O Programa D.A.R.E – o modelo do programa de prevenção
O Programa Norte-Americano denominado “Drug Abuse Resistance Education -
D.A.R.E”, ou traduzido como Educação para a Resistência ao Abuso de Drogas, segundo Ennett, Tobler, Ringwalt, & Flewelling (1994), foi adotado por meio da parceria entre o Departamento de Polícia de Los Angeles, Estados Unidos (EUA), e o Distrito Escolar daquela cidade, sendo implantado em cerca de 50% das escolas locais de Los Angeles e em todo o território dos Estados Unidos, como um esforço para conter a escalada do uso indiscriminado de drogas e a violência, que acreditavam ser uma conseqüência das primeiras. O currículo DARE foi, num primeiro momento, aplicado às crianças da quinta série, com aproximadamente onze anos de idade, na cidade de Los Angeles, em 1983.. Este projeto possuía como padrão aulas semanais curriculares, tendo por objetivo treinar os estudantes para resistir às pressões para que se envolvam com drogas por parte de seu grupo de pares, da mídia e até dos pais (se for o caso). Inclui uma série de exercícios e atividades em sala de aula que ensinavam ao estudante o como deveriam recusar, se esquivar e a não ceder perante a oferta de drogas. Este programa era aplicado por membros do próprio projeto, que, muitas vezes, eram policiais. Com a percepção de que havia a necessidade de um maior raio de atuação, o programa sofreu um acréscimo de currículo e foi expandido, nos EUA, para atender às crianças da Educação Infantil e aos jovens matriculados no Ensino Fundamental e Médio. Em 1988, percebendo que havia uma mescla de povos que geravam problemas na comunicação e a existência de alunos com necessidades especiais, o livro do estudante passou a ser impressa também em espanhol e em Braille. Seguindo um padrão de normas de conduta referentes à aplicação do programa, as aulas deveriam ser ministradas por policiais fardados, os quais se apresentavam aos alunos sempre desarmados, por ser considerado que poderia gerar um desconforto entre o Instrutor e os Instruendo. Conforme Dell’Antônia (1999: 40), antes de ingressarem no Programa os policiais DARE recebiam oitenta horas de treinamento específico, especialmente nas áreas do desenvolvimento infantil e da adolescência; aprendiam técnicas de ensino e habilidades de comunicação. Outras quarenta horas de treinamento eram ministradas aos Instrutores do DARE, com a intenção de que estes fossem preparados para Instruir os alunos da escola secundária. A capacitação era realizada sob a supervisão de profissionais das áreas de Educação, Psicologia e Farmacologia. Segundo Dell’Antônia (1999: 35), o DARE, naquele ano, era desenvolvido em cinqüenta Estados americanos e em aproximadamente 58 países, nos cinco continentes, com o número estimado de aproximadamente 42 milhões de alunos formados. Hoje, 10 anos depois, o programa existe em 43 países. Podemos destacar o PROERD na Bélgica, Canadá, Colômbia, Islândia, Nova Zelândia, Trinidad e Tobago, Barbados, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Alemanha, Itália, Japão, México, Países Baixos, Noruega, Coréia do Sul, Espanha, Turquia, Reino Unido e no Brasil.
A Chegada do DARE no Brasil – surge o PROERD
A adaptação do D.A.R.E. à nossa realidade se ateve a transformações da sigla e
à aplicação do Programa para crianças da quarta série do ensino fundamental (considerando a faixa etária de 09 à 12 anos). Em relação aos aspetos pedagógicos não houve mudanças, de início. Nascia o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD. O interesse em desenvolver um projeto de prevenção que ampliasse o esclarecimento da população, principalmente de crianças e jovens a respeito dos diversos aspectos relacionados às drogas e aos diferentes tipos de violências, fez com que a Polícia Militar do Rio de Janeiro buscasse uma solução. Inicialmente a solução encontrada foi a realização das já conhecidas palestras em estabelecimentos de ensino. Todavia, por intermédio do Consulado Americano no Rio de Janeiro, uma equipe da assessoria técnica da Polícia Militar daquele Estado, foi convidada a participar de uma palestra proferida por agentes do Departamento de Polícia de Los Angeles, vindo a ter o primeiro contato com o desconhecido programa D.A.R.E. Em comum acordo, PMERJ e a Embaixada Norte América, firmaram um acordo de parceria e foi acertado o comparecimento de uma equipe de profissionais do Departamento de Los Angeles para treinar policiais militares. A data da vinda dessa equipe norte-americana para o Rio de Janeiro foi agora de 1992. Segundo os levantamentos feitos, essa data pode ser considerada a chegada do programa no país de forma oficial. Em 1993, outra equipe veio e tornou a PMERJ o primeiro Centro de Treinamento do País. Porém, dois anos depois, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, no Estado do Rio de Janeiro, foi extinto por meio da Resolução SESP nº 043 de 20 de julho de 1995. (DELL’ANTÔNIA, 1999). Enquanto o Rio de Janeiro se tornava o Centro de Treinamento PROERD do Brasil, no mesmo ano, 1993, oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo executaram uma viagem de estudos aos Estados Unidos da América, vindo a conhecer o programa DARE e, no retorno ao Brasil, a PMESP solicitou a presença de uma equipe de policiais do Rio de Janeiro e do Ten Steve Keyser (da Polícia de Los Angeles). No final do ano, mais precisamente, em novembro, formaram-se na Academia de Polícia Militar do Barro Branco 5 (cinco) oficiais e 23 (vinte e três) alunos oficiais. Dell’ antonia, (1999) narra que a avaliação final prática consistiu na aplicação do programa em 5 (cinco) escolas estaduais da zona norte da Capital de São Paulo. Naquela ocasião, esteve em São Paulo a Sra Norma Reyes, então Chefe do N.A.S. “Narcotcis Affairs Section” da Embaixada Americana no Brasil, tornando uma grande apoiadora do PROERD. No dia 2 do mês seguinte, foi realizada em São Paulo, capital, na Secretaria Estadual da Cultura, no Auditório Alceu Amoroso Lima, uma exposição sobre o PROERD, cuja finalidade era divulgar o programa ao meio empresarial e à comunidade, estando presentes várias autoridades civis e militares, entre elas os oficiais e praças da PMERJ que iniciaram o curso no Brasil; o Cel Reserva PMESP e Deputado Estadual de São Paulo, Edson Ferrarini; o Diretor do Departamento Jurídico da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Dr Dagmar Oswaldo Cupaiolo, e o Presidente do CONEN (Conselho Estadual de Entorpecentes), Dr. Percival de Souza (DELL’ANTÔNIA, 1999). Em 1994, no segundo semestre, o PROERD foi aplicado por alunos oficiais no Colégio da Polícia Militar do Estado de São Paulo, à época formando um total de 192 (cento e noventa e dois) alunos das 4ª séries do ensino fundamental (aproximadamente 10 (dez) anos de idade). (MENEZES, 2004) O PROERD permaneceu em estado latente em SP, limitado à Academia, até o ano de 1996, com aplicações do programa em escolas públicas e particulares da zona norte da capital de São Paulo. Porém, no ano seguinte, devido à destacada atuação do Dr Dagmar Cupaiolo, da FIESP, o Comando da PMESP decidiu implantá-lo em todo o Estado. Com isso, em fins de 1997 foram formados mais 150 (cento e cinqüenta) policiais militares, incluindo 05 (cinco) integrantes da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, estes atuando em Campo Grande, e aqueles em todo o Estado de São Paulo (DELL’ANTÔNIA, 1999). Em julho do mesmo ano, representando o Comando da Corporação, o Diretor de Assuntos Municipais e Comunitários, Cel PM Isaías de Mello Mascarenhas Neto, reuniu-se com o Sr. Glenn Levant, Presidente do DARE lnternational, em Los Angeles — EUA, formalizando um protocolo com a entrega de ofício do Exmo Srº. Comandante Geral da PMESP, Cel PM Carlos Alberto de Camargo. Consolida-se, assim, o Centro de Treinamento PROERD no Brasil (DELL’ANTÔNIA, 1999). Em julho, vindo de Los Angeles, o mundialmente conhecido campeão de Jiu Jitsu, Rickson Gracie, reuniu-se no Rio de Janeiro com o Diretor de Assuntos Municipais e Comunitários, em evento internacional do esporte e, em nome do Sr Levant, assumiu o papel de Embaixador do DARE Internacional no Brasil, cedendo sua imagem de desportista vitorioso ao PROERD. Ainda em 1998 a DAMCo, por decisão do Comandante Geral da PMESP, enviou delegação a Brasília, onde foi implantado solenemente o PROERD, com a formação da primeira turma de 30 (trinta) Instrutores da Polícia Militar do Distrito Federal, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Procedeu-se a exposições referentes ao PROERD ao Gabinete Militar da Presidência da República e ao Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal. Em setembro, por meio de Nota de Instrutoresrução (NI N 0 DAMCo-00l/5l/98, datada de 25 Set 98), o programa foi reestruturado no Estado de São Paulo, atribuindo-se responsabilidades aos Comandos Regionais, de nível Comando de Policiamento de Área, e de Batalhões, pela execução do PROERD. A decisão do Comando Geral da PMESP, de pulverizar os programas de prevenção, abrangendo todas as Unidades de área daquele Estado, veio ao encontro do espírito de uma autêntica “Polícia Comunitária”, pois programas de prevenção são essencialmente comunitários. Após participar de um encontro do CNCG – Conselho Nacional dos Comandantes Gerais das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, no ano de 1998 em São Paulo, o então comandante do Comando do Policiamento do Interior, Sr Coronel PM Cláudio José de Barros tomou conhecimento do referido programa. No Estado de Santa Catarina, coube ao Comando de Policiamento do Interior, através do 6° Batalhão de Polícia Militar sediado no município de Lages, a implantação do Programa. Começava, no dia 16 de março de 1998, com três Instrutores - o 2º Tenente PM Otávio, o Sargento PM Wolff e o Sargento PM Donizette - na Serra Catarinense o PROERD de Santa Catarina. Dell’Antônia (1999: 36) afirma que, no segundo semestre do mesmo ano, este se estendeu para a cidade de Chapecó e atendeu, naquele ano, quatro mil, quinhentos e sessenta e duas crianças e adolescentes. Já no início de 1999, com as mudanças dos Comandos Regionais, o PROERD foi difundido por meio do treinamento de policiais militares de todas as Unidades subordinadas ao Comando do Policiamento do Litoral, sediado no município de Balneário Camboriú, a fim de que os mesmos servissem de multiplicadores. Com a formação de 30 novos Instrutores PROERD, por uma equipe de Mentores da Polícia Militar do Estado de São Paulo, o programa ganhou forma, sendo implantado em mais 12 cidades, destacando-se: Joinville, Blumenau, Criciúma e Tubarão. Depois de efetuada analise dos trabalhos desenvolvidos pelo PROERD em santa Catarina, o D.A.R.E Brasil, representante do D.A.R.E América no território nacional, tornou Santa Catarina o 4º Centro de Capacitação PROERD do Brasil. Este fato acarretou uma participação catarinense em eventos nacionais e internacionais, bem como poder de decisão no planejamento estratégico em âmbito Nacional. Como é desenvolvido o programa
O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência possui alguns
objetivos que norteiam sua aplicabilidade. Podemos citar como objetivo do gerais do PROERD: 1 - Envolver a polícia, a escola, a família e a comunidade na problemática das drogas e da violência; 2 - Desenvolver uma ação pedagógica de prevenção ao uso indevido de drogas e a prática da violência nas escolas; 3 - Desenvolver o espírito de solidariedade, de cidadania e de comunidade na escola; e
e específicos como sendo:
1 - Sensibilizar os pais e os educadores para o trabalho de prevenção ao uso
indevido de drogas e à prática da violência; 2 - Promover o desenvolvimento de valores positivos; 3 - Fortalecer a auto-estima das crianças e dos adolescentes; 4 - Sensibilizar as crianças e os adolescentes para que desenvolvam estilos de vida saudável; 5 - Sensibilizar as crianças e os adolescentes para que reconheçam e resistam às pressões diretas ou indiretas que poderão influenciá-los a experimentar drogas ou mesmo a agirem com violência. (MANUAL DE FACILITAÇÃO, 5ª ED, 2008).
O PROERD engloba diferentes faixas etárias. Possui dois grandes currículos de
formação para atender público, a partir dos cinco anos de idade. O principal currículo, chamado de carro chefe pela Coordenação Estadual, é o “Criança e Adolescente”. Neste, engloba jovens com idade entre 5 a 15 anos. O Currículo “criança e adolescente” possui dois Módulos: MÓDULO I: Quinto ano (alguns casos quarta série) do Ensino Fundamental - UMA VISÃO DE SUAS DECISÕES; Durante o desenvolvimento das lições propostas – são 11 (onze) – os alunos têm a possibilidade de participarem de aulas expositivas, dialogadas e em alguns casos teatralizadas por eles próprias.
MÓDULO II: Sétimo Ano (sexta série) do Ensino Fundamental: INVESTINDO EM
SUA PRÓPRIA VIDA, também dividido em 10 lições; Este currículo é uma complementação do modulo I, porém ministrado de outra forma, com outra didática, direcionada ao público que se encontra na adolescência. Este currículo será aplicado somente até final de 2010. Estará sendo lançado já para 2011 um novo currículo em substituição, com o nome em inglês Keepin 'It Real (KIR).
Estudantes das séries iniciais – pré-escola, primeiro, segundo, terceiro e quarto
anos - participam do currículo com o mesmo nome: “Educação Infantil e Séries Iniciais”, pertencente ao módulo III. As seções deste módulo abordam assuntos diversos como: cuidados em casa, na rua, noções de transito, como proceder quando presenciar algum fato negativo, dentre outros. Nesta fase, o programa é dividido em três seções: 1. Seção I: Pré-escola da Educação Infantil: 2 LIÇÕES; 2. Seção II: 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental: 4 LIÇÕES; 3. Seção III : 4º ano do Ensino Fundamental: 5 LIÇÕES. No Ano de 2007, a Câmara Técnica PROERD, com sua coordenação em Brasília – DF, e os demais centros da Capacitação PROERD ( RJ, SP, SC e MG) adaptaram o PROERD para pais. Trata-se do contato dos Instrutores com os pais de seus próprios alunos, transmitindo a necessidade da participação no esclarecimento de dúvidas existentes.
A formação do Policial Educador
No Brasil, os policiais PROERD são divididos em três níveis de atuação:
Instrutores, Mentores e Masters. O policial Instrutor PROERD passa por um curso de formação de cento e dezoito horas/aula (houve a necessidade de adequação da carga horária considerando a Institucionalização do programa e o enquadramento do mesmo na Norma Geral de Ensino da PMSC), buscando sempre manter o padrão internacional da formação dos policiais Instrutores D.A.R.E/PROERD. Essa formação tem por objetivo de transformar o policial em um educador que lidará diretamente com as crianças e jovens. O Processo de Formação de um Policial Instrutor é precedido de uma rigorosa seleção em nível de Batalhão, Regional e de Coordenação Estadual, que leva em conta alguns critérios como comportamento, prova de redação, entrevista e não possuir nenhum vício relativo a drogas lícitas e muito menos ilícitas. Durante o período de formação, são demonstradas as lições, como aplicá-las e após uma semana e meia de curso, a próxima fase de seleção é a aplicação, na prática, de pelo menos uma lição completa do PROERD, supervisionada pelo pedagogo (orientador do Estágio de Formação), o professor da quarta série (quinto ano) do Ensino Fundamental e por um Policial Mentor (educador de adultos e responsável pela formação do aluno Instrutor). Por fim, a última etapa é a aplicação das onze lições, que são supervisionadas pelo coordenador local (regional ou de batalhão), ou por outro Instrutor experiente. (texto alterado em setembro de 2010) Após um ano o policial Instrutor pode vir a ser convidado a participar de um novo processo seletivo para ocupar uma vaga de Mentor. Essa seleção também solicita o cumprimento dos critérios anteriormente citado, além de ter reconhecidos trabalhos como instrutor.
O curso de formação de mentores tem um total de quarenta e cinco horas/aula e
conta com a participação de profissionais da área da Educação e policiais Máster. O policial Mentor é um formador de educadores. Sua principal ocupação é a formação dos policiais Instrutores, mas é solicitado que esse policial continue a ter contato com a formação das crianças, pois necessitará esclarecer dúvidas de outros policiais que venham a ser formado por ele. O último estágio de formação existente no PROERD no Brasil é a formação de quarenta e cinco horas/aula do Policial Máster, aquele que desenvolve atividades de gestão do programa, atua na formação dos policiais Instrutores e Mentores e, além disso, em alguns casos, permanecem em contato freqüente com as escolas e com a sua origem como Instrutor. Além dessa presença em sala de aula, os educadores sociais do PROERD ainda alcançam o vasto entorno social da escola, com orientações como reuniões e palestras para a comunidade, o que representa um esforço cooperativo entre as Escolas, Família, Comunidade e Polícia Militar. A percepção dos policiais militares que atuam no PROERD e a concepção de polícia comunitária trouxeram à luz aspectos observados nas escolas, como o relato de vários professores, que por vezes, não se sentem preparados para lidar com temas como a educação preventiva primária em diversas áreas. Salienta-se a importância dada ao professor, que no processo de formação dos alunos no curso regular do Programa, apóiam os educadores sociais do PROERD no processo pedagógico em sala de aula, sendo sua presença obrigatória. Esse fato apontado gerou demandas de solicitações de Secretarias Municipais de Educação e organizações não governamentais para a formação e capacitações de professores e operadores em prevenção primária, tais como Conselheiros Tutelares, Conselheiros Municipais Sobre Drogas, e outros. Tal formação visa além de apresentar conteúdo em educação para a prevenção, alçar a possibilidade de elaborar ações pedagógicas e sociais na forma de planejamento de programas.
BIBLIOGRAFIA
FRANZEN, Jaison A. Programa Educacional de Resistencia Às Drogas e à Violência. A
prevenção primária, através de ações de Policia Comunitária. Palhoça. Monografia (Especialização em Policia Comunitária) – Curso de Pós-graduação “Latu Sensu” em Polícia Comunitária, Universidade do Sul de Santa Catarina, 2009.