atos das disposições Constitucionais Transitórias, concedeu estabilidade aos funcionários não concursados, nos seguintes termos: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autarquia e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37 da Constituição, são considerados estáveis no serviço público.” Assim, verifica-se que a estabilidade é atributo pessoal do ocupante do cargo, garantindo a este a permanência no serviço público. A Lei Complementar 1.093/2009, não se aplica aos estáveis, porque envolve contratação por tempo determinado, e os estáveis são funcionários que só podem ser demitidos após regular processo administrativo, sentença judicial transitada em julgado ou procedimento de avaliação periódica de desempenho (art. 41 da Constituição Federal). Ademais, verifica-se ainda, na documentação constante dos autos que o impetrante encontra-se afastado para tratamento de saúde há muitos anos (fls. 13/15). Por derradeiro, conforme reiterado entendimento jurisprudencial a carga horária de professor em licença saúde não pode ser reduzida. Nesse sentido: “Apelação – Mandado de Segurança – Professora de Educação Básica II – Lei 500/74 – Licença Saúde – Vencimentos com base na carga horária reduzida – Pretensão ao restabelecimento o da remuneração referente a 200 horas-aulas, as quais detinha anteriormente à concessão da licença-saúde – Ordem denegadas – apelo consistente – Manutenção da remuneração legalmente garantida – Resolução SE 95/05 em desacordo com a Lei Complementar nº 444/85; Lei 500/74 e Lei 10.261/68 – Apelo provido”. (Apel. Cível 994.08.174447-9, 9ª Câmara de Direito Público –TJESP, Dês. Rel. Sergio Gomes, j. 24.03.2010).” “Magistério – Lei 500/74 – Redução da carga horária quando a autora estava em gozo de licença- saúde – ilegalidade caracterizada – Artigo 191 do Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado e artigo 91 da Lei Complementar nº 444/85 – Recurso provido para julgar procedente a ação. (Apel. Cível 994.06.081109-6, 5ª Câmara de Direito Público – TJESP, Dês. Rel. Reinaldo Miluzzi, j. 12.04.2010).” “Professor – Lei 500/74 – Aplicação da Resolução 134/03, impedindo a impetrante a participar do processo de atribuição de aulas durante licença-saúde – Redução de vencimentos – Inadmissibilidade. Hierarquia da Lei 444/85. Recurso não provido. (Apel. Cível. 994.05.033233-1, 3ª Câmara de Direito Público – TJESP, Dês. Rel. Marrey Uint, j. 13.04.2010).” Ante o exposto, ratifico a liminar e CONCEDO A SEGURANÇA, pleiteada por CARLOS MELRO JUNIOR contra ato da DIRIGENTE REGIONAL DE ENSINO BAURU, determinando que a impetrada tome as medidas administrativas necessárias, garantindo-lhe a manutenção da carga horária de 30 horas/aulas que, inicialmente, lhe foram atribuídas e, julgo extinto o processo, com julgamento do mérito, nos termos do artigo 269,I do CPC. Oficie-se para o cumprimento da ordem. Não há condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nos termos do artigo 25 da Lei 12.016/2009. Deixo de submeter estes autos ao reexame necessário, nos termos do entendimento do Presidente da Seção de Direito Público: “Nos termos do artigo 475, parágrafo 2º e/ou 3º do Código de Processo Civil, criados pelo artigo 1º da Lei Federal 10.352/2001 (norma processual aplicável aos feitos em curso), tornou-se inexigível o reexame obrigatório de sentença nas quais o valor do direito controvertido e/ou da condenação na ultrapasse 60 (sessenta) salário mínimos, devendo assim, os autos serem devolvidos ao juízo de origem, após o trânsito em julgado, sem prejuízo da apuração dos assessórios. Adote-se este entendimento para os demais casos análogos. (Apel. Cível 990.10.096495-0, Des. Luis Ganzerla – Presidente da Seção de Direito Público- TJESP).” P. R. I. Bauru, 20 de abril de 2011. Elaine Cristina Storino Leoni Juíza de Direito